Resposta a questões colocadas por L.F.O. e E.A.B., estudantes brasileiros a realizar estudos na EEG, Universidade do Minho, no presente semestre lectivo, no quadro de programa de intercâmbio
P: Em que é que a actual crise financeira mundial afecta a economia portuguesa?
R: A economia portuguesa atravessa um período de estagnação económica que se arrasta desde 2002, que constituirá o mais longo período de ausência de progresso económico na sua história desde há muitas décadas. Para esta situação conjugam-se problemas estruturais por resolver, enquadramentos económicos externos penalizadores da especialização produtiva nacional e erros graves de estratégia e de gestão económica dos últimos governos de que o país dispôs. Nos últimos três anos, depois de controlados desequilíbrios importantes nalgumas variáveis económicas, nomeadamente nas contas públicas (défices nos orçamento de Estado), o governo português tinha a expectativa que os anos de 2008 e 2009 fossem já de recuperação, o que esta crise veio pôr drasticamente em causa.
A crise sentida nos mercados financeiros está a manifestar-se em Portugal de diferentes formas. A mais demolidora decorre do abrandamento radical dos principais mercados de destino das mercadorias e serviços vendidos pelo país, inviabilizando fazer das exportações o motor do crescimento do PIB português, como vinha sendo feito e estava pensado pelo governo português em funções. Isso pode constatar-se lendo os orçamentos de Estado dos últimos anos. Essa crise vivida por alguns dos principais parceiros económicos de Portugal, particularmente da Espanha, vai também trazer fortes consequências em matéria de desemprego, já que se conhece o número importante de trabalhadores portugueses aí a trabalhar, para empresas locais ou para empresas portuguesas a operam nesses destinos, muitas delas em regime de subcontratação.
Uma outra vertente desta crise ‘importada’ dos EUA vem-se exprimindo directamente nos mercados financeiros, pela grande incerteza que trouxe, com consequência na subida da Euribor, taxa de juro de referência do custo do crédito na Europa, e que em Portugal é usada para “indexar” o crédito à habitação. O seu impacto nas famílias é proporcional ao número dos que entretanto contraíram dívidas para pagar casa própria e que é em número muito elevado. Isso está a reflectir-se no número de situações de insolvabilidade das famílias e de capacidade aquisitiva destas, visível nas compras quotidianas das famílias no comércio a retalho.
A falta de liquidez que se sentiu (e ainda se sente), e cuja solução encontrada pelo BCE foi a diminuição da taxa de desconto no espaço europeu (eurozona), está também a afectar as empresas, que encontram crescente dificuldade para se financiar junto do sistema bancário. De forma a atenuar este efeito, o governo português, à semelhança dos governos de outros países Europeus, tomou diversas medidas, de que se destacam:
i) a disponibilização de uma garantia sobre os depósitos existentes nos bancos a operar em território nacional no valor de 20 mil milhões de euros, para accionar em caso de crise dos bancos. Uma consequência lateral desta medida destinada a manter a confiança dos depositantes nos bancos foi a nacionalização entretanto ocorrida de uma pequena instituição financeira nacional (o Banco Português de Negócios), que entrou em ruptura por razões alheias à crise internacional;
ii) a decisão de efectuar o pagamento das suas dívidas (do Estado, entenda-se) às empresas, que atingem já o montante de cerca de 2% do produto português. Espera-se que esta medida vá impulsionar a economia, contrariando os problemas de liquidez que se fazem sentir e impulsionando os negócios e, nalguma medida, a procura interna.
Finalmente, a crise financeira e económica que se faz sentir pode levar ao adiamento do lançamento de alguns projectos públicos de maior dimensão, no domínio aeroportuário e ferroviário, em razão da escassez de recursos do Estado e dos eventuais parceiros de potenciais parcerias públicas-privados. Nesta altura, isso é já, pelo menos, fonte de grande controvérsia política, nalguns casos com maior razão noutros sem qualquer razão técnico-financeira. Este eventual adiamento de investimentos, aparte impactos que pudesse gerar na competitividade geral do país, pode, ele também, debilitar a componente de política anti-cíclica que o governo tinha projectado (se bem que, verosimilmente, muito mais preocupado com os resultados eleitorais de possa ter nas eleições que se vão realizar em 2009 do que um projecto sério de relançamento da economia portuguesa).
