Vivemos há alguns anos uma mudança de paradigma. Estamos nos primeiros tempos em que se pensa que é necessário (e é esta a realidade) juntar ao crescimento económico o equilíbrio ambiental. Durante décadas, o pensamento dominante foi levada a considerá-los objectivos opostos. Hoje, a necessidade faz com que tentemos conciliá-los. Uma das políticas mais afectadas por esta mudança é a politica de energia. A questão que se põe é que precisamos de energia hoje e do ambiente amanhã.
O novo paradigma tem três pilares. São eles: a competitividade; a sustentabilidade; e a segurança do abastecimento. Nenhuma política energética pode descurar algum deles, pois a sua interdependência faria todo o sistema colapsar.
O sistema energético mundial enfrenta a necessidade de se reinventar a curto prazo para pôr cobro às alterações climáticas, ao mesmo tempo que tem de se preparar para fornecer energia a cada vez mais pessoas. A industrialização prevista de cerca de 1/3 da população mundial nos próximos anos, com destaque para a China e a Índia, faz com que se perspective uma fortíssima pressão sobre os recursos e uma necessidade colossal de investimento em infra-estruturas.
Desde o ano 2000 que o crescimento galopante de algumas economias em vias de desenvolvimento tem feito crescer as necessidades de matérias-primas, com particular destaque para os recursos energéticos. Esse fenómeno só se irá agravar de agora em diante. Não nos podemos esquecer de como estavam os preços das matérias-primas pouco antes da crise (inicialmente financeira e depois económica) que nos atingiu a partir do segundo semestre de 2008. Hoje, pouco tempo depois de termos saído da crise económica mais profunda dos últimos 80 anos, os preços das matérias-primas encontram-se já muito próximos dos máximos de 2008. O que leva a concluir que isto ainda é o início da espiral...
Tivemos oportunidade de assistir ao fim de uma era. A era da energia barata, que se prolongou durante gerações acabou no início do novo milénio. Desde ai, temos assistido aquilo que muitos chamam de terceiro choque petrolífero.
Nos últimos 50 anos, pelo menos, vivemos numa economia do petróleo. A nossa dependência dele é transversal. Representa 33% da energia primária consumida e o seu consumo é muito rígido. É um recurso que está concentrando em certos pontos do planeta, como no Médio Oriente, enquanto que o seu consumo se dá em maior grau nos países desenvolvidos.
Muitas têm sido as possibilidades faladas para se substituir o petróleo tanto na produção de energia como no abastecimento dos motores dos veículos de transporte. Percorrer esse caminho parece ser inevitável. Se os países quiserem energia em abundância e sem os problemas da emissão de CO2, então a única alternativa parece ser a aposta na energia nuclear, em simultâneo com as energias renováveis.
No pós-desastre nuclear do Japão, assistiu-se a verdadeiras manobras eleitorais em torno desta problemática. O caso mais flagrante passou-se na Alemanha, onde a população tem um forte sentimento ecológico, o que levou a sua Chanceler, com as eleições ali tão perto, a ensaiar diversas manobrar tendentes a “ludibriar” os eleitores. Em concreto, decretou o encerramento temporário de centrais nucleares e a suspensão dos projectos para novas centrais, visando recolher daí benefícios eleitorais.
Aparte estas manobras, ninguém duvide que daqui a 15 anos as “suspensas” e as “travadas” estarão em pleno funcionamento e serão a âncora do abastecimento energético da economia alemã e, por extensão, da economia europeia.
Valdemar Machado
[artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho]