Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

segunda-feira, abril 30, 2007

O QREN

"Perguntas dos outros
[...]
P: (Márcio Lopes, docente da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria)
Em que medida é que, no contexto dos próximos apoios comunitários, as regiões podem desenvolver novas estratégias de competitividade territorial?
R: Em teoria, o QREN é um programa de apoio estrutural bem construído, estruturado em objectivos e princípios de execução meritórios, o que é uma relativa novidade entre nós. O problema está na sua operacionalização e na capacidade de se fazer a monitorização (controle) da sua execução, procurando ultrapassar-lhe as deficiências e desajustamentos que vierem a ser identificados, numa perspectiva de eficiência de uso dos recursos e eficácia de actuação. Se isso se fizer, será a primeira vez que se faz.
Não se confunda, no entanto, acesso potencial a recursos financeiros e potenciação do desenvolvimento. Para que os dinheiros sirvam para alguma coisa é preciso que haja projectos em que valha a pena investir e capacidade de execução eficiente desses projectos. Isto dito, voltamos à questão da estratégia de desenvolvimento regional, que existirá ou não. Sobre isso não direi nada porque não gosto de falar sobre o que desconheço."

J. Cadima Ribeiro
(extracto de entrevista concedida ao Jornal de Leiria, de 07/04/19; entrevista conduzida pela jornalista Raquel Silva)

quinta-feira, abril 26, 2007

O abandono do país por parte das multinacionais

"P: Tem-se assistido ao abandono do País por parte de várias multinacionais. De que forma se pode contrariar esta tendência?

R: O abandono por parte de algumas multinacionais surge no mesmo enquadramento que as trouxe. Aliás, se algumas se vão, outras vão chegando, só que o drama e visibilidade pública associados aos encerramentos são muito maiores no primeiro caso que no segundo.
Tudo isto se prende com as estratégias competitivas das empresas que operam em mercados globais e com as oportunidades em matéria de custos, de acesso a recursos naturais, mercados, redes logísticas e a capital humano que se vão revelando nos diferentes contextos económicos. Quero eu dizer que as razões que podem trazer novos investimentos externos a Portugal são necessariamente diferentes daquelas que os trouxeram no passado.
O que se pode fazer? Pode-se investir mais em qualificação dos recursos humanos. Pode-se apostar muito mais no desenvolvimento do sistema científico e tecnológico. Pode-se requalificar o território e dotar melhor o país de infra-estruturas diversas, incluindo as logísticas e as associadas à potenciação do país em matéria de turismo e lazer. Pode-se aproveitar bem melhor as relações - históricas, culturais - que o país mantém com muitas partes do mundo e potenciar a partir daí parcerias empresariais de que possamos aproveitar para chegar a novos mercados e criarmos empregos em Portugal. Pode-se dar eficiência à máquina burocrática que regula o funcionamento das empresas e da economia, de um modo genérico. Pode-se ser bastante mais célere e esclarecido nos processos de negociação com os operadores internacionais interessados."
J. Cadima Ribeiro
(extracto de entrevista concedida ao Jornal de Leiria, de 07/04/19; entrevista conduzida pela jornalista Raquel Silva)

domingo, abril 22, 2007

Evolução da confiança dos consumidores

"Perguntas dos outros
[...]
P: (Eduardo Louro, economista, Leiria)
Como interpreta os dados do INE, que registam em Março o melhor valor desde Julho de 2002, com bons indicadores de confiança na indústria, nos serviços e no comércio, quando a confiança dos consumidores regista a maior degradação dos últimos tempos? É mais um paradoxo da nossa economia, com optimismo na oferta e pessimismo na procura, ou a melhoria das exportações justifica este aparente paradoxo?

