[António Guimarães Pimenta, Banca e Empresas: Parceiros? Contributos para um melhor
relacionamento dos bancos com os seus clientes, Edição Vida Económica, Porto, 2012, 238 págs.]
Um comentário:
I- o que o livro não é:
- um livro académico (não
contém uma revisão da literatura teórica e empírica sobre a matéria que versa;
apresenta algumas deficiências de notação por referência àquilo que é habitual
encontrar-se num trabalho de índole académica; há alguns termos usados,
nomeadamente em língua inglesa, que não aparecem suficientemente explicados);
- não é um livro de ficção
(embora recorra a alguns soluções de comunicação para posicionar as
problemáticas que trata que associamos a este estilo literário, embora isso nem
sempre funcione no sentido de atrair o leitor e fixar a respectiva atenção,
nomeadamente porque são um pouco monótonas).
II- o que o livro é:
- um testemunho de vida
(experiência) “de um quadro bancário” (António Tomás Correia, Prefácio, p. 5);
- um relato de experiências
de um “Director que trabalhou num Banco de Pessoas para Pessoas” (António Tomás
Correia, Prefácio, p. 6);
- um repositório de
reflexões sobre uma experiência de vida e de trabalho centrado nas “relações
entre gerentes e gestores bancários e os pequenos e médios empresários”,
informado por uma
experiência de vida que permitiu ao seu autor “reconhecer (o progressivo)
enviesamento e a desumanização daquelas relações” (José António Barros, Nota de Apresentação, p. 8),
já que “Tudo parece ter
mudado, menos as funções principais dos bancos” (António Guimarães Pimenta, Apresentação, p. 9);
- um repositório de
reflexões sobre uma experiência de vida e de trabalho e os valores que informam
a realidade social actual, de que retira, entre outras ilações, as seguintes:
i)
“A
melhor solução não é incompatível, bem pelo contrário, com o respeito pelo
crédito saudável e pelo comportamento ético – o reconhecimento destes
princípios concorre para a fidelização dos clientes” (António Guimarães
Pimenta, Apresentação, p. 10);
ii)
“Os
bancos não podem usar nas suas decisões os critérios rígidos do risco, como
parece estar a acontecer em vários casos […] Não tendo participação importante
(nas decisões, entenda-se), os responsáveis dos balcões tendem à desmotivação,
reconhecendo a pouca relevância das suas opiniões e, compreensivelmente,
reduzem o acompanhamento das empresas” (António Guimarães Pimenta,
Apresentação, p. 11); e (consistentemente),
iii)
“as
soluções não podem ter como base uma receita; têm de ser ajustadas a cada caso
concreto” (António Guimarães Pimenta, Apresentação,
p. 12).
Estamos
aqui a falar da concessão de crédito e outras operações bancárias mas
poderíamos estar a falar da gestão de territórios e da governação do país, como
dramaticamente tem sido evidenciado nos últimos meses e, particularmente, nas
últimas semanas, com decisões tomadas e anúncio de previsões de evolução
económica distanciadas da realidade e que os próprios agentes que as anunciam
vêm desmentir pouco tempo depois; algumas vezes, poucas semanas ou dias depois.
Não
basta, de facto, ter lido os livros (aqueles que os leram, porque é bem
conhecido que há também quem nunca os leu). É preciso ser capaz de interpretar
a realidade, comunicar com ela (isto é com a realidade vivida pelos agentes
económicos e sociais, e as famílias), ser capaz de admitir o erro ou a
inadequação dos instrumentos de política (financeiros ou outros) que estão
disponíveis para intervir num certo contexto ou caso.
A
esta luz, é bem pertinente a afirmação do autor do livro (António Guimarães
Pimenta, Apresentação, p. 12) de que
os bancos que se orientam para os pequenos negócios têm que adoptar um
posicionamento de relação, de acompanhamento próximo, por parte dos gerentes e
gestores dos clientes”. Mas, isto dito, porque é que se põe em dúvida que não
tenha que ser essa também a postura dos decisores das políticas económicas que
vão sendo adoptadas para o país? Alguém concebe o sucesso de políticas (e
decisões) que não levem em devida conta a realidade social e económico-financeira
das empresas e das famílias e se alheiem da respectiva sensibilidade e
disponibilidade de comprometimento?
III-
Ideias (soltas) que
destacaria:
i)
“Uma
decisão é ética quando não é abusiva em relação ao outro`” (António Guimarães
Pimenta, cap.4, p. 34);
ii)
“O
gestor do processo, sendo responsabilizado pessoalmente, permite a redução
substancial das falhas e a melhora nas relações com os clientes” (António
Guimarães Pimenta, cap.7, p. 58);
iii)
“os
gerentes e gestores têm que ter competências delegadas que lhes permitam
decidir numa percentagem elevada de situações” (António Guimarães Pimenta, cap.9,
p. 71);
iv)
“as
empresas devem ser analisadas de acordo com as suas diversas fases de vida, de
desenvolvimento” (António Guimarães Pimenta, cap.10, p. 78).
Braga,
21 de Fevereiro de 2013
J. Cadima Ribeiro
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