(questões
endereçadas em 2016/09/27 por Carolina Reis, jornalista do
Expresso)
- Que impacto tem na economia este aumento
da esperança média de vida?
Os impactes na economia do aumento
da esperança média de vida são múltiplos, de natureza económica e social. Desde
logo, há implicações em matéria da necessidade de provisão de novos bens e
serviços comuns, no funcionamento do mercado de trabalho, de resposta a dar e
encargos decorrentes para os sistemas de saúde e, obviamente, na
sustentabilidade dos modelos tradicionais de Segurança Social.
- Que fatores têm contribuído para este
aumento?
Basicamente, isso é resultado dos
progressos registados em matéria de desenvolvimento e bem-estar das nossas
sociedades. De forma mais concreta, isso é explicado pelos progressos
registados na provisão de vários serviços públicos, com particular destaque
para os serviços de saúde e de educação, que registaram melhorias
significativas e se alargaram ao conjunto da população, e pelas políticas de
segurança alimentar e evolução verificada em matéria de modelo de vida.
- Como se pode aliviar o peso de mais
idosos na Segurança Social?
O peso de mais idosos na
Segurança Social é, desde logo, um resultado do envelhecimento relativo da
população ativa, fruto das quedas continuadas na taxa de natalidade e da
dificuldade verificada mais recentemente de integração de grupos jovens no
mercado de trabalho (muitos, encaminhados para a emigração uma vez completada a
sua formação escolar). Obviamente, pode-se alargar a idade ativa, como vem
sendo feito, e reduzir os valores das pensões de reforma, como também se vai
fazendo nalguns casos. Entretanto, se não se conseguir a criação líquida de emprego
e a integração de ativos mais jovens, a resposta que daí vem é temporária. Há
também quem equacione respostas que passam pela alteração do modelo de
constituição dos fundos que asseguram as pensões de reforma e sua gestão, com a
instituição de modelos de capitalização, isoladamente ou em paralelo com os
sistemas tradicionais, públicos. Mas aí põe-se o problema da confiança que
possam inspirar esses modelos e quem os gere, aparte as dificuldades que sempre
se levantarão no período transitório.
- Há benefícios económicos no aumento
da esperança média de vida?
Certamente que os há. Desde logo,
há novos mercados que se vêm gerando, de bens e serviços, destinados a este
segmento da população: do vestuário aos fármacos e aos serviços de saúde; dos
serviços diversos prestados ao domicílio aos lares de 3ª idade e centros de
dia; às oportunidades no mercado de lazer e turismo, e algumas vezes também de saúde,
isto é, turismo que concilie tratamentos de saúde com lazer, que tem vindo a
crescer no nosso país. Para dar um exemplo de uma situação que tenho
vivenciado, deixo aqui a indicação que se encontra muita gente com idades
avançadas, incluindo setenta e mais anos, que vem fazendo o caminho português
para Santiago, resultando daqui receita importante em matéria de alojamento e
restauração, entre outra. Note-se que estes grupos etários estão libertos de
restrições em matéria do período em que se podem deslocar, contribuindo para
atenuar a sazonalidade turística dos lugares por onde passam e, em muitos
casos, têm rendimentos elevados. Estou-me a referir a peregrinos (com motivação
religiosa mas também cultural) que vêm das mais diversas origens, do mundo.
Braga, 27 de setembro de 2016
J. Cadima Ribeiro
(Investigador. Professor do
Departamento de Economia da Escola de Economia e Gestão da Universidade do
Minho)
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