Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

domingo, julho 29, 2007

Competitividade territorial: o caso de Leiria

«1. Enquanto professor e investigador, como definiria “competitividade territorial”?
R: Uma definição possível é a seguinte: competitividade é a capacidade de um território (cidade; região; país) gerar e reter valor de forma sustentável, em proveito das suas empresas e populações. Na acepção que retenho, isso só se atinge através da mobilização dos agentes e dos recursos e capacidades dos territórios e pela detenção de algum grau de inovação, em matéria de oferta de produtos/serviços e organizacional.

2. Esta competitividade territorial deve ser construída a partir de um modelo de divisão do território já existente, deve ser definido um novo modelo, ou pelo contrário, a ‘construção de territórios” deve ser feita espontaneamente, ainda que desta forma algumas parcelas possam ficar excluídas?
R: Até há não muito tempo (final dos anos 70/princípios dos anos 80 do séc. XX), o paradigma de desenvolvimento dominante, tendia a ver nos territórios espaços relativamente desprovidos de recursos (capital, trabalho qualificado) e de iniciativa. A esta luz, cumpria ao poder público central aportar recursos, equipamentos e serviços básicos, definir estratégias e mobilizar actores, a mais das vezes igualmente externos ao território objecto de intervenção, que, a prazo, gerassem emprego e riqueza, quer dizer, crescimento económico.
A visão que subsiste hoje em dia é substancialmente distinta e pode ser revertida ao conceito de desenvolvimento endógeno, que remete para a noção de competitividade dos territórios que é enunciada na resposta precedente.
De que modo é que isso se relaciona com o modelo de divisão do espaço e a sua gestão política e económica? Relaciona-se na medida em que as unidades operativas são comunidades humanas, isto é, populações, tecidos empresariais e institucionais com certo nível de coesão, partilhando valores e aspirações que são singulares no contexto do país ou do bloco económico/político onde essa unidade espacial se integra. Dito de outro modo, território significa já comunidade humana informada por certos valores e estruturas de organização social e económica. As estratégias de desenvolvimento a gizar, aparte o suporte que necessitam ter nos recursos e competências dessa comunidade, têm que dar resposta às aspirações dessa comunidade e ser capazes de mobilizá-la, para que sejam sustentáveis no tempo, isto é, para que o desenvolvimento aconteça. Tal não quer dizer que as fronteiras das comunidades humanas não se recriem, na medida em que preservem a respectiva capacidade de regeneração, quer dizer, permaneçam vivas.
[...]»
J. Cadima Ribeiro
(extracto de entrevista a incluir no dossiê sobre “Competitividade Territorial”, da edição nº 29 da revista Desafios, NERLEI, a sair em meados de Agosto pf.)

quarta-feira, julho 25, 2007

Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas

MEMPP
Candidaturas
prazo
: 16 de Julho a 31 de Agosto de 2007
local: Divisão de Pós-Graduação da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho
documentos: Boletim de candidatura; Cópia da certidão da licenciatura com as notas discriminadas e de outros graus obtidos; "Curriculum Vitae" detalhado; 2 fotografias tipo passe; Cópia do Bilhete de Identidade; Cópia do Cartão de Contribuinte
matrículas: 1 a 4 de Outubro de 2007
propinas: €1750/ano

sábado, julho 21, 2007

The analysis of tourists` preferences: the Minho-Lima case (III)

«[...]
Some territories use its natural, historical and ethnographical resources aiming to preserve resources and to increase revenue and employment. However, being financial and human resources scarces, usually, any planning process implies to develop a selection process and the evaluation of available alternatives.
The current touristic resources can provide a starting point for the definition of alternatives and, knowing the tourists' opinion on these, we can get more solid base to select the strategic alternative adjusted to the characteristics of the territory in analysis and to their preferences.
The analysis of tourists’ preferences and tastes are facilitated when we face more or less consolidated destinations and actual touristic resources, once these present a demand where tastes and preferences can be investigated. However, when emergent destinations and potential touristic resources are analysed we do not know the demand on which to base these parameters, and this mission becomes more complicated. To surpass that problem, we can apply to the stated preferences analysis, asking respondents about theirs (stated) choices, in the aim of hypothetical consumption situations. “Because it relies on individual’s statements about their preferences or choices, this approach has become known as ´stated preference` (or choice) analysis” (Louvière and Timmermans, 1990, p.10).
[...]»
Laurentina Vareiro
J. Cadima Ribeiro

