As empresas
de hoje procuram no mercado indivíduos capazes de criar empresas e desenvolver
negócios, numa palavra, quem seja capaz de empreender. Este perfil tem
associado as ideias de capacidade de empenho num projecto, de assumpção de
responsabilidades e mesmo de correr riscos. Estas são as características que se
associam à figura do “Empreendedor”, sendo que este toma muitas vezes decisões
de forma intuitiva, isto é, sem que seja claro o resultado económico daí
decorrente.
A
tomada de decisão empresarial não é uma tarefa fácil. Tenha-se presente que
mais de 70% das empresas criadas vão à falência nos três primeiros anos de
vida. A empresa recém-formada confrontar-se-á com a ausência de um histórico de
vendas e a falta de reconhecimento por parte do cliente. Está assim em
desvantagem face às empresas implantadas no mercado. Resta-lhe, por isso, tirar
partido dos poucos dados de que dispõe (conjuntura económica, vendas dos
concorrentes). Nestas circunstâncias, o Empreendedor tem de agir de forma intuitiva,
isto é, sem poder suportar-se em estudos robustos.
A
importância da intuição está ligada à de percepção. Considere-se um “puzzle” onde
tudo parece encaixar-se. Neste contexto, o Empreendedor é alguém que, descartando
uma aproximação analítica, acaba por descobrir que, afinal, falta uma peça.
Também pode ser colocado na posição de alguém que “pensa fora da caixa”.
A
iniciativa empresarial suporta-se num certo quadro emocional, com expressão no
sentimento de confiança e na crença de capacidade de sobreviver no mercado que
informam a acção do Empreendedor. O caminho seguido por este reflecte os seus
valores, sentido de responsabilidade, desejo de autonomia e nível de tolerância
ao risco, e optimismo.
Estes
valores e sentimentos influenciam de forma diferente cada grupo social. Na
minha tese de Mestrado, supervisionada pelo Professor Pedro Pita Barros,
conclui que, em Portugal, o Empreendedor é orientado para tomadas de decisão
intuitivas quando a sua avaliação dos valores sociais e relações emocionais
estão acima das presentes noutros grupos.
Isto liga-se
com o porquê das empresas procurarem desenvolver uma identidade emocional e
culturas próprias, o que as leva a fazer testes de personalidade aquando do
recrutamento de colaboradores. Identificar que perfis se conectam melhor com os
existentes é uma componente da estratégia das organizações. No caso daqueles
sujeitos que escolhem trabalhar de forma independente, a sua acção é também
influenciada pelo respectivo perfil emocional, o qual decorre da respectiva
inserção social e características psico-sociais. Estes atributos
condicioná-los-ão nas suas tomadas de decisão.
Daqui
decorre que as instituições que apoiam os Empreendedores deverão ser capazes de
lhes fornecer ferramentas apropriadas para o desenvolvimento dos seus negócios.
A decisão intuitiva do Empreendedor, mediada pelos recursos de que possa dispor,
funcionará melhor se for apoiada por informação que lhe permita posicionar-se melhor
no mercado (sector de actividade, tipo de produto, faixa etária do cliente,
etc.).
É
também desejável que as instituições sociais, o estado e a população em geral
sejam capazes de oferecer aos mais novos condições para que eles se sintam
orgulhosos dos seus feitos e ambicionem chegar mais longe. Por outro lado, é
necessário que sejam levados a não temer o fracasso e que sejam capazes de
confiar nos outros (de acordo com o Global Entrepreneurship Monitor, Portugal é
dos países onde menos o Empreendedor cria relações de negócio com pessoas fora
do seu circulo íntimo). No longo prazo, tanto o apoio das instituições como o da
sociedade podem dar frutos em matéria de perfil emocional do Empreendedor.
José Pedro Cadima
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