Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

quarta-feira, outubro 31, 2007

Retrato do sector da distribuição de vestuário em Portugal

Notícia Portugal Têxtil
Retrato da distribuição em Portugal

"O sector português da distribuição atravessa uma fase de concentração. O grupo Inditex, o El Corte Inglés, o grupo Regojo, a C&A e o Continente são os principais operadores, com uma quota de mercado de 23% em 2006(31Out07). As cadeias especializadas e as grandes superfícies aumentaram a sua quota total de mercado em Portugal nos últimos anos, superando os 50% em 2006, enquanto que o comércio independente diminuiu cerca de 4,3% em igual período, de acordo com o estudo "Distribuição de Confecção" realizado pela consultora DBK.
Os resultados do estudo revelam que o volume de negócios do sector português da distribuição de vestuário registou um incremento de 3,4% em 2006, atingindo os 4,23 mil milhões de euros. Neste contexto, o comércio independente continua a perder quota de mercado a favor das cadeias especializadas, dos grandes armazéns e dos hipermercados.
Deste modo, as vendas das lojas independentes perderam uma quota de 6% desde 2004. Em contrapartida, a facturação total das cadeias especializadas e das grandes superfícies apresentaram, nos últimos exercícios, uma tendência de crescimento que atingiu os 40% e os 13%, respectivamente, em 2006.
O vestuário de senhora representou cerca de 50% das vendas totais em 2006 e o de homem 40%, correspondendo os restantes 10% ao vestuário infantil. No sector operam mais de 6.700 empresas, com um efectivo total de 31.700 pessoas.
Em particular, este estudo aponta para o desaparecimento do comércio independente, assim como para um maior número de aberturas de pontos de venda integrados em cadeias especializadas.
Para 2007-2008, o estudo da DBK prevê uma ligeira aceleração do ritmo de crescimento das vendas, com taxas de variação anual situadas nos 4-5%. O comércio independente deverá, todavia, continuar a perder quota de mercado, num contexto de forte crescimento previsto para as cadeias especializadas, os hipermercados e os grandes armazéns.
A escassez de locais nos centros das cidades e os novos hábitos de consumo fomentaram o desenvolvimento de numerosos projectos de centros comerciais, os quais continuarão a ganhar protagonismo na criação de novos espaços nas cadeias especializadas.
A forte concorrência continuara a impulsionar as estratégias de diversificação dos operadores para novos segmentos de procura, assim como para o lançamento de novas linhas de produtos."

(reprodução integral de notícia recebida em 07/10/31, via Newsletter - Portugal Têxtil)

terça-feira, outubro 30, 2007

Portugal é um dos países da OCDE que menos investe em conhecimento

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgou um relatório em que afirma que Portugal tem um investimento inferior a 2% do PIB em conhecimento, sendo este um dos piores valores do relatório.
No que diz respeito ao financiamento da investigação e desenvolvimento (I+D), Portugal é o segundo país, entre os 33 considerados, em que a contribuição pública pesa mais na I+D. Relativamente ao financiamento da I+D pelas empresas, Portugal tem a segunda mais baixa contribuição da OCDE e a terceira pior no universo considerado.
Para além disto, o relatórido da OCDE diz-nos que Portugal desde 1995 integra o grupo dos cinco países onde o investimento das empresas em I+D mais cresceu, sendo este um aumento superior a 10% ao ano.
Quanto aos recursos humanos, o pessoal a trabalhar em actividades de I+D é cerca de 0,5% do emprego total.
Este relatório afirma que Portugal foi o único país da OCDE onde o peso no emprego dos especialistas em tecnologias da informação e comunicações (TIC) não se alterou entre 1995 e 2004.
Relativamente aos benefícios fiscais, entre 1999 e 2007, Portugal está entre os países em que este factor utilizado para apoio às grandes empresas na I+D mais cresceu, logo a seguir ao México e Noruega.
Sendo assim, o relatório da OCDE diz-nos que Portugal não detém um investimento elevado em percentagem do PIB em conhecimento, mas no que diz respeito ao investimento das empresas em I+D Portugal tem vindo a apresentar um aumento de 10% ao ano.
Rui Filipe Dos Santos Fernandes
(artigo de análise/opinião produzido no âmbito da UC Ec. Port.)
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Fonte bibliográfica: http://diarioeconomico.sapo.pt/ (30/10/2007, Diário Económico/Economia/Notícias).

