O passo seguinte ao uso generalizado na comunicação corrente das tecnologias de comunicação e informação, especialmente da internet, foi o respectivo aproveitamento para efeitos de negócio, entre empresas, por uma lado, e destas com o consumidor final, por outro. Os investigadores sociais não deixaram de seguir atentamente o nascimento e primeiros passos deste novo canal comercial, sendo certo que depressa foram confrontados com alguns factos inesperados.
Entre os dados surpreendentes ou inesperados que a investigação empírica trouxe para a luz do dia contam-se os seguintes: i) a dispersão de preços entre vendedores virtuais revelou ser muito mais elevada do que o esperado; ii) a importância assumida nesses mercados pela “confiança” e pela “marca” também se revelou muito elevada; isto é, longe de ser um grande egualizador dos retalhistas e de eliminar a necessidade do estabelecimento de marcas, a internet pode incrementar a importância das diferenças entre retalhistas em vertentes como a confiança e a marca”; adicionalmente, iii) constatou-se que a orientação para os mercados electrónicos não conduziu necessariamente à desintermediação das trocas, mesmo se tal difere do que se verifica nos mercados “físicos” tradicionais; isso mostrou ser particularmente verdade no caso dos vinhos, onde as vendas directas ao consumidor via internet não foram assumidas como verdadeira opção por parte da maioria dos produtores de vinhos ou adegas, grandes ou pequenas, como é ilustrado pelos casos australiano e alemão, nomeadamente.
Nesta última dimensão, tem que concluir-se que uma coisa é publicitar na internet informação sobre o produto e respectivos canais de retalho e outra é a venda directa ao consumidor final pelo canal virtual. No que se refere à importância dada pelos consumidores às marcas no comércio electrónico, os investigadores foram levados a concluir que tal possa resultar da necessidade dos consumidores de recorrerem à marca como indicador próximo dos atributos do produto para os quais lhes falta informação ou cuja informação é difícil de obter. Isso aplicar-se-ia com particular acuidade ao caso dos produtos com atributos sensoriais ou “bens tácteis”.
Infelizmente, a informação sobre o canal electrónico em Portugal é muito escassa. Conhece-se pouco mais do que o perfil do consumidor português do comércio electrónico. Um estudo disponível (Netsonda, 2008) diz-nos que este é maioritariamente masculino (52%), jovem (70,3% dos utilizadores têm entre 25 e 64 anos), detentor de boa formação académica (37,5% possuem o ensino secundário, a que se somam 49% com o ensino superior), urbano (as pequenas, médias e grandes cidades representam 83,5% deles), integrando agregados familiares pequenos (2 ou 3 membros), com um certo nível de rendimento (mais de 60% situam-se no grupo de rendimentos que vai dos 10000 aos 50000 Euros).
Através doutras fontes (por exemplo, Jornal Têxtil, 2009) e de dados referidos a casos particulares, sabemos, também, que, apesar de não estar “imune à crise”, o volume de negócios vem crescendo em cada ano que passa. Curiosamente, um operador deste mercado (Petit Patapon), entrevistado pelo jornal antes referido, sublinha que “A boa cobertura de lojas da marca no mundo físico em Portugal funciona […] como elemento gerador de rácios atípicos de visita/compra” (Jornal Têxtil, 2009, p.6). Dado este que põe evidência a possível complementaridade dos dois canais de distribuição referidos, ao invés de serem pensados como alternativos.
Sendo um espaço de oportunidade para fazer negócios ou alargar mercados, espera-se que brevemente outros dados sobre a realidade do comércio electrónico em Portugal e o perfil dos respectivos utilizadores fiquem disponíveis. A identificação dos consumidores-alvo e o seguimento das tendências da procura nunca deixarão de ser requisitos básicos de sucesso de qualquer negócio.
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J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, no âmbito de coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")