Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

quinta-feira, setembro 18, 2008

Factos, intensões e marketing político (versão 0)

Revista EXAME – resposta a questão da jornalista Sónia Lourenço (sonial@edimpresa.pt), datada de 08/08/29

P:
Se o Governo tem vindo a anunciar tantos projectos de investimento directo estrangeiro (IDE) em Portugal, porque é que o IDE caiu para menos de metade em 2007 face a 2006?

R: Quando falamos de IDE estamos a referir-nos a uma realidade complexa, que considera desde aplicações na indústria transformadora, em serviços diversos, até investimentos nos sectores imobiliário e do turismo. Algumas destas aplicações são muito sensíveis às perspectivas de evolução dos mercados e às oportunidades surgidas em realidades alternativas. Vem de 2007 a alteração das expectativas de crescimento da economia americana e, em menor grau, da economia europeia e a convicção de que a economia portuguesa manteria por mais algum tempo um fraco desempenho. A esta luz, não tem que surpreender a fraca capacidade de captação de IDE que o país vem revelando.
Outra coisa são os anúncios do governo português, confrontado com a letargia que a economia atravessa e a necessidade que tem de apresentar resultados no horizonte temporal balizado pelas eleições de 2009. Se, por um lado, o seu discurso deve ser parte no processo de alteração das expectativas dos agentes económicos e das famílias, por outro, pintar cor de rosa o cenário é uma tentação, até para escamotear a responsabilidade que tem no medíocre desempenho económico verificado.
Não traz nada de novo em termos de prática política multiplicar os anúncios de sucesso, seja na captação de IDE ou noutra vertente qualquer. Para mais, a instalação de um novo hotel ou de uma unidade industrial da natureza da Infineon ou da Auto-Europa têm impactes e escalas completamente distintas. Quero eu dizer que anúncios sempre se podem fazer sem fugir inteiramente à verdade. Aparte isso, em qualquer decisão de investimento, uma coisa é o momento da negociação das contrapartidas públicas de que o investimento vai beneficiar, outra o momento em que a decisão é tomada e outra,ainda, o do investimento, propriamente dito.
Concluindo: as duas dimensões enunciadas na questão colocada dificilmente têm correlação, isto é, uma delas são factos e outra são intenções e marketing político.

J. Cadima Ribeiro

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