sexta-feira, outubro 26, 2007

"Portugal é o 31º país mais globalizado"

Portugal é o 31º país mais globalizado

"Economia e investimento estrangeiro prejudicam pontuação final
Portugal ocupa a 31ª posição no ranking de globalização elaborado pela AT Kearney para a revista Foreign Policy. Os dados, referentes a 2006, demonstram que o País perdeu sete lugares em relação ao ano anterior.
A empresa de consultoria diz que tal se deve à entrada de novos países para a lista, bem como à subida de algumas economias emergentes. Portugal tem bom comportamento em dois items, dos 18 analisados.
O País fica em 5.° lugar no que diz respeito a integração em organizações internacionais e em 9.º quando o que está em causa são questões políticas. Mas desce para 54.º quando o que é analisado é a economia.
Portugal ocupa lugar idêntico no que concerne a investimento directo estrangeiro, sendo estas as duas piores classificações obtidas pelo País. A AT Kearney salienta a "boa prestação na área da tecnologia e Internet", onde Portugal oscila, segundo os pontos de vista, entre o 19.º e o 31º lugares. No geral, o País encontra-se à frente da Itália (34.º) e da Grécia (45º) e atrás da Espanha (29º)."
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(reprodução integral de notícia, datada de 07/10/26, do Diário Notícias / DN Bolsa)

Investimento Directo Estrangeiro

Os projectos de IDE em Portugal foram 29, em 2005, em contrapartida de 37, em 2004.
A criação de emprego estimada era de 2358 novos postos de trabalho.
O ranking dos 5 maiores investidores foi liderado pelos 4 “pesos pesados” europeus:
1.Alemanha
2.Espanha
3.Reino Unido
4.França
5.Estados Unidos
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(Ernst & Young, 2006, Portugal: Cause for Optimism, Ernst & Young Portuguese Attractiveness Survey 2006, Lisboa - http://www.ey.com)

Inflação e desemprego

“Uma estimação da curva de Phillips para Portugal”, Agostinho Rosa (2004)

Conclusões:
-Existe uma relação entre inflação e variação do desemprego ( e não entre inflação e desemprego)
-Considerando a variação da taxa de desemprego no curto prazo, em vez da taxa de desemprego, a curva de Phillips verifica-se em Portugal.

(Joana Ferreira, Outubro de 2005)

terça-feira, outubro 23, 2007

A norte: o desastre em matéria de estratégia de desenvolvimento e de ordenamento do território

