Do que conhece da região de Leiria, quais
as suas potencialidades?
Confesso que conheço muito menos do que gostaria. Já levo cerca de 30 anos de
afastamento da realidade económica, social e política. O que vou seguindo é
pelos jornais e por visitas muito esporádicas à família. Há potencialidades
iniludíveis associadas à história e à dinâmica mais recente da indústria, ao
seu património natural e construído, ao posicionamento geográfico, devido à
proximidade a Lisboa e, consequentemente, a importantes infra-estruturas
portuárias e aeroportuárias, e à iniciativa empresarial.
Que fraquezas deveriam ser trabalhadas?
Uma coisa são recursos, outra são capacidades operativas, concretização de
projectos. Do que vou vendo e percebendo, parece haver uma enorme falta de clareza
de projecto ou de estratégia, se é que chega a haver projecto de
desenvolvimento para este território. Os agentes sugerem-se dispersos e
amarradas a estratégias do foro individual. Há, adicionalmente, falta de escala
nas intervenções que vão sendo conduzidas e falta de liderança. A relativa
fluidez das “fronteiras” do território também não facilita nem a aquisição de
massa critica nem a definição das necessárias lideranças sociais e políticas.
Parece-me essencial que se pegue na própria malha urbana que é suporte do
território e se procure perceber-lhe o potencial estruturador e coerência
funcional.
Por que é que pensa que falta
liderança em Leiria?
Tenho má opinião sobre a gestão política desse território. Os políticos estão,
de forma genérica, muito virados para o seu umbigo. Existe muito pouco o
sentimento de território. Aliás, a utilização do termo 'região de Leiria'
causa-me algum embaraço. Se estamos a falar de Leiria enquanto concelho, não é
região nenhuma. Enquanto distrito, é falar de uma unidade
político-administrativa que é relativamente artificial do ponto de vista da
identificação das comunidades. Não existe nenhum conceito histórico ou cultural
de região associado a Leiria. A imagem que tenho é a de posturas desgarradas,
ausência de identidade forte e, claramente, de liderança. Quando falo de
liderança, não é focalizada numa pessoa. É antes de uma elite, da convergência
de um grupo de pessoas, que têm pontos comuns de visão sobre o desenvolvimento
do território e lutam no mesmo sentido. Dos contactos que tenho com Leiria, não
me apercebi que tivesse havido um esforço sério para chegar a esse projecto, a
essa liderança. Mas é uma percepção obtida por quem está fora, pode não ser
assim.
Tem-se assistido ao abandono do País por
parte de várias multinacionais. De que forma se pode contrariar esta tendência?
Este abandono prende-se com as estratégias competitivas das empresas que operam
em mercados globais e com as oportunidades em matéria de custos, de acesso a
recursos naturais, mercados, redes logísticas e a capital humano que se vão
revelando nos diferentes contextos económicos. As razões que podem trazer novos
investimentos externos a Portugal são necessariamente diferentes daquelas que
os trouxeram no passado. O que se pode fazer? Pode-se investir mais em
qualificação dos recursos humanos. Pode-se apostar muito mais no
desenvolvimento do sistema científico e tecnológico, requalificar o território
e dotar o País de infra-estruturas diversas, incluindo as logísticas e as
associadas à potenciação do País em matéria de turismo e lazer. Pode-se
aproveitar bem melhor as relações históricas e culturais que Portugal mantém
com muitas partes do mundo e potenciar a partir daí parcerias empresariais que
possamos aproveitar para chegar a novos mercados e criarmos empregos em
Portugal. Pode-se dar eficiência à máquina burocrática que regula o
funcionamento das empresas e da Economia, ser-se bastante mais célere e
esclarecido nos processos de negociação com os operadores internacionais
interessados e fomentar uma relação mais próxima entre o sistema científico e
tecnológico e as empresas.
(Excerto de entrevista dada à jornalista Lurdes Trindade, do Jornal de Leiria, em 2007)
Sem comentários:
Enviar um comentário