Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

segunda-feira, outubro 30, 2006

A abertura e internacionalização da economia portuguesa

O reforço da abertura (1960/1985)

No período posterior à entrada de Portugal na EFTA – Associação Europeia de Comércio Livre - (1960/1972), assistiu-se a uma modificação na estrutura do comércio português com as colónias (oscila de 24,6% para 14,5% nas exportações e de 14,2% para 11,3% nas importações) e a uma maior aposta das empresas nacionais nos mercados da EFTA.
Os acordos comerciais de 1972, celebrados entre Portugal e a CEE (Comunidade Económica Europeia) foram outro dos acontecimentos decisivos na reorientação do comércio português para os mercados europeus.
Com a revolução dos cravos e a independência das colónias reforçou-se o desejo de uma futura adesão às Comunidades Europeias.


Quanto ao investimento directo, este período ficou caracterizado por um crescente afluxo de IDE ao nosso país, dada a liberalização progressiva das entradas de capitais e um ambiente propício aos investidores estrangeiros .
Os maiores investidores são países membros da CEE, em especial a França, a Alemanha e o Reino Unido;

Quanto ao investimento directo realizado por empresas nacionais no exterior, há a registar a preferência pelos mercados europeus e de língua portuguesa.
Por outro lado, a irrelevância dos montantes envolvidos, demonstram uma opção ainda tímida por formas mais avançadas de internacionalização empresarial.
A exportação era a forma privilegiada de venda nos mercados externos.
A passividade ou a inexperiência das empresas nacionais conduzia ao caminho mais fácil da subcontratação.

Workshop “Quadros de Pessoal e Investigação em Economia"

No workshop “Quadros de Pessoal e Investigação em Economia”, que se realizou no dia 15 de Setembro deste ano, assisti a uma das várias secções realizadas, escolhi uma que tinha como título “A Economia na ponta dos dedos”. Confesso, que o que me levou até esta secção foi a curiosidade de conhecer Pedro Portugal (Banco de Portugal e Universidade Nova de Lisboa) que a ia realizar.
E esta minha intervenção agora será para vos transmitir a mensagem que ele deixou, que deveras me deixou impressionada pela capacidade de tornar o grave problema da produtividade do nosso país num conto de encantar infantil, e o que é mais curioso é que a história ajusta-se perfeitamente ao que está a acontecer no nosso país. O Senhor associou os problemas de produtividade no país à história da “Cinderela”, como sabemos “o príncipe ficaria com a menina que calçasse o sapatinho”, e com isto Pedro Portugal queria dizer que nós estamos a agir mal face ao mercado de trabalho, que se estão a formar licenciados em áreas que já estão esgotadas, que o mercado de trabalho já não consegue absorver, e noutros casos há falta de qualificados em determinados sectores, se queremos que o “sapatinho”, neste caso, símbolo de produtividade, seja “calçado” por Portugal, temos que repensar nas necessidades do mercado de trabalho e face a estas escolher a nossa formação.
Já agora aproveito para vos transmitir algumas metáforas utilizadas por este Senhor. Em toda a secção reinou a descontracção e um pouco de ironia, mas isso é o que a tornou diferente de outras que já assisti, onde todos estavam muito sérios e comprometidos com o discurso a desenvolver. Então para começar associou a economia a um oceano. E a um oceano porquê? Porque as tempestades são os choques económicos, porque as ondas são como os ciclos económicos, ora a onda está formada e no seu auge, o que em economia, significa que atingimos um pico, o auge de crescimento económico no país, e quando a onda já desvaneceu na areia, estamos perante uma cava do ciclo económico, e tal como as ondas do mar o ciclo repete-se; e por último (das que retive porque o Senhor era um especialista em metáforas), foi a associação das correntes marítimas aos fluxos económicos.

Sara Veloso
(doc. da série artigos de análise/opinião)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Destaques noticiosos do fim-de-semana

Parlamento Europeu pede ao BCE “precaução” na subida das taxas de juro
[http://www.negocios.pt/default.asp?SqlPage=Content_Economia&CpContentId=284802] (26-10-06, in Jornal de Negócios)
"O Parlamento Europeu (PE) aprovou uma resolução onde pede ao Banco Central Europeu (BCE) que actue com "precaução" face a um possível aumento das taxas de juro em Dezembro."

Atractividade de Portugal para o IDE - II

EPE -> Fóruns -> Boas Vindas! -> A atractividade de Portugal para o IDE
Re: A atractividade de Portugal para o IDE por Carlos Barros - Friday, 27 October 2006, 00:22


"Penso que este link que nos é facultado é extremamente interessante, sobretudo analisando-o na parte em que observamos o que os outros pensam acerca de nós e, efectivamente, a ideia que eles têm de nós não é muito diferente do que realmente se passa em Portugal, se não vejamos:
1- No que se refere à opinião deles (e quando digo deles, refiro-me a todos os entrevistados, sendo que todos são estrangeiros) quanto aos nossos serviços prestados como membros da UE temos uma reputação muito boa, sendo que eles nos consideram como um forte membro da UE, e isso, na minha opinião, é verdade mas penso que Portugal deveria aproveitar essa visão que os outros têm de nós para se impulsionar e começar a mostrar mais provas de como pode ser uma "potência" de forma a não desiludir as elevadas expectativas que os outros têm de nós! Quanto ao ambiente, mais de 50% vêm o nosso país como um país que cuida do ambiente, que se preocupa com problemas como poluição, etc...
Um dos factores que eu considero muito importante, se não o mais importante do gráfico é o facto de mais de quase 50% acharem que Portugal tem uma qualidade de vida muito boa, e os restantes acharem que tem uma qualidade de vida excelente e quase 60% acham que Portugal possui umas infra-estruturas no que se refere a telecomunicações muito boas. Ora isto é um factor que atrai investidores pois na opinião deles temos bastantes qualidade de vida, e temos infra-estruturas muito boas para que eles possam desenvolver as suas actividades.
O reverso da medalha, e que também é verdade, é o facto de as opiniões negativas que eles têm do nosso país se referirem a sectores bastante importantes como a eficiência dos serviços da administração pública, a complexidade ao nível da legislação, o elevado nível de burocracia e a baixa taxa de flexibilidade no trabalho.
Pode parecer que me vou contradizer mas de facto, todos os factores que inicialmente eram apontados como atractivos para os investidores estrangeiros, deixam de o ser ao verificarem as péssimas condições (no ponto de vista deles, e no meu também, pois penso que eles estão correctos) no que se refere à administracção pública.
Especulando um pouco, muitos deles porventura já tentaram investir no nosso país mas não o fizeram devido à elevada quantidade de papeis (burocracia...) que são necessários. Só assim se compreende a ideia tão negativa que eles têm do nosso país, pois só quem já passou por essa experiência sabe que realmente isso é verdade."

