Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

sábado, abril 30, 2011

Não é a olhar para os equilíbrios financeiros de curto prazo que lá se chega

O que me choca é que pareça não se estar consciente ou se esconda que os custos com a mão-de-obra na China, não há muito tempo, não iam além de 8% dos portugueses, sendo que os valores correspondentes dos indianos se situavam nos 11%, os dos búlgaros em 19%, e os dos marroquinos e dos turcos em 69%. Será que mesmo assim faz sentido fazer desta “variável” o elemento estratégico da nossa competitividade?
Por contrapartida, poderia invocar o caso de diversos produtos portugueses sofisticados que são colocados em diversos mercados externos e que nem por isso têm dificuldade em concorrer aí. Obviamente, o tipo de aposta prosseguida pelas empresas que protagonizam esses negócios é outro. Será que não é possível multiplicar esse modelo de inserção nos mercados? Será que não é possível implementar políticas que sinalizem correctamente os caminhos que a economia portuguesa deve percorrer? Obviamente, não é a olhar exclusivamente para os equilíbrios financeiros de curto prazo, como se fez ao longo dos últimos 10 anos, que lá se chega.

J. Cadima Ribeiro

quinta-feira, abril 28, 2011

Repetition

"Repetition does not transform a lie into a truth."

Franklin D. Rooselvelt

(citação extraída de SBANC Newsletter, April 27, Issue 666 - 2011, http://www.sbaer.uca.edu)

"Fábricas de setores eletrointensivos [...] estão fechando unidades no País ou migrando para outros locais"

Artigo Geodireito
Energia cara tira indústrias do Brasil:
http://www.geodireito.com/Conteudo/Geojuridicas.asp?notCodigo=3734&acao=DetalheNoticia
*

segunda-feira, abril 25, 2011

Projectos de investimento e projectos de exploração: o caso dos estádios

Na avaliação dos investimentos feitos na construção/remodelação dos etádios, importará questionar que projectos de exploração lhe estão associados e se se tem tirado conveniente partido das potencialidades que encerram. A essa luz, é discutível que um estádio de futebol moderno (pensado não apenas em função do recinto desportivo que comporta) não possa ter outros usos que não seja acolher desafios de futebol de 15 em 15 dias. Por exemplo, o Estádio de Montreal, no Canadá, que foi edifício sede de uns dos jogos olímpicos da era moderna mais mal sucedidos, alberga hoje um museu e um espaço de venda de objectos culturais e de simbolismo local bastante frequentados, em permanência.

J. Cadima Ribeiro

quinta-feira, abril 21, 2011

Curiosidade dos tempos que correm: do FMI e quejandos

«Impacto no Minho da entrada do FMI

• Tendo em conta a actual conjuntura, quais seriam os sectores primeiramente visados e afectados pela acção do Fundo Monetário Internacional?

• Sendo uma região com tradição agrícola, de que modo este sector sofreria com a acção do FMI? [A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) vai pedir à missão técnica da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional atenção ao sector agrícola, considerando que em tempo de crise é fundamental apostar na produção.]

• De que modo a intervenção do FMI afectaria a gestão autárquica das principais cidades minhotas?

• Medida do FMI na Grécia:
“Alargar os limites pelos quais os empregadores podem despedir funcionários:
- Empresas com até 20 empregados: sem limite;
- Empresas com um número de empregados entre 20 e 150: até 6 despedimentos por mês;
- Empresas com mais de 150 empregados: até 5% dos efectivos ou 30 despedimentos por mês

Redução das indemnizações por despedimento, que também poderão ser pagas bimensalmente”

Qual o impacto de uma medida similar em Portugal, reconhecendo a fragilidade do sector industrial na região Minho?

• A entrada do FMI é uma “oportunidade” ou uma “ameaça”?»

