Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

quinta-feira, abril 05, 2012

Anuário estatístico de Portugal 2010: alguns dados sobre o turismo

O Instituto Nacional de Estatística (INE) teve a simpatia de me fazer chegar há poucos dias o seu Anuário Estatístico de Portugal 2010 (INE, 2011). Foi para mim uma oportunidade de voltar a olhar para alguns números onde se evidência a evolução recente do país. Tendo vindo a trabalhar nos derradeiros tempos sobre a problemática do turismo, foi sobre as estatísticas que se lhe referiam que a minha atenção incidiu. Daí retirei a indicação de que:
i)     “Em 2010 realizaram-se cerca de 15,4 milhões de viagens por motivos turísticos, o que comparativamente com 2009 se traduziu em menos 14,8%, considerando as deslocações realizadas para fora do ambiente habitual e que envolvam pelo menos uma dormida” (INE, 2011, p. 520);
ii)   “No mesmo ano, o número de dormidas nas deslocações turísticas dos residentes somou cerca de 68,1 milhões, menos 15% do que o verificado em 2009. Desse valor, cerca de 53,9 milhões corresponde a dormidas em território nacional” (INE, 2011, p. 521);
iii)  “Do grupo dos principais mercados emissores, os melhores resultados advieram do mercado italiano (variação anual de +8,2%), do holandês (+3,05), do espanhol (+2,3%) e do francês (+1,5%). Os restantes revelaram evoluções negativas” (INE, 2011, p. 519).
Mesmo que os números falem por si, os dados que se invocam e a demais informação complementar constante da publicação do INE que se invoca merece-me alguns comentários e chamadas de atenção, sobretudo porque o país terá poucas alternativas ao sector turístico para se reposicionar no trilho do desenvolvimento no futuro próximo. Isto, digo, em razão, por um lado, da dotação de recursos de partida (existem inequívocas potencialidades neste sector) e, por outro lado, por o turismo se apresentar como um dos motores do crescimento das economias neste início de século, embora de forma diferenciada consoante o segmento.
Ressaltando dos dados alinhados acima a importância do sector em Portugal, que posiciona o país entre os primeiros 25 destinos turísticos no mundo, desses mesmos dados emergem, também, a relevância do mercado interno (43,6% das dormidas em alojamentos turísticos), em 2010, e o comportamento dos principais mercados emissores externos. A este propósito, importa anotar, particularmente, a redução verificada de turistas provindos de alguns deles e, por outro lado, a fragilidade que se deduz de ter entre os mercados que mais cresceram no referido ano os países que constam da lista apresentada. Não terá passado despercebido, igualmente, o contexto de perda (de turistas e de dormidas) vivido já em 2010.
Explicitando melhor argumentos, queremos sublinhar que, no actual contexto de redução de rendimentos enfrentada por grande parte das famílias portuguesas, em razão do peso que toma o turismo interno, o sector não poderia (não poderá) sair incólume, isto é, tenderá a contribuir para o avolumar do quadro recessivo que a economia vive. Note-se, por outro lado, a presumível insustentabilidade do crescimento da procura com base nos mercados emissores que registaram os melhores desempenhos relativos no ano 2010. Provavelmente, os dados respeitantes ao ano de 2011 já deixarão isso patente mas, mesmo não estando publicados, bastará olhar com atenção para essa lista de países para resultar óbvia essa expectativa. Itália, Espanha, Holanda e, até, França estão longe de enfrentar boas conjunturas económicas, sendo difícil antecipar quando retomarão um ciclo consolidado de crescimento.
Os mais atentos, terão entretanto notado a ausência entre os mercados emissores de turistas que apresentaram bons desempenhos no ano de 2010 do Reino Unido e da Alemanha, em especial, dois dos países que integram o “top” das origens de turistas que o país acolhe. Se no caso do Reino Unido as dificuldades que aquela economia atravessa poderão estar por detrás desse resultado, já no caso da Alemanha será necessário ter presente outras razões, a começar pela atractividade de destinos alternativos, isto é, poderemos estar perante desvios de procura para outros mercados.
Num caso e noutro, ressalta daqui a necessidade das entidades gestores do turismo português se manterem atentas às preferências (dinâmicas) dos consumidores e desenvolverem políticas activas que assegurem a atractividade e qualidade dos produtos que o país oferece ou tem capacidade para oferecer.

 J. Cadima Ribeiro

(artigo de opinião publicado na edição de 2012/04/05 do Jornal de Leiria)

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