Carlos Barros

(extracto do comentário publicado)

quinta-feira, outubro 26, 2006

A atractividade de Portugal para o IDE

EPE -> Fóruns -> Boas Vindas! -> A atractividade de Portugal para o IDE
Re: A atractividade de Portugal para o IDE por Marta Rocha - Thursday, 26 October 2006, 15:12
«Após ter feito uma breve análise no estudo “Atractividade da economia Portuguesa na captação do investimento Directo Estrangeiro”, realizado por Dr. Gonzaga Rosa, da Ernst & Young, senti-me mais optimista relativamente a Portugal. Realmente Portugal encontra-se na direcção certa apesar de ser estritamente necessário várias medidas.
Portugal presencia neste momento diversos desafios, entre os quais a globalização, aumento da competitividade na EU, pressão para aumentar a eficiência do sector público bem como a redução do défice orçamental. Desta forma Portugal tem que se tornar mais competitivo, mais atractivo, mais confiante e optimista de forma atrair ainda mais projectos de investimentos. Para isso, o estudo em causa fala precisamente sobre um determinado conjunto de medidas-chave, entre as quais, a redução de taxas, simplificação dos processos administrativos, redução da burocracia, uma maior flexibilidade da legislação laboral, um plano tecnológico, uma melhoria nas acessibilidades e na educação, entre outros. Estas medidas já se encontram em curso em Portugal, apenas espero que não sejam esquecidas e colocadas em segundo plano.
Em 2005, os investimentos em Portugal foram praticamente todos no sector da indústria, cerca de 66%. Sendo os principais investidores a Alemanha e Espanha, com sete projectos cada. Ainda a destacar, cerca de 50% dos investidores acreditam que Portugal irá melhorar a sua “atractividade” nos próximos três anos.
Apesar de o futuro de Portugal ainda continuar um pouco “blurry” temos que acreditar e aumentar o grau de confiança.
Eu acredito que Portugal esteja num bom caminho. »

Marta Rocha

terça-feira, outubro 24, 2006

Apostar nas Novas Tecnologias

Nos últimos anos, o fraco crescimento da economia, levou a que muitos portugueses optassem por refazer as suas vidas. Hoje em dia é cada vez mais claro que, para uma economia ser cada vez mais competitiva, não só num contexto nacional mas também internacional, tem de concentrar grande parte dos seus recursos no campo da inovação tecnológica e no desenvolvimento de novas indústrias. Com base nestas palavras surge a questão: O que é que tem feito a economia portuguesa de forma a incentivar as empresas a investirem em novas tecnologias? E qual o seu papel a nível mundial?
Nos dias que correm a inovação tecnológica abrange diversas áreas, desde a robótica há electrónica, passando pelo meio ambiente e acabando na indústria mecânica. No meu ponto de vista, o trabalho realizado pelo Governo português, no que diz respeito aos incentivos ao investimento das empresas portuguesas, tem sido, de algum modo, insuficiente. Visto que o endividamento afecta não só as empresas mas também as famílias (devido ao aumento das taxas de juro), e com um Estado tão atarefado para reduzir nos gastos públicos, pouco resta fazerem para contribuírem no crescimento económico. Novos projectos, como a Portucel, a Repsol, a Galp ou o IKEA, foram anunciados pelo Governo (num investimento de 12 mil milhões de euros), aumentando desde logo a confiança dos empresários e dos consumidores, mas só terão impacto nas contas do país no médio/longo prazo. Contudo, nem tudo são más notícias e assim sendo, os agentes económicos portugueses cansaram-se de esperar que cheguem as encomendas e não se acomodaram ao subsídio de desemprego passando a agirem de forma inovadora e competitiva. Assim vejamos os exemplos seguintes de empresas que decidiram mudar de atitude e sobreviver da tão falada crise.
Na área da tecnologia, a YDreams, sedeada no monte da Caparica em Almada, dedica-se ao desenvolvimento de aplicações multimédia, como jogos, para as telecomunicações móveis baseadas na localização geográfica, em instalações interactivas e em sistemas de visualização a três dimensões (3D). Tendo sido apenas fundada em 2000, tem dado lucros desde o seu ano de criação, mantendo um crescimento equilibrado, mesmo em épocas de crise económica. O seu trabalho realizado para se impor no sector, tanto nacional como internacional, é um bom exemplo para que outras empresas o façam sem recearem que o seu investimento seja anulado. No sector dos automóveis, a empresa da Volkswagen Autoeuropa, sedeada em Palmela, não deixa de surpreender. Após ter sido confirmada a produção de um desportivo de média gama (Eos) e mais tarde a de um modelo de topo de gama (Sirocco) com o intuito de substituir a Sharan, a empresa portuguesa irá abrir, em 2007, uma delegação do CEIIA (Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel), uma estrutura de 15 a 20 engenheiros preparados para cooperar em conjunto com a Autoeuropa de forma a aperfeiçoar os modelos já em produção e desenvolver estudos sobre novos produtos. Estas são boas notícias para a economia portuguesa, visto a fábrica de Palmela valer cinco por cento de todas as exportações nacionais. No campo da Biotecnologia, a empresa Biocant, com um ano de actividade já apresenta saldo positivo. Esta disponibiliza serviços inovadores de Biotecnologia com relevância para as Ciências da Vida e promove o desenvolvimento de I&D em consórcio com empresas nacionais e estrangeiras para a criação de novos produtos e serviços. O segredo para tamanho sucesso foi descoberto este Verão com a apresentação do Enochip, um produto que ajuda o enólogo, na fase de fermentação do vinho, isto é contribui para o aumento da qualidade do vinho. Trata-se desde já de um produto cobiçado no mercado externo.
São exemplos como estes que fazem renascer a nossa economia. Empresas audazes, com ideias inovadoras, não só aumentam a nossa competitividade no mercado externo como também as exportações, que por sua vez impulsionam a economia para um forte crescimento económico. É de também esperar que, os agentes económicos portugueses vejam estes casos como incentivo aos seus investimentos, para que todos possamos contribuir para um Portugal cada vez mais inovador e moderno.

João Pedro Baptista
(doc. da série artigos de análise/opinião)

