Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

terça-feira, janeiro 29, 2008

Estratégias para os portos na nova era do transporte marítimo

Na última década têm-se verificado importantes alterações na organização geral do transporte de mercadorias. Estas mudanças têm tido uma expressão muito significativa nas estruturas e comportamentos das actividades portuárias. A nível internacional convivem dois tipos de portos. Por um lado, existe um conjunto de portos que assumem uma estratégia adaptativa relativamente ao fenómeno da globalização e às mudanças nos padrões dos fluxos de mercadorias. Estes mantêm-se como infra-estruturas poli-funcionais, ainda que estão maioritariamente orientados para a prestação de serviços comerciais, industriais e de transporte. A componente de prestação de serviços é, nestes casos, fundamental, dado que o seu objectivo principal é acrescentar valor às mercadorias movimentadas.
Por outro lado, tem-se consolidado uma categoria de portos com uma estratégia proactiva em relação às forças globalizadoras, a qual lhes tem permitido emergir como nós dinâmicos no âmbito das complexas redes internacionais de produção e distribuição de mercadorias. Neste caso, os portos são elos de um sistema muito mais vasto de natureza matricial e a sua gestão insere-se em estruturas integradas de transporte, nas quais as plataformas logísticas assumem um papel determinante. Nestes âmbitos os serviços portuários tendem a especializar-se sem descurar a flexibilidade e a adaptabilidade.
Esta evolução a nível organizativo e estratégico é, em grande medida, derivada da intensificação das transformações associadas à gestão logística. Em resultado da integração progressiva das cadeias de transporte e das novas formas de gestão das mesmas, os portos mais dinâmicos têm-se transformado em plataformas logísticas inter-modais, permitindo melhorar as condições de fornecimento e trânsito de mercadorias e incrementar a fiabilidade das actividades de distribuição. O desenvolvimento destas novas valências faz com que muitas destas estruturas portuárias assumam um papel de hubs marítimos (nós de redes), que acolhem aos navios-mãe, que posteriormente alimentam os navios porta-contentores de média dimensão (feeders), que cobrem as rotas de curta e média distância.
Esta lógica organizacional tem expressão, em maior ou menor medida, em quase todas as tipologias de infra-estruturas portuárias. Desta forma, os portos surgem cada vez mais como nós funcionais, com funções de atracção e captação de tráfego e com capacidade para impulsionar dinâmicas territoriais promotoras de mudanças nos fluxos de mercadorias e, inclusivamente, indutoras de fluxos adicionais, resultantes do desenvolvimento económico delas derivado. Neste contexto, os objectivos das administrações portuárias devem concentrar-se em: a) atrair novos tráfegos de mercadorias; b) conectar áreas económicas e consolidar corredores de transporte; c) promover a captação de investimento que fomente as referidas dinâmicas territoriais e o desenvolvimento económico; d) implementar estratégias que reduzam as consequências negativas das rupturas de carga; e, e) monitorizar permanentemente as novas tendências em termos de organização e desenvolvimento das redes de transporte marítimo.
Nesta conjuntura, o porto mais importante para o Minho e para a região Norte no seu conjunto, o Porto de Leixões, enfrenta uma série de desafios e ameaças que podem vir a limitar o seu crescimento futuro. Em primeiro lugar, o incremento da concorrência dos novos portos exteriores de Ferrol e da Corunha, especialmente em determinados tipos de mercadorias, irá dificultar a atracção de novos tráfegos, tanto marítimos como terrestres, num horizonte temporal de médio prazo. Em segundo lugar, a dificuldade para consolidar rotas permanentes de média distância com o Centro e o Norte de Europa e a deficiente articulação com o modo ferroviário limita, respectivamente, o alargamento da sua oferta de serviços e do seu hinterland operativo. Em terceiro lugar, o atraso na construção das plataformas logísticas previstas no Portugal Logístico para a região Norte, nomeadamente da plataforma da Maia/Trofa, impede o desenvolvimento de um sistema de geração/distribuição de mercadorias que permitiria o aproveitamento de economias de escala na cadeia logística. Em quarto lugar, a escassez de espaço para melhorar os interfaces terra-mar, que reduziriam os custos de transferência modal. E, por último, os problemas derivados da indefinição política em relação à estratégia futura do sector em Portugal e da escassa consistência do quadro regulatório existente.
O crescimento dos portos nos próximos anos dependerá da sua capacidade para enfrentar a competição com os seus pares. Neste sentido, o incremento da produtividade afigura-se como o objectivo central em todas as decisões de gestão portuária. Na minha opinião, para a melhoria das taxas de produtividade do porto de Leixões, a sua administração deve assumir um estratégia mais proactiva, que dê continuidade ao processo de especialização dos terminais portuárias, fomente a construção de portos secos que eliminem o congestionamento e alarguem o seu hinterland natural, promova plataformas logísticas de apoio às actividades portuárias, melhore a ligação com todas as redes de transporte, especialmente com a ferroviária, e implemente sistemas informatizados de gestão de mercadorias de modo generalizado.
FRANCISCO CARBALLO-CRUZ
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