A Comissão Europeia divulgou há alguns meses um relatório sobre a situação nas regiões da União Europeia de onde resultava que o norte de Portugal (NUT II norte) emergia como a área do território nacional mais pobre, isto é, com o PIB per capita mais baixo. Há pouco mais de um par de semanas, o INE divulgou, por sua vez, um “Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio - 2005”, de onde ressaltava que não era óbvia a convergência da NUT II norte com a média nacional e, sobretudo, que a dispersão de níveis de poder de compra nesta unidade estatística persistia muito elevada, ao contrário do evidenciado pela generalidade do país.
Quem rejeite a ideia de fatalidade na evolução dos fenómenos económicos não pode deixar de questionar porque é que isso acontece e a consistência das políticas públicas que ditaram tal resultado, muitas delas suportadas por fundos comunitários e nacionais vultuosos, aparte a equidade da distribuição destes pelas diferentes regiões. Na minha condição de observador da evolução da realidade desta parcela do território nacional e de técnico interveniente nalgumas operações de planeamento, não posso deixar de pensar que os resultados a que se chegou são, em grande medida, fruto de estratégias de desenvolvimento e de políticas de ordenamento do território erradas.
Avançando esta posição agora, mais não faço do que repetir o que venho afirmando desde há 25 anos, com o “conforto” que me dão nesta altura os números a que me reporto. Quero eu dizer: quem se atreve agora a classificar de bom o desempenho económico das últimas décadas do norte de Portugal e de acertadas as orientações de política prosseguidas?
Para não me ficar pelo enunciado de ordem geral, retenho do “Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio - 2005” alguns números. A esta recensão de números acrescentarei, a concluir, duas ou três orientações de estratégia, alternativas às que vêm sendo prosseguidas pela CC(D)R-N e pelos Governos, desde os anos 80 do século XX. Essas notas parecem-me ter particular pertinência na ocasião em que está em preparação o chamado Plano Regional de Ordenamento do Território e um estudo de impacte da construção de uma linha férrea de um comboio de velocidade alta entre Porto e Vigo.
Passemos aos números sobre o poder de compra concelhio, isto é, ao índice de poder de compra, como medida da posição relativa dos municípios em termos de capacidade aquisitiva média. Os dados sobre os municípios minhotos invocados são comparados com os das respectivas NUT III e NUT II e os de Porto e Lisboa. São eles os seguintes:
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Portugal (território base) – 100
NUT II Norte – 85,45
NUT III Minho-Lima - 70,72
-Arcos de Valdevez – 52,49
-Valença – 74,11
-Viana do Castelo – 87,45
NUT III Cavado – 82,47
-Barcelos – 67,05
-Braga – 105,83
-Terras de Bouro – 47,36
NUT III Ave - 74,57
-Guimarães – 77,50
-Póvoa de Lanhoso – 59,38
-Vila Nova de Famalicão – 81,55
NUT III Tâmega - 61,57
-Cabeceiras de Basto – 52,88
-Celorico de Basto – 48,50
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Lisboa – 216,04
Porto – 164,26
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O contraste dos números diz bem das assimetrias de desenvolvimento que se configuram no território em análise.
Respostas consequentes à situação da NUT II norte têm que assumir as fragilidades de partida, e ser ousadas. Nessas respostas, tem que tomar papel estruturador a rede urbana, caracterizada na actualidade pelos seguintes tipos de áreas: i) a Área Metropolitana do Porto (AMP), que constitui um espaço maioritariamente urbano, com fortes relações de interdependência funcional interna; ii) uma mancha urbano-industrial descontinua, envolvente da AMP, integrada por cidades de pequena e média dimensão e por contínuos rururbanos; iii) uma área de consolidação urbana, que se consubstancia no quadrilátero constituído pelas cidades de Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos, que se vem progressivamente reforçando pela via da atracção que exerce sobre as áreas envolventes; iv) áreas de intermediação, onde prevalecem conflitos no uso dos solos, escassa dotação de infra-estruturas e espaços urbanos fragmentados; e, v) áreas rurais, caracterizadas por uma estrutura económica frágil e por baixos níveis de prestação de serviços.
A consolidação de espaços urbanos funcionalmente mais autónomos tem implicações para a área metropolitana do Porto, o que não deve inibir a sua potenciação, assumindo a polinucleação que o território já evidencia, o que implica a partilha da sua centralidade competencial com outras centralidades tendencialmente mais dinâmicas, com destaque para o quadrilátero urbano acima nomeado, mas, igualmente, com Viana do Castelo, que tem vindo a consolidar a sua especialização a nível turístico, ambiental e de lazer.
Neste quadro de superação de fragilidades do tecido produtivo, assume particular importância o investimento na qualificação das redes de transportes e comunicações, incluindo as de âmbito transfronteiriço, fazendo particular sentido explorar a capacidade de um equipamento como o comboio de altas prestações como instrumento de consolidação de uma estrutura urbana mais equilibrada e de abertura de novas vias para o desenvolvimento. Esclareça-se entretanto que o uso do conceito de rede quer significar, em simultâneo, inter-operacionalidade de canais e multi-modalidade, dimensões estas onde subsistem particulares estrangulamentos quer na operação interna quer na relação com o exterior.
Na falta de espaço para aprofundamento das ideias de política esboçadas, fica a promessa de um regresso ao tema.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião hoje publicado no Diário do Minho - Suplemento de Economia, em coluna intitulada "Desde a Gallaecia")

domingo, outubro 21, 2007

O Nobel da Economia só devia ser atribuído de 4 em 4 anos

"Olhando para os prémios Nobel de Economia dos últimos anos. Olhando para quem vai receber os prémios Nobel nos próximos anos. A conclusão é, obrigatoriamente uma. Não devia haver prémio Nobel para a Economia. Ou, na melhor das hipóteses, devia ser atribuído apenas de 4 em 4 anos."
Luis Aguiar-Conraria
(reprodução integral de mensagem datada de 07/10/18 e intitulada "Sobre as outras ciências não falo", disponível em A destreza das dúvidas)
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Comentário: !!!

quinta-feira, outubro 18, 2007

Orçamento de Estado para 2008: um comentário pertinente

"[...] afigura-se-nos que a Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2008 divulgada é particularmente conservadora, não contendo propostas relevantes de alteração ao quadro normativo vigente que contribuam para alterar o status quo fiscal, em particular no domínio da competitividade das empresas e da economia portuguesa. Aliás, a rigidez que continua a caracterizar a condução da política fiscal é susceptível de contribuir igualmente para não promover a correcção de vários desequilíbrios que continuam a registar-se no domínio económico."

