1. Um título do Diário Económico de 12 de Dezembro pp. dizia-nos que “Compras na Internet batem recorde em Portugal”. Indo ao corpo da notícia, mais acrescentava que “a internet é cada vez mais um meio escolhido pelos portugueses para fazer as suas compras”. Em concreto, estimava-se que no final do presente ano cerca de dois milhões de consumidores nacionais terão adquirido bens e serviços num valor de 3,2 mil milhões de euros através do seu computador, isto é, via Internet. Esse montante de aquisições representará um aumento de 23% face aos valores verificados no ano precedente. Já agora, seguindo os dados do EUROSTAT, acrescente-se que, em 2004, o número de portugueses que compraram algum tipo de bens ou serviços via comércio virtual não ia além de 5% do total.
2. Falando do mercado electrónico, retenha-se que os produtos ou serviços mais vendidos em Portugal, em 2009 (dados de um estudo da Netsonda) foram, pela ordem que se indica: telefones móveis; CD’s e DVD’s; jogos/”play station”; produtos informáticos; e livros e revistas.
3. No que aos compradores de vinhos via comércio electrónico diz respeito, fazendo uso de dados obtidos através de um inquérito específico, importa sublinhar o seguinte: primeiro, a prevalência do género masculino (87,8%); em segundo lugar, a presença entre eles de grupos relativamente jovens (79,7% tinham entre 30 e 49 anos); em terceiro lugar, o facto de estarmos perante detentores de níveis de habilitação académica elevada (78,4% eram detentores de um grau do ensino superior); e, finalmente, o nível de poder de compra igualmente elevado que configuravam (82,4% tinham um rendimento mensal entre 1000 e 5000 Euros). Acrescente-se que tendiam a conduzir as suas operações de compra sobretudo a partir de casa (64,9%). Não sendo os dados referentes ao comprador de vinhos por via virtual contraditórios com os que são registados em matéria de perfil do comprador comum do comércio electrónico, seles são no entanto distintos, o que importa que seja presente entre os operadores desta modalidade de comércio.
4. O comprador português de vinhos pela Internet não se apresenta como alguém que múltipla as operações de aquisição. Pelo contrário, o número de transacções que desencadeia revela-se reduzido (somente 9,5% efectuaram mais de 50 transacções, num ano). Este dado é relevante e curioso porque ele contrasta fortemente com o recolhido, em 2007, pela Vizu, no que ao perfil do consumidor internacional diz respeito, que fazia emergir um comprador de vinhos “online” muito mais presente quotidianamente no mercado, já que um quinto deles efectuava aquisições diárias e outros tantos (20,3%) semanais.
5. Conferindo dados sobre transacções e volumes transaccionados, mais nos revelam os resultados do nosso inquérito que o comprador nacional tende a fazer encomendas de um certo montante, o que é consistente com a ausência de necessidade de aquisições muito frequentes. Porventura, isso estará relacionado com os encargos derivados da entrega das encomendas, retirando benefício dessa estratégia de compra, e com a economia de esforço que conseguirá concentrando a escolha num certo momento. Ilustrando o que se diz antes, anote-se que 41,9% das encomendas tendem a ter valores entre os 101 e os 150 Euros).
6. Mantendo presente as diferenças constatadas entre os perfis dos compradores nacionais e internacionais, não será difícil extrair daí ilações em matéria de campanha promocional a desenvolver e, naturalmente, de sensibilidade daqueles aos custos de entrega. Atentos a esta última dimensão, os vendedores deverão fazer esforços sérios de redução deste tipo de encargos, sendo que essa é também uma via para levar os compradores nacionais a intensificarem a frequência com que colocam as suas encomendas.
7. Como última nota, deixe-se a indicação recolhida no mesmo inquérito de que a comodidade ou conveniência, seguida pela variedade de escolha, os preços acessíveis e a existência de promoções são os principais motivos que levam os inquiridos a usarem o canal virtual na aquisição de vinhos. Curiosamente, no caso dos compradores nacionais de vinhos, as recomendações de especialistas parecem não ter grande influência nas escolhas que fazem, porventura porque eles próprios são razoáveis conhecedores do produto que adquirem.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de 2010/12/23 do Jornal de Leiria)