Eurobarómetro: relatório relativo a Portugal

«A Comissão Europeia realiza semestralmente um estudo de opinião nos Estados membros da União Europeia, intitulado Eurobarómetro, que analisa o estado da opinião pública europeia sobre questões de política geral e europeias.
O presente estudo, Eurobarómetro 68, foi realizado entre os dias 22 de Setembro e 3 de Novembro de 2007, nos 27 Estados membros da União Europeia, nos dois países candidatos (Croácia e Turquia), na comunidade turca de Chipre e na Antiga República Jugoslava da Macedónia. Foram feitas 30.281 entrevistas (entre as quais 1.000 em Portugal).
Com base nos mesmos dados, uma equipa de especialistas nacionais elaborou o Relatório Nacional relativo a Portugal, que é publicado hoje. Este relatório analisa o actual clima da opinião pública portuguesa relativamente à situação a nível nacional e europeu, à economia e ao mercado laboral e às perspectivas de desenvolvimento futuro da União Europeia.

Eurobarómetro 68

Relatório Nacional relativo a Portugal»

(reprodução integral do texto datado de 08/01/28 do RAPID - Boletim da Representação em Portugal da Comissão Europeia, intitulado "EUROBARÓMETRO 68 - PUBLICAÇÃO DO RELATÓRIO SOBRE PORTUGAL")

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Get busy and find out how to do it

"Whenever you are asked if you can do a job, tell 'em, 'Certainly, I can!' Then get busy and find out how to do it."

Theodore Roosevelt

(citação extraída de SBANC Newsletter, January 22, Issue 503-2008, http://www.sbaer.uca.edu/)

sexta-feira, janeiro 25, 2008

terça-feira, janeiro 22, 2008

"Lisboa com maior crescimento"

"HOTELARIA
Lisboa com maior crescimento
O ano de 2007 foi excepcional para o mercado de hotelaria da Europa, Médio Oriente e África, com destaque para a cidade de Lisboa, que lidera o 'ranking' dos destinos com maior crescimento do RevPAR (preço médio por quarto disponível), com valor a rondar os 25,5%."
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(notícia do Diário Económico de ontem)

segunda-feira, janeiro 21, 2008

"Governo português é o único da zona euro optimista para 2008"

"Só Portugal é que prevê que a economia vai crescer mais do que em 2007
Com um cenário de petróleo caro, aperto na concessão de crédito e provável recessão na economia norte-americana, todos os governos dos países que integram o euro prevêem que as respectivas economias vão crescer este ano a um ritmo mais baixo do que o verificado em 2007.
A única excepção neste cenário é Portugal, onde a previsão governamental é de 2,2 por cento de crescimento económico em 2008, depois de um valor próximo de 1,8 por cento no ano passado. Este dado resulta da leitura dos Programas de Estabilidade e Crescimento apresentados por 26 países a Bruxelas (só a Bélgica ainda não apresentou). Nesses documentos há também uma ideia comum para a generalidade dos países, que é a perspectiva de uma redução das respectivas cargas fiscais (peso dos impostos cobrados no PIB) nacionais até 2010.
Na zona euro, só o Governo português prevê uma aceleração
Num cenário de aperto do crédito, risco de recessão nos EUA e subida do euro e do preço do petróleo, Portugal destaca-se pelo optimismo"
(extracto de artigo, assinado por Sérgio Aníbal e datado de 08/01/21, publicado pelo jornal Público)
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Comentário: do título do artigo do Público e do que nele se diz, poderá concluir-se que Portugal é o único país da Zona Euro com eleições nacionais agendadas para (o início de) 2009?

