Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

terça-feira, dezembro 30, 2008

Afinal os recursos e competências dos territórios contam e o país não vive num mar de rosas

1. Este período que atravessamos é fértil em jantares e convívios, o que sempre constitui oportunidade para conversas e encontros que noutros contextos dificilmente acontecem. Infelizmente, na maior parte dos casos, trata-se de iniciativas únicas no ano, mesmo que o contacto pessoal, não formalizado, seja a forma mais eficaz de trocar informação relevante, de cariz económico, técnico ou outro, e fonte de muitas ideias e oportunidades. A unidade de investigação a que pertenço (NIPE) cumpriu também este ritual, tendo-me permitido, a dado passo, saber que um dos meus colegas investigadores havia recomendado entretanto a alguém a visita a um dos meus “jornais de parede” de economia (http://economiaportuguesa.blogspot.com), vulgo, blogues. Retorqui-lhe, a propósito, que esse meu blogue parecia provocar algum desconforto a alguns outros autores de blogues de Economia, já que, geralmente, não versava os “grandes” temas da política macroeconómica. Antes, pegava na economia portuguesa a partir dos recursos, das competências dos agentes e da dinâmica dos seus territórios (regiões), assumindo que a saúde da economia do país só pode repousar na saúde e no dinamismo dos seus agentes (famílias, empresas, agentes institucionais) e dos seus territórios.
2. Corri pouco risco nesta afirmação, nesta altura, ao contrário que teria sucedido há poucos meses, pois que até o governo de José Sócrates parece ter percebido isso entretanto, como o sugerem as múltiplas visitas de ministros e secretários de Estado ao “país real” que se têm verificado nas derradeiras semanas, e as declarações “de preocupação” com a situação das empresas e dos portugueses que o próprio e vários dos seus colaboradores próximos têm proferido. Curiosamente, o país é o mesmo de há poucas semanas ou meses, sendo que o ministro das finanças do dito governo era tido, por essa altura, como um exemplo de eficácia e competência, por ter reconduzido o défice das contas públicas para valores abaixo dos 3% do PIB. A contrariar essa imagem, emergira quase só a classificação pelo Financial Times de Teixeira dos Santos como um dos piores ministros das finanças da União Europeia, abaixo dos primeiros 15, se não estou enganado. Poderia, obviamente, ser má vontade do mencionado jornal inglês para com os cabelos brancos do “nosso” homem; podia…
3. Falando de territórios e respectivo desempenho, vale a pena deixar aqui a informação que, por encomenda do governo português, a OCDE, produziu não vai para muitos meses um relatório intitulado “Estudos Territoriais da OCDE: Portugal”, editado em português pelo Instituto Financeiro para o Desenvolvimento regional, IP., antiga Direcção-Geral de Desenvolvimento Regional. Surpreendentemente, dada a natureza da entidade responsável pelo estudo, tem bastante informação tratada a nível de unidades estatísticas de nível III (NUTs III), o que permite traçar um retrato bastante fidedigno da realidade do país, o que de maneira nenhuma se consegue usando NUTs II, quer dizer, os territórios de intervenção das chamadas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional. Pena é que nem todos os dados tenham a actualidade que seria recomendável.
4. Sinal dos tempos, é com interesse e alguma perplexidade que se pode ler nesse relatório algo como o seguinte:
As ambições de Portugal de modernizar a economia nacional estimulando a inovação irão, por conseguinte, exigir políticas que identifiquem os recursos específicos existentes nas diferentes regiões e que facilitem a sua valorização.
Este objectivo torna necessária uma mudança crítica relativamente às orientações anteriormente seguidas pelas políticas aplicadas em Portugal. Até ao recente lançamento de programas emblemáticos […], a política para a inovação esteve, […], ausente ou encontrava-se dissociada da política regional, o que se traduzia em resultados ambivalentes para o desenvolvimento nacional.[…]. Em contraste com o arranque económico favorável noutros países (como a Espanha e a Irlanda) que também eram habitualmente elegíveis para a ajuda especial europeia (Fundo de Coesão), o impasse de Portugal indica que o investimento passado […] não foi suficiente para desencadear uma dinâmica de desenvolvimento endógeno baseada em recursos competitivos
.” (OCDE, 2008, pp. 15/16)
A perplexidade que refiro decorre de ver posta em dúvida a consistência das políticas estruturais conduzidas no âmbito dos Quadros Comunitários I, II e III e o brilhantismo dos seus inspiradores e executores, alguns dos quais ainda andam por aí, sob as luzes da ribalta. E mais me assiste a dúvida sobre a inconsistência que se deduz da política regional mantida que passo a explicitar de seguida: não é verdade que se usava chamar de planos de desenvolvimento regional aos documentos com base nos quais se negociavam, em Bruxelas, os quadros financeiros de apoio (CQAs)?
Não me digam que se andou a vender aos portugueses gato por lebre? Não quero acreditar! Recuso-me a crer na evidência.

J. Cadima Ribeiro

(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

quinta-feira, dezembro 25, 2008

"Permeabilidade de diferentes esferas da vida social à finança"

"Esta permeabilidade de diferentes esferas da vida social à finança, em todas as classes e em todas as idades, activamente promovida pelo Estado, torna a recente crise uma preocupação maior para o nosso país. O aumento do desemprego e consequente estagnação ou mesmo diminuição dos salários, aliada ao sobrendividamento, fazem prever o pior no acesso aos bens e serviços essenciais."
(excerto de mensagem intitulada "A crise e o processo de financeirização em Portugal", datada de 08/12/22, disponível em Ladrões de Bicicletas)

terça-feira, dezembro 23, 2008

"Os espanhóis têm cerca de um terço dos empregadores e empregados com formação de nível superior"

Notícia Diário Digital
Estudo: Espanhóis mais qualificados do que os portugueses:
http://diariodigital.sapo.pt/dinheiro_digital/news.asp?section_id=2&id_news=109394

(cortesia de Nuno Soares da Silva)

O desafio da competitividade...

As últimas décadas têm sido marcadas por profundas mudanças nos sistemas económicos e por um notável avanço no domínio das novas tecnologias que vem lançar um enorme desafio às empresas mais ambiciosas ao enfrentarem um mercado globalmente mais competitivo.
Recentemente, o ministro da Economia, Manuel Pinho, em declarações a uma rádio portuguesa, disse acreditar na competitividade das empresas portuguesas e na capacidade destas enfrentarem a pressão competitiva vinda da vizinha Espanha. “Acredito que as nossas empresas são suficientemente fortes para concorrer e para o fazerem cada vez melhor”, salientou.
É nos períodos de crise que as empresas se deparam com a necessidade de redução de custos e reestruturação do sistema produtivo de forma a fazer face às quebras do consumo. De facto, a actual conjuntura económica nacional e internacional coloca às empresas portuguesas um novo desafio, que deve ser encarado no contexto de competitividade, de concorrência e de definição de vantagens competitivas. Como tal as apostas devem ser construídas de uma forma sólida, com base nos seguintes aspectos:
- Inovação e capacidade de criação de valor;
- Crescimento sustentado da produtividade e na recomposição das actividades, de forma a tirar partido do custo relativo dos factores num mercado de moeda única;
- Exploração dos factores territoriais e definição de estratégias de internacionalização;
- Racionalização dos custos produtivos;
É necessário que as empresas, e o país, sejam capazes de criar uma estrutura interna de inovação. Essa estrutura deve contudo ter como base a criação de cadeias de valor em sectores específicos, que gerem vantagens competitivas. É também necessária a exaustiva exploração das reservas de capital humano e de I&D (investigação e desenvolvimento) que permitam aperfeiçoar processos produtivos, apostar na diferenciação e criar novos produtos com qualidade reconhecida. Contudo, tais medidas têm de estar associadas a uma reestruturação do sistema de financiamento das empresas Portuguesas, reduzindo o acesso ao financiamento externo, de forma a diminuir a vulnerabilidade a choques externos. È também fundamental apelar a uma maior flexibilidade das empresas e das condicionantes políticas da sua actividade, tentando estabelecer uma aproximação aos padrões de governação das democracias ocidentais mais desenvolvidas.
São muitas as reformas necessárias para agilizar o processo produtivo e nos tirarem dos lugares cimeiros no que toca à “incapacidade de criação de valor”, segundo dados divulgados pela OCDE (relatório sobre os níveis de competitividade), que terão necessariamente de ter início com uma aposta na educação, formando uma sociedade prática, consciente, ágil, ambiciosa, eficiente e produtiva!
Paulo Jorge Carvalho
(estudante de Economia da EEG/UMinho)
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho)

segunda-feira, dezembro 22, 2008

O subfinanciamento das IES

«Nos últimos três anos, as transferências do Estado para as instituições de ensino superior têm vindo a diminuir e já não chegam para cobrir as despesas correntes. Às universidades e politécnicos públicos é-lhes pedido que recorram às receitas próprias para pagar despesas que, até há dois anos, eram da responsabilidade do Estado.
Ano após ano, as instituições queixam-se do subfinanciamento e vão adiando projectos "à espera de melhores dias", conclui-se num inquérito que o PÚBLICO lançou há um mês ao sistema público de ensino superior e a que responderam metade (15 em 30) das instituições.»
(excerto de Notícia PÚBLICO - Última Hora, de hoje, intitulada "Universidades cortam verbas para professores e instalações")
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[cortesia de Nuno Soares da Silva]

