Os dados económicos publicados nas últimas semanas vieram confirmar a gravidade da crise que afecta a economia mundial. Existe um consenso cada vez mais alargado sobre o possível agravamento da conjuntura nos próximos meses e sobre as dificuldades para recuperar os níveis de actividade anteriores à crise. Os dados dos mercados de trabalho são elucidativos da forte travagem da actividade económica. Nos Estados Unidos o número de desempregados atingiu os onze milhões (3,5 milhões mais que há um ano), representando 7,2% da população activa, na Alemanha o desemprego voltou a aumentar no último mês depois de quase três anos (34 meses) de descidas continuadas e, em Espanha, o total de desempregados ultrapassou os três milhões de trabalhadores (1 milhão mais que no início de 2007), representando 11,5% da população activa.
A situação em Espanha parece mais grave que em outras economias do seu entorno, dado que à crise internacional se junta uma crise de grandes proporções no sector imobiliário. Os dados inter-anuais mais recentes revelam a magnitude da crise, tanto para as famílias como para as empresas. As transacções de habitações caíram 28% e os empréstimos hipotecários sobre habitações diminuíram 34%. As vendas de automóveis experimentaram uma redução homóloga, em Dezembro, de 49%. A quebra no mercado dos veículos comerciais foi ainda maior, ultrapassando os 65%. As vendas internas das empresas diminuíram em Novembro, também em termos homólogos, em 13%, aproximadamente.
A produção industrial experimentou uma quebra, em termos homólogos, superior a 15%. Esta taxa mais do que duplica a correspondente à média dos países da zona euro, o qual revela a gravidade da situação neste sector. Apesar de as quebras serem extensivas à generalidade da indústria, as mais acentuadas registam-se nos sectores de bens de consumo duradouro e intermédio e nos bens de equipamento. Os dados de encomendas indicam que as quebras na produção industrial vão continuar durante os próximos meses. O emprego industrial também tem diminuído (5,5%, em termos homólogos), ainda que menos que a produção, facto pelo qual nos próximos meses pode assistir-se a uma importante vaga de despedimentos na indústria.
O desemprego tem aumentado de forma espectacular ao longo de 2008. Mais de um milhão de trabalhadores perderam o seu emprego ao longo do ano. Esta facilidade para destruir emprego dá razão a quem pensava que a facilidade para criar emprego da economia espanhola nos primeiros anos da década, assentava em fundamentos económicos pouco sólidos. A intensidade do incremento do desemprego tem aumentado à medida que o ano avançava. No último trimestre do ano, o incremento médio mensal tem sido superior às 130.000 pessoas. Se essa tendência se mantiver ao longo de 2009, o desemprego aumentaria em mais de 1,5 milhões de trabalhadores. É bastante provável que o aumento não seja tão acentuado, dado que os dados do último trimestre (tradicionalmente negativo em termos de emprego) não podem ser directamente extrapolados, contudo, um aumento da ordem do milhão de trabalhadores não parece descabido, atingindo-se, nesse caso, os quatro milhões de desempregados.
É provável que o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009 sejam os piores em termos de quebra de actividade. A contracção do PIB continuará a verificar-se até o final do ano, mas o ritmo de abrandamento será menor. No último trimestre de 2009 a descida inter-trimestral do PIB poderá ficar-se pelos 0,5% (algumas previsões apontam para variações positivas). A queda média do PIB no final do ano poderá atingir 1,5%, ultrapassando a previsão de 1%, mantida pelo governo. Em termos de taxa de desemprego as previsões convergem no intervalo 14,5%-15%, enquanto que o governo mantém uma previsão escassamente credível de 12% da população activa.
A evolução da situação económica nos próximos meses estará dominada por um ambiente de incerteza. Apesar da complexidade da situação, a história económica mostra-nos que, como em recessões anteriores, os mecanismos cíclicos da economia e as intervenções de política económica permitiram a recuperação da actividade. Neste sentido, convém ter presente que a rapidez com que se produz a recuperação depende da agilidade e pertinência das políticas económicas propostas pelos governos nacionais. Contudo, a dimensão global desta crise justifica a implementação de políticas de alcance internacional em alguns âmbitos de intervenção.
No caso espanhol, o governo deve promover políticas que se adeqúem às particularidades da crise que enfrenta, nomeadamente, ao colapso do mercado imobiliário e às dificuldades do seu mercado de trabalho para gerar emprego. No curto prazo o governo espanhol deve aperfeiçoar os mecanismos para efectivar a despesa pública geradora de procura de investimento e consumo, dando prioridade aos projectos em função da sua capacidade para gerar emprego com carácter imediato. No longo prazo, deve preocupar-se com alterar o quadro institucional da economia, com a finalidade de aproximar o potencial efectivo de crescimento do seu potencial teórico. Neste sentido, devem ser levadas a cabo as reformas necessárias para transformar o seu modelo de crescimento, actuando sobre os seus factores impulsionadores e reorientando o padrão de especialização da economia.