sábado, janeiro 19, 2008

A AIMinho defende que a ligação Porto/Braga/Valença seja toda feita em canal ferroviário próprio

TGV Porto-Vigo «tem de passar» no aeroporto:
Empresários do Minho defendem também a construção de um canal ferroviário próprio para o TGV
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(título e subtítulo de notícia do jornal electrónico Portugal Diário, datada de 2008/01/17 12:16
- http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=904447)

sexta-feira, janeiro 18, 2008

A Europa ainda resiste à crise

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(título de mensagem, datada de 17 de Janeiro de 2008, disponível em e.economia.info)

terça-feira, janeiro 15, 2008

As preferências dos consumidores minhotos em matéria de vinhos de mesa

Aproveitando os dados recolhidos através de dois inquéritos realizados entre Fevereiro e Abril de 2007 na Makro e no Feira Nova, em Braga, sobre os critérios presentes na escolha de vinhos feitas por retalhistas (Makro) e consumidores finais (Feira Nova), dei já, neste jornal, conta de alguns resultados obtidos e sobre as posturas algo distintas de uns e outros nas respectivas decisões de compra.
Uma das questões incluídas respeitava à região de origem dos vinhos. Era também solicitado aos inquiridos que se pronunciassem sobre a relevância que tomavam a marca, o tipo de vinho e os preços, entre outros factores, nas escolhas operadas. Do que divulguei então, sublinho:
i) o destaque que tomava na escolha o factor região de origem dos vinhos;
ii) as diferenças de abordagem entre retalhistas e consumidores finais quando considerado o segundo factor de escolha, com os retalhistas a enfatizarem a marca e a região de origem e os consumidores a darem mais importância aos preços.
Os dados que então divulguei e agora recupero, parcialmente, eram parte de um estudo mais vasto que me permitiu chegar a outras conclusões não menos interessantes que as antes mencionadas. Adianto de seguida algo mais sobre o que foi possível concluir.
Estando em causa a relevância que consumidores e retalhistas conferiam à região de origem dos vinhos como critério de escolha, importa deixar dito que as regiões vinícolas do Alentejo, do Douro e do VinhoVerde, por esta ordem, se revelaram como as mais preferidas. Curiosamente, o Dão mostrou-se menos atractivo para os consumidores minhotos (essencialmente, bracarenses) do que tínhamos antecipado, partindo dos resultados de um estudo anterior.
