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quarta-feira, setembro 28, 2011

Cartas Portuguesas - de Lisboa (VI)

PARTIDO SOCIALISTA: NOVO CICLO PARA CUMPRIR PORTUGAL? - 11 setembro 2011

Uma das imagens que retive destes dias fora da Europa foi a de grandes manadas de zebras e gnus a atravessar uma estrada num tropel violento, para, poucos minutos a seguir, fazerem com igual convicção e alarido o trajecto exactamente oposto”. (Elisa Ferreira in Jornal Confidencial – Sol , 05 agosto 2011- Portugal)

“Viragem”, aqui em Portugal, é o mesmo que virada, mudança de rumo. Foi isso que aconteceu neste fim de semana na realização do XVIII Congresso do Partido Socialista Portugal, ao qual compareceu o decano Mário Soares, Ex- Presidente da República e figura mais expressiva deste Partido. Comenta-se que há 25 anos não comparecia aos encontros. Por alguma razão apareceu agora. Seria a crise? Ou a crise do próprio PS? Vários outros nomes históricos do PS também estiverem presentes e fizeram contundentes discursos em favor da união do Partido que inicialmente parecia dividir-se entre duas tendências opostas
Portugal atravessa severa crise e o PS, depois de alguns mandatos desde 1976, quando foi aprovada a atual Constituição, acaba de ser apeado do poder por uma coligação conservadora liderada por Pedro Passos Coelho, do PSD. Tratando-se de uma força política poderosa, ideologicamente correspondente, no Brasil, ao PT, embora sem raízes tão fortes no movimento social organizado – sindicatos e outros novos agentes – o PS, num momento de crise no país, procura se revigorar. Para tanto, vira-se à esquerda, substituindo, inclusive, a tradicional mão com a rosa, símbolo da II Internacional, na qual o PDT ocupa honroso lugar, graças ao apoio de Mário Soares a Brizola, pela punho fechado, em sinal de luta. Sem rosas... O tradicional hino do PS também acompanhou a mudança. Tal como Dom Pedro I na Independência do Brasil, o PS apressa-se a ocupar a esquerda antes que “outros o façam”. Mas, mesmo com grandes diferenças internas quanto à forma com que o Partido deve situar-se na conjuntura, permanece na Secretaria-Geral o líder José Seguro. Maria Belém fica na Presidência da agremiação mas, aqui, nos marcos do parlamentarismo, a autoridade efetiva é a do Secretário Geral.
Qual o grande problema do PS português? O Partido esteve seis anos à testa do Governo na pessoa de José Sócrates e só foi derrubado acerca de três meses em virtude do desgaste deste perante a crise. Enfrentou, portanto, os primeiros desafios da crise e chegou, até, a firmar o acordo com a chamada troika européia – COMISSÃO EUROPEIA, FMI e BANCO CENTRAL EUROPEU -, para evitar o desastre em Portugal. A desagregação seria uma consequência da incapacidade do Governo pagar seus títulos em decorrência do défice público, já superior a 100% do PIB, tal como Irlanda e Grécia. O mesmo fantasma que ronda Espanha e Itália. Rigorosamente, a deterioração das contas públicas em Portugal ocorreu justamente no período de governo socialista. Este Partido não teve jamais a coragem de implementar uma ampla Reforma do Estado, capaz de evitar o acumulo dos défices, nem, aliás, detém hoje um plano articulado alternativo ao do Governo. Na oposição, desloca-se para a esquerda como uma típica manobra eleitoral tentando aproximar-se do eleitorado severamente castigado pelo aperto fiscal do Governo. Quem melhor qualifica esta manobra é o Partido Comunista, bastante forte em Portugal. Afirma que a única diferença entre o PS e o PSD é que o primeiro defende o Protocolo de aperto financeiro exigido pela Troika, enquanto o PSD , mais realista do que o rei, o leva um pouco mais adiante. Nada de substancial.
[Continua]

Paulo Timm

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