1. Afastado que estou do quotidiano de Leiria, tomando o conceito em acepção ampla, a ligação afectiva que mantenho com este território leva-me a olhar com curiosidade para os dados que me vão chegando, acabando surpreendido pelo contraponto que se me oferece existir entre o sucesso económico que vai alcançando e a inexistência de um projecto (colectivo).
2. Uma ilustração ainda recente da realidade a que aludo pode ser encontrada no “Índice Sintético de Desenvolvimento Regional”, onde, no “índice global” o Pinhal Litoral, unidade estatística onde se integra Leiria, aparece na 2ª posição. Ladeando a NUT III Pinhal Litoral encontramos a Grande Lisboa, em expectável 1º lugar, e o Baixo Vouga.
3. O desempenho que identifico foi alcançado num quadro de estagnação do país, o que acaba por reforçar o mérito do percurso feito. Não quer isso dizer que o território em causa não padeça de constrangimentos vários, que o “índice de competitividade”, presente no mesmo relatório, põe a nu, ao posicioná-lo na 10ª posição. Pior é o retrato que lhe fica na dimensão “qualidade ambiental” (dados de 2006), onde cai para a 21ª posição, num total de 30 NUT III.
4. Referi-me a Leiria em acepção ampla, isto é, se quiserem, à “região de Leiria”. Por outro lado, na invocação de dados, trato do Pinhal Litoral, que será um conceito estreito de região de Leiria. Se a leitura de “região” fosse feita em acepção mais ampla, as coisas complicar-se-iam. Na verdade, ao lado do Pinhal Litoral, o Pinhal Interior, Norte e Sul, e o Oeste são realidades bem diferentes.
5. Na linguagem comum usa-se o termo região em muitos sentidos. Por contraponto, esclareça-se que uma região é, em primeiro lugar, uma comunidade no sentido subjectivo do termo. Tem implícito o sentimento de pertença. É muito mais que um território delimitado por uma “fronteira”, uma estrutura de poder, uma unidade territorial para fins estatísticos. É nesta dimensão que a região pode ser pensada como instrumento de desenvolvimento.
6. Quer-se com isso dizer que, pese o desempenho global positivo que a “região” manteve na última década e meia, é discutível que possa continuar a prescindir de uma estratégia activa. Num quadro de competição aberta, a coordenação de acções, a parceria entre agentes de desenvolvimento, a reunião de massas críticas e a definição esclarecida de apostas em produtos com futuro não parece poder viver exclusivamente de inércias.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado em 2011/03/28 no Diário de Leiria, no contexto de colaboração da ADLEI com o jornal no âmbito de coluna regular designada "Cidadania Activa")
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