Braga, 10 de Novembro de 2008
J. Cadima Ribeiro
P: Em que é que a actual crise financeira mundial afecta a economia portuguesa?
R: A economia portuguesa atravessa um período de estagnação económica que se arrasta desde 2002, que constituirá o mais longo período de ausência de progresso económico na sua história desde há muitas décadas. Para esta situação conjugam-se problemas estruturais por resolver, enquadramentos económicos externos penalizadores da especialização produtiva nacional e erros graves de estratégia e de gestão económica dos últimos governos de que o país dispôs. Nos últimos três anos, depois de controlados desequilíbrios importantes nalgumas variáveis económicas, nomeadamente nas contas públicas (défices nos orçamento de Estado), o governo português tinha a expectativa que os anos de 2008 e 2009 fossem já de recuperação, o que esta crise veio pôr drasticamente em causa.
A crise sentida nos mercados financeiros está a manifestar-se em Portugal de diferentes formas. A mais demolidora decorre do abrandamento radical dos principais mercados de destino das mercadorias e serviços vendidos pelo país, inviabilizando fazer das exportações o motor do crescimento do PIB português, como vinha sendo feito e estava pensado pelo governo português em funções. Isso pode constatar-se lendo os orçamentos de Estado dos últimos anos. Essa crise vivida por alguns dos principais parceiros económicos de Portugal, particularmente da Espanha, vai também trazer fortes consequências em matéria de desemprego, já que se conhece o número importante de trabalhadores portugueses aí a trabalhar, para empresas locais ou para empresas portuguesas a operam nesses destinos, muitas delas em regime de subcontratação.
Uma outra vertente desta crise ‘importada’ dos EUA vem-se exprimindo directamente nos mercados financeiros, pela grande incerteza que trouxe, com consequência na subida da Euribor, taxa de juro de referência do custo do crédito na Europa, e que em Portugal é usada para “indexar” o crédito à habitação. O seu impacto nas famílias é proporcional ao número dos que entretanto contraíram dívidas para pagar casa própria e que é em número muito elevado. Isso está a reflectir-se no número de situações de insolvabilidade das famílias e de capacidade aquisitiva destas, visível nas compras quotidianas das famílias no comércio a retalho.
A falta de liquidez que se sentiu (e ainda se sente), e cuja solução encontrada pelo BCE foi a diminuição da taxa de desconto no espaço europeu (eurozona), está também a afectar as empresas, que encontram crescente dificuldade para se financiar junto do sistema bancário. De forma a atenuar este efeito, o governo português, à semelhança dos governos de outros países Europeus, tomou diversas medidas, de que se destacam:
i) a disponibilização de uma garantia sobre os depósitos existentes nos bancos a operar em território nacional no valor de 20 mil milhões de euros, para accionar em caso de crise dos bancos. Uma consequência lateral desta medida destinada a manter a confiança dos depositantes nos bancos foi a nacionalização entretanto ocorrida de uma pequena instituição financeira nacional (o Banco Português de Negócios), que entrou em ruptura por razões alheias à crise internacional;
ii) a decisão de efectuar o pagamento das suas dívidas (do Estado, entenda-se) às empresas, que atingem já o montante de cerca de 2% do produto português. Espera-se que esta medida vá impulsionar a economia, contrariando os problemas de liquidez que se fazem sentir e impulsionando os negócios e, nalguma medida, a procura interna.
Finalmente, a crise financeira e económica que se faz sentir pode levar ao adiamento do lançamento de alguns projectos públicos de maior dimensão, no domínio aeroportuário e ferroviário, em razão da escassez de recursos do Estado e dos eventuais parceiros de potenciais parcerias públicas-privados. Nesta altura, isso é já, pelo menos, fonte de grande controvérsia política, nalguns casos com maior razão noutros sem qualquer razão técnico-financeira. Este eventual adiamento de investimentos, aparte impactos que pudesse gerar na competitividade geral do país, pode, ele também, debilitar a componente de política anti-cíclica que o governo tinha projectado (se bem que, verosimilmente, muito mais preocupado com os resultados eleitorais de possa ter nas eleições que se vão realizar em 2009 do que um projecto sério de relançamento da economia portuguesa).
Braga, 10 de Novembro de 2008
J. Cadima Ribeiro
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