domingo, outubro 22, 2006

Orçamento de Estado 2007

O Orçamento de Estado para 2007, é um tema pertinente, porque é o principal instrumento de planeamento do Governo, onde este delineia as principais orientações, receitas e despesas previstas para o próximo ano.
A proposta de Orçamento de Estado, ainda não foi aprovada mas já é possível saber algumas mudanças que se vão verificar. Relativamente à despesa, as previsões apontam para um crescimento de 2,8% face ao ano anterior, no entanto em percentagem do PIB haverá uma redução dos gastos do Estado em 1,1 pontos percentuais preocupando-se em grande parte com a redução da despesa corrente primária, através da racionalização de efectivos, da moderação salarial e novo sistema de vinculação, o que em certa medida aumenta a precariedade da função pública. Esta diminuição da despesa em percentagem do PIB deve-se ao aumento das receitas fiscais em 15%, sobretudo devido ao fim do regime especial de que usufruíam algumas grandes empresas como a Caixa Geral de Depósitos e a PT, voltando a pagar em pleno o IRC em 2007. Sendo este aumento das receitas fiscais muito superior ao crescimento potencial da economia, elevando as expectativas optimistas para um crescimento de 1,8%, enquanto que o Banco de Portugal estima um crescimento de 1,5%, tal como o FMI. O imposto do IVA, manter-se-á nos 21%, e assim parece que se tornou numa mudança permanente em vez de provisória como disse o anterior ministro das finanças, Luís do Campos e Cunha. Se este diminuísse haveria um possível aumento do poder de compra, embora os agentes se aproveitassem desse facto e não alterassem os menus, mas seria uma boa medida para criar efeitos de sinergia para a recuperação da economia portuguesa (através do consumo), sendo maiores as receitas fiscais do que com a actual taxa a 21%. Para além do crescimento das receitas fiscais, o imposto sobre o tabaco aumentará 2,1%, o que de certa forma é uma medida certa para retrair o consumo de um bem, com um significativo grau de elasticidade, e com redução de custos a longo-prazo com o tratamento de doenças, como o cancro de pulmão. Além disso, não são esperados grandes aumentos salariais, com aumentos esperados inferiores à inflação esperada (2,3%), e consequentemente haverá uma evidente perda de poder de compra para os funcionários públicos, o que é contraproducente com a evolução da economia que parece apresentar sinais de retoma devido à diminuição do desemprego e aumento das exportações. Neste papel, penso que o Ministro da Economia tem tido um excelente desempenho desafiando os empresários portugueses a aumentaram o valor das empresas.
Ou seja, este Orçamento tem como principal objectivo baixar o défice global da Administração Pública para 3,7%. Assim o Estado começa a actuar de modo eficiente, e bem, preocupando-se com a locação mais eficiente dos seus recursos e com os seus desempenhos. Assim não há necessidade de privatizar só por privatizar porque há bens públicos que têm que continuar a funcionar nesta óptica mas com vantagem em relação ao sector privado porque fornecem-se serviços de qualidade e não exclusivamente serviços a baixo custo e de fraca qualidade. Isto porque, o Estado revê em alta também encaixes com privatizações, e um dos exemplos mais flagrantes é a TAP que nos últimos anos com gestores competentes teve superavits e é um excelente exemplo de uma boa empresa pública. Deste modo é preciso, ter cuidado nas escolhas das empresas a privatizar, porque primeiro é necessário reestruturar a empresa a um processo de gestão privada, e verificar se existe viabilidade financeira para continuar a ser uma empresa pública, e por fim se funcionarão as leis de mercado depois da privatização. No entanto, o caso da TAP é diferente pois este sector enfrenta forte competitividade proveniente das companhias low-cost.
Concluindo, este é um orçamento sem grandes margens de manobra, caracterizando-se pela continuidade das medidas de consolidação orçamental, tal como aconteceu no anterior orçamento de Estado, aumento da carga fiscal no PIB, o que cansa a economia pois são medidas contra-cíclicas que devem ser evitadas em tempo de recuperação, e é esperado um crescimento inferior a média europeia que se situa nos 2,1% em 2007 em contraste com as previsões de 1,8% para Portugal, mas é esperado um aumento significativo das nossas exportações que vão depender da evolução da procura nos países para o qual Portugal exporta, em especial, a Alemanha e a Espanha.


Pedro Tiago Amorim de Brito

(doc. da série artigos de análise/opinião)

Um Nobel da Paz para a Economia

O Nobel da Paz de 2006 contraria as escolhas precedentes apoiadas fundamentalmente em escolhas politicas, constituindo deste modo, um reconhecimento internacional à economia como meio de eliminar as disparidades sociais e elevar a luta contra a pobreza a um patamar nunca antes atingido.
O economista Muhammad Yunus, fundador de uma organização solidária, é o grande mentor do conceito de micro crédito que traduz a possibilidade dos povos mais carenciados obterem financiamento para os seus projectos, sem qualquer garantia, baseando-se apenas na confiança. Esta organização que dá pelo nome de Banco Grameen foi fundada em 1976 no Bangladesh e 30 anos passados já emprestou 5 mil milhões de dólares, a pessoas que, de outro modo, não teriam acesso a crédito por recusa dos outros bancos sobre o pretexto de que eles o gastariam todo em bens de primeira necessidade e seriam incapazes de reembolsá-los. O facto mais curioso é que esta instituição, é financiada através da contracção de empréstimos junto de outros bancos bem como da emissão de obrigações, e recusa qualquer tipo de doação monetária.
O micro credito promove, assim, a fuga ao ciclo vicioso da pobreza que está instalada nestes países, daí ser considerado um instrumento de combate á pobreza e exclusão social, incidindo este combate mormente ao nível das mulheres que representam um total de 94% dos clientes do Banco Grameen e, como o próprio Muhammad Yunus refere “O crescimento económico e a democracia não podem concretizar-se plenamente sem que as mulheres estejam em igualdade de circunstancias com os homens”.
O Banco Grameen valoriza a capacidade de iniciativa na criação de condições de desenvolvimento de pequenos negócios, permitindo a plena inserção no mundo do trabalho a pessoas menos favorecidas.
No nosso país, onde é uma realidade que um quinto dos portugueses vive no limiar da pobreza, o conceito de micro credito também se encontra presente, através da Associação Nacional de Direito ao Credito (ANDC), representante da filosofia de Muhammad Yunus, que desde a sua fundação em 1998, já ajudou a criar 630 empresas e 700 postos de trabalho, e mais recentemente através do Millennium BCP, que disponibiliza também uma linha de micro credito.
Na minha opinião, este projecto de micro credito permite realmente combater as desigualdades sociais, promovendo, com apenas uma pequena quantidade de dinheiro o desenvolvimento sustentado das condições socio-económicas das pessoas com poucos recursos que de outro modo, não teriam qualquer acesso ao mercado de trabalho. Com esta perspectiva, acho que a filosofia de doação (contrariada por Muhammad Yunus), que permite uma melhoria de condições a curto prazo, foi transformada numa filosofia de responsabilização que permite uma melhoria real e a longo prazo do nível de vida socio-económico.