(extracto de artigo de ontem, intitulado "Análise ao orçamento do Estado para 2008", do Diário Económico / Suplemento, páginas 4/5)

segunda-feira, outubro 15, 2007

sábado, outubro 13, 2007

Indicadores Económicos: as previsões do OE para 2008

Previsões do OE

(título de mensagem, datada de 07/10/13, disponível em Visto da Economia)

quinta-feira, outubro 11, 2007

"Norte Conjuntura"

Norte Conjuntura (Relatório Trimestral - 2º trimestre de 2007)

«Nesta página são disponibilizados para download os Relatórios “Norte Conjuntura”.
Com periocidade trimestral, o boletim "Norte Conjuntura" procura reunir e analisar a informação disponível mais relevante com vista à identificação precoce das tendências que marcam a evolução económica, a curto prazo, da Região Norte no contexto nacional.»:

http://www.ccr-norte.pt/regnorte/conjuntura/norteconjuntura_2trim2007.pdf

O economista e a sua formação

A propósito do que é ser economista na actualidade, em Portugal, João F. Proença escrevia há poucos meses, em boletim informativo da Ordem dos Economistas (OE), o seguinte: “Hoje, os economistas portugueses trabalham em ambientes multiculturais, em contexto internacional e europeu em particular, em ambientes de grande pressão que muitas vezes exigem capacidade de liderança, capacidade de aprender ou de se adaptar a situações novas e a ambientes ou meios culturais diversos”. Daí retirava a perspectiva de que, hoje, o economista “tem que evidenciar que sabe, que sabe fazer e que sabe ser, o que para além de conhecimentos específicos exige competências comportamentais”.
Trazendo para primeiro plano o contexto em que se vem desenvolvendo a actividade do economista e a complexidade daí decorrente, as reflexões que recupero servem também para pôr em evidência a urgência de respostas adequadas a nível de formação académica e profissional deste corpo técnico. A isso se referia, de forma preocupada e crítica, no mesmo boletim da OE, Carlos Pimenta, na passagem seguinte: “O maior reconhecimento da importância da economia e a ideologia economicista como ´religião` da globalização aumentam o valor social do economista e atribui a alguns a função de apaziguadores das consciências. Mas a massificação da formação de economistas ao longo de décadas e as características actuais do mercado de trabalho reforçam a precariedade do emprego de muitos e promovem a despromoção funcional”.
De uma forma mais terra à terra, João F. Proença, prolongando a sua reflexão, reportava-se aos reptos subsistentes em matéria de formação do seguinte modo: “Hoje, é muito difícil exercer a profissão de economista sem o domínio de competências específicas de áreas disciplinares próximas como a gestão (onde, naturalmente, insiro as contabilidades, o marketing ou a fiscalidade, conhecimentos sobre negociação, gestão de pessoas, etc.) e sem acesso a teorias, métodos e técnicas de outras áreas do conhecimento, particularmente da psicologia e da sociologia, do direito e da ciência política, da matemática e da informática, entre outras”. Ideias que eram reforçadas, ainda no dito boletim da OE, por estas outras de José Manuel Belbute: “a formação inicial (de 1º ciclo) não pode/deve ser encarada como definitiva e para o resto da vida”. Assim é já que, sublinha, “Os conhecimentos adquiridos […] arriscam-se a ficar rapidamente desactualizados. Por isso e contrariamente ao que sucedia há alguns anos atrás, a formação inicial deve ter um carácter mais flexível e generalista, que alie uma sólida formação económica de base (em macroeconomia, microeconomia e métodos quantitativos) à aquisição de competência, de capacidade e de atitudes (capacidade de trabalho em equipa, de tomada de decisões, de relacionamento e de iniciativa) que valorizem os estudantes e lhes facilitem a sua inserção no mercado de trabalho”.
A dificuldade, que José Manuel Belbute não endereça mas que seguramente terá presente, está em conjugar uma formação sólida em macroeconomia, microeconomia e métodos quantitativos com todas as exigências em termos de domínio de técnicas, teorias e comportamentos, que antes são enunciadas como sendo imprescindíveis para o sucesso profissional dos nossos tempos, com a redução das escolaridades totais e parciais a nível de formação do 1º ciclo dos cursos do ensino superior. É que, faça-se claro, o reforço da formação em macroeconomia, microeconomia e métodos quantitativos, em simultâneo com a redução das ditas escolaridades, acaba por reduzir os cursos do 1º ciclo a projectos de ensino que pouco mais oferecem em matéria de programas escolares que macroeconomia, microeconomia e métodos quantitativos. Obviamente, que esses programas podem ser transmitidos recorrendo a novos modelos de ensino-aprendizagem que impliquem e suscitem novos comportamentos nos formandos mas, nessa vertente, dão-se agora os primeiros passos em Portugal, e o processo tem sérias dificuldades, mesmo porque o ensino superior não existe isolado de toda a realidade do ensino e formação do país.
Que o 1º ciclo não responderá aos reptos da complexidade da gestão das economias modernas, disso não restarão dúvidas a ninguém, suponho. Saberão as instituições de ensino superior (e os interessados) encontrar uma resposta eficaz para a dificuldade enunciada? A seu tempo o veremos.
J. Cadima Ribeiro
(reprodução de artigo de opinião publicado na edição de hoje do Jornal de Leiria)

