1. Em texto de opinião publicado recentemente neste jornal referi-me ao discurso que por aí vai sobre a reforma da economia e de outras estruturas. Nesse contexto, invoquei o deslumbramento que os nossos políticos, e não só, mantêm pelo investimento directo estrangeiro e respectiva eficácia de operação. Invoquei até casos que conheço de entidades multinacionais a operar no mercado português cujo exemplo merece a pena ser seguido, concluindo, entretanto, serem cada vez mais as situações em que os nacionais rivalizam com os demais, num quadro de competição económica que é crescentemente global.
2. Pois bem, o acaso do meu trabalho académico ditou que, pouco depois, me chegasse à mão um conjunto de textos de investigação científica sobre o investimento directo estrangeiro (IDE) presente em Portugal que dão substância ao que afirmo em termos da falta de razão de ser do deslumbramento mantido, e de quanto singulares são os casos que invoquei. São estudos que põem a claro que a empresa de capitais externos não é necessariamente nem mais rendível que a empresa nacional média nem é, por outro lado, factor inequívoco de dinamização do tecido empresarial nacional, por força da cadeia de cadeia de relações que desencadeie ou pela iniciativa empreendedora que estimule. Consciente que estava de que isso pudesse acontecer, surpreendeu-me, ainda assim, a frieza dos resultados que pude ler.
3. Os estudos a que me refiro intitulam-se, “Corporate Performance: Does Ownership Matter? A Comparison of Foreign- and Domestic-Owned Firms in Greece and Portugal” (2005), da autoria de Natália Barbosa e Helen Louri, e “The role of inward foreign direct investment on entrepreneurship” (2007), da autoria de Natália Barbosa e Vasco Eiriz. Trata-se de trabalhos que se encontram publicados em revistas científicas internacionais (Review of Industrial Organization e International Entrepreneurship and Management Journal, respectivamente), sendo que os autores portugueses são ambos professores na EEG/Universidade do Minho e Helen Louri é uma investigadora grega. É uma síntese dos resultados desses dois estudos que alinho nos parágrafos seguintes, deixando ao(à) leitor(a) a liberdade de ajuizar sobre a justeza das considerações que faço nos parágrafos precedentes.
4. Do artigo com o título que transcrevo em primeiro lugar (em tradução minha do original em língua inglesa), vale a pena sublinhar o seguinte: “No caso Português nós não encontrámos evidência que suportasse a hipótese apriori assumida no que se reporta à relação entre propriedade externa (controle externo do capital) e rendibilidade, o que leva a colocar a dúvida sobre a pressuposto de que as empresas multinacionais apresentam melhor desempenho que as empresas domésticas. Se há alguma diferença, ela parece favorecer as empresas nacionais, que se sugerem ter melhor desempenho que as filiais de multinacionais a operar em Portugal” (p. 89).
5. Similarmente, olhando para o segundo título, é interessante reter da respectiva “Discussão dos resultados” que os resultados agora conseguidos “confirmam a indicação que havíamos obtido em anteriores investigações, já que a relação com formato em U invertido indica que, inicialmente, as multinacionais promovem a inovação e o empreendorismo na economia portuguesa (expresso numa taxa positiva de entrada de empresas nacionais) mas, à medida que a importância das empresas multinacionais cresce na estrutura sectorial, o seu impacto positivo desaparece, levando à saída de certo número de firmas nacionais não inteiramente substituídas por outras recém-criadas”.
6. Antes que se tirem conclusões apressadas dos resultados que aqui trago, vale a pena, contudo, atentar numa passagem das “Conclusões” deste último estudo, em que se diz que “a fraca evidência de que haja um efeito positivo na iniciativa empresarial da presença de multinacionais […] pode esconder um impacto dos estabelecimentos multinacionais na reorganização industrial e na substituição de firmas ineficientes por outras mais eficientes”.
7. Trazendo para aqui estes resultados, porventura pouco conhecidos ou ignorados pelos decisores públicos nacionais, pretendo chamar a atenção para a necessidade da existência de um critério que presida às iniciativas de captação de investimento externo para a economia portuguesa e, obviamente, de afectação de apoios públicos à implantação desse tipo de operadores económicos no mercado nacional. É ingénuo assumir que todo o investimento estrangeiro é capaz de dar um contributo à economia portuguesa, nomeadamente na vertente eficiência de operação, dinâmica inovadora e efeito de arrasto de operadores nacionais.