[reprodução de extracto de comunicação intitulada "The use of stated preference and choice models in the analysis of tourists’ preferences: the Minho-Lima sub-region (Portugal) case", a ser apresentada em: 47th Congress of the European Regional Science Association (Joint Congress of ERSA and ASRDLF), Paris, August 29th – September 2nd, 2007].

terça-feira, julho 17, 2007

The analysis of tourists’ preferences: the Minho-Lima case (II)

"[...]
Even being quite similar, the results show some differences in terms of preferred destination profiles:
- national tourists prefer National Parks or Protected Landscapes, while foreign tourists give more value to Mountains; additionally,
- in the case of the Ethnographical Resources, national tourists attribute larger importance to Gastronomy, while foreigners value better Popular Festivities.
Both, national and foreigners tourists value a lot Natural Resources-water, namely Oceanic Beaches, and, in what concerns Historical Resources, the preference goes, clearly, to Archaeological Patrimony.
[...]"
Laurentina Vareiro
J. Cadima Ribeiro

[reprodução de extracto de comunicação intitulada "The use of stated preference and choice models in the analysis of tourists’ preferences: the Minho-Lima sub-region (Portugal) case", a ser apresentada em: 47th Congress of the European Regional Science Association (Joint Congress of ERSA and ASRDLF), Paris, August 29th – September 2nd, 2007].

sexta-feira, julho 13, 2007

The analysis of tourists’ preferences: the Minho-Lima case

"Tourist operators and public decision makers of a certain touristic destination are interested in knowing the contribution of each of the touristist resources (attributes) available and of theirs levels to the success of the destination. That as to do with preferences kept by present or future (potential) consumers (tourists). Having access to that knowledge they can evaluate the consistency of the strategy they are following in terms of profiting from those resources, as well as to take more informed decisions regarding promotion of the touristic destination, according to the set of products and services available.
Briefly, from the results we got from our empirical approach, we have to conclude that resources tourists value the most are (were) Oceanic Beaches and National Parks or Protected Landscapes. Having this in mind, from a promotional point of view, we think coastal municipalities of our study, which do not belong to the Peneda-Gêres National Park, should include the reference to it in their promotion campaigns, as they are located close to it. The same way, those municipalities which are inserted in this National Park, should refer to the coastline in their tourism folders, as the distance to it is never longer than a few dozens of kilometres.
By contrast, considering the same empirical results, given the minor importance conferred to Religious Patrimony and Handicraft by, both, national and foreign tourists, there is, clearly, the need to review the importance (visibility) given to them in the promotion strategies. Anyway, taking the perspective that it will be better to have a touristic destination able to offer to the market an enlarged folder of products/services than a narrow one, it seems to make sense that these resources are taken as complementary ones. As the current promotion strategy does of the Religious Patrimony and Handicraft the visiting cards of Minho-Lima, the results we got call for a deep move regarding this territory future touristic promotion."
Laurentina Vareiro
J. Cadima Ribeiro
[reprodução da "conclusão" de comunicação intitulada "The use of stated preference and choice models in the analysis of tourists’ preferences: the Minho-Lima sub-region (Portugal) case", a ser apresentada em: 47th Congress of the European Regional Science Association (Joint Congress of ERSA and ASRDLF), Paris, August 29th – September 2nd, 2007].

segunda-feira, julho 09, 2007

A União Europeia e Portugal: planeamento e bom uso de recursos

1. “A coesão significa solidariedade entre os Estados-Membros para tornar as regiões lugares mais atractivos, inovadores e competitivos para se viver e trabalhar.”. Quais as implicações do alargamento da União Europeia na coesão económica, social e territorial? Portugal deve estar na linha da frente dos países com maior interesse no processo de integração europeia tendo em linha de pensamento a actual conjectura económica a nível Europeu e mesmo Mundial?