[guião de uma entrevista concedida hoje pelo signatário desta mensagem (J. Cadima Ribeiro) a um órgão de comunicação escrita, não diário, existente no Minho]

domingo, abril 17, 2011

"Reminder - 4th Annual Conference of the EuroMed Academy of Business"

«Reminder!
……………………………………………………
Dear all
The EuroMed Research Business Institute (EMRBI) www.emrbi.com invites you to submit papers or abstracts to the 4th Annual Conference of the EuroMed Academy of Business “Business Research Challenges in a Turbulence Era” that will be held in Elounda, Crete, Greece, 20th -21st October 2011.
Papers or abstracts should be submitted to EMRBI@unic.ac.cy
The Submission Deadline is May 16th, 2011
All details are provided at the conference website at http://www.emrbi.com/main.asp?sel_nav1=145&sel_nav2=172&cat=site
Best regards
---------------------------------------------------------------------------
Prof Demetris Vrontis, PhD, FCIM»

(reprodução de mensagem, com a origem identificada, que me caiu entretanto na caixa de correio electrónico)

"Recados de banqueiros seguidos à risca pelos seus diligentes empregados no governo"

Ai Abril...

(título de mensagem, datada de Quarta-feira, 13 de Abril de 2011, disponível em espojinho)

quinta-feira, abril 14, 2011

Uma conjuntura difícil, uma oportunidade para corrigir trajectórias

1. Fruto do acaso ou da conjuntura económico-política, tive nas últimas semanas um nível inusual de solicitações de intervenção pública, sob a forma de entrevistas a jornais, conferências ou participação em debates. A expressão acaso é discutível posto que o foco das entrevistas foi a realidade económica e social vivida pelo país, e os eventos em que participei tiveram por tema o endividamento e a precarização da situação económica das famílias a que se tem vindo a assistir nos últimos meses de forma bem dramática. A ilustrar esse dramatismo, aí estão a taxa de desemprego nacional média acima dos 11% (11,1%, no 4º trimestre de 2010; dados do INE) e a taxa de desemprego dos jovens à procura do primeiro emprego (leia-se: dos 15 ao 24 anos) acima do dobro desse valor (23%). Isto, para não falar já do derrapar das taxas de cumprimento das obrigações contraídas pelas famílias em matéria de crédito à habitação, nomeadamente.
2. Curiosamente, as conferências e debates resultaram de iniciativas de alunos do ensino secundário, o que também não deixará de ter significado. Esperemos que isso seja indício de viragem na orientação que tem persistido nos jovens de se manterem alheados do quotidiano sócio-político do país, e de viragem cultural no sentido da instalação na sociedade portuguesa de uma postura muito mais crítica e interventiva, que leve à qualificação dos intervenientes na vida pública.
3. Avançando algo mais sobre as entrevistas, será sintomático o facto de ter recebido solicitações de um jornal galego (La Voz de Galícia) e de um jornal francês (Le Point), o que denúncia a atenção e a curiosidade com que externamente vai sendo seguida a evolução económica e política do país. Dir-se-ia que é uma atenção que vem por más razões mas pode, por outro lado, indiciar partilha de preocupações (sobretudo no caso galego/espanhol) ou ser sinal de sentimento solidário.
4. Escapa-me a razão que trouxe os jornalistas até mim, uma vez que não poderiam esperar ver-me integrar o coro daqueles que acham que a situação económica a que se chegou é resultado de circunstâncias externas desfavoráveis ou de infortúnios do destino. Pelo contrário, a meu ver, os 10 anos seguidos de estagnação que o país já leva são, antes, fruto de lógicas de poder desligadas dos objectivos de progresso e bem-estar social dos portugueses mantidas por quem esteve no poder, de falta de um projecto sócio-económico para o país e de muita incompetência técnica, desde logo dos responsáveis pelas pastas económicas e das finanças.
5. Como costuma dizer um colega universitário, que foi ministro das finanças por um par de meses, em Portugal não se tem sido capaz de avançar com políticas contra-cíclicas, quer dizer, quando a conjuntura é favorável, as políticas orçamentais e fiscais reforçam os efeitos expansivos vividos na economia, quando as conjunturas são de crise, as políticas públicas servem para agravar os contextos depressivos. O que se tem vindo a assistir mais recentemente, com FMI à vista ou sem ele visível, mas bem presente (porque tem sido esse o sentido das orientações de política seguidas), é bem expressão dessa lógica de gerir a economia portuguesa.
6. Navegando permanentemente à vista, fica adiado para um futuro incerto o projecto de renovação do modelo económico nacional, antes parecendo vincado o modelo esgotado de aposta nos baixos salários, nos produtos pouco sofisticados, na fabricação sub-contratada e, logo, numa presença dos produtos e serviços nacionais nos mercados internacionais que não pode deixar de ser frágil e dependente de comandos externos. O que se vai fazendo para contrariar este “destino”, tem surgido sobretudo da iniciativa de empresas isoladas e empresários “visionários”, muito pouco ajudando a política industrial, quase inexistente na última década.
7. Neste contexto de fundo, achar que o país ficou a perder alguma coisa com a queda do governo de José Sócrates e Fernando Teixeira dos Santos só pode ser expressão de equívocos. A mim, o que me preocupa é que o cenário político que se avizinha não seja indiciador de novos rumos, antes se sugerindo a iminência de virmos a ter mais do mesmo, com governos do bloco central, o que será o pior dos cenários (pois seria o modo mais cómodo de preservar o status quo sócio-político), ou sem eles. A essa luz, esperançosa seria mesmo a implosão do sistema político-partidário que temos. Daí, sim, poderia resultar alguma renovação e, logo, um renovar de esperança dos portugueses. Será, porventura, sonhar demasiado alto.

J. Cadima Ribeiro

(artigo de opinião publicado na edição de 2011/04/14 do Jornal de Leiria)

terça-feira, abril 12, 2011

Pobreza(s) e desigualdade(s)

Já não existem dúvidas de que a pobreza e a desigualdade são um dos principais problemas que afectam as nossas sociedades. Em Portugal, estes problemas têm-se agudizado na última década. Tal como aconteceu noutros países, a situação revela, entre outros aspectos, o facto de o modelo de crescimento económico adoptado e as políticas públicas que o enquadram terem permitido o desenvolvimento de desigualdades de rendimento e de situações de pobreza. O emagrecimento do Estado-Providência e a crescente privatização de entidades fornecedoras de bens públicos deverá, a curto prazo, fazer-se sentir, em Portugal, na extensão e severidade da pobreza e da desigualdade.
Portugal é um dos países da União Europeia que continua a apresentar uma significativa assimetria na distribuição dos rendimentos dos agregados familiares, visto uma das mais comuns medidas de desigualdade de distribuição do rendimento, o coeficiente de Gini, se ter cifrado em 35.8% em 2007, versus 30.6% para o conjunto dos países da União Europeia (apenas três países da Europa de Leste registaram valores mais elevados do que Portugal). De acordo com o estudo publicado em 2010 pelo I.N.E. (Sobre a pobreza, as desigualdades e a privação material em Portugal), apesar da desigualdade ter vindo a diminuir progressivamente desde 2004 (38.1% àquela data), Portugal, em 2008, com um coeficiente de Gini de 35.4%, deixava transparecer a persistência de uma parcela importante da população (17.9%) que se encontrava em situação de risco de pobreza.
Mesmo com a melhoria a que se vem assistindo nos últimos anos, isto significa que, em 2008, o rendimento anual para 17.9% da população era inferior ao limiar de pobreza, ou seja, 4969 Euros (414 Euros mensais). O risco de pobreza dos idosos também decresceu entre 2003 e 2008 de 28.9% para 20.1% (I.N.E., 2010). Não obstante, e quando comparamos este grupo populacional com o total da população residente, o indicador respectivo revelava que este grupo enfrentava, em 2008, um risco mais elevado de pobreza (20.1% versus 17.9% para o total da população residente).
Por outro lado, em 2008, o risco de pobreza dos agregados sem crianças dependentes (14.9%) era inferior ao dos agregados com crianças dependentes (20.6%). Os riscos de pobreza mais elevados, correspondiam a: idosos que viviam sós (32.7%); famílias constituídas por um adulto com crianças dependentes (famílias monoparentais - 38.8%); e famílias com dois adultos e três ou mais crianças dependentes (42,8%). Este é um cenário existente já desde, pelo menos, meados dos anos noventa do século XX.
As crianças eram, em 2008, o grupo etário que revelou um maior risco de pobreza (mais de uma criança em cada cinco em situação de privação), coincidindo com a evolução mais desfavorável desde 2004.
Eram os indivíduos cujos agregados residiam em áreas densamente povoadas aqueles em que o rendimento era superior ao rendimento médio auferido pelo total da população residente (mais 1 780 euros anuais). A Região Norte, desde, pelo menos 2001, e de forma mais vincada, desde 2004, que tem estado pior posicionada no panorama português em vários indicadores, estando entre eles, a taxa de desemprego. Em 2007 e 2009 registou as mais elevadas taxas de desemprego a nível da NUTS II e em 2010 foi apenas ultrapassada pela região do Algarve (12.6 contra 13.4%), conduzindo ao aumento do risco de pobreza.
Que fazer perante tal cenário? Uma das soluções remete-nos para a substituição dos jardins por pequenas hortas, apostando na produção para auto-consumo, transformação a que se vai assistindo já nalgumas freguesias de Braga. Voltando aos tempos em que parte da população complementava os seus mínguos salários com as couves, o cebolo, as alfaces ou mesmo os tomates, isto é, em que as actividades no campo eram ocupações de fim de dia ou de fim-de-semana, que constituíam um bom contributo para uma alimentação mais saudável e ajudavam a contrariar uma vida sedentária. Mas será que a população mais jovem está preparada para tal? A necessidade aguça o engenho, diz o povo e com razão, mas a geração à rasca estará disposta a regressar à terra, quando a circunscrevemos, cada vez mais, ao aconchego da casa?...

Paula Cristina Remoaldo

[artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho]

domingo, abril 10, 2011

Uma certa forma de gerir a economia

Como costuma dizer um colega universitário, que foi ministro das finanças por um par de meses, em Portugal não se tem sido capaz de avançar com políticas contra-cíclicas, quer dizer, quando a conjuntura é favorável, as políticas orçamentais e fiscais reforçam os efeitos expansivos vividos na economia, quando as conjunturas são de crise, as políticas públicas servem para agravar os contextos depressivos. O que se tem vindo a assistir mais recentemente, com FMI à vista ou sem ele visível, mas bem presente (porque tem sido esse o sentido das orientações de política seguidas), é bem expressão dessa lógica de gerir a economia portuguesa.

J. Cadima Ribeiro

quinta-feira, abril 07, 2011

Economia familiar: guião do debate

A convite da Escola Profissional de Braga (EPB), participei no dia 1 de Abril pp. em Debate sobre “A Economia das Famílias”, que se realizou na referida escola, em Braga. Porque muitas vezes as perguntas transportam tanta carga dramática quanto as respostas que lhes possam ser dadas, reproduzo de seguida o guião (da autoria de Diana Oliveira, aluna da EPB) que foi usado na estruturação do debate:

«Debate ´Economia Familiar`
A primeira questão que gostaria de lançar, para um esclarecimento geral, é:
• O que é afinal a economia?
o Na perspectiva dos 3 convidados.
• Até que ponto é importante a economia na gestão familiar?
• Será que as famílias estão realmente cientes desta crise?
• Em que aspectos da vida social se reflecte de forma mais visível a crise que as famílias portuguesas estão a viver?
• E os jovens? Parecem ainda não ter noção de uma crise verdadeira, será que é necessário chegar ao tempo de “pão e água” para perceber que é necessário poupar?
• O papel dos jovens nas famílias pode de alguma forma ajudar na gestão familiar? De que modo?
• Muitas vezes as famílias não conseguem gerir ou dar uma maior importância às obrigações mensais, (como renda, gás, electricidade, etc.), o que será que devemos fazer para gerir melhor as contas?
• Consideram que se as famílias criarem um documento para gerir o orçamento familiar, resultará? Ajudará a controlar melhor as contas?
• Temos estado a falar sobre o orçamento familiar, mas não sei se todos os presentes sabem a que se refere, assim será que podem esclarecer o público dizendo, afinal o que é um orçamento familiar?
• Em que medida um orçamento permite ter uma visão mais consciente das receitas e das despesas das famílias?
• Até que ponto as famílias portuguesas podem contar com o apoio do estado Português, para ultrapassar as dificuldades económicas?
• Será que as famílias portuguesas se vão aproximar mais do modelo de famílias europeias? No que diz respeito:
o Estilos de vida;
o Maior controlo na gestão financeira;
o Prioridades financeiras;
• Para finalizar, tendo em conta a vossa experiência, e reflectindo um pouco no estado actual da economia, e abordando uma situação que interessa a todos os presentes: Qual é o futuro das gerações mais jovens quando constituírem família, em termos de segurança social, benefícios fiscais e reformas?»

J. Cadima Ribeiro

quarta-feira, abril 06, 2011

Power

"Business is in itself a power"

Garet Garrett

(citação extraída de SBANC Newsletter, April 5, Issue 662 - 2011, http://www.sbaer.uca.edu)

terça-feira, abril 05, 2011

O sector dos vinhos em Portugal: alguns dados e notas de política

1. Em termos de produção de vinho, Portugal ocupava em 2008 o 5º lugar na Europa e o 10º em termos mundiais. No mesmo ano, a União Europeia a 15 (somatório dos países antes dos alargamentos mais recentes) representava 55% desse total global. 2008 ficou marcado por uma alteração histórica no posicionamento dos principais produtores de vinho, com a passagem da Itália para primeiro produtor mundial, em detrimento da França. De um modo geral, nos últimos anos tem-se verificado uma evolução decrescente da produção na Europa e um aumento nos novos produtores de vinho.

2. Em matéria de exportações dos cinco principais países exportadores de vinho da União Europeia, nas últimas décadas verificou-se uma evolução negativa. Esta evolução contrastou com a verificada nas exportações dos países emergentes (países do Novo Mundo). Em volume, os países emergentes poderão vir a superar os europeus a médio-prazo. Entre os países emergentes que vêm reforçando a sua posição no mercado mundial encontram-se o Chile, a África do Sul e a Argentina.

3. Portugal surge também na 5ª posição na Europa em termos de consumo e em 12º em termos mundiais, mantendo uma posição estável ao longo dos últimos anos. No que se refere à quota de mercado de Portugal no consumo global, esta tem vindo a oscilar, nos últimos trinta anos, entre os 3% e 4%. A Franca lidera o mercado mundial no consumo com 14% de quota, seguida pelos Estados Unidos da América e pela Itália. Nos principais países consumidores, especialmente em Franca e Itália, a tendência geral tem sido a do decréscimo (ligeiro) do consumo de vinho.

4. No consumo por habitante e ano, a Franca lidera novamente, com um consumo superior a 50 litros, logo seguida por Portugal e pela Itália. Nos 10 principais consumidores mundiais, 8 são europeus.

5. Como é geralmente sabido, em Portugal a vinha está presente em todo o país, mas as regiões que mais contribuem para a produção nacional são Trás-os-Montes, com 29%, e as Beiras com 22%. O peso do sector do vinho na produção agrícola tem vindo a aumentar ao longo da última década, em especial entre 2000-2007, altura em que atingiu valores em torno dos 15% do total do sector (dados do Instituto do Vinho e da Vinha).

6. Portugal é um país com invejáveis potencialidades para a produção de vinhos de qualidade, onde avultam as boas condições climáticas e geológicas e a detenção de castas únicas. No total, em 2008/2009, os vinhos com denominação de origem protegida representaram 74% da produção total. Em grande parte, este valor ficou a dever-se ao peso que os Vinhos do Porto detêm nesta categoria.

7. Falando-se de Vinho do Porto, importa assinalar que no quinquénio 2000 a 2005 este registou um decréscimo ligeiro nas exportações, em volume e em valor, tendência esta que se manteve até ao ano 2009. Todavia, no primeiro semestre do ano de 2010, as exportações no Douro crescerem 10%.

