Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

quarta-feira, setembro 19, 2012

A esperança falhada…

Como podem os governantes portugueses convencer-me de que com mais austeridade poderemos aspirar a salvar a nossa economia e vê-la crescer num futuro próximo?
Não passam de balelas! Ao visitar a Finlândia neste Setembro quente de 2012, depois de em Agosto ter ido à Alemanha, só posso ter a certeza de que estão a brincar connosco ou, então, são tão “experimentalistas” que nem sabem bem o que estão a afirmar de forma tão veemente!
Ao assumir de forma tão irreflectida a austeridade, estão a camuflar inúmeros problemas inerentes à cultura portuguesa e que sobressaem quando visitamos outros países muito mais avançados que nunca conseguiremos alcançar, como, por exemplo, a Finlândia. Este país, que alberga um povo que é metade da população do nosso país consegue viver em grande harmonia com a natureza. E respeita essa mesma natureza. Vive de uma forma simples e poupa muito tempo porque é muito organizado. Poderão alguns afirmar que são demasiado organizados, mas isso é de tal forma vantajoso que se dão ao luxo de começar cedo a jornada de trabalho, fazerem duas pequenas pausas no dia de trabalho para beber café ou chá, almoçarem em meia-hora (um almoço mais leve do que o nosso) e sair cedo do local de trabalho, pelas 16 horas (alguns mais cedo), a tempo de vivenciar a sua vida familiar.
Não perdem tempo nos corredores a conversar na jornada de trabalho. Cada um desenvolve as sua tarefas e encontra-se com os outros na pequena pausa que fazem.
Por outro lado, enquanto em Portugal assistimos a um colapso do ensino, com milhares de alunos com dificuldades em assegurar a sua continuidade numa Universidade, na Finlândia os estudantes têm direito a 500 euros mensais dados pelo Governo, durante cerca de 5 anos para poderem fazer um Curso superior e um mestrado. Acresce ainda que não têm de pagar propinas. O ensino é gratuito. Como conseguimos competir com um sistema destes? É impossível.
Acresce ainda que o staff das universidades é completo. Uns dedicam-se à parte mais técnica (organizam os cursos, organizam os centros de investigação,…), outros dão sobretudo aulas e são equipas multidisciplinares. Por exemplo, um informático ajuda muito num departamento de ciências sociais… Têm dinheiro para a investigação e para desenvolver projectos. E dizem eles que agora as coisas estão pior por causa da crise internacional!...
Decidi que quando for grande quero ser finlandesa!... Ainda que esperem que eu seja muito organizada e dedicada ao trabalho, terei tempo para a minha família, viverei junto de um dos 188.000 lagos ou numa das 179.000 ilhas existentes, numa simples casa de madeira, com todo o conforto interior de que necessitarei. Terei um bonito jardim e a minha casa será cercada apenas por sebes naturais (sem muros, nem grades), pois sei que viverei em segurança. Terei um baloiço e um escorrega para os meus filhos brincarem. Pertencerei ao grupo de mulheres das mais emancipadas do planeta Terra e poderei estudar sem me preocupar com as propinas que me pedem em cada ano lectivo. Poderei ser professora, pois terei tempo para fazer investigação e tentar publicar nas revistas internacionais mais prestigiadas. Tentarei adaptar-me ao clima, seguramente um dos poucos handicaps da Finlândia… Serei uma cidadã activa, assinando petições que os políticos consideram quando pensam em demolir algum edifício antigo… Nessa altura, quando quiser ser finlandesa, nunca mais me recordarei que um dia tentei ser portuguesa, mas que a esperança acabou por sair falhada…

Paula Cristina Remoaldo

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