terça-feira, dezembro 16, 2008

A Galiza também abranda

A situação económica na Galiza tem vindo a piorar ao longo do último ano. Os dados mais recentes sobre o nível de actividade, relativos ao terceiro trimestre do ano, confirmam o agravamento da situação. A variação inter-anual do valor acrescentado bruto não agrário nesse trimestre foi de 0.9%, ligeiramente superior à variação de 0.6%, verificada no conjunto de Espanha.
Estima-se que a taxa de crescimento do produto no final do ano apenas venha a ultrapassar o 1%. O abrandamento do ritmo de crescimento do produto advém tanto da fraqueza da procura privada interna como da acentuada quebra das exportações. A primeira, constituída pelo consumo final das famílias e a formação bruta de capital (FBC), está a cair a ritmos progressivamente mais intensos e é bastante provável que a sua taxa de crescimento não exceda o 1% no final do ano.
A componente da procura exterior também revela dados preocupantes. A quebra acumulada das exportações é superior a 8% e a das importações ultrapassa os 7%. Contudo, o dado mais destacado é o relativo à quebra das importações de bens de equipamento, que no que vai de ano se aproxima dos 70%. Este dado evidencia o forte ajustamento do sector produtivo. As empresas, perante expectativas de negócio pouco favoráveis, estão a adiar as suas decisões de investimento, contribuindo para afundar, ainda mais, os níveis de actividade.
O sector da construção civil merece um comentário diferenciado. A queda acumulada de construção de habitações na Galiza é superior a 45%, sendo a da superfície a construir de quase 40% (dados do mês de Maio). O emprego sectorial caiu apenas 6.5%, graças à manutenção dos níveis de investimento público. Neste sentido, convém destacar que o número de concursos públicos no sector caiu unicamente 3.5%, nos oito primeiros meses do ano, devido, entre outras razões, à conjuntura pré-eleitoral derivada da iminente convocatória de eleições para o governo regional.
A situação no mercado de trabalho começa a ser especialmente preocupante. O número de desempregados aumentou nos primeiros três trimestres do ano em quase 11%, e a taxa de desemprego atinge 8.4% da população activa. A conjuntura neste âmbito tem-se agravado seriamente nos últimos meses. Os dados do último mês do terceiro trimestre (Setembro) revelam que a seguir ao verão as empresas, de alguns dos sectores mais importantes em termos de emprego, levaram a cabo processos de ajustamento através de despedimentos acordados ou da não renovação dos contratos a termo. Os jovens menores de 25 anos foram os mais afectados por este ajustamento, dado que o número médio de inscritos na Segurança Social caiu drasticamente após o verão, passando de 87,000 para apenas 77,000.
Um dado que reforça a má situação do mercado de trabalho é o elevado número de Expedientes de Regulação de Emprego (ERE). Este procedimento, regulado por Lei, permite às empresas prescindir temporariamente (e inclusivamente despedir, por extinção do posto de trabalho) dos seus trabalhadores, utilizando como justificação principal a queda de encomendas. Até ao início deste mês, 480 empresas utilizaram esta figura para ajustar o seu volume de emprego. Neste momento, há mais de 7,500 trabalhadores afectados por este tipo de expedientes. Por sectores, os mais prejudicados são os de componentes para automóveis, onde foram apresentados 42 expedientes, alguns deles de centenas de trabalhadores, o das pescas e o têxtil.
O contexto actual caracteriza-se por uma manifesta escassez de procura, a qual é causa e consequência da perda continuada de empregos, por uma dificuldade considerável para financiar o consumo e o investimento, por uma recessão profunda nos mercados externos das empresas e, em definitivo, por uma incerteza crescente, da generalidade dos agentes económicos, relativamente ao futuro. Independentemente das medidas de curto prazo que possam ser postas em prática, esta conjuntura deve obrigar os responsáveis de política a reflectir sobre o modelo de desenvolvimento a longo prazo e, sobretudo, sobre o modelo de governação que deverá vigorar nas próximas décadas.
Na actual conjuntura, as intervenções de curto prazo do governo autonómico neste âmbito terão um alcance muito reduzido. Assim sendo, o governo central é o que tem que apresentar medidas de política económica solventes, que contribuam para estimular a procura privada e substituir parte dela por consumo público, sem esquecer que a actividade económica só voltará a ganhar algum vigor quando as dinâmicas da criação de emprego forem restauradas. As políticas fiscais expansivas que estão a ser propostas nos últimos dias parecem uma boa solução para estimular a economia no curto prazo, mas é nestes momentos quando convém lembrar que, no âmbito produtivo, os recursos públicos devem servir para incrementar a competitividade no longo prazo. Em Espanha isso não foi feito durante os anos de bonança económica. Na Galiza os défices a esse nível foram maiores, e as falhas de orientação comparativamente mais duradouras.
FRANCISCO CARBALLO-CRUZ

(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

Seminário “Economic Analysis Using Linked Employer and Employee Data”

«Bom Dia,
O Departamento de Economia e o NIPE (Núcleo de Investigação em Políticas Económicas), estão a organizar um workshop a 18 de Setembro de 2009 sobre “Economic Analysis Using Linked Employer and Employee Data”.
O orador principal deste workshop é o Professor David Card, University of California, Berkeley. Gostaríamos de chamar a sua atenção para este evento. Por favor verifique abaixo o Call for Papers.
Informação adicional sobre o evento pode ser encontrada no sítio:

http://www3.eeg.uminho.pt/economia/nipe/workshopLEED2009/index.html

Despeço-me apresentando os meus melhores cumprimentos,

Dina Guimarães»
(reprodução integral de mensagem que me caiu entretanto na caixa de correio electrónico, com a proveniência que se identifica)

sexta-feira, dezembro 12, 2008

terça-feira, dezembro 09, 2008

Portugal no caminho para os projectos públicos?

Na actual situação económica, grandes investimentos públicos (TGV, auto-estradas, aeroportos, etc.) são questionáveis. Para os socialistas (PS), são relevantes para o futuro de Portugal, enquanto os sociais-democratas (PSD) os vêem como o buraco que afundará ainda mais o país. Ambas as partes possuem fortes pilares de razão, sendo apenas possível optar não pela decisão certa, mas sim pela mais apropriada.
De facto, se os projectos são cancelados o investimento público diminui. Esta escolha, para além de afectar projectos do sector privado, também produz impacto negativo no desemprego (considerando que esses investimentos iriam recrutar desempregados). Deste modo, seria de esperar uma retracção do consumo privado, e um eventual aumento da despesa pública (subsídios de desemprego). Com este panorama, a economia portuguesa deteriora-se.
Se os projectos seguirem em frente, o Estado ao ir buscar financiamento na banca aumenta assim as suas responsabilidades. Este processo leva a que os juros subam, o que torna a obra mais cara e dificulta o acesso a crédito por parte do sector privado. Este aumento do custo faz com que a despesa do Estado aumente o que directa ou indirectamente agrava o défice público. Caso o défice supere os 3% o Estado é obrigado a aumentar os impostos e/ou reduzir a despesa. Nesta situação, o efeito revitalizador dos projectos seria perdido. Contudo, num panorama de excepção do Pacto de Estabilidade, com margem para flexibilizar a obrigação da redução do défice em situações de crise, a hipótese de ultrapassar os 3% poderá ser concedida. Deste modo, a realização dos projectos públicos pode reanimar a economia.Outro aspecto a realçar é a aprovação do Plano Paulson nos E.U.A. o que pode levar o mercado financeiro mundial à normalidade. Mesmo na Europa, apesar de não haver um plano semelhante, tem existido um esforço conjunto na estabilização do mercado, através de injecções de liquidez e nacionalizações de instituições. Estes acontecimentos podem levar o mundo de volta à Grande Moderação. De um ponto de vista mais pessoal, é preferível usar fundos do Estado para financiar a obra, do que encaminhá-los para subsídios de desemprego. A meu ver, os projectos públicos são o aditivo que o motor do nosso país precisa, mas só aumentam o desempenho se no motor existir gasolina, e essa deve ter ingredientes como estabilidade do mercado, melhores políticas económicas, melhor alocação dos recursos humanos, maior produtividade e melhor formação profissional.
Helder Fernando Pereira Alves
(Estudante de Economia da EEG/UMinho)
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho)

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Success

"Success usually comes to those who are too busy to be looking for it."

Henry David Thoreau

(citação extraída de SBANC Newsletter, December 2, Issue 548-2008, http://www.sbaer.uca.edu)

terça-feira, dezembro 02, 2008

A actual crise financeira mundial e a economia portuguesa

Há três semanas, fui contactado por estudantes brasileiros a realizar estudos na EEG, Universidade do Minho, no quadro de programa de intercâmbio, no sentido dos ajudar a perspectivar o impacto que a actual crise financeira mundial poderia ter na economia portuguesa. É uma versão desse texto que vos proponho nos parágrafos que se seguem.

A economia portuguesa atravessa um período de estagnação económica que se arrasta desde 2002, que constituirá o mais longo período de ausência de progresso económico na sua história desde há várias décadas. Para esta situação conjugam-se problemas estruturais por resolver, enquadramentos económicos externos penalizadores da especialização produtiva nacional e erros graves de estratégia e de gestão económica dos últimos governos. Depois de nos últimos três anos terem sido controlados desequilíbrios nalgumas variáveis económicas, nomeadamente nas contas públicas, o governo português tinha a expectativa que os anos de 2008 e 2009 fossem já de recuperação, o que esta crise veio pôr dramaticamente em causa.
A crise sentida nos mercados financeiros está a manifestar-se em Portugal de diferentes formas. A mais demolidora decorre do abrandamento dos principais mercados de destino das mercadorias e serviços vendidos pelo país, inviabilizando fazer das exportações o motor do crescimento do PIB, como vinha acontecendo. A crise vivida por alguns dos principais parceiros económicos de Portugal, particularmente a Espanha, vai também trazer fortes consequências em matéria de desemprego, já que se conhece o número importante de trabalhadores portugueses que aí trabalham, para empresas locais ou para empresas portuguesas a operar nesses destinos.
Uma outra vertente desta crise ‘importada’ dos Estados Unidos da América, herdeira directa da governação Bush, vem-se exprimindo na instabilidade que tem atravessado os mercados financeiros, e que, nos momentos iniciais da sua repercussão na Europa, ditou a “bancarrota” de alguns bancos e a subida da Euribor, taxa de referência do custo do crédito às famílias e às empresas neste mercado. Sabido que em Portugal esta taxa é usada para “indexar” o custo do crédito à habitação, percebe-se o alarme que se gerou em muitas famílias, alarme proporcional ao número das que entretanto contraíram dívidas para pagar casa própria. Mesmo que entretanto essas taxas estejam a aliviar, isso vem-se reflectindo num número crescente de situações de insolvabilidade de famílias e na perda de capacidade aquisitiva por parte de outras, visível nas compras quotidianas no comércio a retalho. Para este efeito, é bom que se tenha presente a dificuldade porque passavam já os portugueses dos extractos sociais médio e baixo, em razão de políticas de rendimentos e fiscais que os penalizavam (e continuam a penalizar) fortemente.
A falta de liquidez que se sentiu (e ainda sente), e cuja solução encontrada pelo BCE foi a diminuição da taxa de desconto no espaço europeu (Euro-zona), está também a afectar as empresas, que encontram crescente dificuldade para se financiarem junto da banca. De forma a atenuar este efeito, o governo português, à semelhança dos governos de outros países europeus, tomou diversas medidas, de que se destacam:
i) a disponibilização de uma garantia sobre os depósitos existentes nos bancos a operar em território nacional no valor de 20 mil milhões de euros, para accionar em caso de crise dos bancos. Uma consequência lateral desta medida destinada a manter a confiança dos depositantes foi a nacionalização entretanto ocorrida do Banco Português de Negócios, que entrou em ruptura por razões alheias à crise internacional; e
ii) a decisão de efectuar o pagamento das suas dívidas (do Estado, entenda-se) às empresas. Essas dívidas alcançam já o montante aproximado de 2% do produto português. Espera-se que esta medida vá impulsionar a economia, contrariando os problemas de liquidez que se fazem sentir e impulsionando os negócios e, nalguma medida, a procura interna.
Finalmente, a crise pode levar ao adiamento do lançamento de alguns projectos públicos de maior dimensão nos domínios aeroportuário e ferroviário, entre outros, em razão da escassez de recursos do Estado e dos eventuais parceiros privados. Nesta altura, isso é fonte de grande controvérsia política, nalguns casos com maior razão do que noutros. Este eventual adiamento de investimentos, aparte impactos que pudesse gerar na competitividade geral do país, pode, ele também, debilitar a componente de política anti-cíclica que o governo tinha projectado (se bem que, verosimilmente, muito mais por razões eleitorais do que por reais preocupações com o relançamento da economia).
Sempre indesejável, qualquer crise económica ou financeira que seja, esta oferece-se particularmente penosa para as famílias e para o país por ter surgido numa altura em que os portugueses tinham francas expectativas de verem melhorar a sua situação, depois de múltiplos anos de “aperto do cinto”. Dramático é, entretanto, que o país não pareça melhor preparado para iniciar um novo ciclo virtuoso, por curtas de vista terem sido as orientações de política económica seguidas, de que a incapacidade de gerir conjuntamente o combate ao défice orçamental e o relançamento do crescimento são objectiva demonstração.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

domingo, novembro 30, 2008

“Estudos Territoriais da OCDE: Portugal”

