Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

sexta-feira, outubro 07, 2016

Evolução de esperança de média de vida das populações e impactes económicos

(questões endereçadas em 2016/09/27 por Carolina Reis, jornalista do Expresso)

  1. Que impacto tem na economia este aumento da esperança média de vida?
Os impactes na economia do aumento da esperança média de vida são múltiplos, de natureza económica e social. Desde logo, há implicações em matéria da necessidade de provisão de novos bens e serviços comuns, no funcionamento do mercado de trabalho, de resposta a dar e encargos decorrentes para os sistemas de saúde e, obviamente, na sustentabilidade dos modelos tradicionais de Segurança Social.

  1. Que fatores têm contribuído para este aumento?
Basicamente, isso é resultado dos progressos registados em matéria de desenvolvimento e bem-estar das nossas sociedades. De forma mais concreta, isso é explicado pelos progressos registados na provisão de vários serviços públicos, com particular destaque para os serviços de saúde e de educação, que registaram melhorias significativas e se alargaram ao conjunto da população, e pelas políticas de segurança alimentar e evolução verificada em matéria de modelo de vida.

  1. Como se pode aliviar o peso de mais idosos na Segurança Social?
O peso de mais idosos na Segurança Social é, desde logo, um resultado do envelhecimento relativo da população ativa, fruto das quedas continuadas na taxa de natalidade e da dificuldade verificada mais recentemente de integração de grupos jovens no mercado de trabalho (muitos, encaminhados para a emigração uma vez completada a sua formação escolar). Obviamente, pode-se alargar a idade ativa, como vem sendo feito, e reduzir os valores das pensões de reforma, como também se vai fazendo nalguns casos. Entretanto, se não se conseguir a criação líquida de emprego e a integração de ativos mais jovens, a resposta que daí vem é temporária. Há também quem equacione respostas que passam pela alteração do modelo de constituição dos fundos que asseguram as pensões de reforma e sua gestão, com a instituição de modelos de capitalização, isoladamente ou em paralelo com os sistemas tradicionais, públicos. Mas aí põe-se o problema da confiança que possam inspirar esses modelos e quem os gere, aparte as dificuldades que sempre se levantarão no período transitório.

  1. Há benefícios económicos no aumento da esperança média de vida?
Certamente que os há. Desde logo, há novos mercados que se vêm gerando, de bens e serviços, destinados a este segmento da população: do vestuário aos fármacos e aos serviços de saúde; dos serviços diversos prestados ao domicílio aos lares de 3ª idade e centros de dia; às oportunidades no mercado de lazer e turismo, e algumas vezes também de saúde, isto é, turismo que concilie tratamentos de saúde com lazer, que tem vindo a crescer no nosso país. Para dar um exemplo de uma situação que tenho vivenciado, deixo aqui a indicação que se encontra muita gente com idades avançadas, incluindo setenta e mais anos, que vem fazendo o caminho português para Santiago, resultando daqui receita importante em matéria de alojamento e restauração, entre outra. Note-se que estes grupos etários estão libertos de restrições em matéria do período em que se podem deslocar, contribuindo para atenuar a sazonalidade turística dos lugares por onde passam e, em muitos casos, têm rendimentos elevados. Estou-me a referir a peregrinos (com motivação religiosa mas também cultural) que vêm das mais diversas origens, do mundo.


Braga, 27 de setembro de 2016

J. Cadima Ribeiro

(Investigador. Professor do Departamento de Economia da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho)