O Instituto Nacional de Estatística (INE) teve a
simpatia de me fazer chegar há poucos dias o seu Anuário Estatístico de Portugal 2010 (INE, 2011). Foi para mim uma
oportunidade de voltar a olhar para alguns números onde se evidência a evolução
recente do país. Tendo vindo a trabalhar nos derradeiros tempos sobre a
problemática do turismo, foi sobre as estatísticas que se lhe referiam que a
minha atenção incidiu. Daí retirei a indicação de que:
i) “Em 2010
realizaram-se cerca de 15,4 milhões de viagens por motivos turísticos, o que
comparativamente com 2009 se traduziu em menos 14,8%, considerando as
deslocações realizadas para fora do ambiente habitual e que envolvam pelo menos
uma dormida” (INE, 2011, p. 520);
ii) “No mesmo
ano, o número de dormidas nas deslocações turísticas dos residentes somou cerca
de 68,1 milhões, menos 15% do que o verificado em 2009. Desse valor, cerca de
53,9 milhões corresponde a dormidas em território nacional” (INE, 2011, p.
521);
iii) “Do grupo
dos principais mercados emissores, os melhores resultados advieram do mercado
italiano (variação anual de +8,2%), do holandês (+3,05), do espanhol (+2,3%) e
do francês (+1,5%). Os restantes revelaram evoluções negativas” (INE, 2011, p.
519).
Mesmo que os números falem por si, os dados que se
invocam e a demais informação complementar constante da publicação do INE que
se invoca merece-me alguns comentários e chamadas de atenção, sobretudo porque
o país terá poucas alternativas ao sector turístico para se reposicionar no
trilho do desenvolvimento no futuro próximo. Isto, digo, em razão, por um lado,
da dotação de recursos de partida (existem inequívocas potencialidades neste
sector) e, por outro lado, por o turismo se apresentar como um dos motores do
crescimento das economias neste início de século, embora de forma diferenciada
consoante o segmento.
Ressaltando dos dados alinhados acima a importância
do sector em Portugal, que posiciona o país entre os primeiros 25 destinos
turísticos no mundo, desses mesmos dados emergem, também, a relevância do
mercado interno (43,6% das dormidas em alojamentos turísticos), em 2010, e o
comportamento dos principais mercados emissores externos. A este propósito,
importa anotar, particularmente, a redução verificada de turistas provindos de
alguns deles e, por outro lado, a fragilidade que se deduz de ter entre os
mercados que mais cresceram no referido ano os países que constam da lista
apresentada. Não terá passado despercebido, igualmente, o contexto de perda (de
turistas e de dormidas) vivido já em 2010.
Explicitando melhor argumentos, queremos sublinhar
que, no actual contexto de redução de rendimentos enfrentada por grande parte
das famílias portuguesas, em razão do peso que toma o turismo interno, o sector
não poderia (não poderá) sair incólume, isto é, tenderá a contribuir para o
avolumar do quadro recessivo que a economia vive. Note-se, por outro lado, a
presumível insustentabilidade do crescimento da procura com base nos mercados
emissores que registaram os melhores desempenhos relativos no ano 2010.
Provavelmente, os dados respeitantes ao ano de 2011 já deixarão isso patente
mas, mesmo não estando publicados, bastará olhar com atenção para essa lista de
países para resultar óbvia essa expectativa. Itália, Espanha, Holanda e, até,
França estão longe de enfrentar boas conjunturas económicas, sendo difícil
antecipar quando retomarão um ciclo consolidado de crescimento.
Os mais atentos, terão entretanto notado a ausência
entre os mercados emissores de turistas que apresentaram bons desempenhos no
ano de 2010 do Reino Unido e da Alemanha, em especial, dois dos países que integram
o “top” das origens de turistas que o país acolhe. Se no caso do Reino Unido as
dificuldades que aquela economia atravessa poderão estar por detrás desse
resultado, já no caso da Alemanha será necessário ter presente outras razões, a
começar pela atractividade de destinos alternativos, isto é, poderemos estar
perante desvios de procura para outros mercados.
Num caso e noutro, ressalta daqui a necessidade das
entidades gestores do turismo português se manterem atentas às preferências
(dinâmicas) dos consumidores e desenvolverem políticas activas que assegurem a
atractividade e qualidade dos produtos que o país oferece ou tem capacidade
para oferecer.
(artigo de opinião publicado na edição de 2012/04/05 do Jornal de Leiria)
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