«Pese embora o que se anota antes, a aula que me propunha leccionar teve mesmo lugar, porventura por se tratar de um curso de mestrado e por caber no conceito de serviços mínimos que a Faculdade estava a assegurar. Por me parecer oportuno e por conter matéria relevante, no essencial, estive a apresentar alguns dados disponíveis numa “revista” que me chegou às mãos não há muito tempo, intitulada “Estudos Territoriais da OCDE: Portugal”, formalmente produzida pela instituição que aparece referenciada no título da obra, e editada pelo Instituto Financeiro para o Desenvolvimento regional, IP., antiga Direcção-Geral de Desenvolvimento Regional. Surpreendentemente, tem bastante informação tratada a nível de unidades estatísticas de nível III (NUTs III), o que permite traçar um retrato bastante fidedigno da realidade do país, o que de maneira nenhuma se consegue usando NUTs II, quer dizer, os territórios de intervenção das chamadas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional. Pena é que nem todos os dados tenham a actualidade que seria recomendável.»
J. Cadima Ribeiro
(excerto de projecto de artigo de opinião a publicar em data próxima no Jornal de Leiria)

quinta-feira, novembro 27, 2008

"Exportações conseguem crescer 2%"

«Nos primeiros oito meses do ano, as exportações da indústria portuguesa de calçado cresceram 2%, para 952 milhões de euros. O sector continua a ganhar quota de mercado aos seus dois grandes concorrentes internacionais, Itália e Espanha. Com efeito, no primeiro semestre do ano, as exportações italianas recuaram 9% e as espanholas 12%.
Com o final do ano, termina também a maior ofensiva de sempre do calçado português nos mercados externos.»
*
(reprodução integral de notícia do Jornal Negócios, datada de 08/11/26 e intitulada "CALÇADO: Exportações conseguem crescer 2%")

terça-feira, novembro 25, 2008

A crença europeia na mudança

Escrever qualquer texto que verse a actualidade sem referir o acontecimento histórico que foi a eleição apoteótica de Barack Oboma apresenta-se actualmente como uma tarefa difícil. Provavelmente pouco haverá a dizer depois de todas as entrevistas, debates e analises politicas que a Comunicação Social gerou nos últimos meses, no entanto, é importante reforçar as atenções para as negociações que se avizinham e as consequências que estas possam ter na economia mundial.
Obama representa a luz ao fundo do túnel, a esperança renovada do “Sonho Americano”. Washington explodiu numa euforia incontida de centenas de milhar de jovens de todas as raças a apoiar e aplaudir o novo presidente.
George W. Bush deixa a mítica Casa Branca com o índice de popularidade de 26%, o mais baixo de sempre, atrás dele um rasto de inércia, que se vislumbra através da guerra infundada do Iraque ou dos problemas por resolver no Afeganistão e no Irão. Esta apatia levou milhões de americanos a dar o seu contributo para a mudança nas últimas eleições. A própria crise financeira que se vive nos estados Unidos, alertou o povo americano para a ameaça que a falta de regulação representa para uma sociedade capitalista e essa consciência levou-os a centrarem-se em torno da mudança.
O diálogo internacional que se avizinha é vital para a revitalização da Economia Mundial no geral e da americana em particular. É essencial estabelecer prioridades, construir novas ligações potenciando parcerias que solidifiquem uma politica comercial externa eficaz.
Do ponto de vista Europeu uma nova ponte vai surgir e com ela a possibilidade de novos negócios em comum, a mudança que o novo presidente americano propõe para as relações internacionais, apostando na coexistência pacífica, aproxima mais os dois continentes. Pactuando com a Europa, Obama proclama uma visão económica mais assente na regulação, defendendo o fim das lideranças unilaterais e apoiando uma visão assente na partilha de problemas.
Avizinham-se tempos de mudança para as relações transatlânticas. A vitória de Barack Obama é uma grande notícia para aqueles que sentem que este é o momento certo para mudar.

Vera Costa
verafilipa@gmail.com

(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho)

quarta-feira, novembro 19, 2008

A era da colaboração em massa

O Mundo em que vivemos sempre nos habitou a constantes mudanças. Desde o descobrimento da roda, passando pela Revolução Industrial, e chegando à chamada Internet, sim Internet, uma descoberta que considero um elemento muito importante para o desenvolvimento económico.
A Internet surgiu no período da guerra-fria. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos criou um sistema de interconexão entre computadores com o objectivo das bases militares poderem trocar informação entre si.
Hoje em dia a Internet serve para muito mais. Uma das coisas que a Internet serviu foi para alterar a forma de se “fazer” economia, isto é, no passado a colaboração entre empresas/pessoas fazia-se a uma escala muito pequena, era feita entre amigos, família, parentes, sócios de uma mesma área geográfica e, actualmente, muito graças à internet, a economia pode ser feita a uma escala mundial. Deste modo, as pessoas podem colaborar entre si, sem haver a necessidade de se conhecerem. Bem-vindo ao novo Mundo, que muitos já apelidaram de o Mundo da “wikinomia”, onde a colaboração em massa está a modificar todas as instituições da sociedade.
O que se passa actualmente é a chamada “produção com pares”, que descreve a situação em que pessoas, empresas colaboram entre si, com o objectivo de impulsionar a inovação e o crescimento de determinadas indústrias. A produção com pares é uma actividade extremamente social. Para aderir a este tipo de economia, tudo o que é necessário é um computador, uma ligação em rede e um forte empreendedorismo. O acesso crescente às tecnologias de informação coloca nas mãos de muitos indivíduos as ferramentas necessárias para colaborarem e criarem riqueza no interior de todos os sectores da economia.
Ora, o “youtube”, a “wikipedia”, e a “Linux” são grandes exemplares do que a colaboração em massa é capaz de fazer. A “innocentive” é outra criação da colaboração em massa. Esta colaboração é desenvolvida através de um sítio revolucionário que confronta cientistas de todo o Mundo (actualmente são 90 mil os colaboradores) com desafios de I&D (investimento e desenvolvimento) apresentados por empresas que procuram inovação.
Milhares de empresas observam atentamente estes sítios em busca de ideias, inovações e mentes com qualificações únicas, que possam descobrir novos valores para os respectivos mercados.
Fazendo uma análise mais profunda a esta nova participação, verifica-se que pode ser uma bênção para todos nós, mas também pode ser também uma maldição. Ou seja, a produção com pares pode levar a uma criação de riqueza extraordinária e atingir níveis de aprendizagem e de descoberta científica nunca antes vistos, mas também pode gerar agitação e perigo para as empresas e indivíduos que não consigam adaptar-se a esta nova forma de se “fazer” economia.
Podemos assim então viver num Mundo mais pequeno, num Mundo mais aberto, com potencial para ser mais dinâmico e movimentado, mas também mais sujeito a redes criminosas e ataques terroristas. Da mesma maneira que as massas de cientistas podem colaborar e criar projectos que, a nível social, são benéficos, criminosos e terroristas podem, no entanto, conspirar entre si para provocar a nossa destruição.
Em suma, se formos inteligentes e colaborarmos, podemos aproveitar a nova economia para criarmos oportunidades socialmente benéficas, e ao mesmo tempo criar um desenvolvimento sustentável.

Juliana Narciso
julianarciso@gmail.com
(artigo de opinião publicado na edição de ontem do Suplemento de Economia do Diário do Minho)

terça-feira, novembro 18, 2008

Espanha em crise: prestem atenção!

