Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

quinta-feira, setembro 13, 2007

O economista e a sua formação: algumas considerações (II)

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Conforme foi já suficientemente sublinhado nos parágrafos precedentes, quando se considera, hoje em dia, o exercício profissional do economista ou quando se invoca a problemática da gestão e do desenvolvimento de um território, país ou região, as questões da abertura da sua economia e da respectiva inserção na divisão internacional do trabalho não podem deixar de estar presentes. Não é por acaso que se considera que o tempo que atravessamos é o da globalização dos mercados. O que também quer dizer que um consumidor remoto pode ser mais importante que o cliente próximo.
São peças da dita globalização, entre outras, as seguintes: i) a concorrência transnacional, que traz associada ou se suporta em ganhos de escala, economias de custos de mão-de-obra e em dumpings sociais; ii) a liberalização do comércio mundial, com as correspondentes redução de tarifas e eliminação de contingentes; iii) a desregulação da economia, isto é, a redução da intervenção dos Estados (Ribeiro e Santos, 2006).
Esta dinâmica vai a par de outra onde se conjugam as atitudes e desejos dos consumidores e as estratégias de negócio das empresas, marcada i) pela crescente segmentação dos mercados (produtos light; produtos ecológicos), ii) pelo aumento do rendimento e aparecimento de novos grupos de consumidores (crianças/jovens; idosos; consumos apoiados no crédito), iii) pela afirmação de ciclos de vida dos produtos mais curtos e desfasados entre países/regiões e iv) pela valorização pelo consumidor de factores dinâmicos da competitividade como a marca, o design, a qualidade, a personalização do produto, o serviço pós-venda.
É este contexto e esta dinâmica das economias e das sociedades, como um todo, que dão substância aos reptos em matéria de desempenho e de formação a que se reportava João F. Proença na passagem das declarações já transcritas: (hoje, o economista) “tem que evidenciar que sabe, que sabe fazer e que sabe ser, o que para além de conhecimentos específicos exige competências comportamentais.” (Proença, 2007, p.11); “Hoje, é muito difícil exercer a profissão de economista sem o domínio de competências específicas de áreas disciplinares próximas como a gestão […] e sem acesso a teorias, métodos e técnicas de outras áreas do conhecimento, particularmente da psicologia e da sociologia, do direito e da ciência política, da matemática e da informática, entre outras.” (Proença, 2007, p.11). É que as respostas que os técnicos têm que dar são as que lhe são postas pelo funcionamento dos mercados (economias nacionais, empresas, organizações concretas) e, além do mais, têm que visar a eficiência no uso dos recursos e a eficácia nos resultados.
E é neste cenário, igualmente, que as soluções em matéria de formação dos profissionais dos diversos ofícios têm que ser encontradas, percebendo-se do que se adianta acima sobre a evolução dos mercados, das técnicas de produção e de comunicação e das atitudes de consumidores que essas respostas deverão surgir cada vez mais do trabalho de equipas pluridisciplinares e cada vez menos da acção isolada do economista ou do responsável pelo operador global de que se fala.
A esta luz não se questiona a urgência da reforma das instituições de ensino superior e dos curricula dos cursos, a pretexto ou não da chamada “Declaração de Bolonha”. O que se questiona é se há espaço para uma Bolonha à portuguesa.»
J. Cadima Ribeiro
(extracto de comunicação, intitulada "Ser economista hoje, em Portugal. O que mudou com a implementação da Declaração de Bolonha", a ser presente no 2º Congresso Nacional dos Economistas, Ordem dos Economistas, que decorrerá a 11 e 12 de Outubro de 2007, no Centro de Congressos de Lisboa)

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