«Nobel de Economia: "O que está a falhar é a política"
O pânico financeiro nas bolsas e o regresso de uma psicologia de crise entre os investidores e agentes económicos está a conjugar-se com números péssimos sobre o crescimento das economias desenvolvidas e uma "total inabilidade política" nos dois lados do Atlântico disse ao Expresso o Nobel de Economia.Jorge Nascimento Rodrigues (www.expresso.pt)
9:41 Sexta feira, 19 de agosto de 2011
Uma conjugação mortal está a ocorrer entre uma dinâmica de abrandamento da economia, com o fantasma da recaída na recessão nos países Ocidentais, e uma "total inabilidade política" por parte dos governos nos dois lados do Atlântico, disse ao Expresso, com manifesto pessimismo, Michael Spence, Prémio Nobel da Economia em 2001, professor de Economia na Universidade de Nova Iorque, em entrevista publicada na edição de 14 de agosto.
Num mês em que as bolsas de todo o mundo viveram emoções fortes, com a volatilidade ao rubro, e dois eventos de míni-crash a 8 e 18 de agosto, e os Estados Unidos continuam a lamber as feridas do corte de notação por parte da agência Standard & Poor's, o Nobel de 68 anos afirma que "a política está a dificultar uma resposta enérgica à situação em muitos países, incluindo nos Estados Unidos, e no conjunto da União Europeia".
E prossegue: "Esta inabilidade política para agir - a não ser em resposta a uma crise clara - juntamente com a ameaça real de um abrandamento global significativo da economia mundial está a provocar a derrocada nos mercados e isso, por sua vez, agrava ainda mais as perspetivas de crescimento".É a política, estúpido!
A imagem que se está a passar é que os políticos deixam o mais que podem nas mãos do Banco Central Europeu (BCE) e da Reserva Federal (Fed) americana o assunto desta nova crise.
Na realidade, é o BCE que está a conter o disparo dos juros da dívida no mercado secundário de Espanha e Itália e a alimentar o mercado interbancário europeu evitando a sua secura. Nos EUA, os investidores sentiram-se aliviados, no curto prazo, com a promessa da Fed de manter os níveis das taxas de juro federais (fed funds rates) próximos de 0% ou muito baixos até meados de 2013, mas estão suspensos do que Ben Bernanke, o presidente da Reserva Federal, vai dizer no retiro dos banqueiros centrais norte-americanos em Jackson Hole no próximo dia 26 de agosto.
Michael Spence acha que estes movimentos dos banqueiros centrais "não resultarão". E frisa: "Sem dúvida que a política monetária é um aspeto importante do incentivo à retoma, um facilitador, diria. Mas os bancos centrais não podem resolver por si o problema conjunto das contas públicas e do crescimento. Isso requer reformas e investimentos - com detalhes que variam de país para país. Investimento público, reforma do mercado de trabalho, competitividade, política fiscal, investigação e desenvolvimento são coisas que os banqueiros centrais não controlam". E tudo isso é do domínio dos políticos eleitos.»
(reprodução de artigo Expresso, com a referência identificada)
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[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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