Durante décadas a relação entre as economias portuguesa e espanhola foi escassamente relevante. A entrada na UE e, sobretudo, a sustentada expansão da economia espanhola durante os últimos quinze anos, contribuíram decisivamente para aprofundar essa interdependência. As diferenças de dimensão, estrutura produtiva, padrão de especialização e tecido empresarial explicam a existência de significativas assimetrias no relacionamento entre os dois países em termos económicos. As tendências dos últimos anos mostram que na direcção Portugal-Espanha predominam os fluxos de mercadorias e pessoas, devido ao auge das exportações portuguesas e à atractividade do mercado de trabalho espanhol para os trabalhadores portugueses, nomeadamente em sectores intensivos em mão-de-obra. Em sentido contrário, os fluxos dominantes foram de capital. Num primeiro momento as grandes empresas espanholas foram as protagonistas. Numa segunda fase, empresas de média e, inclusivamente, pequena dimensão, aproveitaram as dificuldades financeiras de algumas empresas portuguesas, provocadas pela perda de dinamismo do mercado interno, para levar a cabo aquisições e crescer no mercado português.
Neste contexto de integração, as consequências da crise internacional na economia portuguesa podem ver-se amplificadas pela rápida deterioração da economia espanhola. A crise em Espanha poderá ter fortes implicações sobre a economia portuguesa por vários motivos: i) pela quebra da procura interna e o correspondente impacto nas importações portuguesas; ii) pela perda de dinamismo do mercado de trabalho e o provável despedimento dos milhares de trabalhadores portugueses actualmente em Espanha; e, iii) pelas restrições de acesso ao crédito que actualmente sofrem as empresas espanholas e o potencial adiamento dos seus planos de investimento a médio prazo em Portugal.
A evolução de muitos indicadores económicos nos últimos meses evidencia a gravidade da situação económica em Espanha. Provavelmente os dados mais negativos são os do desemprego. No final do terceiro trimestre a taxa de desemprego aproximava-se dos 11,5% (11,33%). O desemprego leva cinco trimestres consecutivos crescendo. Nesse período o número de desempregados aumentou em 840.000 pessoas, passando de 1.760.000 para quase 2.600.000. Estes dados colocam Espanha como o país da zona Euro com maior taxa de desemprego, três pontos acima da média. Ademais, para além de não absorver as novas incorporações ao mercado de trabalho, a economia espanhola está a destruir emprego. No último trimestre destruíram-se 78.000 empregos e o nível de precariedade aumentou consideravelmente.
A evolução das receitas fiscais é também especialmente negativa. As receitas das Finanças Nacionais (Agencia Tributaria) caíram, até Setembro, em mais de 10%, em termos homólogos. As quebras das receitas do IVA e do IRC são particularmente significativas, dado que a arrecadação caiu, em termos homólogos, em 14% e 28%, respectivamente. A diminuição da receita fiscal está a produzir tensões nas contas públicas. O superavit fiscal transformou-se durante este ano novamente em défice. O último dado publicado dá conta da existência de um défice de 1,34% do PIB. Ademais, a situação da Segurança Social continua a piorar, dado que o número de contribuintes cai continuamente desde há vários trimestres e o número de desempregados e de reformados segue em aumento.
O PIB da economia espanhola caiu no terceiro trimestre por primeira vez nos últimos quinze anos. A quebra do produto entre Julho e Setembro foi de 0,2%. A previsão para o último trimestre aponta para um crescimento intertrimestral de – 0,4%, o que tecnicamente confirmaria a existência de recessão. Nessa conjuntura o desemprego aproximar-se-á dos três milhões de trabalhadores (à volta de 12% da população activa). Segundo o Fundo Monetário Internacional, a economia espanhola apresentará, no próximo ano, um crescimento negativo de 2,2% e uma taxa de desemprego de 15% (mais de quatro milhões de desempregados). Os principais serviços de estudos espanhóis não conseguem determinar a duração da recessão. Parece claro que esta se estenderá durante os dois primeiros trimestres do próximo ano, mas o que acontecerá durante o segundo semestre é, neste momento, uma incógnita. Contudo, parece haver consenso sobre a longa estagnação da economia durante 2010 e grande parte de 2011.
A principal causa da crise interna é o modelo de desenvolvimento adoptado durante a última década, assente fundamentalmente no crescimento da procura interna e, mais concretamente, na expansão da construção habitacional, grande geradora de emprego e consumo, tanto directa como indirectamente. A contribuição deste sector para a formação do PIB aproximou-se dos 20% nos últimos anos. A travagem neste sector foi espectacular. Em 2007, a sua contribuição para a formação do PIB foi de 18%. A quebra prevista para este ano é superior aos 9%. Ademais da alta dependência sectorial, este tipo de modelo de desenvolvimento provoca fortes desequilíbrios, nomeadamente no sector exterior. Neste momento o défice da balança por conta corrente em Espanha ultrapassa os 10% do PIB.
Independentemente das medidas que se venham a tomar a nível internacional para neutralizar os efeitos da crise financeira, o governo espanhol deve promover um conjunto de reformas estruturais que alterem o modelo de desenvolvimento e permitam substituir a procura interna por procura exterior. Neste sentido, as políticas destinadas a melhorar a gestão dos factores produtivos e dos processos de produção, que visem incrementar os níveis de produtividade, afiguram-se como fundamentais. A importância dos mecanismos de transmissão entre as economias ibéricas obriga o governo português a estar muito atento à evolução da crise em Espanha e a definir um conjunto de estratégias, juntamente com os agentes sociais, destinadas a minimizar os seus efeitos, especialmente nos mercados de trabalho e de exportação.
FRANCISCO CARBALLO-CRUZ
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

sábado, novembro 15, 2008

Em que é que a actual crise financeira mundial afecta a economia portuguesa?

Resposta a questões colocadas por L.F.O. e E.A.B., estudantes brasileiros a realizar estudos na EEG, Universidade do Minho, no presente semestre lectivo, no quadro de programa de intercâmbio

P: Em que é que a actual crise financeira mundial afecta a economia portuguesa?

R: A economia portuguesa atravessa um período de estagnação económica que se arrasta desde 2002, que constituirá o mais longo período de ausência de progresso económico na sua história desde há muitas décadas. Para esta situação conjugam-se problemas estruturais por resolver, enquadramentos económicos externos penalizadores da especialização produtiva nacional e erros graves de estratégia e de gestão económica dos últimos governos de que o país dispôs. Nos últimos três anos, depois de controlados desequilíbrios importantes nalgumas variáveis económicas, nomeadamente nas contas públicas (défices nos orçamento de Estado), o governo português tinha a expectativa que os anos de 2008 e 2009 fossem já de recuperação, o que esta crise veio pôr drasticamente em causa.
A crise sentida nos mercados financeiros está a manifestar-se em Portugal de diferentes formas. A mais demolidora decorre do abrandamento radical dos principais mercados de destino das mercadorias e serviços vendidos pelo país, inviabilizando fazer das exportações o motor do crescimento do PIB português, como vinha sendo feito e estava pensado pelo governo português em funções. Isso pode constatar-se lendo os orçamentos de Estado dos últimos anos. Essa crise vivida por alguns dos principais parceiros económicos de Portugal, particularmente da Espanha, vai também trazer fortes consequências em matéria de desemprego, já que se conhece o número importante de trabalhadores portugueses aí a trabalhar, para empresas locais ou para empresas portuguesas a operam nesses destinos, muitas delas em regime de subcontratação.
Uma outra vertente desta crise ‘importada’ dos EUA vem-se exprimindo directamente nos mercados financeiros, pela grande incerteza que trouxe, com consequência na subida da Euribor, taxa de juro de referência do custo do crédito na Europa, e que em Portugal é usada para “indexar” o crédito à habitação. O seu impacto nas famílias é proporcional ao número dos que entretanto contraíram dívidas para pagar casa própria e que é em número muito elevado. Isso está a reflectir-se no número de situações de insolvabilidade das famílias e de capacidade aquisitiva destas, visível nas compras quotidianas das famílias no comércio a retalho.
A falta de liquidez que se sentiu (e ainda se sente), e cuja solução encontrada pelo BCE foi a diminuição da taxa de desconto no espaço europeu (eurozona), está também a afectar as empresas, que encontram crescente dificuldade para se financiar junto do sistema bancário. De forma a atenuar este efeito, o governo português, à semelhança dos governos de outros países Europeus, tomou diversas medidas, de que se destacam:
i) a disponibilização de uma garantia sobre os depósitos existentes nos bancos a operar em território nacional no valor de 20 mil milhões de euros, para accionar em caso de crise dos bancos. Uma consequência lateral desta medida destinada a manter a confiança dos depositantes nos bancos foi a nacionalização entretanto ocorrida de uma pequena instituição financeira nacional (o Banco Português de Negócios), que entrou em ruptura por razões alheias à crise internacional;
ii) a decisão de efectuar o pagamento das suas dívidas (do Estado, entenda-se) às empresas, que atingem já o montante de cerca de 2% do produto português. Espera-se que esta medida vá impulsionar a economia, contrariando os problemas de liquidez que se fazem sentir e impulsionando os negócios e, nalguma medida, a procura interna.
Finalmente, a crise financeira e económica que se faz sentir pode levar ao adiamento do lançamento de alguns projectos públicos de maior dimensão, no domínio aeroportuário e ferroviário, em razão da escassez de recursos do Estado e dos eventuais parceiros de potenciais parcerias públicas-privados. Nesta altura, isso é já, pelo menos, fonte de grande controvérsia política, nalguns casos com maior razão noutros sem qualquer razão técnico-financeira. Este eventual adiamento de investimentos, aparte impactos que pudesse gerar na competitividade geral do país, pode, ele também, debilitar a componente de política anti-cíclica que o governo tinha projectado (se bem que, verosimilmente, muito mais preocupado com os resultados eleitorais de possa ter nas eleições que se vão realizar em 2009 do que um projecto sério de relançamento da economia portuguesa).

Braga, 10 de Novembro de 2008

J. Cadima Ribeiro

quarta-feira, novembro 12, 2008

terça-feira, novembro 11, 2008

Desigualdade de tratamento dos países-membros na União Europeia: o caso do PEC

A União Europeia (UE), anteriormente designada por Comunidade Económica Europeia (CEE) e Comunidade Europeia (CE), é sem dúvida um caso de sucesso em matéria de integração visto que transformou um conjunto de países com diferentes níveis de desenvolvimento numa unidade económica. Essa unidade exprime-se em termos de cooperação económica e projecto de desenvolvimento dos países envolvidos, permitindo à Europa posicionar-se em clara concorrência com os E.U.A, até há pouco a única super-potência económica mundial.
Portugal passou a fazer parte desta organização em 1986, altura em que esta era constituída apenas por 12 países. Recentemente, passou a ser constituída por 27. Após a integração, o crescimento do nosso país revelou-se um caso de sucesso, essencialmente na década de 90 e até cerca de 2002. Nestes últimos 6 anos, Portugal tem vivido um período de baixo crescimento económico, registando o pior desempenho económico entre os países da União Europeia. De qualquer forma, este facto não invalida a ideia de que esta aliança europeia foi positiva, até na própria medida em que tem servido de inspiração para outros projectos de integração, como é o caso do continente africano e da América do Sul. A criação, em 2002, da União Africana, organização que sucedeu à Organização de Unidade Africana, e que prossegue objectivos algo parecidos com os europeus, é disso exemplo, embora com poucos resultados, ainda.
Contudo, existem no funcionamento da União Europeia alguns aspectos que importará corrigir. É o caso de afirmações hegemónicas que de quando em quando se revelam, com origem nalguns dos maiores países. A este propósito, se recuarmos um pouco no tempo e formos até ao mês de Novembro de 2003, podemos recordar a notícia que foi destaque em inúmeros jornais no mundo de que Alemanha e França, dois importantes elementos da União Europeia, romperam com as regras estipuladas no Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), ao atingirem um défice do seus orçamentos de Estado de 3% em dois anos consecutivos. Quando, depois de uma situação deste género e de acordo com as penalizações previstas no PEC, se previa uma acção penalizadora exemplar destes dois países, por forma a servir de exemplo para os restantes países-membros, verificou-se que, na prática, não houve punição alguma desse incumprimento. O que era suposto acontecer em condições normais era que estes fossem sujeitos ao pagamento de uma multa considerável.
O argumento utilizado pela Comissão Europeia para justificar que estes dois países não fossem penalizados foi que a punição financeira prevista era algo severa, face à dimensão da infracção em questão. Ora o problema é que, se tivesse sido outro qualquer país da União Europeia o infractor, como por exemplo Portugal (como acabou por acontecer, embora na companhia dos países já mencionados), provavelmente sofreria graves consequências.
Houve países, como a Holanda, que defenderam que as medidas tomadas no Pacto de Estabilidade e Crescimento deviam ser cumpridas à risca, sendo esta uma posição que não se revelou suficiente para que se fizessem cumprir as regras.
Esta atitude é algo que mina o funcionamento da UE e a descredibiliza junto dos cidadãos e que, por isso, devia ser consistentemente combatida. Numa altura em que nós, portugueses, sofremos as consequências das fortes restrições em matéria de despesa pública, com consequências no crescimento económico do país, decorrentes do esforço do governo de não ultrapassar os limites estipulados em matéria de défice das contas do Estado, saber-se que não há um cumprimento das regras por parte de alguns países mais influentes só pode ser mal-interpretado e mal-aceite pelos cidadãos.
A situação descrita levou a que as medidas tomadas no Pacto de Estabilidade e Crescimento fossem repensadas, para que se fizessem cumprir uniformemente pelos países-membros da UE. Tal aconteceu em 2005, altura em que foram introduzidos diversos elementos de flexibilidade na aplicação do PEC. Concretamente, com essa flexibilização, pretendeu-se criar alguma capacidade de resposta em matéria de políticas públicas a usar pelos governos nos momentos próximos das cavas do ciclo económico, ou seja, nos momentos de baixo crescimento.
O momento actual é, sem dúvida, um desses momentos, mas, como disse o comissário espanhol Joaquin Almúnia em entrevista à Euronews, o Pacto de Estabilidade e Crescimento está vivo e a funcionar e, com a rectificação efectuada em 2005, é mais fácil assegurar a estabilização da economia. Assim o esperamos!

