Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Empresas portuguesas e o mercado Ibérico

A proximidade entre o mercado português e mercado espanhol é uma realidade incontornável e que deve ser obrigatoriamente aproveitada pelo capital português. Essa proximidade acarreta um conjunto de mais valias que podem, sem dúvida, beneficiar as empresas portuguesas com capacidade empreendedora e vontade de investir num mercado que tem uma dimensão (44.108.530 pessoas) capaz de atrair os investimentos portugueses para o outro lado da fronteira. Como é óbvio, as vantagens também podem ser olhadas de lá para cá e é isso mesmo que tem vindo a acontecer, já que as empresas espanholas têm, de certa forma, “invadido” o mercado nacional. Em 2001 os investimentos espanhóis em Portugal eram de 871 milhões de euros e em 2005 ascendiam já aos 1087 milhões de euros, o que demonstra uma crescente aposta do capital espanhol em terras portuguesas, aposta essa que deve ser cada vez mais recíproca, e que é também um sinal de que as empresas de país vizinho já se aperceberam das vantagens de uma maior interacção e cooperação entre as nossas economias.
Olhando para os dados, verificamos que o investimento português em Espanha diminui desde o ano 2000, sendo que em 2005 foi de 365 milhões de euros, grande parte deste efectuado na área das finanças, banca e seguros.
Existem já algumas empresas portuguesas que têm apostas fortes no mercado espanhol, vendo-o como uma real possibilidade de crescimento e expansão. A Renova é um bom exemplo disso mesmo, apostando forte no mercado espanhol é uma empresa que já tem uma posição importante assegurada no país vizinho, facturando mais de 120 milhões de euros em Espanha. No sector energético a EDP e a Galp mostram também uma vontade cada vez maior de penetrar no mercado espanhol, procurando possibilidades de negócios que as valorizem e que consolidem a posição que já detêm. São estas empresas que devem ser tidas como exemplos para os investidores portugueses, pela sua capacidade empreendedora e pelo seu sentido de visão. Como é óbvio, as oportunidades do mercado Espanhol não estão só ao alcance dos “grandes tubarões” como a Galp e a EDP, as PME’s devem também apostar numa politica de investimentos para lá da fronteira portuguesa, procurando o seu pedaço de oportunidade em Espanha.
Contudo, esta aposta no mercado Espanhol não deve ser feita num sentido de “iberização”, deve antes ser vista como uma necessidade por parte das empresas portuguesas para subir mais um degrau no caminho para a globalização. Como todos sabem, fazemos parte de uma união económica e monetária, temos as fronteiras abertas, não só para viajar, mas também para investir nos mercados europeus, estes encerram um conjunto de verdadeiras oportunidades de investimento para as empresas portuguesas que estejam em condições e que tenham capacidade de arriscar.
Neste âmbito, é preciso aplaudir as visitas feitas pelo antigo e também pelo actual Presidente da Republica a Espanha, no sentido de procurar um maior contacto entre os dois países e aludir ao desejo de uma maior reciprocidade no mercado ibérico. Como será também de referir a primeira reunião do Concelho de Globalização em Portugal, onde se reunirão empresários e gestores portugueses e internacionais. São este tipo de iniciativas que podem impulsionar as empresas portuguesas ao investimento no exterior e abrir-lhes as portas do mercado global.
Assim sendo, é necessário promover um Portugal mais empreendedor, sem medo de correr riscos e que seja capaz de apostar para lá das suas fronteiras.

Hélder Miguel Ferreira Tavares

(doc. da série artigos de análise/opinião)

1 comentário:

Anónimo disse...

Temos um problema com Espanha, que temos que superar e se não fomos capazes de o fazer até agora, teremos que ser capazes de o fazer no futuro. O nosso comércio inter-industrial com Espanha é nos claramente desfavorável. Um dos objectivos desta aposta em Espanha é transformar as nossas transacções em transacções do tipo intra-industrial, em detrimento daquilo que são hoje em dia e que se caracteriza, basicamente, pelo comércio inter-industrial. Temos um perfil de especialização que é, claramente, diferente do espanhol. Os espanhóis têm grande facilidade em colocar os seus produtos no nosso país porque o nosso nível de especialização ainda é muito marcado, pelos sectores tradicionais (têxteis, vestuário e calçado, etc.), cujos produtos são dificilmente colocáveis em Espanha. Os produtos em que a economia espanhola é mais competitiva têm uma colocação mais fácil aqui em Portugal.
O comércio inter-industrial acaba por nos conduzir a uma situação de desequilíbrio, em termos de balança de mercadorias, no nosso relacionamento com Espanha e aquilo que há que fazer, apostando em políticas activas de internacionalização, em políticas de imagem, no reforço da nossa plataforma competitiva nacional e na alteração do nosso perfil de especialização. Estas actuações têm que ocorrer paralelamente.
O nosso objectivo relativamente a Espanha é alterar a concentração que existe no relacionamento de tipo inter-industrial, passando para um relacionamento do tipo intra-industrial, que seria muito mais vantajoso para a nossa economia e para as nossas empresas. Como tal, pensamos que faz sentido concentrar esforços, não apenas na política de imagem, nas chamadas políticas de internacionalização, mas também ao nível das políticas de competitividade que visam tornar mais competitivos e que visam alterar o nosso perfil de especialização.