Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

sábado, outubro 06, 2007

Ser economista hoje, em Portugal. O que mudou com a implementação da Declaração de Bolonha

«Conclusão
Se se pode dizer que economistas “são aqueles que transportam para a vida social os modelos de racionalidade comportamental que estão na base de uma melhor combinação dos recursos existentes e, por conseguinte, na optimização do retorno que decorrerá da sua afectação” (Rebelo e Neves, 2007, p.10), não fica mal dizer, também, que “economista será todo o que, qualquer que seja o seu nível de intervenção profissional que possuir, for capaz de compatibilizar, no tempo e no espaço, soluções eficientes com soluções equitativas, processos competitivos com processos de inclusão” (Alves, 2007, p.13). É que a economia deve repousar, igualmente, em valores, acompanhando as referências e as preocupações com o bem-estar social e a sustentabilidade dos recursos naturais que se vão afirmando.
Definir o que é o economista não é o mesmo que explicitar os “actos” da profissão desse técnico. Pode-se mesmo questionar se o “acto” típico de economista existe. Se esta se oferece matéria susceptível de gerar controvérsia, outro tanto não sucede com o reconhecimento de que os economistas portugueses trabalham hoje “em ambientes multiculturais, em contexto internacional e europeu em particular, em ambientes de grande pressão que muitas vezes exigem capacidade de liderança, capacidade de aprender ou de se adaptar a situações novas e a ambientes ou meios culturais diversos” (Proença, 2007, p.10), o que, na medida do esforço e exigência profissional que lhes coloca, reclama uma formação geral e técnica adequada (adequada na solidez; adequada no perfil funcional que seja requerido), já que o economista que o presente momento reclama tem que saber, tem que saber fazer e tem que sabe ser. (Proença, 2007, p.11).
Neste contexto, se não se questiona nem que a formação inicial deva ter um carácter flexível e generalista, que alie uma sólida formação económica de base à aquisição de competências, de capacidades e de atitudes (Belbute, 2007, p.12), nem a necessidade da formação ao longo da vida, é mais problemático dizer se as respostas que estão a ser dadas no quadro da reforma dos cursos é a que se fazia necessária. Isto, na própria medida em, mesmo se uma melhor adequação das formações oferecidas às necessidades das empresas e da sociedade, em geral, fosse o grande argumento invocado pelo decisor político para precipitar a mudança, há que convir que o acolhimento das “novas” formações pelo mercado de trabalho, a problemática da empregabilidade, se se quiser, ficou arredada do processo que conduziu à reforma em cursos. Da reestruturação dos cursos, o que nesta altura é seguro é que se assistiu à redução das escolaridades totais e parciais das formações oferecidas a nível do 1º ciclo. Como, por um lado, uma sólida formação em macroeconomia, microeconomia e métodos quantitativos não basta para formar o economista capaz de responder aos reptos da gestão das economias modernas, fica daí, por outro lado, espaço para o reforço do papel do 2º ciclo na formação destes profissionais, mesmo que a implementação de novos modelos de ensino-aprendizagem vá fazendo o seu percurso, dando a sua componente de resposta em matéria de atitude à complexidade da realidade actual em matéria de funcionamento e organização das economias.»
J. Cadima Ribeiro

(extracto de comunicação, intitulada "Ser economista hoje, em Portugal. O que mudou com a implementação da Declaração de Bolonha", a ser presente no 2º Congresso Nacional dos Economistas, Ordem dos Economistas, que decorrerá a 11 e 12 de Outubro de 2007, no Centro de Congressos de Lisboa)

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