A situação em Espanha parece mais grave que em outras economias do seu entorno, dado que à crise internacional se junta uma crise de grandes proporções no sector imobiliário. Os dados inter-anuais mais recentes revelam a magnitude da crise, tanto para as famílias como para as empresas. As transacções de habitações caíram 28% e os empréstimos hipotecários sobre habitações diminuíram 34%. As vendas de automóveis experimentaram uma redução homóloga, em Dezembro, de 49%. A quebra no mercado dos veículos comerciais foi ainda maior, ultrapassando os 65%. As vendas internas das empresas diminuíram em Novembro, também em termos homólogos, em 13%, aproximadamente.
A produção industrial experimentou uma quebra, em termos homólogos, superior a 15%. Esta taxa mais do que duplica a correspondente à média dos países da zona euro, o qual revela a gravidade da situação neste sector. Apesar de as quebras serem extensivas à generalidade da indústria, as mais acentuadas registam-se nos sectores de bens de consumo duradouro e intermédio e nos bens de equipamento. Os dados de encomendas indicam que as quebras na produção industrial vão continuar durante os próximos meses. O emprego industrial também tem diminuído (5,5%, em termos homólogos), ainda que menos que a produção, facto pelo qual nos próximos meses pode assistir-se a uma importante vaga de despedimentos na indústria.
O desemprego tem aumentado de forma espectacular ao longo de 2008. Mais de um milhão de trabalhadores perderam o seu emprego ao longo do ano. Esta facilidade para destruir emprego dá razão a quem pensava que a facilidade para criar emprego da economia espanhola nos primeiros anos da década, assentava em fundamentos económicos pouco sólidos. A intensidade do incremento do desemprego tem aumentado à medida que o ano avançava. No último trimestre do ano, o incremento médio mensal tem sido superior às 130.000 pessoas. Se essa tendência se mantiver ao longo de 2009, o desemprego aumentaria em mais de 1,5 milhões de trabalhadores. É bastante provável que o aumento não seja tão acentuado, dado que os dados do último trimestre (tradicionalmente negativo em termos de emprego) não podem ser directamente extrapolados, contudo, um aumento da ordem do milhão de trabalhadores não parece descabido, atingindo-se, nesse caso, os quatro milhões de desempregados.
É provável que o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009 sejam os piores em termos de quebra de actividade. A contracção do PIB continuará a verificar-se até o final do ano, mas o ritmo de abrandamento será menor. No último trimestre de 2009 a descida inter-trimestral do PIB poderá ficar-se pelos 0,5% (algumas previsões apontam para variações positivas). A queda média do PIB no final do ano poderá atingir 1,5%, ultrapassando a previsão de 1%, mantida pelo governo. Em termos de taxa de desemprego as previsões convergem no intervalo 14,5%-15%, enquanto que o governo mantém uma previsão escassamente credível de 12% da população activa.
A evolução da situação económica nos próximos meses estará dominada por um ambiente de incerteza. Apesar da complexidade da situação, a história económica mostra-nos que, como em recessões anteriores, os mecanismos cíclicos da economia e as intervenções de política económica permitiram a recuperação da actividade. Neste sentido, convém ter presente que a rapidez com que se produz a recuperação depende da agilidade e pertinência das políticas económicas propostas pelos governos nacionais. Contudo, a dimensão global desta crise justifica a implementação de políticas de alcance internacional em alguns âmbitos de intervenção.
No caso espanhol, o governo deve promover políticas que se adeqúem às particularidades da crise que enfrenta, nomeadamente, ao colapso do mercado imobiliário e às dificuldades do seu mercado de trabalho para gerar emprego. No curto prazo o governo espanhol deve aperfeiçoar os mecanismos para efectivar a despesa pública geradora de procura de investimento e consumo, dando prioridade aos projectos em função da sua capacidade para gerar emprego com carácter imediato. No longo prazo, deve preocupar-se com alterar o quadro institucional da economia, com a finalidade de aproximar o potencial efectivo de crescimento do seu potencial teórico. Neste sentido, devem ser levadas a cabo as reformas necessárias para transformar o seu modelo de crescimento, actuando sobre os seus factores impulsionadores e reorientando o padrão de especialização da economia.
FRANCISCO CARBALLO-CRUZ
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")
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