1. Os recursos são a base da actividade económica. Alguns territórios podem apresentar-se bem dotados de recursos e carecerem de competências. As competências exprimem-se na capacidade de combinar os recursos para deles tirar utilidade ou proveito. O desenvolvimento da actividade económica, requer a combinação e a coordenação eficiente dos recursos existentes nos territórios.
Num momento em que a economia portuguesa vem atravessando um período de profunda crise e indecisão sobre as bases em que vai construir o seu futuro, parece-me oportuno trazer aqui estas notas sobre as bases do desenvolvimento dos territórios e, logo, do país. Nos parágrafos seguintes procura-se sublinhar a existência de oportunidades e de vias para o seu aproveitamento que ou não têm sido consideradas ou têm sido subaproveitadas. O caso que se invoca é o dos vinhos de qualidade, aqui convocados no contexto do questionamento das virtualidades do recurso a novos canais de distribuição.
2. Nas últimas duas décadas emergiu um número crescente de empresas portuguesas que vêm produzindo e vendendo vinho de elevada qualidade para o mercado externo. O sucesso destas firmas, orientadas para os principais mercados de vinhos e fazendo uso dos canais de retalho tradicionais, é facilitado pelas especificidades regionais. Algumas dessas firmas estão a evoluir desta aproximação clássica para uma nova que consiste na exploração de nichos de mercado. O mercado “em linha” (online) é um nicho que as empresas precisam de visar.
A indústria do vinho pode ser segmentada em função de variados atributos. Esses atributos podem ter natureza intrínseca ou extrínseca. Elementos distintivos básicos dos vinhos são a região de origem e a cor. A atractividade de um nicho de mercado depende de vários aspectos, que vão da dimensão do mercado e poder de compra dos consumidores ao interesse demonstrado por parte dos concorrentes.
3. Para alguns consumidores, a aquisição através do canal electrónico tornou-se parte da respectiva vida diária. Nos Estados Unidos da América (EUA), por exemplo, o número de indivíduos que usava a internet para comprar e vender bens e serviços atingia já mais de 17 milhões no final do ano de 2001. O desenvolvimento da internet levou muitas empresas a procurar tirar vantagem deste novo canal de distribuição. Em todo o caso, vender livros ou CDs “em linha” ou vender doces, frutas ou mobiliário não é a mesma coisa.
4. Não havendo dados para Portugal sobre o perfil do comprador de vinhos que usa o canal electrónico, esses dados existem para os EUA. Dos resultados disponíveis para este mercado, um primeiro elemento a reter refere-se ao número de respondentes a um inquérito que consomem vinho regularmente (53,5%). Em contraste, o mercado electrónico revelou-se bastante pequeno: somente 17,2% dos consumidores de vinho recorria a esse canal de comercialização. A variedade de fontes de informação usadas pelos consumidores merece também atenção, sendo que os retalhistas gozam de uma clara supremacia, com quase 30% (29,6%) das visitas. Este dado é consistente com a ideia de que subsiste uma clara diferença entre usar a internet para obter informação sobre produtos e usá-la como principal canal de compra ou canal alternativo aos tradicionais.
5. Informação igualmente interessante foi obtida através de um inquérito conduzido junto dos autores dos blogues temáticos de vinhos. Uma primeira indicação reporta-se ao género: 70,7% dos respondentes foram homens. Uma segunda informação reporta-se à presença menor de indivíduos jovens entre os autores de blogues sobre vinhos. Jovens ou menos jovens, os autores de blogues são, em geral, gente possuindo altos níveis de rendimento e detentora de elevadas qualificações académicas. Isto pressupõe que se trata de consumidores bem informados, capazes de sustentar um certo nível de consumo. Cruzando este dado com aquele que nos dizia que a internet deveria ser tomada como um canal de aquisição de vinhos complementar, uma estratégia que os operadores do mercado electrónico podem explorar residirá na aposta nos catálogos de vinhos difíceis de encontrar e de muito elevada qualidade.
6. Concluindo: no respeitante à comercialização pela internet de vinhos, os resultados a que tivemos acesso confirmam que esse canal é apropriado para comercializar vinho, mesmo se não é considerado pelos consumidores como alternativo aos canais tradicionais. Perseguindo a meta de ver crescer esse mercado, importa implementar esquemas logísticos bem lubrificados e melhorar a confiança entre vendedores e consumidores. Para alcançar esse objectivo, parece ser necessário estabelecer algum nível de colaboração dos produtores e/ou retalhistas localizados na mesma área.
7. Cremos ter ficado claro que os territórios são uma fonte inquestionável de recursos e que, quando considerados a partir das suas potencialidades, não será difícil descortinar neles oportunidades de índole económica. As novas tecnologias de informação e comunicação mostram ter um papel essencial a desempenhar, quer na componente promoção quer na da comercialização.