Sara Vilaça

(doc. da série artigos de análise/opinião)

sábado, outubro 21, 2006

Palavras ao vento…

Na semana passada, o Ministro da Economia decretou o fim da crise. Ora, no seu compreensível esforço de contribuir para a formação de expectativas positivas dos agentes económicos, acabou por dar uma notícia manifestamente exagerada, e por isso foi logo alvo de um coro de críticas. O seu comentário foi de certa forma, infantil, inconsciente e imprudente. No entanto, Manuel Pinho explicou que a sua intenção era dar uma palavra de esperança aos portugueses: empresários, trabalhadores, professores e jovens.
De facto, a economia portuguesa parece encontrar-se num ponto de viragem, pois já não se fala de recessão. O certo é que devia ser mais cauteloso nas palavras que usa.
A apreciação da análise da situação da economia portuguesa em 2005, feita pelo Banco de Portugal resume-se, essencialmente, num ‘quadro negro’: fraco crescimento económico; pior situação orçamental apesar do aumento dos impostos; estagnação do emprego; aumento da taxa de desemprego; fraca produtividade e aumento do défice, público e externo.
No entanto, e apesar da economia portuguesa ser uma pequena economia aberta vulnerável aos ventos que sopram do exterior, e debilitada pela necessidade de correcção de desequilíbrios estruturais importantes, não restam dúvidas que o actual enquadramento é mais positivo.
A economia portuguesa cresceu 0,9% no segundo trimestre do ano em comparação com o trimestre anterior; as importações caíram 3,1% em Portugal enquanto aumentaram 1,2% e 1,7% na zona Euro e na União Europeia, respectivamente; o indicador que mede a evolução da actividade económica voltou a subir; foram criados 48 mil empregos e a taxa de desemprego baixou 10% no último semestre.
Isto mostra que a economia está, na realidade, a crescer, e o défice das finanças públicas a caminho de ser controlado. A explicação para este crescimento resume-se essencialmente ao novo OE que tem como objectivo principal reduzir o défice público de 4,6% para 3,7% do PIB, em 2007, por via de cortes na despesa pública. Este cenário, mais favorável, é ainda reforçado pela evolução positiva das exportações.
Apesar deste crescimento da economia estar ainda longe dos níveis necessários para garantir o crescimento de emprego consolidado e a convergência com os parceiros europeus, já se verificou uma “mudança de clima”, o que já é um bom sinal.
Mas, afinal, será este cenário para durar? Como se posiciona Portugal face à incerteza dominante?
É certo, como já disse, que a economia que estava em território negativo, está agora a crescer e as previsões têm sido sucessivamente revistas em alta, no entanto, ainda é cedo tanto para responder a estas perguntas, como para anunciar o fim da crise, tal como Manuel Pinho fez.
Temos ainda um longo caminho a percorrer e, por isso, não me parece prudente antecipar cenários demasiado optimistas.
O ponto mais baixo do ciclo poderá já ter sido ultrapassado, mas a economia portuguesa ainda não curou as suas deficiências mais profundas.

Maria João Veloso

(doc. da série artigos de análise/opinião)

Vamos acreditar

Portugal é um país “seguidor”, de modo que acompanha as crises geradas ao nível internacional, e os indicadores macroeconómicos destes últimos anos são sinónimo da própria conjuntura económica. Mas, ao que parece a retoma está aí... E os dados apresentados pelo boletim mensal da actividade económica fornecido pelo gabinete de estratégia e estudos do Ministério da Economia e Inovação, revelam a recuperação da economia portuguesa, no último trimestre (Julho, Agosto e Setembro).
Esta recuperação assenta essencialmente no contributo da procura externa, principalmente devido às exportações de bens e serviços que desde 2002 até ao último trimestre aumentaram 6,1 p.p..
O desemprego também acompanha as tendências e a taxa de desemprego diminuiu 0,7 p.p. em relação ao último trimestre de 2005. Este tema é o que mais gera polémica, pois nunca antes se tinha assistido em Portugal taxas de desemprego tão elevadas. No entanto, os nossos valores comparando com o de outros países mais ricos e desenvolvidos são até diminutos. É necessário desdramatizar esta questão, apesar de se saber que o desemprego é também uma questão social o qual é preciso tratar com alguma sensibilidade, pois mexe muitas vezes com problemas carência extrema das famílias.
A inflação verificou um enfraquecimento, neste último trimestre: a média dos últimos 12 meses foi de 2,7% e este último Agosto obtivemos 2%. É fundamental saber controlar este fenómeno, pois é a inflação que nos tira poder de compra e nos “deixa mais pobres”.
Como podemos verificar os indicadores estão num bom caminho, e é bem provável que a recuperação esteja já em curso. Assim, os portugueses podem “respirar melhor depois do desapertar do cinto” e voltar a sonhar num futuro próspero.
Eu acredito que a tardia recuperação de Portugal seja em grande parte devida ao pessimismo revelado exagerado dos nossos governadores e dramaticamente pelos meios de informação que em nada ajudou a mentalidade portuguesa, que enfatiza as tristezas e gostam de ser os desgraçadinhos. Mas sei que nós, os futuros economistas (como dizia outra profissão) do país, vamos ter uma grande responsabilidade no futuro do nosso país se deixarmos continuar que assim seja.
Em suma, encontrei a seguinte frase na página do Ministério da Economia e Inovação que traduz o que quero dizer: “A situação, ninguém a ignora, é muito difícil. Portugal enfrenta problemas complexos, que não podem ter uma solução imediata. Mas é clara a nossa tarefa, como é clara a nossa ambição: transformar o Portugal das fatalidades, no Portugal das oportunidades.”. Sabemos que é difícil, mas devemos lutar por sermos o que ambicionamos ser.

Paula Cristina Pereira Cerqueira
(doc. da série artigos de análise/opinião)

Destaques noticiosos do fim-de-semana

Actividade económica melhorou em Setembro [http://www.publico.clix.pt/Economia/noticia.asp?id=1274023] (20-10-06, in Público)
"O indicador coincidente de actividade económica do Banco de Portugal melhorou em Setembro, registando um crescimento homólogo de um por cento, indica hoje o relatório sobre indicadores de conjuntura de Outubro."
/.../
Investimento directo estrangeiro em Portugal cai 1,6% até Julho [http://www.publico.clix.pt/Economia/noticia.asp?id=1273809] (18-10-06, in Público)
"O investimento directo estrangeiro (IDE) em Portugal desceu 1,6 por cento até Julho, face a igual período de 2005, para 14 mil milhões de euros, segundo os dados do Ministério da Economia e da Inovação."