Ismael Correlo
Estudante de Economia da EEG/UMinho

(artigo de opinião publicada na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho)

domingo, novembro 09, 2008

A Regulação do Mercado de Trabalho e a Competitividade

Resposta a questões colocadas por dois estudantes de economia da Fac. de Economia da UNLisboa (I.T. e H.P.A.), no âmbito dos trabalhos de uma sua unidade curricular
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P: De que forma a regulação do mercado de trabalho afecta a competitividade externa de um país?
R: Num quadro de funcionamento em economia aberta, tudo o que possa reflectir-se nos custos, na agilidade de operação corrente e na capacidade de modificar as condições em que se opera são dados relevantes em termos de competitividade geral das empresas e, por conseguinte, do país. Uma visão que liga custos de mão-de-obra, flexibilidade formal do mercado de trabalho e competitividade externa do país é necessariamente reducionista. Vale a pena acrescentar que há valores sociais básicos, que importa salvaguardar, que fazem com que se ofereça sem cabimento a ideia de que um mercado isento de qualquer tipo de regulação é um mercado ideal para a operação das empresas. Por outro lado, a competitividade externa das economias vive hoje sobretudo assente na qualidade e imagem dos produtos e serviços oferecidos, na respectiva novidade/singularidade e no respectivo design e marketing, na logística e na eficiência das redes de distribuição dos bens e serviços que na produção (industrial) propriamente dita. No caso português, vale ainda a pena ter presente, ainda, que a carga formal que anda associada à regulação do mercado de trabalho não espelha de modo algum a flexibilidade com que este mercado funciona, que é expressivamente maior.

P: Se houver um mercado de trabalho menos regulado, poderá isso aumentar o desemprego?
R: Como deixei dito antes, importa não confundir a carga legal e toda a panóplia de acordos de trabalho que enquadram os diferentes mercados sectoriais de trabalho com o nível de flexibilidade ou rigidez de funcionamento deste mercado. Por outro lado, é bom que se tenha presente que, até há pouco tempo (2, 3 anos), embora acusada de ter um mercado de trabalho excessivamente regulado, a economia nacional era, no conjunto da União Europeia, uma das que apresentava uma taxa de desemprego mais baixa. Ainda agora, vivendo uma situação de praticamente estagnação económica, que se arrasta deste 2002, tem uma taxa de desemprego que não é tão alta quanto as circunstâncias poderiam ditar. Isso tem que ver com o tipo de especialização produtiva da economia portuguesa, relativamente intensiva em trabalho, e com uma preocupação social e valores sociais de fundo que subsistem. Na minha perspectiva, uma das principais limitações que o mercado de trabalho nacional enfrenta é a pequena dimensão que o trabalho a tempo parcial mantém, comparativamente com outros países da UE, especialmente os países nórdicos. A valorização social e um melhor enquadramento legal desta forma de participação no mercado de trabalho poderia criar novas oportunidades em termos de emprego, ao mesmo tempo que permitiria desinvestia de um quadro de regulação mais clássico, do tipo do actual.

P: Acredita que uma menor regulação do mercado de trabalho em Portugal pode ajudar o país a ganhar competitividade face aos novos países da União Europeia?
R: Os problemas de competitividade externa do país só muito parcialmente se prendem com a regulação subsistente no mercado de trabalho, como já sublinhei. Se se olhar para os países da Europa Central e de Leste, que recentemente integraram a UE, o que é que constatamos imediatamente que os distingue de Portugal? Em primeiro lugar e sobretudo, um nível de qualificações académicas de base muito superior ao que se regista em Portugal. Depois, níveis salariais muito mais baixos, que chegam a ser um terço dos subsistentes no nosso país. Em terceiro lugar, níveis de carência em termos de oferta de infra-estruturas e serviços aos cidadãos e às empresas que os tornam especialmente apetecíveis para o investimento das empresas multinacionais que visam os respectivos mercados e/ou os dos países vizinhos. Entretanto, se olharmos para a China ou a Índia, percebemos que estes países são também pouco competitivos em termos de salários vigentes, o que nos deve levar a concluir que as respostas a encontrar em matéria de competitividade da economia destes países e de Portugal não passam, no essencial, pelos custos do trabalho, em sentido restrito, e mesmo pela legislação que o enquadra.

P: Pegando num País de idêntica dimensão a Portugal: parece-lhe que a República Checa é, actualmente, mais competitiva que Portugal? Essa diferença deve-se às diferentes regulações do mercado de trabalho?
R: Tanto quanto os dados que tenho me levam a pensar, a República Checa não atravessa, também ela, um bom momento em matéria de dinâmica económica. As razões serão diferentes das nacionais, com uma componente de instabilidade política que será relevante para perceber o que se passa. Que dados temos da República Checa que explicam o seu bom desempenho nos últimos anos? Um deles é exactamente o nível de qualificação da mão-de-obra. Um outro é a sua posição no centro da Europa, na vizinhança de alguns dos principais mercados (regionais) europeus. E um outro foi(é), porventura em razão dos dois precedentes, ter podido beneficiar de afluxos massivos de investimento directo estrangeiro, de que se tornou um dos principais destinos na Europa nos anos mais recentes. Não apresentando níveis salariais tão baixos com a Roménia ou a Bulgária, por exemplo, trata(va)-se de uma economia com níveis de corrupção bem mais baixos do que aqueles dois países, e de estruturação económico-social bem mais consolidada. Concluindo: é um erro tentar explicar a diferença de desempenho recente de Portugal e da República Checa centrando a análise nos respectivos mercados de trabalho. Mais: para perceber o desempenho da economia portuguesa nesta última década (isto é, de 2000 em diante), é essencial olhar para a respectiva gestão política e para os gravosos erros cometidos em matéria políticas de estabilização e de estratégia económica geral. Infelizmente, esta última componente (de natureza mais estrutural) parece continuar quase ausente das preocupações dos nossos decisores políticos.

Braga, 2 de Novembro de 2008

J. Cadima Ribeiro

sexta-feira, novembro 07, 2008

quinta-feira, novembro 06, 2008

Employment in high-tech sectors in % of labour force by region, 2006

«Science, technology and innovation are at the heart of EU policies. An indication of progress in these fields is given by the number of people employed in high-tech sectors.
In 2006, 4.4% of the EU27 labour force was employed in high-tech sectors3. Three quarters of those employed in high-tech sectors worked in high-tech knowledge-intensive services and a quarter in high-tech manufacturing.
The share of employment in high-tech sectors was more than 6% in 29 EU27 regions: nine of these regions were found in Germany, five in the United Kingdom, three in Hungary, two each in Belgium and Finland and one region each in the Czech Republic, Ireland, Spain, France, Italy, Austria and Sweden as well as Malta. The highest share of employment was found in Berkshire, Buckinghamshire & Oxfordshire (11.5%) in the United Kingdom, followed by Stockholm (9.3%) in Sweden, Île de France (8.9%) in France and the two German regions Dresden (8.7%) and Oberbayern (8.5%).
The share of employment in high-tech sectors was less than 2% in 23 EU27 regions: Six of these regions were found in Romania, five in Greece, four each in Spain and Poland, and two each in Bulgaria and Portugal. The lowest shares of employment were found in Thessalia in Greece and in Centro in Portugal (both 1.0%), followed by the two Romanian regions Sud-Vest Oltenia and Sud-Est and the Greek region Peloponnisos (all 1.1%).»
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(excerto de Eurostat News Release nº 150/2008, de 30 Outubro de 2008 - http://ec.europa.eu/eurostat)

terça-feira, novembro 04, 2008

Turismo cultural: o caso de Guimarães

Nos 14 e 15 de Novembro de 2008 vai realizar-se em Arcos de Valdevez, na Casa das Artes, o “2º Congresso Internacional Casa Nobre: um Património para o Futuro”, uma iniciativa que se repete 3 anos depois da concretização do primeiro evento. O congresso cobre áreas temáticas diversas, que vão da memória histórica e da heráldica à arquitectura e ao restauro, das políticas culturais e de defesa do património ao turismo, na sua relação com o desenvolvimento regional.
Retenho do primeiro encontro gratas recordações, em razão da valia das comunicações que foram apresentadas e de toda a ambiência social vivida. Essas e outras razões levaram-me a querer estar presente nesta segunda edição com um texto cuja autoria partilho com Paula Cristina Remoaldo, professora do Departamento de Geografia do Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho. O tema tratado é “Património cultural e estratégia de desenvolvimento turístico da cidade de Guimarães”, onde se procura ligar preservação do património e valorização turística e, logo, desenvolvimento local (urbano).
A problemática é mais complexa do que à primeira vista se sugere, já que, se a actividade turística é uma das formas contemporâneas de aproveitamento dos recursos dos territórios, com peso crescente nalguns deles, também não deixa de ser verdade que a actividade turística é, muitas vezes, delapidadora dos recursos patrimoniais e ambientais e responsável pela perda de identidade dos territórios. Acrescente-se que a actividade turística só fará parte do processo de desenvolvimento regional/local quando for capaz de se integrar na organização global do sistema produtivo e não quando seja implementada como uma prática autónoma. Só neste caso os efeitos económicos da actividade serão majorados e o benefício económico resultante chegará a um maior número de agentes locais.
Por constituir um bom exemplo de conservação do património urbano português, e pela elevada carga simbólica que carrega, estando indissociavelmente ligada à ideia de “berço da nacionalidade”, pareceu-nos adequado reter para estudo Guimarães. Essa opção sugeriu-se-nos tanto mais justificada quanto, após a atribuição pela U.N.E.S.C.O., em 2001, da designação de Património da Humanidade ao seu centro histórico, tem havido um claro esforço no sentido de incrementar a oferta de infra-estruturas e de materializar um programa de animação turística mais rico. É da análise da estratégia de desenvolvimento turístico seguida da cidade, seus roteiros, imagem turística e dinâmica cultural que a comunicação fala.
O estudo realizado tem que ser tomado como uma abordagem inicial da problemática em título. Mesmo assim, esperamos que possa ser útil aos responsáveis pela gestão do turismo de Guimarães e de outros territórios que tenham projectos de dinamização do turismo cultural.
Das conclusões do estudo, retemos o seguinte:
«[…] o desfrute cultural e a contemplação do património são motivações sempre retidas entre as que estão na origem das deslocações turísticas dos nossos dias. A cultura, tradições e modos de vida constituem, mesmo, factores de atracção que tomam crescente importância em razão da procura subsistente em certos sectores sociais de singularidade, autenticidade e de busca de experiências intelectualmente estimulantes e mais diversificadas.»
«Guimarães viu reconhecida a valia do seu património monumental pela U.N.E.S.C.O. […]. Isso deu credibilidade ao trabalho de recuperação do património urbano prosseguido pela autarquia local e alguma visibilidade pública potenciadora do turismo e da visita com motivação cultural. Não assegurou a respectiva transformação num destino de turismo cultural por excelência, sobretudo à escala internacional, nem é suficiente para fazer do turismo um ancoradouro seguro do seu desenvolvimento, por razões de escala, diversidade da oferta e de continuidade e qualidade da programação […]. A imagem de um território ou cidade também não se constrói de um dia para o outro e reclama importantes recursos promocionais.
[…] o que os dados disponíveis e a informação qualitativa a que tivemos acesso nos dizem é que há muito caminho a percorrer, ainda que se tenha feito caminho na boa direcção. As debilidades constatadas em termos de manutenção e estrutura do sítio electrónico […], a problemática do uso das línguas nos materiais promocionais e a consistência e riqueza da programação cultural são boa ilustração do muito que falta fazer e consolidar. Outra dimensão do caminho a percorrer, no sentido de dar resposta a exigências dos turistas em termos de diversidade e escala da oferta, estará na construção de verdadeiras políticas de parceria com o território envolvente, no sentido para que aponta a iniciativa designada “Redes Urbanas para a Competitividade e Inovação”, reunindo os quatro principais núcleos urbanos do Baixo Minho, que, de ideia com elevado potencial, importa fazer realidade.”».
O texto vai mais longe na análise das políticas seguidas, aparte a caracterização da oferta turística disponível. Os mais interessados terão a oportunidade de tomar contacto mais aprofundado com essas dimensões de análise e recomendações de política participando no congresso ou, então, esperando pela publicação das respectivas actas.
J. Cadima Ribeiro