R: A realidade europeia em termos de desenvolvimento é muito desequilibrada considerando os estados que a constituem, e ainda mais desequilibrada quando a pensamos em termos dos territórios sub-nacionais. Assim sendo, dificilmente novos alargamentos não acarretarão o aumento do fosso entre regiões pobres e regiões ricas.
Portugal não tem muito a ganhar, em termos económicos, com novos alargamentos. Não pode é, por razoes éticas e políticas negar a solidariedade a esses povos, na própria medida em que a tem reclamado em relação a si. Teoricamente, a entrada de novos países significa abrir novos mercados, todos podendo ganhar com isso. Na prática, é preciso que as empresas o percebam como tal e vão à lutam. As multinacionais são, usualmente, quem melhor partido tira destas oportunidades. É preciso pensar a conjuntura económica europeia e mundial mais como um desafio que como uma ameaça!

2. Para além das políticas correntes, que mais esforços podem ser realizados por parte da Comissão da União Europeia no sentido de ajudar as regiões a tornarem-se mais competitivas e homogéneas entre si?

R: Não é só a comissão europeia que tem responsabilidades neste domínio. Os estados nacionais também as têm. No caso português, onde tem estado a solidariedade com as regiões mais desfavorecidas e onde tem estado uma verdadeira política de desenvolvimento regional? A melhor ilustração dessa falta de vontade é a ausência de descentralização e de regionalização, que são instrumentos fundamentais de cidadania e de desenvolvimento.
Em termos europeus, as políticas estruturais, com expressão a nível das infra-estruturas e equipamentos, têm sido uma boa ajuda. Obviamente, se o orçamento afecto a este tipo de políticas fosse maior podia ir-se mais longe. Importa, por outro lado, secundar as políticas orientadas paras as infra-estruturas por outras ligadas à qualificação das pessoas, dos territórios e dos tecidos empresariais. Isso implica, sublinho, implicar proximamente os agentes, dando substância ao conceito de subsidiariedade, com leitura também nacional.

3. Qual ou quais devem ser os princípios e/ou indicadores que devem ser privilegiados no estabelecimento de prioridades da política de coesão da UE de forma a assegurar um crescimento equilibrado e sustentável dos territórios?

R: Em termos de diagnóstico, indicadores como o PIB per capita, expresso em paridades de poder de compra, ou outros que retratem a competitividade dos territórios e a respectiva capacidade empresarial são úteis. Há que manter presente, também, a qualificação das pessoas e a cobertura dos territórios em equipamentos e em serviços básicos. Os princípios orientadores das políticas deverão ser, por outro lado:
i) a aposta no aproveitamento dos recursos e capacidades dos territórios;
ii) a sustentabilidade do modelo económico ; e
iii) a equidade de tratamento, o que supõe, à partida, dotar as regiões mais carentes de um conjunto de infra- estruturas e de equipamentos de suporte às pessoas e às empresas.

4. Segundo Jos Chabert, “A transparência e a aproximação permanecem duas prioridades políticas do Comité das Regiões para os próximos anos”. Que passos devem ser tomados de forma a tornar as decisões de política regional mais transparentes e coerentes entre si?

R: há dois níveis de pensar as intervenções: o europeu e o nacional. Em termos nacionais, conforme já dito, há que assumir uma postura de muito maior solidariedade das regiões mais ricas com as mais pobres e assentar muito mais do que até aqui os projectos de desenvolvimento nos recursos e nas iniciativas dos agentes regionais, facilitando-lhes recursos e capacidades de decisão para que possam definir políticas de médio e longo prazos e trabalharem com patamares de eficiência maiores. Quer isto dizer que as políticas têm que ser construídas com as pessoas, com os agentes dos territórios e não a partir de Lisboa ou do Porto.
A nível europeu, há que ultrapassar igualmente a situação de diálogo/negociação exclusiva com os governos nacionais, e fazer valer mais a componente de monitorização das políticas e dos projectos que os processos de planeamento sempre envolvem.
Note-se, a propósito, que o comité das Regiões é um órgão inexistente para os cidadãos, não se conhecendo sequer quem são os representantes portugueses nessa estrutura, nem existe criado qualquer mecanismo de interacção entre os cidadãos ou os poderes locais e esses representantes "anónimos".