8. Pese a “multidão” de pequenos vitivinicultores presentes no Douro, cinco grandes grupos produtores (a Symington Family Estates, a Taylor Fladgate, La Martiniquaise, a Sogrape e a Caixa Nova) controlam cerca de 80% do mercado do Vinho do Porto. A Symington é um exemplo muito particular neste contexto já que, sendo o maior proprietário no Douro, com 1.900 hectares (de que apenas são 800 de vinha cultivada), no panorama europeu e mundial, é uma empresa média, de natureza familiar.

9. As dificuldades enfrentadas pelas empresas produtoras e exportadoras de vinhos, incluindo as de vinho do Porto, e a evolução registada nas estruturas de mercado são consequência da conjugação de vários factores, onde avultam: i) a concorrência de novos e importantes países produtores (Américas, Oceânia e África); ii) a concorrência aos vinhos provinda dos refrigerantes, cervejas e vinhos espirituosos; iii) a própria evolução dos gostos e tendências no mercado consumidor que, num certo momento, pelo menos, tenderam a penalizar o consumo do vinho. Nesse quadro competitivo, o sucesso das empresas não pôde deixar de considerar a internacionalização, a introdução de inovações no processo de produção e de transformação das uvas, e também o recurso a trabalho mais qualificado que, aparte dar resposta às exigências de inovação de processo, fosse capaz de encontrar soluções que atendessem à evolução dos gostos dos consumidores, à escala internacional.

10. Nessa trajectória e por referência à realidade nacional, os problemas que foram sendo sinalizados e os desafios que importava vencer eram/são, de um modo geral, aqueles que foram identificados em 2004 por uma equipa liderada por Michael Porter, num estudo realizado sob encomenda da ViniPortugal; a saber: i) o espartilhamento existente no sector; ii) a presença de uma mentalidade aversa ao risco; iii) a falta de saber-fazer técnico; iv) a inadequação da legislação exigente; e v) a insuficiente aposta na internacionalização. Felizmente, algo se foi fazendo nessas diversas dimensões, conforme o parecem evidenciar alguns resultados alcançados, quer em termos de preservação de quotas ou de penetração em novos mercados e segmentos de mercado, quer em termos de qualidade dos vinhos postos ao dispor dos consumidores nacionais e internacionais. Este é, entretanto, um esforço que jamais se poderá dar por encerrado.

J. Cadima Ribeiro

(A fonte principal dos dados usados neste texto foi uma dissertação de mestrado entretanto apresentada na EEG/UMinho, de que é autor Filipe Antunes).

[artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, no contexto de colaboração regular em coluna intitutulada "A Riqueza das Regiões"]

sábado, abril 02, 2011

“O QUE FAZER PELA MINHA REGIÃO?”: CONCLUSÕES DA REUNIÃO ABERTA

«ADLEI – Associação para o Desenvolvimento de Leiria
Centro Associativo Municipal, Sala 12 ( Mercado Municipal de Leiria – ala nascente, 1º andar ) - 2400-221 Leiria
Apartado 1102 / 2401-801 Leiria
Telf: 244 815 160
Fax: 244 815 161

