Nos últimos meses instalou-se em Portugal num clima de grande desânimo e descrédito. Sendo este um estado de alma profundamente funesto do ponto de vista da mobilização social e da dinâmica económica, permitimos todos que se instalasse e, pior que isso, assentou nisso a linha de força do discurso que o governo, em geral, e certos ministros, em particular, entenderam veicular aos portugueses.
Entende-se que essa estratégia possa fazer sentido enquanto o que importa sublinhar é a herança de ineficiência e ausência de visão do governo cessante. Entende-se pior quando o que passa a estar em causa é o sucesso das políticas do próprio governo em funções, e precebe-se menos, ainda, quando o que o discurso político acaba por veicular são iniciativas de gestão económica pública profundamente erradas, ultrapassadas na concepção que fazem do funcionamento dos mecanismos económicos e, além do mais, inconsistentes.
Embora, como digo, seja esse um sinal distintivo do discurso do governo do Dr. Durão Barroso, no seu todo, a nota mais negativa tem que ser atribuída à sua ministra das finanças, a quem escaparam coisas tão óbvias como a ideia que para cobrar mais receita fiscal é necessário que a actividade económica cresça de forma sustentada, e que o investidor não é mobilitado pela ideia de que ao fundo da estrada não deve esperar mais do que o precipício. Diferentemente, a subida das taxas de fiscalidade só pode gerar a retracção da receita, do mesmo modo que a retracção do investimento público não só acaba por afectar seriamente os sectores económicos implicados por essa despesa, gerando um efeito de retracção económica geral, como hipoteca o crescimento a prazo do país, ao não concretizar projectos essenciais para a modernização da infraestrutura geral.
Entende-se que essa estratégia possa fazer sentido enquanto o que importa sublinhar é a herança de ineficiência e ausência de visão do governo cessante. Entende-se pior quando o que passa a estar em causa é o sucesso das políticas do próprio governo em funções, e precebe-se menos, ainda, quando o que o discurso político acaba por veicular são iniciativas de gestão económica pública profundamente erradas, ultrapassadas na concepção que fazem do funcionamento dos mecanismos económicos e, além do mais, inconsistentes.
Embora, como digo, seja esse um sinal distintivo do discurso do governo do Dr. Durão Barroso, no seu todo, a nota mais negativa tem que ser atribuída à sua ministra das finanças, a quem escaparam coisas tão óbvias como a ideia que para cobrar mais receita fiscal é necessário que a actividade económica cresça de forma sustentada, e que o investidor não é mobilitado pela ideia de que ao fundo da estrada não deve esperar mais do que o precipício. Diferentemente, a subida das taxas de fiscalidade só pode gerar a retracção da receita, do mesmo modo que a retracção do investimento público não só acaba por afectar seriamente os sectores económicos implicados por essa despesa, gerando um efeito de retracção económica geral, como hipoteca o crescimento a prazo do país, ao não concretizar projectos essenciais para a modernização da infraestrutura geral.
Perante dados tão óbvios, surpreende-me a cumplicidade dos fazedores de opinião e da comunicação social, em geral, com esta visão das coisas e estas propostas de gestão da economia. Surpreende-me tanto mais quanto se pretende passar a mensagem de que o que está em causa é rigor e seriedade na condução dos assuntos do país, porventura confundindo discurso agreste e convencimento pessoal com capacidade técnica e eficiência.
Num registo mais benévolo, pode-se admitir que o que subjaz à mencionada complacência, senão cumplicidade, será a perspectiva de que já não faltará muito para que um tal discusso se desmorone, por si, face à iminência da divulgação dos primeiros resultados de avaliação das políticas. Mas, pergunto, a que custos presentes e futuros? Não faria mais sentido prevenir o erro que ajustar a trajectória aposteriori? Afinal qual é o conceito de cidadania que cultivamos?
Estas são as questões que se me oferecem face ao estado de passividade que vejo instaurar-se na sociedade portuguesa. São, por outro lado, como bem se percebe, a expressão escrita de um grito de revolta.
Num registo mais benévolo, pode-se admitir que o que subjaz à mencionada complacência, senão cumplicidade, será a perspectiva de que já não faltará muito para que um tal discusso se desmorone, por si, face à iminência da divulgação dos primeiros resultados de avaliação das políticas. Mas, pergunto, a que custos presentes e futuros? Não faria mais sentido prevenir o erro que ajustar a trajectória aposteriori? Afinal qual é o conceito de cidadania que cultivamos?
Estas são as questões que se me oferecem face ao estado de passividade que vejo instaurar-se na sociedade portuguesa. São, por outro lado, como bem se percebe, a expressão escrita de um grito de revolta.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião, datado de 08 de Dezembro de 2002, pubicado na ocasião no Diário do Minho)
(artigo de opinião, datado de 08 de Dezembro de 2002, pubicado na ocasião no Diário do Minho)
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