1. Ouvindo acerca de duas semanas as declarações feitas para os telejornais por Teixeira dos Santos e José Sócrates sobre a situação económico-financeira nacional e as medidas que o governo se propunha tomar para debelar o défice público, não pude deixar de pensar que um incompetente nunca admite a sua incompetência. Tenha-se a-propósito presente que o país vive um período de estagnação económica desde 2001 e que as receitas em que se insiste para nos tirar da crise são as mesmas que nos arrastaram para este quadro de dívida, de anemia estrutural e de descrença.
Nesse contexto, há quem venha falando da premência de se estabelecerem pactos políticos. Alternativamente, eu sou a favor de um pacto social, isto é, de um pacto entre agentes e estruturas económicas e sociais e uns poucos agentes políticos que conservem a noção de serviço público, que nos permita descolar do quadro lamacento, sem projecto para o país e as suas gentes para que nos deixámos empurrar.
2. Na mesma ocasião, lembrei-me também das respostas que, na véspera, dera a um estudante que me fizera chegar um pedido de ajuda. Essas respostas iam-me desfilando na cabeça à medida que ia escutando as palavras de assentimento, de conformismo de uns quantos economistas que apareceram de seguida a comentar as medidas anunciadas pelo governo.
3. A primeira pergunta fora: "Quem considera serem neste momento os maiores concorrentes da economia portuguesa? (Grécia, Espanha, Irlanda... ou, numa perspectiva mais ampla, poderemos considerar a zona asiática, essencialmente a China, como um concorrente à "nossa" zona euro?). Retenho de seguida parte da resposta que dei:
“A nível de produtos e serviços, entendo que a China e a Ásia, de um modo geral, me parece concorrerem mais com Portugal que os países europeus que menciona. Tal acontece igualmente com vários países do leste europeu. A Espanha será, porventura, o país que mais se assemelha a Portugal em matéria de estrutura produtiva. Se o enfoque fosse o investimento directo estrangeiro, então os países europeus de leste seriam os concorrentes mais directos”.
Explorando o tema nesta altura, talvez chamasse a atenção para o gritante défice de investimento em qualificação dos recursos humanos que persiste no país, pese embora ou talvez por causa de “as novas oportunidades”, e para a continuada escassez de investimento em investigação, ao mesmo tempo que o governo insiste em assinar contratos muito dispendiosos com universidades americanas.
4. A segunda pergunta que me fora endereçada repostava-se a "Quais são(eram) as nossas vantagens competitivas (Zona costeira? Ponto geográfico? Energias Renováveis?....?)?". Apeteceu-me logo sublinhar que o problema de desenvolvimento do país resultava muito mais de outras coisas que da ausência ou da estreiteza de recursos. Acabei por lá chegar mas, antes, sublinhei que:
“As energias renováveis são claramente uma oportunidade a explorar, mas o turismo também o é e tem sido subaproveitado. Na dimensão potencial turístico e energético, a zona costeira é uma fonte potencial de vantagens competitiva, como muitos outros atributos do país, incluindo o posicionamento geográfico.
Os territórios e os países, de um modo geral, devem constituir carteiras de produtos e organizá-los de modo a tirar deles o melhor partido económico, muito mais do que fazer apostas em factores ou produtos isolados. Para tal é preciso ter estratégia e capacidade de iniciativa e liderança, que são dimensões deficitárias em Portugal”.
5. E já que falo de recursos dos territórios e de turismo, em particular, sugere-se-me perguntar por onde anda e a que conduziu a reorganização das regiões turísticas que o primeiro governo de José Sócrates tão empenhadamente levou a cabo? A que resultados levou?
Do que vai transparecendo a esse propósito, sei que em matéria de promoção turística uns são tidos como filhos e outros como enteados. Sei, também, que o caminho que importa fazer da oferta turística no sentido de produtos mais “sofisticados” e visando clientelas mais exigentes está, em grande medida, por fazer, pese todos PENTs que se elaboraram.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado hoje no Jornal de Leiria)
Nesse contexto, há quem venha falando da premência de se estabelecerem pactos políticos. Alternativamente, eu sou a favor de um pacto social, isto é, de um pacto entre agentes e estruturas económicas e sociais e uns poucos agentes políticos que conservem a noção de serviço público, que nos permita descolar do quadro lamacento, sem projecto para o país e as suas gentes para que nos deixámos empurrar.
2. Na mesma ocasião, lembrei-me também das respostas que, na véspera, dera a um estudante que me fizera chegar um pedido de ajuda. Essas respostas iam-me desfilando na cabeça à medida que ia escutando as palavras de assentimento, de conformismo de uns quantos economistas que apareceram de seguida a comentar as medidas anunciadas pelo governo.
3. A primeira pergunta fora: "Quem considera serem neste momento os maiores concorrentes da economia portuguesa? (Grécia, Espanha, Irlanda... ou, numa perspectiva mais ampla, poderemos considerar a zona asiática, essencialmente a China, como um concorrente à "nossa" zona euro?). Retenho de seguida parte da resposta que dei:
“A nível de produtos e serviços, entendo que a China e a Ásia, de um modo geral, me parece concorrerem mais com Portugal que os países europeus que menciona. Tal acontece igualmente com vários países do leste europeu. A Espanha será, porventura, o país que mais se assemelha a Portugal em matéria de estrutura produtiva. Se o enfoque fosse o investimento directo estrangeiro, então os países europeus de leste seriam os concorrentes mais directos”.
Explorando o tema nesta altura, talvez chamasse a atenção para o gritante défice de investimento em qualificação dos recursos humanos que persiste no país, pese embora ou talvez por causa de “as novas oportunidades”, e para a continuada escassez de investimento em investigação, ao mesmo tempo que o governo insiste em assinar contratos muito dispendiosos com universidades americanas.
4. A segunda pergunta que me fora endereçada repostava-se a "Quais são(eram) as nossas vantagens competitivas (Zona costeira? Ponto geográfico? Energias Renováveis?....?)?". Apeteceu-me logo sublinhar que o problema de desenvolvimento do país resultava muito mais de outras coisas que da ausência ou da estreiteza de recursos. Acabei por lá chegar mas, antes, sublinhei que:
“As energias renováveis são claramente uma oportunidade a explorar, mas o turismo também o é e tem sido subaproveitado. Na dimensão potencial turístico e energético, a zona costeira é uma fonte potencial de vantagens competitiva, como muitos outros atributos do país, incluindo o posicionamento geográfico.
Os territórios e os países, de um modo geral, devem constituir carteiras de produtos e organizá-los de modo a tirar deles o melhor partido económico, muito mais do que fazer apostas em factores ou produtos isolados. Para tal é preciso ter estratégia e capacidade de iniciativa e liderança, que são dimensões deficitárias em Portugal”.
5. E já que falo de recursos dos territórios e de turismo, em particular, sugere-se-me perguntar por onde anda e a que conduziu a reorganização das regiões turísticas que o primeiro governo de José Sócrates tão empenhadamente levou a cabo? A que resultados levou?
Do que vai transparecendo a esse propósito, sei que em matéria de promoção turística uns são tidos como filhos e outros como enteados. Sei, também, que o caminho que importa fazer da oferta turística no sentido de produtos mais “sofisticados” e visando clientelas mais exigentes está, em grande medida, por fazer, pese todos PENTs que se elaboraram.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado hoje no Jornal de Leiria)
Nota: uma primeira versão deste texto foi publicada na 3ª feira pp. no Suplemento de Economia do Diário do Minho
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