(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

domingo, novembro 02, 2008

quinta-feira, outubro 30, 2008

Eurostat regional yearbook

«Eurostat regional yearbook 2008
EU27 regions under the magnifying glass

In which EU region can you find the highest share of the labour force employed in high-tech sectors? Which region has the highest total number of nights spent in hotels? And which region has the lowest rate of road deaths?
The answers to these questions and many more are found in the 2008 edition of the Eurostat regional yearbook1 which is published by Eurostat, the Statistical Office of the European Communities. The publication gives an overview of the most recent economic, social and demographic developments in the 271 regions2 of the 27 Member States of the European Union as well as in regions in the three candidate countries (Croatia, the former Yugoslav Republic of Macedonia and Turkey) and the four EFTA countries (Iceland, Liechtenstein, Norway and Switzerland).
The Eurostat regional yearbook 2008 includes chapters on population, urban statistics, GDP, household accounts, structural business statistics, labour market, transport, tourism, science, technology & innovation, health and agriculture. The publication also contains two new subjects; labour costs and sectoral productivity. The latter was written by the European Commission Directorate-General for Regional Policy.
To illustrate the diversity of data found in the Eurostat regional yearbook, this News Release presents three indicators from different statistical fields.»
(excerto de EUROSTAT News Release 150/2008, de 30 de Outubro de 2008 - http://ec.europa.eu/eurostat)

terça-feira, outubro 28, 2008

There are free lunches!

There are NO free lunches” é uma expressão anglo-saxónica que significa: “não há almoços grátis”. Esta expressão é uma metáfora para o (ex)facto de nada ser de graça, coisa que se revelou ser mentira a partir do Plano Paulson, recentemente aprovado pelo congresso dos Estados Unidos da América.
Mas o que é preciso para se ter um almoço grátis? E quem foram os felizardos que, em tempo de vaca magras, o tiveram?
Nos últimos dois mandatos presidenciais dos Estados Unidos da América, o bem amado George W. Bush esteve um bocado desatento em relação ao andamento do sistema financeiro Norte-americano. Sem culpa, é claro! Quem, como a América do Norte, tem também que gerir o resto do mundo, em especial, o Iraque e o Afeganistão, e, também, de regular as regiões do Irão e Coreia do Norte não tem tempo para se importunar com os amigos e família, de modo a apurar se tudo corre bem nas respectivas gerências empresariais.
Apesar de todo o trabalho a que George W. Bush se tinha incumbido de fazer para lá do Pacifico e do Atlântico, a gestão e regulação dos mercados dos EUA não foi totalmente ignorada (deixou-a a cargo de um conselheiro). O ex-primeiro ministro Alemão, Gerhard Schröder, fez declarações em que referia que Deus aconselhava George W. Bush nas suas decisões politicas. Algo que se podia constatar pela forma como terminava todos os seus emblemáticos discursos. Pena que a omnisciência e a omnipotência não sejam o que já foram e o sistema financeiro esteja à beira de ruir.
A bolha especulativa do “subprime” rebentou no final de 2007, trazendo à luz do dia o ciclo de insustentabilidade em que o sistema financeiro Norte-americano se tornara. Mas, mesmo com a entrada no famoso “Bear Market”, ninguém tomou consciência daquilo que se aproximava: no dia 7 de Setembro de 2008, o país mais liberal do mundo nacionalizou o Fannie Mae e o Freddie Mac, que detinham metade dos empréstimos à habitação dos Estados Unidos. Uma semana depois, o Lehman Brothers, um dos maiores bancos americanos, que já contava com 150 anos de história, foi obrigado a declarar a bancarrota. E ainda nesse mesmo dia foi anunciada a compra do Merrill Lynch pelo Bank of America. Sucedeu-se o caos financeiro que levou a América e o Mundo a enfrentar uma segunda-feira “negra”. Mas a terça-feira não foi mais clara: as acções da AIG, 18ª maior empresa do mundo (Forbes Global 2000, 2008), caíram 95% do seu valor de mercado.
A resposta mundial foi coordenada: os maiores bancos centrais do mundo injectaram capital nos mercados. Em resposta, não ocorreu melhoria significativa. O Plano Paulson deu algum ânimo aos investidores, mas rapidamente foi rejeitado pelo contribuinte americano, sendo depois também rejeitado pelo congresso, a 29 de Setembro. Entretanto, pela Europa, a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo apressavam-se a salvar o Fortis, sendo que dois dias depois a Bélgica e o Luxemburgo voltavam à cena para, com a França, disponibilizar 9 mil milhões para salvar o Dexia.
Dia 3 de Outubro é aprovada uma nova versão do Plano Paulson. A Islândia afunda-se na crise com a obliteração do seu sistema financeiro e uma dívida igual a 12 vezes o seu PIB. Dá-se mais uma segunda-feira “negra”, seguida, nessa mesma semana, de um corte nos juros por parte dos maiores bancos centrais mundiais, que acaba por não fazer efeito nos mercados. Não há confiança dos investidores no poder instituído.
Enquanto as poupanças da classe média desaparecem, alguns encontram a oportunidade de almoçar de graça: R.Fuld, do Lehman Bros, e J.Cayne, da Bear Stearms, arrecadam, cada um, 40 milhões de $EUA em compensações. R.Syrona, da Freedie Mac, e Daniel Meal, da Fannie Mae, arrecadam 20 milhões e 12,2 milhões de $EUA, respectivamente. Já S.O’Neal, da Merril Lynch, acomoda-se a receber 46 milhões de $EUA.
Mas houve uma administração que levou à letra a expressão "there are no free lunches" como uma provocação! A título de celebração pela aprovação do Plano Paulson, a administração da AIG esbanjou 440 000 $EUA em tratamentos de SPA, jogos de golfe e almoços, tudo por cortesia dos contribuintes norte-americanos!
José Pedro Cadima
jpgcadima@gmail.com
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho)

segunda-feira, outubro 27, 2008

sexta-feira, outubro 24, 2008

Regras de mobilidade na Função Pública

Artigo JN
Sindicatos contra alteração das regras de mobilidade na Função Pública:
http://jn.sapo.pt/paginainicial/nacional/interior.aspx?content_id=1033052

(cortesia de Nuno Soares da Silva)

terça-feira, outubro 21, 2008

Estratégias marítimo-ferroviárias de futuro

A posição geográfica dos territórios pode actuar como um forte condicionamento em termos de competitividade. A globalização económica pode, por um lado, aprofundar esse condicionamento, ao reforçar a relevância dos territórios centrais e, por outro, contribuir para o seu esbatimento, em resultado da reconfiguração dos sistemas de transporte à escala global. O reposicionamento geográfico de um território deve basear-se no melhoramento da sua conectividade com as redes internacionais e na disponibilização de plataformas logísticas que favoreçam a sua interconexão externa.
O transporte marítimo mundial tem experimentado uma forte expansão nos últimos anos, caracterizada pelo intenso crescimento dos tráfegos de mercadorias, pela abertura de novas rotas comerciais e pela incorporação de novos países aos circuitos de intercâmbio de bens. As razões explicativas dessa expansão estão relacionadas com a crescente procura de fontes primárias de energia e de matérias-primas, assim como com o processo de descentralização produtiva à escala global, que concentra uma proporção crescente da produção mundial em economias emergentes do continente Asiático, enquanto que o consumo continua a estar concentrado maioritariamente em Europa e em América do Norte. Estas tendências dos mercados de produção e distribuição resultam, em termos organizativos, em cadeias logísticas progressivamente mais complexas, com implicações sobre as operações marítimas, a integração intermodal e o tipo de tráfegos.
As alterações dos padrões logísticos abrem novas oportunidades para os portos, ainda que o seu aproveitamento dependerá da sua capacidade para redefinir o seu posicionamento competitivo, através de estratégias que extravasem os seus limites e integrem outros operadores modais. Assim sendo, o incremento da sua dimensão afigura-se como um aspecto fundamental, dado que as economias de escala e de aglomeração passam a ser um factor competitivo de primeira ordem. O outro factor determinante é a capacidade para combinar eficientemente o transporte marítimo com outros modos complementares, com a finalidade de tornar o transporte porta-a-porta mais competitivo, tanto em termos de custo como em termos de tempo de viagem.
As conexões marítimo-ferroviárias devem contribuir, por um lado, para potenciar o hinterland portuário imediato, incrementando a competitividade dos territórios mais dinâmicos e promovendo o aparecimento de novas iniciativas empresariais e, por outro, ampliando esse hinterland, incentivando o desenvolvimento de localizações competitivas em áreas interiores, anteriormente excluídas dos mercados e das lógicas da globalização.
Portugal deve aproveitar as oportunidades de crescimento que oferecem os processos de desintegração das cadeias de valor e de reorganização dos sistemas de transporte e das cadeias logísticas. Os principais portos portugueses, Sines e Leixões, devem tentar posicionar-se como hubs (nós) de malhas mais vastas, com objectivos de redistribuição de mercadorias (transformando tráfegos de longa distância em tráfegos de curta distância e vice-versa) e de qualificação dos tráfegos de entrada e saída.
O porto de Sines deve continuar a sua estratégia de captação de tráfegos, de qualificação das infra-estruturas terrestres, de atracção de indústrias básicas de transformação e de alargamento do seu hinterland a áreas progressivamente mais amplas do centro da península Ibérica. No actual contexto, a contribuição do caminho-de-ferro para a expansão da sua área de influência é de extrema importância, sobretudo, atendendo às rápidas taxas de crescimento dos tráfegos que melhor se adaptam ao transporte ferroviário.
No caso de Leixões, as características da infra-estrutura e o rápido crescimento do tráfego contentorizado apontam para um tipo de especialização diferente. Este porto deve acelerar o seu ritmo de crescimento para poder usufruir das vantagens em custos associadas a uma maior dimensão. As áreas logísticas de apoio às actividades portuárias e de gestão intermodal são, consequentemente, um elemento central da estratégia de crescimento. O outro é a inter-conexão marítimo-portuária, a qual precisa de ser potenciada para evitar rupturas de carga e minimizar os custos de movimentação e transacção e os tempos de transferência.
A potenciação do eixo ferroviário Porto-Vigo cria, neste contexto, excelentes oportunidades para melhorar a inter-conexão entre o modo marítimo e o ferroviário na região Norte. Ademais, a ligação à rede ferroviária espanhola de altas prestações para mercadorias contribuirá para alargar o mercado potencial do porto de Leixões e irá favorecer o transporte de mercadorias com origem e destino na região Norte. Para que esta estratégia de integração modal seja bem sucedida devem ser cuidadosamente observados os seguintes aspectos:
a) A ligação da linha Porto-Vigo à área portuária: A construção integral da linha em bitola europeia obriga a que essa ligação seja construída na mesma bitola para evitar rupturas de carga e incrementos nos custos.
b) O faseamento na construção da linha: A construção integral deve avançar o mais rapidamente possível, evitando que uma solução por fases (Vigo-Braga e Braga-Porto) se perpetue no tempo, dado que não contribuirá para alterar significativamente o modelo de transportes da região Norte e para impulsionar o crescimento do porto de Leixões.
c) A integração nas redes envolventes: A ligação entre o eixo Tui-Porrinho e Ourense, na Galiza, deve ser objecto de especial atenção por parte das autoridades portuguesas, para evitar que o potencial de uma estratégia ferroviária em bitola Europeia no eixo Porto-Vigo seja neutralizado por uma incorrecta planificação do lado galego.
FRANCISCO CARBALLO-CRUZ
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

