"Perguntas dos outros
[...]
P: (Eduardo Louro, economista, Leiria)
Como interpreta os dados do INE, que registam em Março o melhor valor desde Julho de 2002, com bons indicadores de confiança na indústria, nos serviços e no comércio, quando a confiança dos consumidores regista a maior degradação dos últimos tempos? É mais um paradoxo da nossa economia, com optimismo na oferta e pessimismo na procura, ou a melhoria das exportações justifica este aparente paradoxo?
R: A situação que aponta não se me sugere ser um paradoxo. Raramente há coincidência entre a percepção dos ciclos económicos por parte dos empresários e por parte das famílias. Anote-se que até muito recentemente, já a procura das famílias dava sinais de recuperação e o investimento empresarial continuava em queda. Não sei, aliás, se a retoma do investimento já se deu.
A evolução da procura externa é, sem dúvida, um factor susceptível de transmitir um crescendo de confiança ao tecido empresarial, até pelo sinal que daí advém de um recuperar de capacidade competitiva nessa frente. Note-se, todavia, que essa dinâmica da procura externa não se traduziu ainda em criação de emprego, nem é expectável que se venha a traduzir a curto-prazo, pelo que os sinais que vão chegando às famílias são de pessimismo. Digo que não é expectável que venha a traduzir-se porque a reestruturação produtiva que está em curso tenderá a ser poupadora de trabalho.
Obviamente, para este sentimento de relativo desânimo convergem também as medidas tomadas de combate ao défice público e muitas outras medidas de política que atingem directamente o bem-estar dos cidadãos (encerramento de centros de saúde, escolas e outros serviços públicos), algumas delas mal tomadas e/ou mal explicadas pelo governo.
Em Portugal, há muito a ideia de que muito do que se passa com a nossa economia é singular. Não sei se desapontarei alguém se contrariar este pensamento. Mesmo os políticos portugueses, de um modo geral, são tão maus quanto os de alguns outros países europeus."
Como interpreta os dados do INE, que registam em Março o melhor valor desde Julho de 2002, com bons indicadores de confiança na indústria, nos serviços e no comércio, quando a confiança dos consumidores regista a maior degradação dos últimos tempos? É mais um paradoxo da nossa economia, com optimismo na oferta e pessimismo na procura, ou a melhoria das exportações justifica este aparente paradoxo?
R: A situação que aponta não se me sugere ser um paradoxo. Raramente há coincidência entre a percepção dos ciclos económicos por parte dos empresários e por parte das famílias. Anote-se que até muito recentemente, já a procura das famílias dava sinais de recuperação e o investimento empresarial continuava em queda. Não sei, aliás, se a retoma do investimento já se deu.
A evolução da procura externa é, sem dúvida, um factor susceptível de transmitir um crescendo de confiança ao tecido empresarial, até pelo sinal que daí advém de um recuperar de capacidade competitiva nessa frente. Note-se, todavia, que essa dinâmica da procura externa não se traduziu ainda em criação de emprego, nem é expectável que se venha a traduzir a curto-prazo, pelo que os sinais que vão chegando às famílias são de pessimismo. Digo que não é expectável que venha a traduzir-se porque a reestruturação produtiva que está em curso tenderá a ser poupadora de trabalho.
Obviamente, para este sentimento de relativo desânimo convergem também as medidas tomadas de combate ao défice público e muitas outras medidas de política que atingem directamente o bem-estar dos cidadãos (encerramento de centros de saúde, escolas e outros serviços públicos), algumas delas mal tomadas e/ou mal explicadas pelo governo.
Em Portugal, há muito a ideia de que muito do que se passa com a nossa economia é singular. Não sei se desapontarei alguém se contrariar este pensamento. Mesmo os políticos portugueses, de um modo geral, são tão maus quanto os de alguns outros países europeus."
J. Cadima Ribeiro
(extracto de entrevista concedida ao Jornal de Leiria, de 07/04/19; entrevista conduzida pela jornalista Raquel Silva)
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