Quer tomemos como ponto de partida a abordagem funcionalista quer a territorialista, instituições como a Universidade podem ser importantes instrumentos de desenvolvimento, se bem que o sejam mais quando a estratégia tenha uma matriz informadora endógena.
No primeiro caso, a
Universidade será assimilável a investimento externo, eventualmente público,
dotando o território de um equipamento importante pelos seus impactes em termos
de criação de rendimento e de emprego, de estimulo à fixação e desenvolvimento
de actividades económicas e à modernização da sociedade.
No segundo caso, a sua
importância estratégica é maior já que a Instituição tende a ser vista como um
agente da parceria para o desenvolvimento. Um parceiro tanto mais estratégico
quanto as rupturas tecnológicas e organizacionais vêm sublinhando a componente
criação e partilha de conhecimentos inerente a qualquer projecto de desenvolvimento.
Isto é, o conhecimento e a acção associada ao domínio do saber tecnológico e
organizacional, do saber e do saber-fazer, são os elementos portadores da
diferença entre ganhadores e perdedores da batalha do progresso social do
presente.
Estamos, entretanto, a
invocar um modelo de Universidade que descolou daquela cujos traços
caracterizadores são: i) a criação de conhecimentos, que são armazenados nas
bibliotecas; ii) a transmissão de conhecimentos às novas gerações que se vão
sucedendo; iii) o carácter elitista da oferta de formação que assegura, que a
faz funcionar como filtro social.
Na fase de transição, a
Universidade continua a formar as novas gerações mas, também, a intervir na
formação continua. A oferta de formação tende a alargar-se e a equilibrar-se
com a procura social. As expectativas que a sociedade coloca nas Instituições
aumentam, se bem que as barreiras impostas pela estrutura produtiva (em
especial, quando constituída por PMEs com restrita participação nas actividades
de I&D e uma fraca dotação de técnicos qualificados) possam constituir
barreiras ao desenvolvimento da relação da Universidade com o meio.
Esta fase intermédia
anuncia o advento de um novo modelo cujos traços essenciais se podem já
reconhecer (Massicotte, 2002): i) o conhecimento cria-se através da acção e uma
nova partilha de tarefas institui-se entre investigação fundamental e aplicada,
investigação e desenvolvimento, inovação e transferência; ii) a formação não
está mais a montante da investigação, mas insere-se no próprio processo de
criação de conhecimento; e iii) a procura social de formação ultrapassa a
oferta, daí o deslocamento do acento da selecção para o sucesso.
O crescimento da procura
de acesso à formação superior de que se fala é consequência da crescente proporção
de actividades que requerem conhecimentos e aptidões de alto nível. Uma e outra
coisa têm origem na aceleração dos avanços científicos e tecnológicos e das
respectivas aplicações, numa dialéctica que a UNESCO (1998, p.26) sintetiza
como segue: “o acelerar do avanço tecnológico, a obsolescência de algum
conhecimento e o aparecimento de novas áreas de conhecimento e novas sínteses
conduzem a um processo que, por sua vez, requer mudanças na educação superior”.
Perante esta realidade, o
sucesso de uma organização ou de um território depende, cada vez mais, do conhecimento
de que dispõem ou são capazes de gerar, num quadro de procura de resposta para as
necessidades identificadas. Acresce que, à luz deste modelo societário e deste
ritmo de transformação, os saberes dos especialistas esgotam-se rapidamente se
não puderem integrar-se em equipas e em redes de criação e divulgação do
conhecimento.
Para as Universidades e
para os territórios, é um desafio de grande exigência este que lhes é colocado.
Adicionalmente, pela natureza do projecto de construção social entrevisto, é um
desafio que se vence através de uma estreita congregação de esforços com os
demais parceiros do projecto colectivo de desenvolvimento.
J. Cadima Ribeiro
Referências:
Massicotte Guy, "L’enseignement supérieur et le
développement des territoires", Le
développement des territoires: nouveaux enjeux, Le Mouvement Territoire et
Développement (Ed.), Grideq, Université
du Québec, Rimouski, pp. 5-12.
UNESCO
(1998), “Higher Education in the Twenty-first Century: Challenges and Tasks
Viewed in the Light of the Regional Conferences”, Word Conference on Higher
Education, UNESCO, Paris.
(Texto publicado no Jornal de Leiria, em 2007/08/23)