Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

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segunda-feira, maio 26, 2025

“As relações comerciais entre Portugal e Espanha: o período pós-integração na CEE/UE”

Resumo

A importância do comércio internacional para o crescimento económico é um tema que não suscita controvérsia no seio da Ciência Económica. As teorias tradicionais fornecem dados relevantes para compreender o fenómeno, mas não proporcionam uma visão completa dos padrões observados nas trocas entre países. Estudos recentes têm-se centrado em dois tipos de fatores cruciais para a escolha de parceiros comerciais: os socioeconómicos; e os sociopsicológicos. As proximidades física e cultural têm, também, papel essencial. Pese a longa fronteira comum, foi necessário aguardar pela integração de Portugal e Espanha na CEE (Comunidade Económica Europeia), União Europeia (EU), na expressão atual, para que as relações económicas entre os dois países se desenvolvessem significativamente, passando a Espanha de um parceiro pouco relevante no período pré-integração europeia para primeiro parceiro comercial de Portugal a partir do final da década de 90 do século XX. Fazendo uso de estatísticas do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Banco de Portugal (BdP) sobre comércio de bens e serviços, disponíveis no portal da PORDATA - Estatísticas sobre Portugal e Europa, recorrendo a elementos gráficos disponibilizados por aquela base de dados, pretende-se neste capítulo traçar um retrato panorâmico da evolução das relações económicas entre os dois países.


J. Cadima Ribeiro



“As relações comerciais entre Portugal e Espanha. O período pós-integração na CEE/UE”, in Espanha e Nós: Visões atuais sobre as relações Hispano-Portuguesas, Carlos Pazos-Justo, Inês Gusman e Santiago Perez Isasi (Eds.), Edições Colibri, Lisboa, maio de 2025, cap. 9, pp. 203-220;

https://edi-colibri.pt/produto/espanha-e-nos-visoes-atuais-sobre-as-relacoes-hispano-portuguesas/


https://www.bertrand.pt/livro/espanha-e-nos-carlos-pazos-justo/32011644


quarta-feira, julho 05, 2023

International trade and the tourism industry in the post-pandemic scenario: an exploratory approach to the Portuguese and Brazilian cases

 Abstract: The COVID-19 pandemic severally affected the economy of many countries and territories around the world, and the ones more dependent on the tourism industry have been the most hit. However, the impact of the health crisis was not only felt on the tourism industry, but in many other social and economic activities, leading to decreases in GDP (Gross Domestic Product) and employment, and it also negatively affected consumer spending and the individuals’ well-being. International trade chains were also much affected due to the disruption of international distribution channels and border closures. The impacts of the pandemic, shortly after it was declared quelled, will be the focus of this paper. Namely, we inquire into the tourism strategies undertaken by Portugal and Brazil in the short-run post-pandemic scenario. In the case of Portugal, we have also looked at the trends found in the way firms have adapted their operations in the international markets in COVID-19 times, as a preliminary approach to the hypothesis raised if the outbreak of the health crisis would lead to a de-globalization process.  Regarding the empirical approach, secondary data were used, both, from statistics entities, researchers and technical government offices. In what regards the tourism industry, both in the cases of Portugal and Brazil, it looks like their recovery is following the trend of returning to “business as usual”, even though, in the case of Brazil, it is still an ongoing process. Regarding the international trade chains, data show that the pandemic has induced Portuguese exporting companies to adopt new operating models and distribution channels.

Keywords: COVID-19’s economic impacts; tourism dependence; international trade chains; economic recovery; Portugal; Brazil.


J. Cadima Ribeiro*

Flávio J.N.C. Malta**

*NIPE/University of Minho, Portugal

**UNITAU/University of Taubaté, Brazil

Email of corresponding author: jcadimaribeiro0@gmail.com


-  https://atsk.website/atsk-economics-volume-1-issue-2/

 

quarta-feira, março 20, 2013

Interacção com os leitores: "a desgraça da economia portuguesa"