R: A situação que aponta não se me sugere ser um paradoxo. Raramente há coincidência entre a percepção dos ciclos económicos por parte dos empresários e por parte das famílias. Anote-se que até muito recentemente, já a procura das famílias dava sinais de recuperação e o investimento empresarial continuava em queda. Não sei, aliás, se a retoma do investimento já se deu.
A evolução da procura externa é, sem dúvida, um factor susceptível de transmitir um crescendo de confiança ao tecido empresarial, até pelo sinal que daí advém de um recuperar de capacidade competitiva nessa frente. Note-se, todavia, que essa dinâmica da procura externa não se traduziu ainda em criação de emprego, nem é expectável que se venha a traduzir a curto-prazo, pelo que os sinais que vão chegando às famílias são de pessimismo. Digo que não é expectável que venha a traduzir-se porque a reestruturação produtiva que está em curso tenderá a ser poupadora de trabalho.
Obviamente, para este sentimento de relativo desânimo convergem também as medidas tomadas de combate ao défice público e muitas outras medidas de política que atingem directamente o bem-estar dos cidadãos (encerramento de centros de saúde, escolas e outros serviços públicos), algumas delas mal tomadas e/ou mal explicadas pelo governo.
Em Portugal, há muito a ideia de que muito do que se passa com a nossa economia é singular. Não sei se desapontarei alguém se contrariar este pensamento. Mesmo os políticos portugueses, de um modo geral, são tão maus quanto os de alguns outros países europeus."
J. Cadima Ribeiro
(extracto de entrevista concedida ao Jornal de Leiria, de 07/04/19; entrevista conduzida pela jornalista Raquel Silva)

quinta-feira, abril 19, 2007

Está por ensaiar no nosso país a constituição de plataformas de inovação

"Perguntas dos outros
P: (Henrique Neto, empresário, Marinha Grande)
Qual a importância da existência de clusters no desenvolvimento de uma região e o que se pode fazer pelo seu reforço?
R: Fico sensibilizado pela cortesia das questões que me são endereçadas por tão distintas personalidades, a começar pelo Sr. Henrique Neto, que não tenho o prazer de conhecer pessoalmente.
Sublinhei já que as respostas em termos de desenvolvimento a ser dadas para um território específico têm que partir da mobilização dos seus recursos e competências, sem com isso querer dizer que não possam ser mobilizados capitais e saberes externos à região. Acrescento que o futuro se constrói, comummente, por evolução dos trilhos percorridos no passado. Note-se, por exemplo, que o surgimento da indústria dos moldes na Marinha Grande só pode percebida se tivermos presente a tradição vidreira e o recurso por parte desta indústria, a partir de certa altura, a essa solução de produção, obviamente em termos bem diferentes dos actuais. A relação entre o desenvolvimento da indústria dos moldes e a dos plásticos (polímeros), por sua vez, não é difícil de entender.
Quero com isto dizer que a aquisição de vantagens comparativas por parte de um território decorre muito da capacidade que as suas indústrias (e empresas) tiverem de construir uma malha densa de complementaridades ao nível de certas funções e/ou produtos, num quadro que será, forçosamente, de uma certa especialização produtiva. Note-se que, deste ponto de vista, as complementaridades podem ser compatíveis com um certo nível de concorrência interna, que espicaça a procura de novas soluções e mercados.
Em matéria de políticas orientadas para o reforço dos “clusters” existentes, o Sr. Henrique Neto, com a sua experiência empresarial de muitos anos e a vivência social deste território concreto, estará muito melhor posicionado que eu para sugeri-las. Diria, a propósito, que as soluções usualmente mais portadoras são aquelas que são abraçadas pelos actores no terreno, eventualmente apoiados em parcerias com agentes externos ligados à produção e transferência de conhecimento tecnológico e organizacional. A esse nível, alguma replicação da experiência do sector dos moldes poderia valer a pena. Acrescento, apenas, que está por ensaiar no nosso país a constituição de plataformas (ou clubes) de inovação, reunindo sob uma agenda previamente acordada organizações empresariais e alguns empresários mais ousados, centros de investigação e de transferência de tecnologia, e entidades públicas sectoriais e regionais. Este tipo de organizações poderia ter um papel basilar na procura de respostas em matéria de funções e soluções (produtos e serviços) que permitissem a certos tecidos produtivos regionais consolidarem-se e renovarem-se."

J. Cadima Ribeiro

(extracto de entrevista concedida ao Jornal de Leiria, de 07/04/19; entrevista conduzida pela jornalista Raquel Silva)

terça-feira, abril 10, 2007

A revolução cultural como primeiro instrumento da transformação económica que o país reclama