quarta-feira, outubro 10, 2007

terça-feira, outubro 09, 2007

Uma perspectiva sobre as estratégias de desenvolvimento regional

Durante um longo período de tempo o Estado teve um papel extremamente intervencionista nas economias de muitos dos estados mais desenvolvidos, materializado na produção directa de bens ou na prestação de serviços, na limitação da concorrência em determinados sectores e na imposição de restrições à liberdade comercial. Durante a década de setenta e a primeira metade da década de oitenta, as intervenções de apoio às empresas enquadravam-se, genericamente, na denominada política industrial, a qual tinha um âmbito de actuação predominantemente nacional. As intervenções em contextos espaciais mais restritos eram escassas e, na maior parte dos casos, foram deficientemente implementadas.
Ao longo da década de oitenta foram sistematizados os factores de sucesso de alguns territórios que baseavam a sua competitividade no seu potencial endógeno. A reflexão e o debate sobre estas realidades permitiram delinear algumas aproximações agrupadas genericamente sobre o denominado desenvolvimento regional endógeno. Neste contexto, as políticas regionais, destinadas a reduzir as assimetrias regionais e a promover a convergência entre territórios, passaram a dominar a agenda da intervenção pública a nível microeconómico. Os instrumentos deste tipo de políticas dirigiram-se para a melhoria da qualidade institucional, para a promoção de um mercado de trabalho bem dimensionado, qualificado e vocacionado para a aprendizagem, para o fortalecimento e flexibilização das redes de empresas e para o impulsionamento das actividades de I&D e da capacidade de inovação. A implementação de políticas regionais deste tipo deu origem a resultados muito dispares, mas naqueles territórios onde a resposta institucional, do mercado de trabalho e das empresas foi positiva a competitividade empresarial viu-se amplamente reforçada.
Na última década as políticas de desenvolvimento regional continuaram centradas nas premissas do enfoque anterior, embora tenham sido introduzidos alguns elementos adicionais com intuito de ultrapassar várias das limitações e problemas dele decorrentes. Em primeiro lugar, adoptou-se uma perspectiva sistémica na compreensão das problemáticas regionais, evitando a excessiva concentração em aspectos parcelares ou muito específicos e assumindo um enfoque suficientemente amplo, a fim de abranger as dimensões mais relevantes das tendências globalizadoras. Em segundo lugar, deu-se um maior relevo às intervenções de carácter sectorial, as quais tinham sido parcialmente subalternizadas em favor de intervenções de carácter eminentemente transversal. Em terceiro lugar, promoveram-se acções destinadas a reduzir os custos de contexto, fundamentalmente, os de natureza infra-estrutural. Em quarto lugar, melhorou-se a fase de implementação das políticas mediante a introdução de programas realistas, tanto em termos de conteúdo como em termos de timings. E em último lugar, relançou-se a cooperação institucional e empresarial, tanto a nível formal, mediante a consolidação de estruturas de partenariado, como a nível informal, através do fomento de valores culturais de partilha, colaboração e associação.
As estratégias de desenvolvimento endógeno descritas surgem como uma alternativa a outras intervenções de carácter pontual de curto prazo, baseadas na concessão de subsídios directos, que fomentam a economia subsidiada e introduzem elementos de concorrência desleal entre empresas e territórios. A falta de eficácia destas ajudas directas evidencia a superioridade da opção baseada na adopção de uma estratégia de desenvolvimento endógeno consciente, não dependente, sustentável, e viável num horizonte temporal alargado. Ademais, à vista dos resultados em algumas das regiões mais competitivas das economias ocidentais, parece que as estratégias de desenvolvimento endógeno de segunda geração, onde o vínculo território-empresa é tendencialmente mais forte, conseguem ser extremamente eficazes para ultrapassar os desafios derivados do processo globalizador. Este facto é de uma importância extrema para a realização de escolhas e a definição de prioridades, dado que, no âmbito da globalização, as economias nacionais são progressivamente mais sensíveis às mudanças e à conjuntura económica internacional. Adicionalmente, a vulnerabilidade derivada do novo paradigma em consolidação amplifica-se significativamente quanto maiores são as assimetrias territoriais e mais fraca é a estrutura político-institucional a nível regional. Desta forma, intui-se que todas as políticas destinadas a melhorar a competitividade regional contribuem decididamente para reforçar a posição do país face às consequências indesejadas da globalização.
No caso Português as políticas de desenvolvimento regional não têm seguido um modelo claramente definido e continuam a utilizar referências ultrapassadas e a privilegiar propostas necessitadas de novos enfoques. As ditas políticas não têm conseguido obter, em geral, resultados positivos em termos de coesão territorial, agravando, em alguns casos, as assimetrias espaciais que, à partida, deveriam esbater. Ademais, têm sido utilizados critérios pouco transparentes em termos de distribuição de verbas, dado que parece existir uma escassa relação entre os diferenciais de investimento atribuído e as disparidades espaciais de rendimento. Desta forma, o modelo que tem sido empregue privilegia os territórios com maior capacidade de geração de riqueza e tem-se mostrado incapaz de ultrapassar os entraves que condicionam o desenvolvimento dos territórios com maior atraso relativo. Para atingir maiores níveis de eficácia, a política de desenvolvimento regional em Portugal deve, no futuro, atribuir uma maior preponderância à componente estratégica sem retirar importância aos aspectos de desenho e implementação de políticas, ainda que estes devam actualizar as propostas, incorporar novos instrumentos e complementar certas dimensões.
FRANCISCO CARBALLO-CRUZ
(artigo publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, no quadro de colaboração regular em coluna intitulada "Desde a Gallaecia")