«Caro Professor [...],
Obrigado pela sua mensagem. Algumas das questões que coloca têm uma resposta longa e complexa, pelo que não creio ser viável tratá-las no quadro desta mensagem de correio electrónico. Sugeria, por isso, que consultasse alguns blogues e sítios electrónicos onde existem dados sobre essas matérias ou onde essas temáticas são discutidas. Aparte o meu blogue de Economia Portuguesa (http://economiaportuguesa.blogspot.pt), sugeria-lhe com consultasse os blogues ou sítios seguintes:
Ladrões de Bicicletas (http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt);
The Portuguese Economy (http://theportugueseeconomy.blogspot.pt/); e
Brevemente, sobre cada um dos problemas que coloca, dir-lhe-ia o seguinte:
i) Principais problemas macroeconómicos: ausência de crescimento (queda do PIB); valor elevado (em crescimento) do desemprego; elevada dívida pública; e  elevado défice orçamental anual;
ii) Valores da Dívida e do défice: dívida pública acima dos 120% do PIB e défice do Orçamento do Estado em 6% do PIB em 2012;
iii) Principais medidas de política tomadas: aumento de impostos sobre as pessoas e sobre a transacção de bens e serviços; redução dos salários; e liberalização dos despedimentos;
iv) Debate no país: posição forte da opinião pública e dos agentes económicos contra o aumento dos impostos (que levaram à queda das receitas fiscais e à recessão económica); reclamação de políticas de estímulo ao crescimento económico e à criação de emprego;
v) Implicação para as empresas: o número de encerramentos de empresas nunca foi tão elevado  em razão do estrangulamento do mercado interno e da ausência de crédito; a resposta procurada por muitas foi virarem-se para a exportação, por forma a compensarem a perda de receitas verificada no mercado interno. De um modo geral, têm tido sucesso mas a recessão que atinge os mercados europeus cria também fortes restrições ao crescimento das vendas.
Espero que encontre a informação de que necessita para o sucesso da sua investigação.
Cordiais cumprimentos,

J. Cadima Ribeiro»

sexta-feira, março 16, 2012

O turismo não poderia (não poderá) sair incólume

No actual contexto de redução de rendimentos enfrentada por grande parte das famílias portuguesas, em razão do peso que toma o turismo interno, o sector não poderia (não poderá) sair incólume, isto é, tenderá, ele também, a contribuir para o avolumar do quadro recessivo que a economia vive. 
Note-se, por outro lado, a presumível insustentabilidade do crescimento da procura com base nos mercados emissores que registaram os melhores desempenhos relativos no ano 2010. Provavelmente, os dados respeitantes ao ano de 2011 já deixarão isso patente mas, mesmo não estando publicados, bastará olhar com atenção para essa lista de países para resultar óbvia essa expectativa. Itália, Espanha, Holanda e, até, França estão longe, muito longe, de enfrentar boas conjunturas económicas, sendo difícil antecipar quando retomarão um ciclo consolidado de crescimento.

J. Cadima Ribeiro

quinta-feira, janeiro 05, 2012

"Carta de Daniel Oliveira a Herr Schmidt (publicada no Expresso)"

«Assunto: FW: Carta de Daniel Oliveira a Herr Schmidt (publicada no Expresso)

