Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

terça-feira, abril 08, 2008

A dinâmica económica estrutural recente do Minho

O Minho tem uma estrutura produtiva caracterizada pela forte presença de sectores produtores de bens transaccionáveis, muito sensíveis à concorrência dos novos países emergentes. A especialização em sectores que experimentam forte processo de ajustamento estrutural tem sido a principal causa do fraco desempenho do emprego nos últimos anos.
No entanto, os serviços, nomeadamente os serviços de apoio às empresas, a prestação de cuidados de saúde e a acção social apresentam dinâmicas positivas, embora insuficientes para absorverem a mão-de-obra libertada pelos sectores tradicionais. A importância das actividades de Investigação e Desenvolvimento (I&D) mantém-se também inferior à média nacional, quer em termos do peso relativo do investimento no produto, quer em termos dos recursos humanos afectos a esta actividade. Assim sucede ainda que no Cávado e no Ave se observem novas dinâmicas, associadas à presença da Universidade do Minho.
Para a leitura da dinâmica económica do Minho acabada de fazer concorrem, por um lado, alguns dados conhecidos sobre a evolução do desemprego, das exportações e do investimento em I&D e, por outro lado, a análise da evolução da actividade económica das NUT III Minho-Lima, Cávado e Ave realizada com o recurso à “análise das componentes de variação” ou shift-share, na designação inglesa.
Esta técnica decompõe o crescimento de uma dada variável (o emprego, por exemplo) em factores distintos que possam influenciar o seu comportamento. Estes factores ou componentes pretendem captar o efeito da dinâmica macroeconómica global, da composição sectorial da região (componente estrutural) e, ainda, o efeito de outros factores específicos da região (componente regional ou diferencial) no crescimento desta.
A componente nacional representa o crescimento que a região teria se tivesse a mesma variação observada a nível nacional. No entanto, é de esperar que só por coincidência a estrutura económica regional seja idêntica à nacional. É baseado neste facto que se inclui a chamada componente estrutural. Como, adicionalmente, nada garante que o crescimento de cada sector ou actividade a nível regional seja idêntico ao observado a nível nacional, importa que essa diferença seja igualmente sublinhada. A componente regional ou concorrencial capta precisamente esta diferença, isto é, mede o desvio do crescimento regional relativamente aquilo que era esperado caso cada sector se tivesse comportado do mesmo modo que a nível nacional. Se esta componente é positiva, o modelo aponta para a existência de vantagens comparativas regionais (por exemplo, melhores infra-estruturas ou maior produtividade do trabalho), que favorecem crescimentos sectoriais regionais mais elevados.
A análise das componentes de variação foi aqui realizada para dois períodos temporais distintos (1996-2000 e 2001-2005), utilizando dados referentes ao emprego não público por conta de outrem, nos sectores secundário e terciário.
Os resultados alcançados permitem concluir que a componente estrutural em ambos os sub-períodos e para todas as NUT III em análise foi negativa (em razão de dificuldades decorrentes do perfil de especialização) [Tabelas 1 e 2]. Por sua vez, a componente regional apresentou um comportamento favorável, com a excepção do Cávado, no primeiro período, circunstância essa que indicia alguma inconsistência competitiva.
[Tabelas 1 e 2]*
Em maior detalhe, comparando as três sub-regiões, verificamos que há diferenças significativas na dinâmica do emprego entre elas. Em termos de crescimento médio anual efectivo do emprego por conta de outrem, apenas a NUT do Minho-Lima observou um crescimento superior à média nacional em ambos os períodos. O desempenho negativo da componente estrutural em todas as NUT, por sua vez, demonstra uma forte dependência de sectores que estão em contracção do emprego a nível nacional. No entanto, os dados evidenciados em termos da componente regional (positiva, com a excepção já sublinhada da NUT Cávado, no primeiro período) revelam que as empresas locais tendem a perder menos emprego que as congéneres, do mesmo sector, localizadas noutras regiões do país.
Estes dados são significativos e têm óbvia utilidade para fins de planeamento, assim as entidades públicas locais e nacionais os queiram considerar, já que constatar situações pouco releva se não existir vontade de actuar sobre elas, corrigindo problemas e potenciando recursos e capacidades dos territórios.
J. Cadima Ribeiro

(artigo de opinião a publicar em próxima edição do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

* não reproduzidas, por razões técnicas

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