2. Pois bem, o acaso do meu trabalho académico ditou que, pouco depois, me chegasse à mão um conjunto de textos de investigação científica sobre o investimento directo estrangeiro (IDE) presente em Portugal que dão substância ao que afirmo em termos da falta de razão de ser do deslumbramento mantido, e de quanto singulares são os casos que invoquei. São estudos que põem a claro que a empresa de capitais externos não é necessariamente nem mais rendível que a empresa nacional média nem é, por outro lado, factor inequívoco de dinamização do tecido empresarial nacional, por força da cadeia de cadeia de relações que desencadeie ou pela iniciativa empreendedora que estimule. Consciente que estava de que isso pudesse acontecer, surpreendeu-me, ainda assim, a frieza dos resultados que pude ler.
3. Os estudos a que me refiro intitulam-se, “Corporate Performance: Does Ownership Matter? A Comparison of Foreign- and Domestic-Owned Firms in Greece and Portugal” (2005), da autoria de Natália Barbosa e Helen Louri, e “The role of inward foreign direct investment on entrepreneurship” (2007), da autoria de Natália Barbosa e Vasco Eiriz. Trata-se de trabalhos que se encontram publicados em revistas científicas internacionais (Review of Industrial Organization e International Entrepreneurship and Management Journal, respectivamente), sendo que os autores portugueses são ambos professores na EEG/Universidade do Minho e Helen Louri é uma investigadora grega. É uma síntese dos resultados desses dois estudos que alinho nos parágrafos seguintes, deixando ao(à) leitor(a) a liberdade de ajuizar sobre a justeza das considerações que faço nos parágrafos precedentes.
4. Do artigo com o título que transcrevo em primeiro lugar (em tradução minha do original em língua inglesa), vale a pena sublinhar o seguinte: “No caso Português nós não encontrámos evidência que suportasse a hipótese apriori assumida no que se reporta à relação entre propriedade externa (controle externo do capital) e rendibilidade, o que leva a colocar a dúvida sobre a pressuposto de que as empresas multinacionais apresentam melhor desempenho que as empresas domésticas. Se há alguma diferença, ela parece favorecer as empresas nacionais, que se sugerem ter melhor desempenho que as filiais de multinacionais a operar em Portugal” (p. 89).
5. Similarmente, olhando para o segundo título, é interessante reter da respectiva “Discussão dos resultados” que os resultados agora conseguidos “confirmam a indicação que havíamos obtido em anteriores investigações, já que a relação com formato em U invertido indica que, inicialmente, as multinacionais promovem a inovação e o empreendorismo na economia portuguesa (expresso numa taxa positiva de entrada de empresas nacionais) mas, à medida que a importância das empresas multinacionais cresce na estrutura sectorial, o seu impacto positivo desaparece, levando à saída de certo número de firmas nacionais não inteiramente substituídas por outras recém-criadas”.
6. Antes que se tirem conclusões apressadas dos resultados que aqui trago, vale a pena, contudo, atentar numa passagem das “Conclusões” deste último estudo, em que se diz que “a fraca evidência de que haja um efeito positivo na iniciativa empresarial da presença de multinacionais […] pode esconder um impacto dos estabelecimentos multinacionais na reorganização industrial e na substituição de firmas ineficientes por outras mais eficientes”.
7. Trazendo para aqui estes resultados, porventura pouco conhecidos ou ignorados pelos decisores públicos nacionais, pretendo chamar a atenção para a necessidade da existência de um critério que presida às iniciativas de captação de investimento externo para a economia portuguesa e, obviamente, de afectação de apoios públicos à implantação desse tipo de operadores económicos no mercado nacional. É ingénuo assumir que todo o investimento estrangeiro é capaz de dar um contributo à economia portuguesa, nomeadamente na vertente eficiência de operação, dinâmica inovadora e efeito de arrasto de operadores nacionais.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Jornal de Leiria)
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