Subject: Carta de Daniel Oliveira a Herr Schmidt (publicada no Expresso)
Não queira saber, prezado Schmidt, quanto pagou o seu Estado para manter as nossas terras improdutivas, as nossas fábricas fechadas e os nosso barcos de pesca atracados no porto. Produzimos pouco e importamos quase tudo o que consumimos. Na realidade, o nosso Estado gasta incomensuravelmente menos do que o seu. Os nossos direitos sociais são uma anedota. Os nossos salários são miseráveis. As nossas reformas mal dão para os medicamentos e para a comida. Mas, mesmo assim, estamos endividados. Porque foi essa a vontade dos principais países europeus: pagar para consumirmos o que o meu caro Schmidt produz. Disseram então que éramos o "bom aluno europeu". E, orgulhosos, ficámos com as autoestradas, que também foram pagas por si, e com os bancos, que nos emprestaram dinheiro para continuarmos a viver.
Depois entrámos no euro. Uma moeda feita para si, mas não para nós. Demasiado forte e sobre a qual nada poderíamos dizer. Com uma supermoeda para uma microeconomia, as exportações tornaram-se ainda mais difíceis e as importações mais tentadoras. Não referendámos nem Maastricht, nem o euro, nem o Tratado de Lisboa. Porque não discutimos a autoridade da União e o seu prestígio, não discutimos o diretório e a sua moral, não discutimos a glória do euro e o seu dever. Somos, como disse um representante vosso na troika, "um povo bom".
Quando os resultados da lição que tão bem aprendemos nos explodiu nas mãos, quando nos revelámos tão vulneráveis ao abalo financeiro internacional, explicaram-nos que andámos a viver acima das nossas possibilidades. Que não produzimos o suficiente para manter um Estado Social que, não saberá o senhor Schmidt, é uma amostra daquele a que o senhor tem direito.
Não quero que pense que o culpo a si. Era o que mais faltava. A culpa é nossa. Seria uma conversa longa, mas a nossa afamada simpatia esconde um enorme complexo de inferioridade. Para nós, "lá fora" é um lugar mítico. E estamos convencidos que qualquer burocrata de quinta linha que nos venha dar ordens sabe, melhor do que nós, o que devemos fazer. Seremos, mais uma vez, bons alunos. Destruiremos o poucos a que temos direito, venderemos a saldo as empresas públicas que restam, afundaremos por muitas décadas a nossa economia. E a celebração das exéquias estará a cargo de uma incompetente em quem o meu caro Schmidt poderá ter votado mas que eu nunca elegi para coisa alguma. Restará ao meu País a praia e o sol, que não podem ser deslocalizados. Como vamos passar a trabalhar quase de borla, aproveite para vir cá no verão. Verá que somos gente que não se mete em confusões. Sempre pronta a servir. De bandeja na mão, pano no braço e cabeça baixa.
Acontece que, ao criarmos o euro, fizemos uma jura de sangue. A tragédia começa a chegar às portas de Brandenburgo. E essa parte, tenho de lhe dizer, é culpa de quem o governa a si. Teremos sido, demasiadas vezes, bons alunos. Mas somos alunos de um péssimo professor. Que, como se verá em Bruxelas, nem perante todas as evidências desiste de velhos manuais que já deveria ter rasgado. A minha desgraça será a sua desgraça. Não o digo com satisfação. Digo-o com a leve esperança de que isso sirva para o meu amigo Schmidt despedir a reitora desta escola de maus costumes. E de que nós abandonemos esta degradante postura de aluno submisso. Podemos aprender todos um pouco com isto. O seu povo, alguma humildade. O meu, algum amor próprio.


(reprodução integral de mensagem que me caiu entetanto na caixa de correio electrónico, reenviada por JBM)

sexta-feira, setembro 16, 2011

Cartas portuguesas - de Lisboa

A Crise portuguesa - 02 setembro 2011

A crise mostra suas garras e colhe os portugueses de surpresa nas armadilhas da globalização financeira. Quanto ao Brasil, nossa relação distante limita-se à presença de alguns artistas e novelas da Globo.

Voltar às origens, esta é a sensação de estar em Portugal, para onde retorno depois de dez anos, desta vez para uma longa estada de estudos. Quero ver a crise europeia de perto... Por todos os lados, um pouco de nós mesmos: no falar, na arquitetura, nos monumentos que enaltecem o périplo marítimo que marcou o segundo milênio da nossa Era Cristã fundindo nossas histórias por três séculos. A cada café parece-me encontrar em alguém o rosto meu velho avô Affonso Pereira, neto de portugueses, morto nos idos de 50, quando eu era ainda criança, mas com a suficiente lembrança de seus hábitos morigerados, rosto fino e alongado sobre o qual se lhe via um topete branco, sempre impecavelmente vestido.

Aliás, não há um tipo físico típico de português, embora o associemos ao estilo ‘galego”, baixo, atarracado, mais próprio dos trasmontanos do norte do país, a região mais pobre de Portugal, de onde saíram os milhares de patrícios que foram para o Brasil no século passado. Nas ruas veem-se loiros, morenos, baixos atarracados, longilíneos, homens e mulheres de tipo mignon, alguns poucos negros e mulatos, gente de todo tipo, porque, já na época do descobrimento, a precoce nação, nascida em 1385, já era extremamente miscigenada.

Mas Portugal é também muito diferente do Brasil. Gostaríamos, aliás, que fosse mais ligado ao Brasil. Sua incorporação à União Europeia, entretanto, sepultou esse sonho. Hoje, a Finisterra dos tempos clássicos, para onde refluíram e se instalaram fenícios, gregos, cartagineses e, finalmente, os romanos, senhores dos mares da antiguidade, na sua ânsia de conhecer e dominar o mundo, além dos árabes, na Idade Média, é apenas um pequeno elo de uma globalização intercalada pela formação de blocos.

Centro colonial de um vasto império que, depois das Grandes Navegações, no século XVI, ia da América à Ásia, passando pela África, Portugal selou seu destino no início do Século XVIII ao ter que se subordinar ao poder militar da Inglaterra, que acabará salvando sua família real um século depois, ao retirá-la para o Brasil, a salvo da invasão napoleônica. Sem uma “invencível armada” restou-lhe contemplar passivamente a Pax Inglesa que vigorou até o final da I Grande Guerra, mergulhando aí num obscurantismo colonial à outrance, na África, mantido a ferro e fogo internamente por um regime retrógrado que subsistiu até a Revolução dos Cravos, em 1979.

Ao abrir-se, então, para a democracia, o histórico país confrontou-se com uma nova realidade mundial marcada, na Europa, pela criação da União Europeia, onde iria ocupar um papel marginal em virtude da pequena envergadura de seu mercado e baixa produtividade de sua indústria. Vastas áreas do país foram transformadas em reflorestamentos enquanto as cidades reduzem-se a um papel secundário como prestadoras de serviços, hoje responsáveis por 67,8% do PIB.

Não obstante, tanto a tradicional agricultura, produtora de grãos e frutas modernizou-se, ocupando embora 12% da população ativa, como a indústria mais pesada também avançou no país, vindo a alcançar perto de 30% do valor agregado da economia, graças a grandes plantas automobilísticas e petroquímicas aqui sediadas nos últimos lustros. Em vista disso, europeizando-se e se desenvolvendo, mesmo como apêndice econômico da UE, Portugal foi se distanciando cada vez mais de seu filho promissor, o Brasil.

Décadas de congelamento das relações diplomática entre os dois países, à raiz da insistência do colonialismo português na África, anteciparam o atual isolamento, hoje reduzido à Comunidade Lusofônica, algumas novelas da Globo e uma que outra presença de cantores famosos. Lembre-se que foi o Brasil, mesmo sob regime militar, mas graças à antevisão do chanceler Azeredo da Silveira, o primeiro país a reconhecer tanto Angola como Moçambique, logo da proclamação da Independência desses países.

“Com o fim da escravidão, Brasil e Angola viveram um período de afastamento que só foi alterado com o início dos movimentos de independência angolanos. Durante esse período, grandes nomes da Diplomacia brasileira, tais como Gibson Barboza e Azeredo da Silveira, se mostraram preponderantes na defesa da importância do restabelecimento de relações mais próximas com o continente africano, e com Angola em especial, e trabalharam no sentido de romper com o tradicional alinhamento a Portugal no caso das colônias africanas. Essa mudança de posição levou o Brasil a ser o primeiro país a reconhecer aindependência de Angola, o que foi um fator determinante para as relações exteriores brasileiras. A decisão brasileira não só aproximou enormemente os dois países como modificou e fortaleceu aimagem do Brasil no exterior, principalmente entre os países ditos periféricos” Suhayla Mohamed Khalil Viana in A posição brasileira diante da independência angolana: antecedentes e desdobramentos).

Hoje, enfim, mudaram os tempos, mas nos fizemos, para os portugueses, apenas uma longínqua referência lusofônica. Agora, porém, a crise mostra suas garras e colhe os portugueses de surpresa nas armadilhas da globalização financeira. O país é, do ponto de vista geral, muito parecido com o Rio Grande do Sul, com uma grande diversidade geográfica assinalada por Eça de Queiroz em A Cidade e as Serras, um vasto e prazeroso litoral que deliciava as cortes europeias nos invernos dos séculos XVIII e XIX, uma população aferida no Censo de 2011 de 10. 555. 583[4] habitantes, com uma renda per capita de US$ 22026USD[6] , perfazendo um PIB, em 2009, na ordem de US$ 233,4 bilhões*[5] (34.º), relativamente pequeno, mas suficiente para tornar a qualidade de vida em Portugal uma das 20 melhores do mundo:

Indicadores sociais :
- Gini (2009) 33.7[7] – médio
- IDH (2010) 0,795[8] (40.º) – muito elevado
- Esper. de vida 78,1 anos (39.º)
- Mort. infantil 3,3/mil nasc. (26.º)
- Alfabetização 94,9% (68.º)