Estado sim, mas em doses qb

Sou defensora da ideia “Estado sim, mas em doses qb”, o segredo da nossa competitividade passa essencialmente por empresários e gestores, por uma dinâmica empresarial mais activa e competitiva. Para isso é necessário uma reestruturação política e social. A palavra “mudança” já assusta os portugueses, quanto mais falar numa “mudança de mentalidades”, que é absolutamente necessária.
Fala-se em necessidade de recursos humanos com elevado nível de qualificação, fala-se num sistema de justiça mais competente e eficaz, fala-se num Estado e Administração Pública mais desburocratizado, num sistema fiscal simples, claro, estável e competitivo, fala-se numa legislação laboral que permita flexibilidade e mobilidade, pretende-se uma boa interacção entre universidades, centros tecnológicos e empresas, queremos qualidade ambiental e segurança, coesão social com sistemas de Segurança Social e protecção ao desemprego adequados…é relativamente fácil identificar o que está mal, mas a alteração já não é tão linear como gostaríamos que fosse, é um problema estrutural de difícil resolução.
Como afirmou António Carrapatoso, numa entrevista ao jornal de negócios, a prioridade é atrair e reter investimento de qualidade para Portugal, e segundo este as, comparações internacionais não nos favorecem e não é evidente que tenhamos uma vantagem competitiva significativa.
A pergunta é: Como e onde é que podemos ser melhores?, e não alimentar o tradicional pessimismo nacional a apontar tudo o que há de mal no reino de Portugal. Pois para isso bastam os relatórios da OCDE e um olhar sobre uma Grécia que já é mais forte que Portugal.
Na minha opinião há muitos obstáculos a ultrapassar e todos eles têm um denominador comum: o peso excessivo do Estado. A saber, as regras e práticas pouco transparentes nos mercados, posições dominantes, favorecimentos e proteccionismos e burocracias excessivas são tudo factores inibidores de novas gerações de empresários e gestores dinâmicos que se desejam.
Assim, será necessário para obtermos um “Portugal do 1º mundo”, a introdução de planeamento a médio e longo prazo no Estado, com gestão por objectivos, incluindo indicadores de qualidade de serviço e benchmarking interno e externo; um programa integrado de redução significativa dos funcionários públicos identificados como excedentários; flexibilidade laboral e uma transição do sistema da Segurança Social para um sistema de capitalização com conta individual… só assim poderemos dar asas ao tão debatido “Compromisso Portugal”, que o governo tanto fala e “luta” para alcançar.

Sara Veloso

(doc. da série artigos de análise/opinião)

sexta-feira, outubro 20, 2006

Dilemas competitivos da empresa nacional: algumas reflexões

"As empresas nacionais encontram-se numa encruzilhada: por um lado, as pressões competitivas internas têm aumentado com a entrada de concorrentes internacionais; por outro lado, por força da integração europeia e da globalização dos mercados, são desafiadas a prosseguir os caminhos da internacionalização, sendo certo que esta via não é fácil nem está ao alcance de todas.
O presente artigo procura perscrutar os caminhos que se oferecem às empresas portuguesas. À luz desse propósito, apresenta-se uma matriz de opções estratégicas ao seu dispor, construída a partir da respectiva dimensão (reduzida/elevada) e da natureza da vantagem competitiva existente (idiossincrática/extrovertida). As trajectórias enunciadas são ilustradas por recurso a um conjunto de casos retirados do panorama empresarial recente."


J. Freitas Santos
J. Cadima Ribeiro

(resumo de artigo disponível na integra na entrada Publicações - Documentos de trabalho -2005 do sítio identificado de seguida:
http://www2.eeg.uminho.pt/economia/nipe/docs/WP_NIPE_16_05.pdf)

quarta-feira, outubro 18, 2006

Proposta de orçamento de Estado para 2007

"Re: Breves de economia
por Marta Rocha - Quarta, 18 Outubro 2006, 13:54

Relativamente ao orçamento do Estado de 2007 já se encontra à disposição, por isso achei interessante colocá-lo no nosso moodle: www.dgo.pt/oe/2007/proposta
Segundo esta proposta apresentada pelo executivo socialista, o Orçamento do Estado apresenta quatro traços característicos fundamentais: rigor, orientado para o crescimento; uma estratégia credível; redução das despesas públicas; e o estabelecimento de prioridades, tais como a ciência, tecnologia, inovação, qualificação, combate à pobreza e prestígio de Portugal."
(contribuição extraída da plataforma electrónica de apoio a Economia Portuguesa e Europeia, com a autoria e as referências identificadas)

A competitividade da economia portuguesa

Num contexto marcado pelo fraco crescimento económico português e um pessimismo generalizado a competitividade apresenta-se como uma questão central no debate do futuro da economia portuguesa. Recorrendo a dados do World Competitiveness Yearbook é analisado o actual posicionamento de Portugal, em termos de competitividade, no ranking mundial de 2006. Essa análise é feita através do estudo do desempenho macroeconómico do país, da eficiência da administração pública e das empresas e, também, da capacidade em termos de infra-estruturas. Por último, são apresentadas algumas propostas que podem contribuir para melhorar o actual posicionamento de Portugal no âmbito da competitividade mundial.


Vânia Silva
(resumo de trabalho a apresentar na aula de quinta-feira, 19 de Outubro de 2006)

domingo, outubro 15, 2006

Economia e as expectativas

É sabido que a economia anda de “mãos dadas” com as expectativas e que uma influencia a outra. Se estivermos em expansão as nossas expectativas serão, em princípio, mais elevadas podendo acentuar a própria expansão. Numa situação de recessão elas podem ainda agravar mais uma situação que já não é boa. Por outro lado, as expectativas podem levar a uma recessão económica ou mesmo tirar a economia da crise.
O comportamento de todos os agentes económicos rege-se, fundamentalmente, pelas suas expectativas em relação ao futuro. As famílias consomem se tiverem a certeza (o que nunca é uma certeza mas uma expectativa) de que o dinheiro gasto não lhes vai fazer falta num futuro recente. Já as empresas só vão investir se houver expectativas de que vão vender os seus produtos, e assim realizar lucros, pois o contrário seria impensável. O próprio Estado toma as suas decisões de política e de orçamento segundo expectativas. Somos assim levados a pensar que a economia “funciona” a expectativas, o que tem a sua razão embora não seja totalmente verdade.
Ora se os agentes económicos tomam as suas decisões com base em expectativas, é porque elas desempenham um papel deveras importante. Assim sendo como é que elas se geram? Quem é que influencia as expectativas que vão comandar a economia?
Existem várias entidades com este poder, nomeadamente os meios de comunicação social, os governos e eventualmente a própria oposição ao governo, determinadas individualidades e instituições nacionais e internacionais. Todos eles têm em comum uma característica muito importante: credibilidade. Para que os agentes económicos incorporem as expectativas transmitidas é preciso que eles acreditem em quem as transmite. No entanto, parece haver uma predisposição dos agentes para acreditar mais depressa em algo mais negativo que positivo.
Um mau exemplo de como os governantes podem influenciar as expectativas dos agentes económicos foi o “discurso da tanga” de Durão Barroso. A verdade é que naquela altura estávamos a entrar numa fase de recessão económica, e as declarações do então Primeiro Ministro não só não melhoraram a situação como a agudizaram, gerando uma onda de pessimismo entre os agentes económicos. Se eles pensavam que e situação não era das melhores, depois disto tiveram a “certeza” que era realmente péssima e retraíram os seus consumos e investimentos ainda mais.
Já o actual Ministro da Economia quis fazer precisamente o oposto quando disse que “a crise acabou” e o que importava agora saber era quanto iria crescer a economia, isto na minha opinião foi um pouco radical. Pouco tempo depois o ministro vinha dizer que a sua verdadeira intenção era desdramatizar a situação nacional. Ora, se a primeira declaração não foi das melhores a segunda deveria ter sido pensada com mais cuidado, mesmo havendo de facto grandes expectativas de retoma.
É preciso que as personalidades com capacidade de influenciar os agentes económicos se apercebam do verdadeiro poder que na realidade têm. Devem-se evitar declarações radicais pois podem gerar sentimentos de desconfiança e mesmo pânico. Acho sinceramente que os decisores de política deveriam encarar as suas declarações com prudência, pois as expectativas têm uma grande volatilidade, de modo a poderem usá-las como instrumento de política.