sábado, outubro 06, 2007

Ser economista hoje, em Portugal. O que mudou com a implementação da Declaração de Bolonha

«Conclusão
Se se pode dizer que economistas “são aqueles que transportam para a vida social os modelos de racionalidade comportamental que estão na base de uma melhor combinação dos recursos existentes e, por conseguinte, na optimização do retorno que decorrerá da sua afectação” (Rebelo e Neves, 2007, p.10), não fica mal dizer, também, que “economista será todo o que, qualquer que seja o seu nível de intervenção profissional que possuir, for capaz de compatibilizar, no tempo e no espaço, soluções eficientes com soluções equitativas, processos competitivos com processos de inclusão” (Alves, 2007, p.13). É que a economia deve repousar, igualmente, em valores, acompanhando as referências e as preocupações com o bem-estar social e a sustentabilidade dos recursos naturais que se vão afirmando.
Definir o que é o economista não é o mesmo que explicitar os “actos” da profissão desse técnico. Pode-se mesmo questionar se o “acto” típico de economista existe. Se esta se oferece matéria susceptível de gerar controvérsia, outro tanto não sucede com o reconhecimento de que os economistas portugueses trabalham hoje “em ambientes multiculturais, em contexto internacional e europeu em particular, em ambientes de grande pressão que muitas vezes exigem capacidade de liderança, capacidade de aprender ou de se adaptar a situações novas e a ambientes ou meios culturais diversos” (Proença, 2007, p.10), o que, na medida do esforço e exigência profissional que lhes coloca, reclama uma formação geral e técnica adequada (adequada na solidez; adequada no perfil funcional que seja requerido), já que o economista que o presente momento reclama tem que saber, tem que saber fazer e tem que sabe ser. (Proença, 2007, p.11).
Neste contexto, se não se questiona nem que a formação inicial deva ter um carácter flexível e generalista, que alie uma sólida formação económica de base à aquisição de competências, de capacidades e de atitudes (Belbute, 2007, p.12), nem a necessidade da formação ao longo da vida, é mais problemático dizer se as respostas que estão a ser dadas no quadro da reforma dos cursos é a que se fazia necessária. Isto, na própria medida em, mesmo se uma melhor adequação das formações oferecidas às necessidades das empresas e da sociedade, em geral, fosse o grande argumento invocado pelo decisor político para precipitar a mudança, há que convir que o acolhimento das “novas” formações pelo mercado de trabalho, a problemática da empregabilidade, se se quiser, ficou arredada do processo que conduziu à reforma em cursos. Da reestruturação dos cursos, o que nesta altura é seguro é que se assistiu à redução das escolaridades totais e parciais das formações oferecidas a nível do 1º ciclo. Como, por um lado, uma sólida formação em macroeconomia, microeconomia e métodos quantitativos não basta para formar o economista capaz de responder aos reptos da gestão das economias modernas, fica daí, por outro lado, espaço para o reforço do papel do 2º ciclo na formação destes profissionais, mesmo que a implementação de novos modelos de ensino-aprendizagem vá fazendo o seu percurso, dando a sua componente de resposta em matéria de atitude à complexidade da realidade actual em matéria de funcionamento e organização das economias.»
J. Cadima Ribeiro