Sobre esse pano de fundo é que se abate a atual crise em Portugal, exigindo do governo conservador medidas de saneamento verdadeiramente assustadoras. O desemprego é superior 12%, o endividamento público, superior a 100% do PIB com uma variação na taxa de juros média nos últimos três meses de 16,6% - uma das mais altas do mundo - e o risco (CDS) também elevado, de 640 pontos base, quando Espanha está com 240 pontos, Itália com 146 e Alemanha, o gigante europeu, com 37 pontos.
Todos, aqui, com exceção dos detentores de grandes patrimônios estão, como dizem, “a pagar a conta” da crise. Na quarta-feira passada o governo anunciou a sobrecarga de um adicional do imposto de renda, por dois anos, sobre as empresas com lucro superior a 1,5 bilhão de euros, bem como sobre as pessoas com rendimento superior a 3,4 euros mensais, algo próximo a oito mil reais, agravando a situação da classe média. O próprio governo reitera, entretanto, que tais medidas não pretendem taxar o capital nem inibir eventuais investidores, debitando-se mais ao esforço de socializar os custos sociais da superação da crise do que a qualquer argumento ideológico.

O grande problema da crise, porém, não se resume a países isolados. Todos os especialistas são unânimes em reconhecer que os recursos estritamente europeus para enfrentar a crise de endividamento público que ameaça a estabilidade dos mercados em toda a zona do Euro são insuficientes. Na primeira semana de setembro, José Manuel Durão Barroso, o chairman da União Europeia enviou uma carta a todos os líderes do bloco na qual apela para uma “reavalição urgente... (dos fundos) para aguentar os riscos do contágio da dívida.” Mas Angela Merkel, da Alemanha, ainda se esforça para segurar a escalada dos juros e da crise na Espanha e Itália, acreditando poder, com isto evitar o efeito dominó sobre todo o continente.

A urgência solicitada por Durão Barroso, porém, faz sentido. A União Europeia dispõe, hoje de 500 bilhões de euros para as emergências, sendo 440 bilhões do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e 60 bilhões do Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira. Deste montante, 170 bilhões já foram alocados em ajudas à Grécia, Irlanda e, agora, Portugal. Sobram apenas 320 bilhões até 2013, quando o Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira passará a ter um acréscimo orçamentário para 750 bilhões de euros.

Mas, segundo estimativas do Deutsch Bank, um socorro eventual à Espanha custaria 300 bilhões e outro, à Itália, não ficaria por menos de 490 bilhões.

Estes dois pesos pesados da economia europeia representam, respectivamente, 12% e 18% do PIB da zona do euro, quando os atendidos até agora , Grécia + Irlanda + Portugal, não passam, juntos, de 6% desse total. A crise do euro, portanto, ainda está muito longe de ser devidamente avaliada e muito mais longe ainda de ser superada.

Paulo Timm

domingo, junho 05, 2011

Exposição do sector têxtil ao mercado internacional

Quando se faz uma análise externa do município de Vila Nova de Famalicão, verifica-se a necessidade de precaver os riscos derivados da exposição do sector têxtil ao mercado internacional, que enfrenta concorrência internacional nos mesmos produtos de países com um menor custo de mão-de-obra ou de países que praticam dumping (denominação atribuída à prática comercial em que uma ou mais empresas de um país vende os seus produtos a preços abaixo do seu valor justo para outro país, visando prejudicar e eliminar os fabricantes de produtos similares concorrentes no local, passando então a dominar o mercado e impondo preços mais altos).

Paula Cristina Remoaldo

quinta-feira, março 10, 2011

O sector dos vinhos em Portugal: alguns dados

1. Em termos de produção de vinho, Portugal ocupava em 2008 o 5º lugar na Europa e o 10º a nível mundial. No mesmo ano, a União Europeia a 15 (países antes dos alargamentos mais recentes) representava 55% do mercado mundial. De um modo geral, nos últimos anos tem-se verificado uma evolução decrescente da produção na Europa e um aumento nos novos produtores de vinho.
2. Nas últimas décadas verificou-se uma queda nas exportações dos 5 principais países exportadores de vinho da União Europeia e uma evolução de sentido contrário nas exportações dos países emergentes (países do Novo Mundo). Entre os países emergentes que vêm reforçando a sua posição no mercado mundial encontram-se o Chile, a África do Sul e a Argentina.
3. Em termos de consumo, Portugal surge também na 5ª posição na Europa e em 12º em termos mundiais. No que se refere à quota de mercado no consumo mundial, esta tem vindo a oscilar, nos últimos trinta anos, entre os 3% e 4%. A França lidera o mercado mundial no consumo, com 14% de quota, seguida pelos Estados Unidos da América e pela Itália. Nos principais países consumidores, especialmente em França e Itália, a tendência geral tem sido a do decréscimo (ligeiro) do consumo de vinho.
4. Como é geralmente sabido, em Portugal a vinha está presente em todo o país, mas as regiões que mais contribuem para a produção nacional são Trás-os-Montes, com 29%, e as Beiras com 22%.O peso do sector do vinho na produção agrícola tem vindo a aumentar ao longo da última década, situando-se nos últimos anos em valores em torno dos 15% do total do sector (dados do Instituto do Vinho e da Vinha).
5. Portugal é um país com invejáveis potencialidades para a produção de vinhos de qualidade em razão das boas condições climáticas e geológicas, da detenção de castas únicas e da tradição na produção do produto. No total, em 2008/2009, os vinhos com denominação de origem protegida representaram 74% da produção total. Em grande parte, este valor ficou a dever-se ao peso que os Vinhos do Porto detêm nesta categoria.
6. Falando-se de Vinho do Porto, importa assinalar que no quinquénio 2000 a 2005 este registou um decréscimo ligeiro em matéria de exportações, em volume e em valor, tendência esta que se manteve até 2009. Todavia, em 2010, primeiro semestre, as exportações do Douro cresceram 10%.
7. Pese a “multidão” de pequenos vitivinicultores exitentes no Douro, cinco grandes operadores (a Symington Family Estates, a Taylor Fladgate, La Martiniquaise, a Sogrape e a Caixa Nova) controlam cerca de 80% do mercado do Vinho do Porto.
8. As dificuldades enfrentadas pelas empresas produtoras e exportadoras de vinhos, incluindo as de Vinho do Porto, e a evolução registada nas estruturas de mercado são consequência da conjugação de vários factores, onde avultam: i) a concorrência mencionada de novos países produtores, situados no novo mundo (Américas, Oceania e África); ii) a concorrência aos vinhos provinda de refrigerantes, cervejas e vinhos espirituosos; iii) e a evolução dos gostos dos consumidores. Nesse quadro competitivo, o sucesso das empresas não pôde deixar de considerar a internacionalização, a introdução de inovação no processo de produção e de transformação das uvas e, naturalmente, também o recurso a trabalho mais qualificado que, aparte dar resposta às exigências de inovação de processo, fosse capaz de encontrar soluções que atendessem à evolução das preferências dos consumidores.
9. Nessa trajectória e por referência à realidade nacional, os problemas que foram sendo sinalizados e os desafios que importava vencer eram/são, de um modo geral, aqueles que foram identificados em 2004 por uma equipa liderada por Michael Porter, num estudo realizado sob encomenda da ViniPortugal; a saber: o espartilhamento existente no sector; a presença de uma mentalidade aversa ao risco; a falta de saber-fazer técnico; a inadequação da legislação exigente; e a insuficiente aposta na internacionalização. Felizmente, algo foi evoluindo nessas dimensões, conforme o parecem evidenciar alguns resultados alcançados, quer em termos de preservação de quotas ou de penetração em novos mercados e segmentos de mercado, quer em termos de qualidade dos vinhos que vêm sendo postos ao dispor dos consumidores. Este é, entretanto, um esforço que jamais se poderá dar por concluído.

J. Cadima Ribeiro

(artigo de opinião publicado na edição de 2011/03/10 do Jornal de Leiria)

Nota: a fonte principal dos dados usados neste texto foi uma dissertação de mestrado entretanto apresentada na EEG/UMinho, de que é autor Filipe Antunes.

domingo, março 06, 2011

O sector dos vinhos em Portugal: a importância dos vinhos de qualidade

Portugal é um país com invejáveis potencialidades para a produção de vinhos de qualidade, onde avultam as boas condições climáticas e geológicas, a detenção de castas únicas e a tradição que possue no sector. No total, em 2008/2009, os vinhos com denominação de origem protegida representaram 74% da produção total. Em grande parte, este valor ficou a dever-se ao peso que os Vinhos do Porto detêm nesta categoria. A tendência no período 2000-2009 tem sido de estabilização em todos os tipos de vinhos produzidos em Portugal.
Falando-se de Vinho do Porto, importa assinalar que no quinquénio 2000 a 2005 o vinho licoroso com a designação de origem protegida Porto registou um ligeiro decréscimo em matéria de produto exportado, em volume e em valor, tendência esta que se manteve até ao ano 2009. Todavia, no ano de 2010, as exportações no Douro crescerem 10% no primeiro semestre.

J. Cadima Ribeiro

sábado, março 05, 2011