Alina Gonçalves

(doc. da série artigos de análise/opinião)

Destaques noticiosos do fim-de-semana

Conselho de Ministros aprovou proposta que será apresentada na segunda-feira (06-10-13, in Jornal de Negócios)
"O Governo aprovou hoje, em Conselho de Ministros extraordinário, a proposta de Orçamento de Estado para 2007, que será entregue segunda-feira no Parlamento e que tem como objectivo central a redução do défice para 3,7%."
/.../
Nobel da Paz atribuído ao fundador do conceito. Número de microcréditos em Portugal mais do que duplicou em 2005 (06-10-13, in Público)
"O número de empréstimos concedidos a pessoas que não têm acesso a crédito para desenvolver negócios por falta de garantias mais do que duplicou em 2005 em Portugal, revelou a Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC)"

sábado, outubro 14, 2006

“QUOTAS DE MERCADO DAS EXPORTAÇÕES PORTUGUESAS: UMA ANÁLISE NOS PRINCIPAIS MERCADOS DE EXPORTAÇÃO”

[SÓNIA CABRAL; PAULO SOARES ESTEVES (2006)]

As quotas de exportação de Portugal têm vindo a sofrer uma evolução negativa nos últimos anos. Sónia Cabral e Paulo Soares Esteves (2006) explicam esta situação através de três efeitos: o efeito quota de mercado, o efeito estrutura combinada e o efeito residual. O efeito estrutura combinada é ainda subdividido em efeito estrutura geográfica, estrutura por produto e efeito estrutura misto. Os autores identificam também os principais concorrentes de Portugal, assim como alguns países que se encontram na mesma situação.

Alina Vieites Gonçalves

(resumo de trabalho a apresentar na aula de segunda-feira, 16 de Outubro de 2006)

Será a Retoma?

Nos últimos tempos têm surgido várias notícias de que a situação económica do país está a melhorar. Surgem previsões apresentados pelo INE que apontavam o crescimento de 7% das exportações como suporte para o desenvolvimento da economia portuguesa, e que a União Europeia cresceu ao mesmo ritmo, no segundo trimestre do ano face ao trimestre anterior; por ouro lado foram apresentados dados que mostravam que o PIB cresceu 0.9% em Portugal em comparação com o segundo trimestre do ano passado enquanto que o crescimento na União Europeia foi de 2.9%. Estes números coincidem com os posteriormente apresentados pelo departamento de estatística da União Europeia, o Eurostat. O surgimento destes dados que apontam para uma melhoria da situação económica do País, mesmo que não suficiente para a convergência com os demais parceiros da União, poderá ser positivo para “animar” as expectativas dos agentes económicos e influenciar as suas decisões.
A dúvida persiste. Será que estamos no caminho certo para ultrapassar a crise? Serão estes sinais suficientes para acreditar que estamos perante uma situação de retoma económica?
Por um lado surge um bom indicador para que a retoma seja possível impulsionada pela melhoria da procura externa, e pelo que tem sido possível apurar, a conjuntura externa irá continuar a melhorar pelo crescimento dos países da Zona Euro e principalmente dos parceiros de Portugal, nomeadamente a Espanha com um crescimento significativo; é também de constatar que na Alemanha, também importante parceiro, verifica-se uma situação de subida do IVA mas no entanto, penso que as exportações portuguesas continuaram a ser competitivas neste mercado. Outra situação positiva é o facto de a Angola estar a dar sinais de grande crescimento, e por questões históricas e culturais, já se torna um grande parceiro extra-comunitário, e poderá ser um parceiro estratégico para impulsionar as exportações noutros mercados. Outro bom indicador foi a estabilização do preço do petróleo a partir de meados de Agosto com a diminuição do receio de novas rupturas na oferta mundial, não sendo de prever novas subidas, o que poderá ser positivo para a competitividade das exportações portuguesas.
Outro indicador positivo é a moderação do consumo privado. Este factor pode ser explicado principalmente pela subida da taxa de juro que trava o pedido de empréstimo por parte das famílias e por sua vez a necessidade do país pedir dinheiro ao estrangeiro a juros também muito elevados.
Por outro lado, é necessário controlar a despesa pública neste período em que surgem sinais de retoma. Um agravamento da divida publica traria graves consequências quer pela possibilidade de pagamento de elevadas multas, quer pela possibilidade de comprometer o desenvolvimento para as gerações futuras principalmente neste contexto de elevadas taxas de juro. No entanto este controlo das despesas públicas não deve incidir apenas sobre o congelamento das carreiras ou de salários dos funcionários da função pública. É necessário tornar a massa do Estado menor mas capaz e responsável.
Por outro lado, o Eurostat registou uma tendência divergente da evolução do investimento em Portugal (recuou 2.5% no segundo trimestre face ao trimestre anterior) em contraste com a União Europeia (cresceu 1.8% no mesmo período). No meu entender, para a consolidação destes indicadores de retoma, o investimento não deve ser discriminado principalmente em projectos que sirvam para o impulso do crescimento futuro e moderem o desemprego; no entanto é necessário não ser o Estado a fazer estes investimentos pela necessidade de não agravar o défice público. Assim sendo devem ser encontradas soluções, como por exemplo a atracção de investimento estrangeiro ou por outro lado, no caso de investimentos de interesse público, considerar parcerias publico-privadas; defendendo assim o interesse publico e não agravando o défice.
A crise portuguesa trata-se de uma crise estrutural da qual só sairemos com mudanças profundas e, no meu entender, até podemos estar no caminho certo se abandonarmos os antigos factores de competitividade procurando ser competitivos em sectores mais intensivos em conhecimento, tecnologia e inovação; temos no entanto de ser rigorosos no controlo das contas públicas.

Hélder Martins
Nº 40295

(doc. da série artigos de análise/opinião)

sexta-feira, outubro 13, 2006

O que podes fazer pelo país?