Sendo os inquiridos, no fundamental, oriundos da região dos vinhos verdes, podia admitir-se que isso enviesasse significativamente as preferências em favor dos vinhos da sua região. A teoria do comportamento do consumidor aponta nesse sentido, sublinhando, nomeadamente, o etnocentrismo presente em muitos grupos de consumidores. Os resultados aqui obtidos não confirmam, inteiramente, esse pressuposto, embora também não o contradigam. A verdade é que se, a nível de primeira escolha, os vinhos alentejanos parecem ter a clara preferência dos consumidores minhotos, seguidos pelos do Douro, quando confrontados com a questão de qual a segunda região vinícola preferida, os vinhos verdes ganham posição relativa face aos dois mais preferidos e são mesmo os primeiros quando se considera a terceira escolha.
Note-se que o conceito de etnocentrismo se suporta na constatação de que, nas suas decisões de compra, os consumidores tendem, amiúde, a dar preferência a produtos nacionais ou da sua região de origem. Este comportamento tem que ver com o receio de lesarem a economia do seu país ou região e com a existência de preconceitos pessoais em relação a produtos estrangeiros ou de territórios alheios, entre outras razões.
Em clara consonância com a teoria emerge entretanto a indicação de que os inquiridos neste trabalho suportam as suas decisões de aquisição dos vinhos que consomem ou comercializam nas suas lojas e restaurantes numa clara hierarquia (implícita) das regiões vinícolas nacionais.
Por outro lado, também pudemos concluir que, nas suas decisões de compra, os compradores não-especialistas de vinhos, consumidores ou retalhistas, se apoiavam mais na marca que os especialistas. Este dado estará associado a boas experiências de consumo prévias e/ou a eventual lealdade a marcas. Os resultados que obtivemos para o grupo dos consumidores com idades entre os 41 e os 60 anos dão consistência a esta leitura, isto é, é neste grupo que, em termos relativos, a escolha mais se apoia na marca.
Finalmente, retomando a diferença de atitudes já identificada entre consumidores finais e retalhistas em matéria da relevância que tomam nas respectivas decisões as marcas e os preços, dir-se-á que uma leitura possível será a de associar a ênfase posta pelos retalhistas na marca à aposta estratégica que fazem na qualidade dos produtos que colocam no mercado. Por contrapartida, a presença entre os consumidores finais inquiridos de um número significativo de reformados (cerca de 20%), presumivelmente muitos deles vivendo com fracos rendimentos, justificará a relevância que os preços tomam nas suas escolhas.
Numa perspectiva de política pública ou de estratégia de negócio, os resultados obtidos nesta investigação dão suporte à ideia que o uso de referências territoriais na comercialização dos produtos é uma via adequada para valorizar os vinhos no mercado e marcar a sua natureza distintiva face aos de outros territórios ou aos que não usam esses elementos identificadores de origem (certificada). Isto é válido para os vinhos provenientes de regiões de origem que os consumidores associam a um produto de qualidade.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

domingo, janeiro 13, 2008

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Os detentores do poder e os figurantes

"parlamentos, governos e partidos são meros figurantes de guiões e encenações promovidas por trás dos cortinados do espectáculo de Estado, onde os detentores dos interesses dizem sempre que não estão interessados, conforme os manuais de programação típicos dos eficazes grupos de pressão que já se deixaram de frequentar os corredores dos passos perdidos e vão directamente à fonte."
José Adelino Maltez
(extracto de mensagem, datada de hoje e intitulada "O que a todos diz respeito, por todos deve ser decidido", disponível em Sobre o tempo que passa)

A reforma da Administração Pública

Artigo Diário Económico
O que falta na reforma do Estado:

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/economia/pt/desarrollo/1076763.html
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(cortesia de Nuno Soares da Silva)

quinta-feira, janeiro 10, 2008

A valorização do euro e o pessimismo dos portugueses

A criação do espaço euro permitiu dar estabilidade às economias da zona euro, obrigadas a rigorosas regras orientadas pelo Banco Central Europeu, em conjunto com cada um dos bancos centrais nacionais. Além da estabilidade monetária, que cria condições para uma taxa de inflação baixa e controlada, o euro agilizou as trocas comerciais entre estes países, fazendo diminuir os custos de transacção com câmbios de moeda, as barreiras aduaneiras e outros, o que permitiu tornar mais barato transportar e comercializar serviços dentro do espaço euro. O euro tornou-se, assim, uma moeda forte, logo os países do euro podem comprar mais e mais barato. A maioria das moedas tinha, e tem ainda, como referência o dólar americano. Numa altura em que o euro bate um novo recorde de valor em relação á moeda americana (a moeda única europeia está a negociar acima dos 1,47 dólares, impulsionada pelas expectativas de que a Reserva Federal dos Estados Unidos irá baixar a sua taxa de referência em 50 pontos base para evitar que a maior economia do mundo entre em recessão) para os países da zona euro comprar matérias-primas, produtos energéticos ou outras mercadorias aos países de fora, particularmente os que têm por referência o dólar americano, torna-se mais barato, podendo comprar mais e melhor.
Contudo, se pertencer á zona euro permite importar mais, já para quem está fora do espaço é mais caro comprar dentro da zona euro. Os nossos produtos ficam mais caros, sendo mais difícil exportá-los. No mundo global em que vivemos, as empresas para sobreviver têm de conseguir alargar os seus mercados, internacionalizar e exportar. Com um euro cada vez mais forte, é cada vez mais difícil esta tarefa, o que torna os produtos menos competitivos e, em última fase, coloca em risco a vida das próprias empresas. E todos sabemos que quando a existência das empresas está em risco, os postos de trabalho também o estarão.
Segundo um estudo apresentado no início de Dezembro de 2007 (Roper Reports, realizado pela empresa de estudos de mercado Gfk), os portugueses estão cada vez mais pessimistas face aos indicadores económicos, sendo Portugal o segundo país (a seguir ao Japão), onde os cidadãos mostram menos confiança quanto á sua situação económica pessoal. No topo das preocupações dos portugueses estão a eventual recessão e desemprego, o crime e a ausência de lei e a inflação e os preços elevados. Entre os portugueses, apenas 26 por cento acredita que daqui a 12 meses a sua conta bancária estará de melhor saúde. De realçar que dos 31 países analisados neste estudo, Portugal é o único que apresenta duas referências a questões económicas no top 3 das preocupações dos cidadãos. O que se percebe com facilidade: o país continua mais ou menos de tanga, o desemprego aumenta (ou como os governantes gostam de dizer “os empregos diminuem”), as pensões sobem pouco, as greves sucedem-se e, enquanto assistimos á novela do futuro aeroporto internacional do país, vamos perdendo a vontade de sorrir quando toca a fazer contas e fazer render o salário até ao final do mês.

Nelson Cerqueira

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa”)

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Notícias do Vinho Verde (e de política agrícola?)

Notícia JN
Vinho verde não é menor que outros e está na moda: http://jn.sapo.pt/2008/01/09/norte/vinho_verde_e_menor_outros_e_esta_mo.html

(cortesia de Nuno Soares da Silva)

terça-feira, janeiro 08, 2008

O clima económico

"O indicador de clima económico diminuiu ligeiramente nos dois últimos meses, afastando-se do patamar em que se situou nos meses anteriores.O indicador de confiança dos Consumidores manteve um movimento descendente desde Novembro de 2006, registando o valor mais baixo desde Fevereiro de 2006."
(resumo de Destaque(s) do INE de 4 de Janeiro de 2008, intitulado "O indicador de clima económico registou uma ligeira diminuição e o indicador de confiança dos Consumidores manteve o movimento descendente em Dezembro - Dezembro de 2007", disponível em INE)

sábado, janeiro 05, 2008

sexta-feira, janeiro 04, 2008

terça-feira, janeiro 01, 2008

Integração regional entre o Minho e a Galiza: a importância de uma análise regional mais abrangente