(extracto de comunicação, intitulada "Ser economista hoje, em Portugal. O que mudou com a implementação da Declaração de Bolonha", a ser presente no 2º Congresso Nacional dos Economistas, Ordem dos Economistas, que decorrerá a 11 e 12 de Outubro de 2007, no Centro de Congressos de Lisboa)

quarta-feira, outubro 03, 2007

Revista de imprensa

«O alto desemprego que veio para ficar
Desemprego nacional supera o de Espanha, foi o que mais cresceu nos últimos 12 meses e continuará sem descer.
Até o ministro do Trabalho, José Vieira da Silva, o admite, quando ontem comentou a subida do desemprego para 8,3% em Agosto, divulgada pelo Eurostat
"Não é fácil recuperar para os níveis que existiam há quatro ou cinco anos". "É um processo longo e difícil que começa com o crescimento da economia", juntou o governante. Este ano a actividade deverá recuperar 1,8%, mas em 2008, por causa da crise financeira, as condições tenderão a ser mais desfavoráveis, podendo travar a recuperação do investimento, logo a criação dos desejados postos de trabalha
Há quatro ou cinco anos a taxa de desemprego portuguesa rondava os 5% a 6% da população activa e era cerca de metade da registada em Espanha, onde o fenómeno era historicamente mais severo.
Hoje, Portugal ultrapassa os 8%, e segundo mostra o Eurostat, onde mais subiu desde Agosto do ano passado, registando a terceira marca mais alta da zona euro. Pior apenas França (8,6%) e Grécia (8,4%), sendo que a tendência nestes dois países é para descer. Em Portugal, parece que ainda não. Economistas e gestores, como António Nogueira Leite ou António Pires de Lima, conferem isso mesmo: que o processo de reestruturação da economia começou tarde, é naturalmente lento, pelo que ainda é cedo para esperar uma "retoma" do mercado de trabalho, mesmo que a economia cresça um pouco mais.
Paula Carvalho, economista do Banco BPI confere que "o desemprego tenderá a permanecer em níveis elevados durante bastante tempo". "O ajustamento entre o que as empresas procuram e a oferta de trabalho não se resolve de um dia para o outro pois as qualificações levam tempo a adquirir", explica, relembrando em seguida que "em 2008 deveremos atravessar tempos mais complicados outra vez".
Gonçalo Pascoal, economista-chefe do BCP, relembra que "o desemprego é estruturalmente mais elevado porque há muita gente que não consegue arranjar emprego há muito tempo" e porque "não há investimentos grandes intensivos em mão-de-obra". "Haverá, quando arrancar o projecto do comboio de alta velocidade e o novo aeroporto".»
L.R.R. e J.P.
(reprodução integral de artigo publicado no Diário Económico, em 07/10/03, com o título indicado)

segunda-feira, outubro 01, 2007

Relação universidade-empresa

"A capacidade da universidade e empresa estabelecerem relações duradouras e mutuamente benéficas é um dos desafios que se colocam numa sociedade cada vez mais baseada no conhecimento."
Vasco Eiriz
(extracto de mensagem, datada de 26 de Setembro de 2007 e intitulada "Redes de conhecimento: estudo de um caso sobre a relação universidade-empresa", disponível em Empreender)