À primeira vista, o quadro não é animador. O diagnóstico chega até nós diariamente na rádio, na TV, nos jornais, na Internet, enfim, em qualquer lado onde se fale de economia, de política, do país. Um país a crescer abaixo do seu potencial e em divergência com a Europa, contas públicas deterioradas, desemprego em níveis de que não há memória em Portugal, um dos mais altos níveis de endividamento da economia num contexto de subida dos juros, graves assimetrias regionais, fraquíssimos níveis de escolaridade da população, altos níveis de abandono escolar, fraco investimento em I&D, uma economia estruturalmente débil para enfrentar os desafios da competitividade internacional…
O cenário acima traçado quase faz esquecer o que foi feito em apenas duas décadas. Repito, para que não restem dúvidas: nos últimos 20 anos. Tenho 21 e nasci num país estatisticamente subdesenvolvido chamado Portugal. Por ter nascido com a adesão à então CEE, dificilmente terá havido uma geração a viver uma ilusão tão grande como a minha. Crescemos com a modernização do país. A integração europeia e um contexto internacional largamente favorável a partir de 1985 foram decisivos para o desenvolvimento português desde essa data. Ano após ano assistimos a progressos assinaláveis ao nível de infra-estruturas. Ano após ano se registavam melhorias expressivas no nível de vida dos portugueses. Não imaginávamos outro cenário que não fosse a rápida e contínua aproximação relativamente aos padrões de vida dos parceiros europeus.
Hoje sabemos que não é assim, embora me pareça que os portugueses não entenderam ainda as razões do problema e qual o caminho a seguir. Julgo ser altura de percebermos que as questões de desenvolvimento não são apenas da esfera de competências do Estado e da classe política.
Reformas. Uma das palavras mais ouvidas nos tempos que correm. Reforma da Justiça, da Administração Pública, da Segurança Social, da Educação e, noutro registo, reforma da estrutura produtiva. Como estudantes de Economia, percebemos bem a sua importância. Um Estado leve, eficiente, justo, com um sistema de protecção social sustentável, um Estado que assegura a qualificação dos cidadãos é a base para promover o crescimento económico e conciliá-lo com o desenvolvimento da sociedade. Como levar a cabo tais reformas se cada tentativa de mudança esbarra na resistência de quem não coloca sequer a hipótese de ver questionados os “direitos adquiridos”? Será possível desenvolver uma sociedade e uma economia competitiva quando os cidadãos se demitem das suas responsabilidades para com a mesma? Enquanto insistirmos em ver o Estado como “eles” e enquanto os culparmos “a eles” por tudo o que vai mal, será difícil promover um debate sério e abrangente. Espírito crítico, algo que não abunda em Portugal, é muito mais do que o permanente maldizer que ouvimos um pouco por toda a parte.
Ironicamente, há também uma necessária vertente individualista nas responsabilidades que menciono acima. Trata-se da adopção de uma postura empreendedora e participativa na dinâmica económica. Aqui sim, tal como nos dizem os ensinamentos do velho Adam, a prossecução do interesse individual e o bem-estar comum são perfeitamente compatíveis.
Não poderia deixar de lançar um repto aos colegas estudantes. Representamos um forte investimento do Estado e muitos das gerações anteriores nem sequer ousaram sonhar com as oportunidades que temos hoje. Mais do que os problemas relatados no início do texto, choca-me sobretudo o alheamento dos jovens relativamente a estas questões. Penso ser altura de assumirmos uma postura mais participativa, começando no próprio meio académico. A universidade é o espaço de conhecimento, inovação e produção de massa crítica por excelência e enquanto não percebermos isto estaremos a descurar alguns dos aspectos mais importantes da nossa formação.
Não pretendo pregar utopias e tenho perfeita consciência da dificuldade e lentidão com que se processa uma mudança de mentalidades tão profunda. Para começar seria bom que, como um dia disse JFK, deixássemos de perguntar o que pode o país fazer por nós, para nos questionarmos sobre o que podemos nós fazer pelo país.

Pedro Silva
(doc. da série artigos de análise/opinião)

quinta-feira, outubro 12, 2006

Factores que marcam a evolução do quadro económico global

"Factores que marcam a evolução do quadro económico global - dos mercados aos valores que informam os consumidores:

* Globalização dos mercados
- Liberalização do comércio mundial (Organização Mundial do Comércio - redução de tarifas e eliminação de contingentes; UE determina a política comercial dos Estados- membros)
- Concorrência transnacional (economias de escala; custos de mão de obra; dumping social)
- Desregulação da economia (redução da intervenção do Estado na economia)

* Crescente segmentação dos mercados
- Aumento da instrução (produtos light; produtos ecológicos)
- Aumento do rendimento (jovens; classe média; crédito)
- Ciclo de vida do produto desfasado entre países/regiões (reciclagem,...)

* Valorização pelo consumidor dos factores dinâmicos de competitividade
- Marca; Design; Qualidade; Personalização do produto; Serviço pós-venda; ...

* Continuação da introdução de novas
tecnologias - robotização e novas tecnologias de informação
- Robotização (novas formas de produção – mass customization)
- Novas tecnologias de informação (transferência de informação em tempo real)

* Aceleração do processo de inovação do produto
- Ciclo de vida do produto mais curto
- Necessidade de maior inovação (satisfação de novas necessidades; satisfação de novos clientes; novas localizações; alterações do produto)

* Crescente sensibilidade social para as questões da ecologia e da qualidade de vida
- Evidência de uma sociedade ecologicamente cada vez mais consciente, que procura uma nova qualidade de vida.
(Este dado vai igualmente ao encontro da ideia que o mercado se encontra a evoluir muito rapidamente em direcção a novos produtos e segmentos) "

J. Cadima Ribeiro

(extracto de apresentação digital intitulada “Contributo para a reflexão sobre o desemprego em Portugal: alguns retratos instantâneos e um comentário”; Braga, 11 de Março de 2006)

One in six workers is self-employed

«The non-financial business economy in the EU25

One in six workers self-employed
Two-thirds of persons employed in small and medium businesses

Within the EU25, self-employment accounted for 16% of total employment across the non-financial businesseconomy (NFBE)1 in 2005, with 19% of men self-employed, compared with 11% of women.
Small and medium sized enterprises (SMEs), which employ less than 250 people, are the backbone of the EU's NFBE, as they represented 99.8% of EU25 NFBE enterprises in 2003 and employed about two thirds of the workforce: 30% in micro businesses (with less than 10 persons employed), 21% in small businesses (with a workforce of between 10 and 49 people), and 17% in medium sized enterprises (between 50 and 249 persons).
These figures are taken from a report2 published by Eurostat, the Statistical Office of the EuropeanCommunities. A more complete picture of European enterprises, including a special feature on SMEs, can also be found in a new Eurostat publication, "Key figures on European Business 2006".»

Eurostat news release 133/2006 - 05 de Outubro de 2006


(Extracto do documento disponível em http://epp.eurostat.cec.eu.int)

terça-feira, outubro 10, 2006

Caracterização do desemprego em Portugal

O desemprego, enquanto fenómeno sócio-económico, tem um peso relativamente grande na vida dos agentes económicos.
De forma a minimizar as suas consequências e para o bom funcionamento da economia nacional, é necessário estudar este fenómeno segundo diversas variáveis determinantes, como o género, a idade, o nível de escolaridade ou a própria durabilidade do desemprego, para, assim, conseguir optar por políticas e medidas mais eficazes e que actuem directamente na fonte do problema.

