Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

"Banca e Empresas: Parceiros? Contributos para um melhor relacionamento dos bancos com os seus clientes"

[António Guimarães Pimenta, Banca e Empresas: Parceiros? Contributos para um melhor relacionamento dos bancos com os seus clientes, Edição Vida Económica, Porto, 2012, 238 págs.]

Um comentário:

I-     o que o livro não é:

- um livro académico (não contém uma revisão da literatura teórica e empírica sobre a matéria que versa; apresenta algumas deficiências de notação por referência àquilo que é habitual encontrar-se num trabalho de índole académica; há alguns termos usados, nomeadamente em língua inglesa, que não aparecem suficientemente explicados);

- não é um livro de ficção (embora recorra a alguns soluções de comunicação para posicionar as problemáticas que trata que associamos a este estilo literário, embora isso nem sempre funcione no sentido de atrair o leitor e fixar a respectiva atenção, nomeadamente porque são um pouco monótonas).
II- o que o livro é:

- um testemunho de vida (experiência) “de um quadro bancário” (António Tomás Correia, Prefácio, p. 5);

- um relato de experiências de um “Director que trabalhou num Banco de Pessoas para Pessoas” (António Tomás Correia, Prefácio, p. 6);

- um repositório de reflexões sobre uma experiência de vida e de trabalho centrado nas “relações entre gerentes e gestores bancários e os pequenos e médios empresários”,
informado por uma experiência de vida que permitiu ao seu autor “reconhecer (o progressivo) enviesamento e a desumanização daquelas relações” (José António Barros, Nota de Apresentação, p. 8),
já que “Tudo parece ter mudado, menos as funções principais dos bancos” (António Guimarães Pimenta, Apresentação, p. 9);

- um repositório de reflexões sobre uma experiência de vida e de trabalho e os valores que informam a realidade social actual, de que retira, entre outras ilações, as seguintes:

i)            “A melhor solução não é incompatível, bem pelo contrário, com o respeito pelo crédito saudável e pelo comportamento ético – o reconhecimento destes princípios concorre para a fidelização dos clientes” (António Guimarães Pimenta, Apresentação, p. 10);

ii)          “Os bancos não podem usar nas suas decisões os critérios rígidos do risco, como parece estar a acontecer em vários casos […] Não tendo participação importante (nas decisões, entenda-se), os responsáveis dos balcões tendem à desmotivação, reconhecendo a pouca relevância das suas opiniões e, compreensivelmente, reduzem o acompanhamento das empresas” (António Guimarães Pimenta, Apresentação, p. 11); e (consistentemente),

iii)       “as soluções não podem ter como base uma receita; têm de ser ajustadas a cada caso concreto” (António Guimarães Pimenta, Apresentação, p. 12).

Estamos aqui a falar da concessão de crédito e outras operações bancárias mas poderíamos estar a falar da gestão de territórios e da governação do país, como dramaticamente tem sido evidenciado nos últimos meses e, particularmente, nas últimas semanas, com decisões tomadas e anúncio de previsões de evolução económica distanciadas da realidade e que os próprios agentes que as anunciam vêm desmentir pouco tempo depois; algumas vezes, poucas semanas ou dias depois.

Não basta, de facto, ter lido os livros (aqueles que os leram, porque é bem conhecido que há também quem nunca os leu). É preciso ser capaz de interpretar a realidade, comunicar com ela (isto é com a realidade vivida pelos agentes económicos e sociais, e as famílias), ser capaz de admitir o erro ou a inadequação dos instrumentos de política (financeiros ou outros) que estão disponíveis para intervir num certo contexto ou caso.

A esta luz, é bem pertinente a afirmação do autor do livro (António Guimarães Pimenta, Apresentação, p. 12) de que os bancos que se orientam para os pequenos negócios têm que adoptar um posicionamento de relação, de acompanhamento próximo, por parte dos gerentes e gestores dos clientes”. Mas, isto dito, porque é que se põe em dúvida que não tenha que ser essa também a postura dos decisores das políticas económicas que vão sendo adoptadas para o país? Alguém concebe o sucesso de políticas (e decisões) que não levem em devida conta a realidade social e económico-financeira das empresas e das famílias e se alheiem da respectiva sensibilidade e disponibilidade de comprometimento?

III-         Ideias (soltas) que destacaria:

i)            “Uma decisão é ética quando não é abusiva em relação ao outro`” (António Guimarães Pimenta, cap.4, p. 34);

ii)          “O gestor do processo, sendo responsabilizado pessoalmente, permite a redução substancial das falhas e a melhora nas relações com os clientes” (António Guimarães Pimenta, cap.7, p. 58);

  iii)             “os gerentes e gestores têm que ter competências delegadas que lhes permitam decidir numa percentagem elevada de situações” (António Guimarães Pimenta, cap.9, p. 71);

iv)        “as empresas devem ser analisadas de acordo com as suas diversas fases de vida, de desenvolvimento” (António Guimarães Pimenta, cap.10, p. 78).

Braga, 21 de Fevereiro de 2013

J. Cadima Ribeiro

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