Numa economia tão inter-relacionada quanto a actual, a origem e as consequências de alguns fenómenos económicos não podem ser circunscritas ao âmbito territorial da sua manifestação inicial. O incremento da mobilidade de trabalhadores e da velocidade de circulação de mercadorias faz com que os mercados regionais de trabalho e de bens e serviços estejam sujeitos às consequências de certos fenómenos, que afectam esses mercados noutros âmbitos territoriais. A constatação deste tipo de inter-relações em certos mercados é particularmente notória entre o Minho e a Galiza (a situação é extensiva ao conjunto da região Norte).
A evolução global da economia da Galiza, as suas dinâmicas sectoriais e as tendências do seu mercado de trabalho são cada vez mais relevantes para entender a situação e evolução de alguns indicadores económicos a Sul do Minho. Esta realidade é cada vez mais evidente no caso de alguns mercados de trabalho, onde os défices de oferta de trabalho num dos lados da fronteira são compensados pelos excessos de oferta que, conjunturalmente, se produzem no outro lado da mesma. A primeira destas situações afectou o mercado dos profissionais de saúde galegos (médicos e enfermeiros) que, desde finais da década de noventa, se incorporaram ao mercado de trabalho Português. A segunda, em sentido contrário, manifestou-se no mercado da construção civil, onde o excesso de trabalhadores, resultante da crise do sector em Portugal, foi parcialmente absorvido pelo mercado da Galiza, muito dinâmico durante os últimos anos e onde a oferta de mão-de-obra em determinado tipo de artes não acompanhou a procura de trabalho induzida pela procura de bens finais.
Estas duas vagas “migratórias” tiveram um forte impacte sobre os mercados regionais de emprego. No primeiro caso, o número de médicos espanhóis (maioritariamente galegos) trabalhando na região Norte chegou a ser perto de 800, enquanto que no segundo algumas estimativas, baseadas em fontes de diversa natureza, revelaram que o número de trabalhadores Portugueses no sector da construção civil na Galiza ultrapassou nalgumas alturas os 40.000. Mais recentemente, têm-se observado outros movimentos com alguma relevância em sentido Sul-Norte, sobretudo no sector da construção naval. A grande carteira de encomendas dos estaleiros galegos para os próximos cinco anos está presentemente a atrair um número crescente de trabalhadores Portugueses.
A inter-relação entre estas economias é também muito relevante no mercado de bens transaccionáveis. Num número crescente de casos, estas trocas comerciais não podem ser categorizadas como simples transacções, esporádicas ou com um carácter mais ou menos estável, dado que incorporam uma considerável componente organizacional, que deriva do grau de integração e compromisso entre organizações independentes, onde o vínculo de fornecimento é um aspecto chave da competitividade empresarial das organizações envolvidas. Estas relações privilegiadas entre empresas de ambos os lados da fronteira são muito frequentes no sector do vestuário e na indústria automóvel e começam a ter alguma importância no sector da construção naval e na indústria alimentar.
Essa crescente inter-relação entre as duas economias regionais é uma fonte de oportunidades e gera uma série de vantagens para a economia, em geral, e para determinados agentes económicos, em particular. No caso do mercado de trabalho, contribui para colmatar a falta de emprego na região de origem e para alargar o mercado de trabalho e evitar, deste modo, as tensões sobre os preços dos factores no mercado da região de destino. No caso dos mercados de bens, por um lado, assegura a viabilidade e promove o crescimento das empresas fornecedoras e, por outro, permite às empresas compradoras garantir o controlo do processo de geração de valor, graças à proximidade geográfico-temporal, adquirir competências que podem não ter à sua disposição de forma imediata e controlar os custos de produção, em resultado do diferencial de preços industriais.
Os aspectos aqui focados justificam uma análise mais alargada das economias regionais com a finalidade de identificar oportunidades e ameaças, clarificar tendências e fluxos, escolher instrumentos de política regional e efectuar previsões a médio e longo prazo. A pseudo-integração de alguns mercados torna-se especialmente relevante quando os ciclos económicos não são coincidentes, dado que permite um melhor ajustamento entre a oferta e a procura. Esta é a situação que se tem vivido nos últimos anos, dado que o crescimento tanto no Minho como na região Norte tem sido marginalmente positivo, enquanto que na Galiza se situou nos últimos três anos no intervalo 3,5-4,1%.
A desaceleração da economia da Galiza nos próximos anos parece inevitável, o que limitará as oportunidades de emprego para os trabalhadores Portugueses, sobretudo no sector da construção civil, onde, por exemplo, o número de habitações concluídas tem descido nos últimos trimestres a ritmos superiores a 10%, em termos inter-anuais. No caso da procura de bens transaccionáveis o impacte é mais incerto, dado que num número significativo de casos esses bens são posteriormente re-exportados para terceiros mercados. Em todo caso, convém que os agentes com responsabilidade neste tipo de questões estejam atentos à mudança de tendência e à potencial alteração do padrão de crescimento da economia da Galiza, dado que o impacte económico e social a Sul do Minho poderá ser, à luz do anteriormente exposto, bastante significativo, nomeadamente em termos de incremento do desemprego.
FRANCISCO CARBALLO CRUZ
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")