domingo, outubro 19, 2008

A independência estratégica

A actual situação vivida no Cáucaso vem fortalecer o clima de instabilidade política e económica que assistimos a nível mundial.
O conflito teve início a 7 de Agosto, quando o governo Georgiano decidiu pôr fim à autonomia das regiões separatistas da Abecásia e Ossétia do Sul através da força. Por outro lado, invocando o discurso tantas vezes proferido por Washington nos últimos anos, Moscovo rejeita a hipótese de ter invadido território da Geórgia, alegando estar a proteger os seus cidadãos (dado que a Rússia deu cidadania à esmagadora maioria da população dos dois territórios separatistas, em meados da década de 90) e a preservar os direitos daqueles povos, reconhecendo-lhes a independência relativamente à Geórgia. Deste modo, a Rússia posiciona-se internacionalmente como defensora da liberdade, da democracia e dos direitos das minorias.
Apesar das declarações de Moscovo relativamente às causas da sua intervenção no Cáucaso, continuam a surgir especulações de que o conflito do Cáucaso foi orquestrado pela Rússia por factores comerciais e geopolíticos, dado que a região é muito rica em combustíveis fosseis e é também uma das principais rotas de distribuição petrolífera da Europa.
No entanto, a intervenção Russa não é aceite pela comunidade internacional e o presidente Francês, Nicolas Sarkozy, que é também o actual presidente em exercício da União Europeia (UE), salientou a "urgente necessidade" de diminuir a tensão, sublinhando a importância da retirada dos contingentes militares Russos em zonas tampão à volta das regiões separatistas georgianas da Abecásia e da Ossétia do Sul.
A cimeira realizada no passado dia 1 de Setembro, em Bruxelas, ficou marcada pela incapacidade da União Europeia tomar uma posição firme e unificada quanto às possíveis sanções a aplicar a Moscovo. Este desfecho foi fortemente influenciado pela excessiva dependência petrolífera da UE relativamente a Moscovo. Mais propriamente, a Eslováquia, Hungria, Polónia e Letónia têm uma dependência petrolífera da Rússia superior a 90%. A Alemanha e a Suécia importam cerca de 35% do petróleo da Rússia. Portugal e a Dinamarca situam-se no fundo da tabela no que respeita à dependência petrolífera relativamente a Moscovo, com 1% e 0% respectivamente. Em matéria de gás natural, a situação é igualmente desmotivante, pois 25% do gás consumido pela União provém da Rússia.
Perante este cenário, é compreensível a divergência de opiniões no seio da UE bem como a posição prudente adoptada pelos seus dirigentes, pois uma tentativa de aplicar sanções a Moscovo teria um impacto brutal a nível da economia europeia, com a possibilidade de Moscovo suspender o fornecimento de petróleo e gás natural.
No entanto, após a reunião com Dmitry Medvedev, o presidente Francês Nicolas Sarkozy conseguiu obter de Moscovo o compromisso de retirada das tropas russas presentes em torno do porto de Poti, no prazo máximo de um mês. Contudo, o contingente militar russo em torno das regiões separatistas da Abecásia e Ossétia do Sul irá permanecer no local, dado que a Rússia reconheceu a independência dessas regiões.
Apesar do aparente sucesso das negociações, Moscovo teima em não abdicar de “proteger” as regiões da Abecásia e Ossétia do Sul pois esse avanço geoestratégico é fundamental para reforçar a sua influência nestas áreas política e economicamente importantes.
A Europa não tem conseguido construir uma relação de confiança com a Rússia e muito desse fracasso deve-se ao facto da atitude arrogante demonstrada por Moscovo nas relações comerciais. A política de crescimento conduzida por Vladimir Putin, direccionada para o incremento das exportações, e o seu distanciamento em relação à UE e o mundo revelam essa sede de imposição.
De facto, tudo indica que esta situação irá continuar, pois a Rússia, que parece não ter recuperado do golpe sofrido em 1989, vem, desde então, tentado recuperar a sua influência no panorama internacional.
(artigo de opinião publicado no Suplemento de Economia do Diário do Minho, em 08/09/16)

quinta-feira, outubro 16, 2008

Salários da função pública

Artigo SOL
Nova grelha remuneratória da FP vai até aos 6.350 euros:
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=113240
-
Artigo JN
Função pública vai perder poder de compra:
http://jn.sapo.pt/paginainicial/economia/interior.aspx?content_id=1029358

(cortesia de Nuno Soares da Silva)

terça-feira, outubro 14, 2008

Os malefícios da moeda única

Portugal, em conjunto com vários países do mundo, está a atravessar uma crise económica. No caso português, muitos especialistas na matéria atribuem a culpa desta crise à moeda única, isto é, o abrandamento económico português piorou com a adesão ao euro. Será isto verdade? Afinal o que é que o euro nos trouxe de bom e de mau?
Com a adesão ao euro, Portugal deixou de ter controlo sobre a política cambial e a política monetária. Ambas as políticas eram bastante importantes na manutenção da economia portuguesa.
Sem a política cambial os governos deixaram de poder desvalorizar o escudo (moeda portuguesa antes do euro) com o intuito de tornar a economia portuguesa mais competitiva nos mercados internacionais, isto é, ao desvalorizarem a moeda, as exportações tornavam-se mais baratas o que atraía mais clientes. Este aumento de competitividade era utópico uma vez que a produtividade mantinha-se a mesma. Actualmente se Portugal quer ter ganhos de competitividade terá de ser pela via da inovação e aumento de produtividade.
A política monetária foi outro dos instrumentos que Portugal perdeu com a sua adesão ao euro. Sem esta política Portugal ficou impossibilitado de decidir o seu futuro monetário, perdeu o poder de injectar ou não moeda na economia, e alterar as taxas de juro.
Além de termos perdido o controlo desta duas políticas, passamos a ter que prestar contas da nossa política fiscal, isto é, qualquer país da zona euro tem de controlar a sua dívida pública (não ultrapassar os 60% do PIB) e o défice (não ultrapassar os 3% do PIB). Caso não cumpram têm penalizações.
A partir de 1999 (ano de adesão às taxas de câmbio fixas) observa-se em Portugal um declínio acentuado nas exportações de têxteis. Entre 1995 e 2004 as exportações de têxteis passaram de 23,3% para 14,7%. Com estes dados podemos dizer que o euro teve um impacto no nosso abrandamento.
Como diz Álvaro Santos Pereira, economista português, “a nossa adesão ao euro impediu-nos de utilizar toda uma serie de aspirinas que tomávamos em tempos de crise”. Ou seja, pegando na ideia de Álvaro Santos Pereira, o problema conjuntural que Portugal tem deixou de ser “escondido” com injecções de moeda e diminuição de impostos, por isso o euro até nos trouxe uma coisa boa que foi “abrir os olhos” do português, isto é, acabaram se as “aspirinas” é preciso inovar, é preciso qualificar os nossos trabalhadores para que estes se tornem mais produtivos e desta forma aumentar a competitividade de Portugal lá fora. Basta de acharmos que somos o país que tem de estar sempre na cauda da Europa, que o nosso país não tem volta a dar, este pensamento é errado, temos que agir já.
Apesar dos males que o euro nos trouxe, como diz o ditado “há males que vêm por bem”.