CONCLUSÕES DA REUNIÃO ABERTA
“O QUE FAZER PELA MINHA REGIÃO?”
A Região (Pinhal Litoral) tem mantido, nos últimos anos, uma posição de topo no “índice global de desenvolvimento regional”. O sucesso económico alcançado (conseguido num quadro geral de estagnação) e o bom desempenho à escala do país não podem, contudo, iludir dimensões da realidade regional que são fortes constrangimentos ao seu desenvolvimento. De entre esses constrangimentos sobressaem o seu mediano posicionamento relativo, medido pelo “índice de competitividade” (carências ao nível da inovação/tecnologia), o recuado posicionamento na dimensão da “qualidade ambiental”, a baixa massa crítica em vários domínios que a possa afirmar como um território competitivo e a projecte no plano nacional e internacional. Aqui faltam parcerias regionais e internacionais, assim como uma clara definição de aposta e de reunião de vontades e iniciativas em sectores económicos de futuro.
Continua, pois, a faltar uma estratégia activa para o território e uma liderança que agregue vontades e projectos, envolvendo empresas, universidades, politécnico e unidades de transferência de tecnologia, entre outros.
É fundamental, neste âmbito, pensar a região como um espaço sentido e vivido, construído na criação e no reforço de parcerias entre agentes de desenvolvimento, na coordenação de acções entre instituições e forças vivas regionais e que se possa considerar para além da área da Comunidade Intermunicipal do Pinhal Litoral.
É importante, no imediato, a concretização de espaços de reflexão conjunta de aprofundamento da realidade regional, de procura de opiniões e definição de objectivos comuns que se tornem suportes para uma estratégia de desenvolvimento que afirme a região por si própria, a partir da potenciação dos seus recursos. Neste sentido foram apresentadas algumas sugestões como um Fórum trimestral e um Fórum cívico na Praça Rodrigues Lobo.
Deve, também, manter-se activa a exigência de soluções que visem:
- concluir com urgência a rede rodoviária transversal;
- modernizar a Linha do Oeste;
- construir uma acessibilidade aérea a pensar no incremento turístico a partir do low cost, consensualizando uma opção de localização com urgência;
- melhorar a coordenação de eventos regionais a pensar no desenvolvimento turístico;
- solucionar os problemas ambientais que se arrastam;
- melhorar a oferta regional de infra-estruturas de tecnologia de informação e de comunicação, combatendo os atrasos regionais;
- não subestimar o contributo da educação para elevar os níveis de competitividade,
devendo o padrão de comparação ser o europeu e não o nacional;
- a necessidade de incrementar políticas activas de combate ao insucesso e ao abandono escolar e na qualificação da população activa;
- não abdicar e manter viva a consideração da oferta dos três graus no ensino superior público na região, visando dar um salto em I&D, mantendo no horizonte, se necessário e para esse efeito, a perspectiva da passagem do IPL a universidade.
Foi, igualmente, reconhecida a necessidade de valorizar e dar a conhecer a acção que se desenvolve ao nível intermunicipal (AMLEI;ADAE;CIMPL). Existem práticas e projectos muito positivos que mostram que há condições para aprofundar a cooperação intermunicipal e obter consensos em projectos comuns para a região, optimizando meios e recursos e dando resposta aos problemas do desenvolvimento local e das populações. Neste quadro é possível pensar a intervenção no território com programas que não sejam apenas o somatório de projectos municipais, mas o resultado de uma visão integrada de intervenção com novos projectos que valorizem e afirmem o território no seu conjunto. Devem ter-se em atenção os actuais problemas do financiamento do poder local, mantendo sempre presente a defesa da sua autonomia e das suas competências.
Desta Reunião Aberta ficou registado um conjunto de opiniões que exigem debate e aprofundamentos futuros, como são o caso do papel do Estado/Parcerias Público - Privadas, da Segurança Interna/Justiça - Campus da Justiça em Leiria, dos sectores económicos em crise, dos graves problemas de exclusão social e o papel da Adlei na constituição de uma Agência de Desenvolvimento Regional. Entendeu-se, também, que é preciso prosseguir a reestruturação administrativa do Estado, dando coerência territorial aos órgãos desconcentrados da administração central e promovendo a descentralização efectiva de competências para a região.
Considerou-se necessário contrariar o actual processo de centralização e esvaziamento de funções na região, assim como manter aberto o debate sobre o modelo de descentralização e de regionalização.
Finalmente entendeu-se considerar com urgência os problemas dos sectores do turismo, da construção civil e da cerâmica, exigindo apoios específicos à sua reestruturação e valorizar o papel da agricultura regional na criação de emprego, no contributo para a superação do nosso défice alimentar com o reforço dos apoios aos jovens agricultores, na dinamização de mercados locais de venda de produtos agrícolas e de redes de lojas no exterior, entre outros.
A Direcção da ADLEI
Leiria, 28 de Março de 2011»

(reprodução do documento em título, divulgado pela ADLEI entre os seus associados, via correio electrónico, durante o dia de ontem)