Bernadette Cunha

(resumo de trabalho a apresentar na aula de quinta-feira, 12 de Outubro de 2006)

Para um novo modelo de Administração Pública

Nos dias que correm é evidente o descrédito em que caiu a máquina administrativa pública do nosso país. A partir de determinada altura questionou-se o rumo que esta estava a seguir, argumentando-se que ela foi construída com base em princípios errados precisando de ser reinventada e de renovar as suas instituições. Os constrangimentos económicos impuseram ajustamentos nas políticas e mudanças no funcionamento interno das organizações públicas. Têm sido várias as estratégias de reforma adoptadas para mudar o funcionamento da Administração Pública, desde cortes orçamentais, venda de bens do Estado, privatização, contratação de serviços, introdução de medidas de desempenho, da gestão por resultados, e de técnicas de gestão do sector privado. Tratam-se de medidas de reforma que se enquadram no modelo gestionário e que têm sido adoptadas nos países ocidentais acreditando que estes instrumentos de reforma são capazes de responder aos problemas económicos e sociais, em particular para introduzir maior eficiência e eficácia no funcionamento da Administração Pública.
O alcance destes objectivos tem levado à entrada no sector público de gestores profissionais provenientes do sector privado, procurando desta forma a profissionalização da gestão e uma orientação para as técnicas de gestão. Desta maneira, temos passado a assistir à definição de medidas e padrões de desempenho com objectivos mensuráveis e claramente definidos, à preocupação com o controlo dos resultados enfatizando a necessidade de insistir nos resultados e não nos processos, à desagregação de unidades do sector público dividindo grandes estruturas em unidades mais pequenas recorrendo a formas inovadoras de organização das actividades, à introdução de factores que promovam a concorrência no sector público, nomeadamente com a contratação, procurando com isto baixar custos e melhorar a qualidade da prestação dos serviços, à ênfase nos estilos e práticas de gestão do sector privado, introduzindo modelos que flexibilizam a gestão, bem como à ênfase numa maior disciplina e parcimónia na utilização de recursos, cortando nos custos e procurando maior eficiência.
Na verdade, este paradigma têm sido aplicado nas últimas décadas de diversas formas, em diferentes países que lhe dão significados distintos. Para alguns países como os anglo-saxónicos, a aplicação deste modelo tem levado à redução do peso do Estado e das suas actividades, para outros, como é o caso dos nórdicos, tem significado a modernização do Estado para lidar com um ambiente em mudança, fazendo uma abordagem selectiva, introduzindo somente medidas que consideram úteis. Este movimento de reforma administrativa resulta do processo de globalização, prevendo-se que este fenómeno determine a convergência dos vários sistemas administrativos, embora se observe a relutância de alguns países, como a Alemanha, a França ou o Japão, em aplicar de forma sistematizada estas ideias. Deste modo, será difícil de assumir que existam soluções que possam ser aplicadas em qualquer país, de maneira a que conduzam ao aparecimento de apenas um tipo de sistema.
Sendo assim, os exemplos reformadores de outros países permitem concluir que mais do que a redução do peso da Administração Pública no nosso país, importa reformular a sua organização e cultivar o espírito de serviço público nos seus funcionários. Na realidade, deparámo-nos com um discurso onde se enfatiza a necessidade de motivar os funcionários, transformar a sua cultura, promover as suas qualificações, promover a liderança e procurar o envolvimento e comprometimento dos funcionários com os serviços públicos, e simultaneamente a este discurso, as iniciativas de reforma da função pública caracterizaram-se pela vulnerabilização do estatuto dos funcionários nomeadamente no que respeita à segurança de emprego e remuneração. Desta forma, ao mesmo tempo que se evoca que as pessoas constituem o valor primordial da Administração Pública adoptam-se medidas que parecem ameaçar a estabilidade e a confiança de quem nela trabalha. Encontramo-nos num período de transição, onde as mudanças se apresentam como inevitáveis. Falta saber se mudaremos para melhor !!!
Paulo Marques da Silva
(doc. da série artigos de análise/opinião)

domingo, outubro 08, 2006

Destaques noticiosos do fim-de-semana

"O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, deixou antever de novo hoje uma subida das taxas de juros já para o próximo mês de dezembro."
/.../
Orçamento do Estado corta 30% em investimento (06-10-06, in Diário Económico)
"Forte contenção na despesa pública é a palavra de ordem do próximo orçamento. Ainda assim, os grandes investimentos serão salvaguardados."

quinta-feira, outubro 05, 2006

Aviso

Caros(as) alunos(as),
Em razão de sobreposição de compromissos de serviço, não me é possível assegurar a aula de 2ª feira, 06/10/09.
Notem, no entanto, que isso não implica que haja quebra de comunicação e que o trabalho não possa continuar. Para isso serve este fórum, mesmo se muito pouco aproveitado, até à presente data.
Cordiais cumprimentos,

J. Cadima Ribeiro

terça-feira, outubro 03, 2006

Acredito na retoma

De acordo com os dados estatísticos que pesquisei no INE (Instituto Nacional de Estatística) e no Banco de Portugal, acredito numa possibilidade verosímil de retoma para Portugal nos anos que se aproximam. A informação disponível aponta para a continuação dos sinais mais animadores sobre a evolução da actividade económica, já perceptíveis nos primeiros trimestres do ano.
A procura externa continua a ser a força dinamizadora, aumentando a sua participação no crescimento português. O valor das exportações no 2ºtrimestre de 2006 cresceu 10.3%, em termos nominais. Esta notável aceleração das exportações deve-se, essencialmente, aos países clientes de Portugal, que revelaram um crescimento médio no início de 2006 de 2.5% (Espanha, principal parceiro económico, mantêm níveis de crescimento acima dos 3% por vários trimestres consecutivos).
De acordo com estes dados e as expectativas do FMI, é já possível antever uma aceleração forte das exportações e uma desaceleração das importações para 2007, e, sendo assim, uma situação mais equilibrada a nível comercial beneficiará o crescimento económico em Portugal, mas não dependerá apenas disto.
Tendo em conta os dados divulgados pela Comissão Europeia a 2 de Outubro de 2006, a economia na zona euro cresceu 3.5% nos primeiros 6 meses, sendo o maior crescimento dos últimos 6 anos. O crescimento de 1.2% previsto pelo FMI para Portugal em 2006 é ainda muito pouco em relação ao dos parceiros europeus. Portugal terá que acompanhar a tendência europeia apostando, essencialmente, no mercado externo em expansão, tornando-se mais competitivo e inovador e procurando novas perspectivas comerciais, para que não vejamos uma vez mais Portugal “na cauda da Europa”.

Sara M. A. Peixoto
(artigo extraído da plataforma electrónica de apoio à unidade curricular Economia Portuguesa e Europeia; Out. 2006)

A lei de Okun

Segundo a lei de Okun (Arthur Okun), por cada cada 2 a 2,5% de quebra do PNB relativamente ao PNB potencial, a taxa de desemprego aumenta 1 ponto percentual.
“Quer dizer, a lei de Okun proporciona a ligação vital entre o mercado dos produtos e o mercado de trabalho. Descreve a associação entre os movimento de curto prazo do PNB real e as variações do desemprego”


(citação extraida de Samuelson e Northaus, Economia, McGraw Hill, Lisboa,1993, p.661)