5. No seu entender, os fundos de coesão que tiveram como destino o nosso país, foram bem aplicados? Que poderia ter sido feito no sentido de tornar a sua aplicação mais eficiente?

R: Se os fundos tivessem sido bem aplicados e as políticas adequadamente estabelecidas, Portugal deveria situar-se actualmente num patamar de desenvolvimento muito mais elevado. Houve erros de planeamento (de definição de prioridades políticas). Houve erros de implementação. Não houve monitorização das políticas e consequente correcção de trajectórias quando as coisas não correram bem. O que há a fazer?
i) Planear com maior envolvimento dos agentes, com prioridade mais rigorosamente definidas;
ii) Instituir verdadeiros mecanismos de acompanhamento e monitorização.
iii) Ser mais exigente e selectivo nos projectos a apoiar, mantendo presente o respectivo alcance em matéria de contributo para a competitividade nacional e de sustentabilidade económica e ambiental dos projectos e dos equipamentos apoiados. Em síntese: há que alterar modelos de trabalho e culturas de dependência e de acomodação.

(As perguntas de Alberto Dantas, Daniel Maciel, Eduardo Silva e Rui Gonçalves e as respostas de J. Cadima Ribeiro)

segunda-feira, julho 02, 2007

Casos de sucesso de produtos do território nos mercados externos - II

"[...]
A produção de produtos alimentares biológicos ou cultivados segundo métodos tradicionais tem sido a aposta de alguns produtores. Por exemplo, a produção de cerejas de qualidade superior, com um sabor específico, permitiu que um produtor do Fundão vendesse a sua cereja à Ferrero Rocher para os bombons Mon Chéri (EXPRESSO, 2005c), outro de Odemira colocasse os seus morangos à venda na cadeia de supermercados Wal-Mart (EXPRESSO, 2005d), e um outro de Ferreira do Alentejo tenha desenvolvido variedades de uva para consumo, duas delas sem grainha, para comercialização no mercado nacional e inglês (EXPRESSO, 2005e).
O saber fazer português, consubstanciado nas receitas caseiras tradicionais de culinária e doçaria, também parece oferecer algum potencial de exportação. A Chocolame está presente num segmento muito específico, o dos salames de chocolate, que respeitam integralmente as receitas e os métodos de fabrico tradicionais, sendo distribuídos em Portugal e nos Estados Unidos (SEMANÁRIO ECONÓMICO, 2005). Um empresário de Coimbra vende queijadas e pastéis de Tentúgal e de Santa Clara não só na sua rede de pastelarias Vasco da Gama, como numa loja em Salamanca (EXPRESSO, 2005a). Uma pequena empresa de Tavira produz flor do sal, um produto formado nas salinas e que tem características químicas e físicas muito diferentes do sal de cozinha, sendo usado na alta cozinha para dar um paladar requintado aos pratos, em peelings faciais e em tratamentos homeopáticos contra a malária. Os canais de distribuição preferenciais são os hotéis de luxo e as lojas de artigos gourmet de grandes superfícies em Portugal, França, Alemanha, Bélgica, Suécia, Estados Unidos e Canadá (EXPRESSO, 2005b).
[...]"

J. Cadima Ribeiro
J. Freitas Santos

(extracto de comunicação intitulada "Produtos do Território e Internacionalização Empresarial", a apresentar no 13º Congresso da APDR, que decorre na Universidade dos Açores, Angra do Heroísmo, de 5 a 7 de Julho de 2007)