Num momento em que a economia portuguesa vem atravessando um período de profunda crise e indecisão sobre as bases em que vai construir o seu futuro, parece-me oportuno trazer aqui estas notas sobre as bases do desenvolvimento dos territórios e, logo, do país. Nos parágrafos seguintes procura-se sublinhar a existência de oportunidades e de vias para o seu aproveitamento que ou não têm sido consideradas ou têm sido subaproveitadas. O caso que se invoca é o dos vinhos de qualidade, aqui convocados no contexto do questionamento das virtualidades do recurso a novos canais de distribuição.
2. Nas últimas duas décadas emergiu um número crescente de empresas portuguesas que vêm produzindo e vendendo vinho de elevada qualidade para o mercado externo. O sucesso destas firmas, orientadas para os principais mercados de vinhos e fazendo uso dos canais de retalho tradicionais, é facilitado pelas especificidades regionais. Algumas dessas firmas estão a evoluir desta aproximação clássica para uma nova que consiste na exploração de nichos de mercado. O mercado “em linha” (online) é um nicho que as empresas precisam de visar.
A indústria do vinho pode ser segmentada em função de variados atributos. Esses atributos podem ter natureza intrínseca ou extrínseca. Elementos distintivos básicos dos vinhos são a região de origem e a cor. A atractividade de um nicho de mercado depende de vários aspectos, que vão da dimensão do mercado e poder de compra dos consumidores ao interesse demonstrado por parte dos concorrentes.
3. Para alguns consumidores, a aquisição através do canal electrónico tornou-se parte da respectiva vida diária. Nos Estados Unidos da América (EUA), por exemplo, o número de indivíduos que usava a internet para comprar e vender bens e serviços atingia já mais de 17 milhões no final do ano de 2001. O desenvolvimento da internet levou muitas empresas a procurar tirar vantagem deste novo canal de distribuição. Em todo o caso, vender livros ou CDs “em linha” ou vender doces, frutas ou mobiliário não é a mesma coisa.
4. Não havendo dados para Portugal sobre o perfil do comprador de vinhos que usa o canal electrónico, esses dados existem para os EUA. Dos resultados disponíveis para este mercado, um primeiro elemento a reter refere-se ao número de respondentes a um inquérito que consomem vinho regularmente (53,5%). Em contraste, o mercado electrónico revelou-se bastante pequeno: somente 17,2% dos consumidores de vinho recorria a esse canal de comercialização. A variedade de fontes de informação usadas pelos consumidores merece também atenção, sendo que os retalhistas gozam de uma clara supremacia, com quase 30% (29,6%) das visitas. Este dado é consistente com a ideia de que subsiste uma clara diferença entre usar a internet para obter informação sobre produtos e usá-la como principal canal de compra ou canal alternativo aos tradicionais.
5. Informação igualmente interessante foi obtida através de um inquérito conduzido junto dos autores dos blogues temáticos de vinhos. Uma primeira indicação reporta-se ao género: 70,7% dos respondentes foram homens. Uma segunda informação reporta-se à presença menor de indivíduos jovens entre os autores de blogues sobre vinhos. Jovens ou menos jovens, os autores de blogues são, em geral, gente possuindo altos níveis de rendimento e detentora de elevadas qualificações académicas. Isto pressupõe que se trata de consumidores bem informados, capazes de sustentar um certo nível de consumo. Cruzando este dado com aquele que nos dizia que a internet deveria ser tomada como um canal de aquisição de vinhos complementar, uma estratégia que os operadores do mercado electrónico podem explorar residirá na aposta nos catálogos de vinhos difíceis de encontrar e de muito elevada qualidade.
6. Concluindo: no respeitante à comercialização pela internet de vinhos, os resultados a que tivemos acesso confirmam que esse canal é apropriado para comercializar vinho, mesmo se não é considerado pelos consumidores como alternativo aos canais tradicionais. Perseguindo a meta de ver crescer esse mercado, importa implementar esquemas logísticos bem lubrificados e melhorar a confiança entre vendedores e consumidores. Para alcançar esse objectivo, parece ser necessário estabelecer algum nível de colaboração dos produtores e/ou retalhistas localizados na mesma área.
7. Cremos ter ficado claro que os territórios são uma fonte inquestionável de recursos e que, quando considerados a partir das suas potencialidades, não será difícil descortinar neles oportunidades de índole económica. As novas tecnologias de informação e comunicação mostram ter um papel essencial a desempenhar, quer na componente promoção quer na da comercialização.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, no âmbito de coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")
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