A Associação Comercial de Braga (ACB) tem vindo a promover ao longo do presente ano um conjunto de conferências, versando temas sócio-económicos da actualidade, para as quais tem convidado oradores de projecção mediática. A mais recente contou com a presença de Manuel Pinho, administrador do Banco Espírito Santo e ex-secretário de estado de um dos governos de Aníbal Cavaco Silva.
Por cortesia da Direcção da ACB, pude acompanhar essa conferência e produzir um breve comentário que, no essencial, sublinhou, no mesmo passo, a lucidez e rigor da análise da evolução macroeconómica produzida e a ausência de qualquer leitura de natureza política.
Conforme afirmei na ocasião, a “ausência” da política no discurso do conferencista oferecia-se-me tanto mais impressiva quanto mais óbvio se oferece que as dificuldades do presente reclamam não apenas respostas em termos de políticas de estabilização mas, especialmente, um enunciado e um liderança estratégicos.
Talvez não pretendendo colocá-lo como tal, o discurso do nosso orador em referência deixava passar entretanto o fundamento daquela postura. É que, dizia a dado passo, “são sempre os mesmos economistas” – nesta afirmação invocando aqueles que foram os responsáveis pelas políticas económicas conduzidas em Portugal nas duas derradeiras décadas e aqueles outros (amiúde, os mesmos, trocando posições) que, na comunicação social, vão quotidianamente comentando e/ou questionando as orientações seguidas em matéria de gestão económica pública.
Nisso, o Dr. Manuel Pinho foi certeiro e, não o querendo, seguramente, teve a virtude de fazer claro que não é com aquele tipo de políticas e com aquele tipo de intérpretes que Portugal se libertará dos condicionamentos do modelo de desenvolvimento que empurraram o país para a crise económica e financeira que actualmente atravessa e que, antes, o haviam, ciclicamente, encaminhado para outras crises de crescimento, mais ou menos pronunciadas que a do momento.
Esta postura de auto-justificação e de confessada incapacidade toma expressão na ideia de que Portugal, sendo uma economia pequena, muito aberta ao exterior, mais não pode fazer que aguardar a retoma da economia mundial (leia-se, neste caso, a economia europeia) e depois, sob o estímulo daquela(s), segui-la(s). É´ uma confissão de incapacidade que se presumiria dolorosa, desconfortável. Todavia, pelo que se escreve e diz, não é tanto assim e, sobretudo, não parece marcar negativamente os seus agentes.
Mas, a ser assim, será legítimo ao cidadão comum questionar porquê, então, tanto frenesim legislativo sempre que o governo muda? Tudo sobre a promessa de que é desta que as “ reformas estruturais” avançam e o país romperá com a inércia que lhe tolhe a produtividade e lhe limita a competitividade económica global. Mas, a ser assim, indo um pouco mais longe e apimentando a questão, não se entende a necessidade de despender dinheiro com o salário da ministra das finanças, com o ministro da economia, com os respectivos secretários de estado e com os variados assessores.
Concordando com o Dr. Manuel Pinho em muitos aspectos da análise que faz das insuficiências detectadas na economia portuguesa, mantenho em relação a ele uma discordância de fundo: a de que a solidez da economia portuguesa tem que ser fundada em discursos mobilizadores e políticas activas que visem o longo-prazo. Nesta diferença encerra-se uma outra não menos essencial: a de que os economistas de que a economia portuguesa mais carece são os que tomam as políticas económicas como parte de um projecto de sociedade que desafie os portugueses e que os tenha por destinatários.
Como primeiro passo desse projecto haverá que partir do reconhecimento do terreno, das realidades vividas pelas famílias, pelas empresas, pela administração pública e ser ousado (dar espaço à ousadia, à inovação). Num certo sentido, mantendo presente a prática política comum, haverá que começar por operar uma revolução cultural.

J. Cadima Ribeiro

(texto datado de 2003/08/08)

sexta-feira, abril 06, 2007

“Schooling inequality and the rise of research”

“During the last twenty years the share of researchers in the workforce has been rising in OECD countries. The consistency of this pattern suggests that it is not a transitional phenomenon. This paper demonstrates that the rise of research can occur in the steady state when schooling inequality is declining. Comparative static analysis of a semi-endogenous growth model with a continuous distribution of skills shows that a reduction in skill inequality can have a variety of effects, which includes a rising share of researchers. Additionally, the height of the growth rate of mean educational attainment is shown to have a positive effect on the proportion of researchers in the workforce, without causing it to grow.”

Bas Straathof
Keywords: Schooling inequality; Economic growth
Date: 2005-06
URL: http://d.repec.org/n?u=RePEc:deg:conpap:c010_012&r=edu

(resumo de “paper”, disponível no sítio referenciado)