Juliana Narciso

(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho)

"O transporte de alta velocidade entre Porto e Vigo não será semelhante ao que vai existir entre Lisboa e Porto"

BRAGA "À TOUTE LA VITESSE"

(título de mensagem, datada de Segunda-feira, 13 de Outubro de 2008, disponível em Município de Braga)

sábado, outubro 11, 2008

1º Congresso dos Profissionais de Turismo

«Exmo(a) Senhor(a),
É com enorme orgulho que vos informo da realização do 1º CONGRESSO DE PROFISSIONAIS DE TURISMO DE PORTUGAL, a realizar na Terceira – AÇORES, nas cidades de Angra do Heroísmo e Praia da Vitória, de 21 a 23 de Novembro de 2008, sob o TEMA:

“PROFISSIONAIS DE TURISMO – Novas visões, mais oportunidades”

Este congresso surge pela necessidade de debatermos o FUTURO profissões do Turismo, a valorização e promoção dos profissionais, as novas carreiras do turismo, as saídas profissionais, o futuro da formação académica e profissional em Turismo, e, a importância de nos reunirmos e discutirmos o PLANO DE DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGICO DO CAPITAL HUMANO DO TURISMO.
Neste contexto, conto com a presença de todos os profissionais do turismo e interessados na temática neste grande evento que marcará indelevelmente a actividade turística nacional como um dos mais importantes eventos do ano.
Recordo que nunca foi realizado em Portugal um congresso de pessoas para pessoas, de profissionais para profissionais, e neste sentido devemos cada um de nós dar o seu contributo participando e apresentando as respectivas opiniões. O espaço de debate de ideias será um dos pontos altos do congresso.
A escolha dos palestrantes e das entidades que constituirão o 3 painéis do congresso foi criteriosa e assentou nomeadamente na preocupação de poderem connosco discutir o futuro do sector tendo por base o CAPITAL HUMANO das Empresas e das organizações do Turismo. Sem falsas modéstias, estamos convictos que o conjunto de palestrantes altamente qualificados e com vasta experiência no sector farão deste evento uma referência para os próximos anos.
Junto envio o programa do congresso com os temas e as Instituições presentes.
O valor de congresso para todos os interessados é excelente e para os associados é quase simbólico. É oportunidade única de ir aos Açores nestas condições.
As inscrições devem ser formalizadas através do site da APTP -
http://www.profissionaisdeturismo.pt/
Conto com a vossa presença e AGRADEÇO A MELHOR DIVULGAÇÃO junto dos vossos contactos profissionais e pessoais.
Com os melhores cumprimentos,

Agostinho Peixoto
Presidente da Direcção
Associação de Profissionais de Turismo de Portugal
Rua do Janes, 15 – 1º
4700-318 Braga
Fax 253693733
Tlm 968052121»
(reprodução integral de mensagem que me caiu na caixa de correio electrónico entretanto, com a proveniência identificada)

sexta-feira, outubro 10, 2008

To do good

"Anyone who proposes to do good must not expect people to roll stones out of his way, but must accept his lot calmly, even if they roll a few stones upon it."

Albert Schweitzer


(citação extraída de SBANC Newsletter, October 7, Issue 540-2008, http://www.sbaer.uca.edu)

terça-feira, outubro 07, 2008

"É ingénuo assumir que todo o investimento estrangeiro é capaz de dar um contributo à economia portuguesa"

Verdades e mitos sobre o investimento directo estrangeiro

(artigo da opinião (re)publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia, do Diário do Minho, no contexto de colaboração em coluna regular genericamente intitulada "Desde a Gallaecia")

segunda-feira, outubro 06, 2008

quinta-feira, outubro 02, 2008

Verdades e mitos sobre o investimento directo estrangeiro

1. Em texto de opinião publicado recentemente neste jornal referi-me ao discurso que por aí vai sobre a reforma da economia e de outras estruturas. Nesse contexto, invoquei o deslumbramento que os nossos políticos, e não só, mantêm pelo investimento directo estrangeiro e respectiva eficácia de operação. Invoquei até casos que conheço de entidades multinacionais a operar no mercado português cujo exemplo merece a pena ser seguido, concluindo, entretanto, serem cada vez mais as situações em que os nacionais rivalizam com os demais, num quadro de competição económica que é crescentemente global.
2. Pois bem, o acaso do meu trabalho académico ditou que, pouco depois, me chegasse à mão um conjunto de textos de investigação científica sobre o investimento directo estrangeiro (IDE) presente em Portugal que dão substância ao que afirmo em termos da falta de razão de ser do deslumbramento mantido, e de quanto singulares são os casos que invoquei. São estudos que põem a claro que a empresa de capitais externos não é necessariamente nem mais rendível que a empresa nacional média nem é, por outro lado, factor inequívoco de dinamização do tecido empresarial nacional, por força da cadeia de cadeia de relações que desencadeie ou pela iniciativa empreendedora que estimule. Consciente que estava de que isso pudesse acontecer, surpreendeu-me, ainda assim, a frieza dos resultados que pude ler.
3. Os estudos a que me refiro intitulam-se, “Corporate Performance: Does Ownership Matter? A Comparison of Foreign- and Domestic-Owned Firms in Greece and Portugal” (2005), da autoria de Natália Barbosa e Helen Louri, e “The role of inward foreign direct investment on entrepreneurship” (2007), da autoria de Natália Barbosa e Vasco Eiriz. Trata-se de trabalhos que se encontram publicados em revistas científicas internacionais (Review of Industrial Organization e International Entrepreneurship and Management Journal, respectivamente), sendo que os autores portugueses são ambos professores na EEG/Universidade do Minho e Helen Louri é uma investigadora grega. É uma síntese dos resultados desses dois estudos que alinho nos parágrafos seguintes, deixando ao(à) leitor(a) a liberdade de ajuizar sobre a justeza das considerações que faço nos parágrafos precedentes.
4. Do artigo com o título que transcrevo em primeiro lugar (em tradução minha do original em língua inglesa), vale a pena sublinhar o seguinte: “No caso Português nós não encontrámos evidência que suportasse a hipótese apriori assumida no que se reporta à relação entre propriedade externa (controle externo do capital) e rendibilidade, o que leva a colocar a dúvida sobre a pressuposto de que as empresas multinacionais apresentam melhor desempenho que as empresas domésticas. Se há alguma diferença, ela parece favorecer as empresas nacionais, que se sugerem ter melhor desempenho que as filiais de multinacionais a operar em Portugal” (p. 89).
5. Similarmente, olhando para o segundo título, é interessante reter da respectiva “Discussão dos resultados” que os resultados agora conseguidos “confirmam a indicação que havíamos obtido em anteriores investigações, já que a relação com formato em U invertido indica que, inicialmente, as multinacionais promovem a inovação e o empreendorismo na economia portuguesa (expresso numa taxa positiva de entrada de empresas nacionais) mas, à medida que a importância das empresas multinacionais cresce na estrutura sectorial, o seu impacto positivo desaparece, levando à saída de certo número de firmas nacionais não inteiramente substituídas por outras recém-criadas”.
6. Antes que se tirem conclusões apressadas dos resultados que aqui trago, vale a pena, contudo, atentar numa passagem das “Conclusões” deste último estudo, em que se diz que “a fraca evidência de que haja um efeito positivo na iniciativa empresarial da presença de multinacionais […] pode esconder um impacto dos estabelecimentos multinacionais na reorganização industrial e na substituição de firmas ineficientes por outras mais eficientes”.
7. Trazendo para aqui estes resultados, porventura pouco conhecidos ou ignorados pelos decisores públicos nacionais, pretendo chamar a atenção para a necessidade da existência de um critério que presida às iniciativas de captação de investimento externo para a economia portuguesa e, obviamente, de afectação de apoios públicos à implantação desse tipo de operadores económicos no mercado nacional. É ingénuo assumir que todo o investimento estrangeiro é capaz de dar um contributo à economia portuguesa, nomeadamente na vertente eficiência de operação, dinâmica inovadora e efeito de arrasto de operadores nacionais.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Jornal de Leiria)

sexta-feira, setembro 26, 2008

O Benéfico megalómano

O dicionário da língua portuguesa contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa define megalómano como: “1. +Psiq. Que sofre de megalomania = Megalomaníaco. 2. Que tem gosto pelas coisas de grande porte ou de grande alcance; que tem ambição desmedida...”. Apesar dos investimentos não terem gostos, vamos fingir que sim, pois assim foram descritos os futuros investimentos nas infra-estruturas deste país. Mas será que são todos projectos de ambição desmedida? Será que querem ter tão grande alcance quanto o sugerido pelo conceito que é enunciado? Não será que, na realidade, muitos deles servem apenas para trazer Portugal para uma Europa que nos foge? A concretizarem-se, não servirão antes para atenuar as diferenças nos rendimentos de diferentes regiões do território nacional?
Dado que toda a discussão é expressa em milhões de euros, temos a sensação de ficar perdidos na contagem dos zeros que a nós, especialmente a nós, tanto nos fazem falta. Graças a alguns dados, convenientemente simplificados, decidi averiguar a necessidade daquela “catrozada” de zeros que nos leva sempre para o lado imaginário da vida.
O número índice que compara o poder de compra de diferentes unidades estatístico-territoriais do país, conhecido por “Indicador per Capita” de poder de compra (IpC) foi a minha primeira escolha. De acordo com o “Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio – 2005”, do INE, referido às NUTS II (unidades estatísticas de nível II), e tomando para valor base (100) a média Portuguesa, Lisboa possuía na referida data um IpC de 137,3 pontos, ao passo que o Norte possuía um IpC de 85,4. A diferença de 51,9 pontos de IpC parece-me “megalómana” (e nem tem zeros!). Mas porque assim se corre o risco de impedir a imaginação de se exprimir, talvez seja mais útil referir-me a um outro número que dê expressão do rendimento relativo auferido por diferentes indivíduos. Assim, de acordo com “o ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem nos estabelecimentos”, enquanto que um “Lisboeta” faz 1173,68 € mensais, um “Nortenho” faz 785,18€, o que dá uma diferença de 388,5 €, valor este que é próximo do salário mínimo nacional.
Penso que aqui o significado de megalómano já se aplica, porque para atenuar esta enorme diferença terá de haver uma ambição desmedida, mas necessária. Digo “desmedida” porque dificilmente se encontra escala para o trabalho que é atenuar as diferenças entre todas as regiões do país, de que é exemplo a diferença de poder de compra da NUT II Norte face a Lisboa. Para mais, dizer “Estes investimentos iriam gerar um rendimento necessário para compensar os seus custos” não é tão fácil como dizer “Estes investimentos são Megalómanos”. É que a primeira afirmação usa mais 8 palavras. Um gasto aparentemente excessivo.
Os constantes investimentos públicos na área metropolitana de Lisboa é que possibilitaram todo o investimento privado que favorece a vida dos seus habitantes. Alguma vez se imagina um CEO (director executivo de empresas) asiático, representante de uma multinacional enriquecida pelo aproveitamento comercial das tecnologia de informação, que viaje até Portugal, fazer de seguida o trajecto até Vila Real ou mesmo Braga, depois de 5 a 8 horas de voo? Não é impossível que tal aconteça. Mas porque não há-de tratar o que tem que tratar em Lisboa, onde tem pessoal especializado e infra-estruturas preparadas na mesma dimensão que outras regiões do país foram negligenciadas na provisão desses mesmos recursos e infra-estruturas?
Nem toda a gente trocaria o carro pelo comboio, barco ou avião. Nem toda a gente abriria uma nova empresa, mas haveria quem o fizesse, e haveria quem arranjasse emprego em razão disso. Quero eu dizer, haveria uma alternativa benéfica para todos. Certamente que estas populações que se situam abaixo da média nacional em termos de rendimentos (já ela miserável comparada com a da União Europeia) tirariam partido de alguns dos “investimentos megalómanos” que tão contestados têm sido. Estes, por sua vez, trazer-lhe-iam a equidade social que lhes é devida.
José Pedro Cadima
jpgcadima@gmail.com
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(artigo de opinião a sair no número de 30 de Setembro p.f. do Suplemento de Economia do Diário do Minho)