Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento
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sexta-feira, novembro 23, 2018
domingo, novembro 18, 2018
Leiria: potencialidades, fraquezas, captação de investimento externo e liderança
Do que conhece da região de Leiria, quais
as suas potencialidades?
Confesso que conheço muito menos do que gostaria. Já levo cerca de 30 anos de
afastamento da realidade económica, social e política. O que vou seguindo é
pelos jornais e por visitas muito esporádicas à família. Há potencialidades
iniludíveis associadas à história e à dinâmica mais recente da indústria, ao
seu património natural e construído, ao posicionamento geográfico, devido à
proximidade a Lisboa e, consequentemente, a importantes infra-estruturas
portuárias e aeroportuárias, e à iniciativa empresarial.
Que fraquezas deveriam ser trabalhadas?
Uma coisa são recursos, outra são capacidades operativas, concretização de
projectos. Do que vou vendo e percebendo, parece haver uma enorme falta de clareza
de projecto ou de estratégia, se é que chega a haver projecto de
desenvolvimento para este território. Os agentes sugerem-se dispersos e
amarradas a estratégias do foro individual. Há, adicionalmente, falta de escala
nas intervenções que vão sendo conduzidas e falta de liderança. A relativa
fluidez das “fronteiras” do território também não facilita nem a aquisição de
massa critica nem a definição das necessárias lideranças sociais e políticas.
Parece-me essencial que se pegue na própria malha urbana que é suporte do
território e se procure perceber-lhe o potencial estruturador e coerência
funcional.
Por que é que pensa que falta
liderança em Leiria?
Tenho má opinião sobre a gestão política desse território. Os políticos estão,
de forma genérica, muito virados para o seu umbigo. Existe muito pouco o
sentimento de território. Aliás, a utilização do termo 'região de Leiria'
causa-me algum embaraço. Se estamos a falar de Leiria enquanto concelho, não é
região nenhuma. Enquanto distrito, é falar de uma unidade
político-administrativa que é relativamente artificial do ponto de vista da
identificação das comunidades. Não existe nenhum conceito histórico ou cultural
de região associado a Leiria. A imagem que tenho é a de posturas desgarradas,
ausência de identidade forte e, claramente, de liderança. Quando falo de
liderança, não é focalizada numa pessoa. É antes de uma elite, da convergência
de um grupo de pessoas, que têm pontos comuns de visão sobre o desenvolvimento
do território e lutam no mesmo sentido. Dos contactos que tenho com Leiria, não
me apercebi que tivesse havido um esforço sério para chegar a esse projecto, a
essa liderança. Mas é uma percepção obtida por quem está fora, pode não ser
assim.
Tem-se assistido ao abandono do País por
parte de várias multinacionais. De que forma se pode contrariar esta tendência?
Este abandono prende-se com as estratégias competitivas das empresas que operam
em mercados globais e com as oportunidades em matéria de custos, de acesso a
recursos naturais, mercados, redes logísticas e a capital humano que se vão
revelando nos diferentes contextos económicos. As razões que podem trazer novos
investimentos externos a Portugal são necessariamente diferentes daquelas que
os trouxeram no passado. O que se pode fazer? Pode-se investir mais em
qualificação dos recursos humanos. Pode-se apostar muito mais no
desenvolvimento do sistema científico e tecnológico, requalificar o território
e dotar o País de infra-estruturas diversas, incluindo as logísticas e as
associadas à potenciação do País em matéria de turismo e lazer. Pode-se
aproveitar bem melhor as relações históricas e culturais que Portugal mantém
com muitas partes do mundo e potenciar a partir daí parcerias empresariais que
possamos aproveitar para chegar a novos mercados e criarmos empregos em
Portugal. Pode-se dar eficiência à máquina burocrática que regula o
funcionamento das empresas e da Economia, ser-se bastante mais célere e
esclarecido nos processos de negociação com os operadores internacionais
interessados e fomentar uma relação mais próxima entre o sistema científico e
tecnológico e as empresas.
(Excerto de entrevista dada à jornalista Lurdes Trindade, do Jornal de Leiria, em 2007)
terça-feira, dezembro 11, 2012
Plano Estratégico ´Leiria Região de Excelência`
Fórum Sectorial ´Leiria Região de Excelência`- Eixo Território (2012/12/10)
Plano Estratégico (análise “SWOT”): os meus sublinhados
Pontos fracos:
i) Tendência de aumento progressivo da taxa de criminalidade;
ii) Número de médicos e enfermeiros por mil habitantes inferior à média nacional;
iii) Percentagem de águas residuais tratadas inferior à média nacional;
iv) Consumo de combustível automóvel por habitante superior à média nacional;
v) Duração média dos processos nos tribunais de 1ª instância superior à média da NUT II Centro;
vi) Tendência decrescente da proporção de alunos no ensino superior em áreas científico-tecnológicas e abaixo da média nacional;
vii) Proporção de trabalhadores com maiores níveis de escolaridade inferior à média nacional;
viii) Produtividade aparente do trabalho abaixo da média nacional, observando uma tendência decrescente;
ix) Elevada % de trabalhadores agrícolas com idades iguais ou superiores a 55 anos;
x) Reduzida taxa de ocupação dos equipamentos hoteleiros (inferior à média nacional);
xi) Reduzida % de estrangeiros no total de hóspedes (inferior à média nacional);
xii) Reduzida estadia média dos turistas nos estabelecimentos hoteleiros (inferior à média nacional).
J. Cadima Ribeiro
quinta-feira, abril 12, 2012
"As atividades laborais mais e menos aconselhadas para este ano"
Notícia Dinheiro Vivo
As melhores e piores profissões em 2012:
http://www.dinheirovivo.pt/Emprego/Artigo/CIECO041441.html
As melhores e piores profissões em 2012:
http://www.dinheirovivo.pt/Emprego/Artigo/CIECO041441.html
sábado, março 26, 2011
Leiria e a sua “região”: alguns dados
Leiria e a sua “região”: alguns dados e muitas interrogações (versão de trabalho)
(título de mensagem, data de hoje, disponível em Planeamento Territorial)
(título de mensagem, data de hoje, disponível em Planeamento Territorial)
quinta-feira, março 25, 2010
"O Grupo Lena deveria libertar-se dos negócios ´não core`"
Notícia Público
Grupo Lena: problemas de financiamento abrem caminho à venda de órgãos de comunicação:
http://www.publico.pt/Media/grupo-lena-problemas-de-financiamento-abrem-caminho-a-venda-de-orgaos-de-comunicacao_1429143
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Grupo Lena: problemas de financiamento abrem caminho à venda de órgãos de comunicação:
http://www.publico.pt/Media/grupo-lena-problemas-de-financiamento-abrem-caminho-a-venda-de-orgaos-de-comunicacao_1429143
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Notícia
sexta-feira, julho 10, 2009
Índice de Desenvolvimento Regional: a posição de Leiria
1. No final do mês de Maio pp. o INE (Instituto Nacional de Estatística) e o DPP (Departamento de Prospectiva e Planeamento do MAOTDR) apresentaram em Lisboa o seu “Índice Sintético de Desenvolvimento Regional” (ISDR) reportado aos anos de 2004 e de 2006. As unidades de análise retidas foram as NUTs III (Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins estatísticos de nível III), resultando daí um retrato da situação do país em matéria de desenvolvimento regional bastante desagregado e elucidativo das diferenças existentes. Tal análise retrata de forma muito mais fidedigna a realidade socioeconómica de cada município que diagnósticos que procuram atingir esse objectivo partindo da posição do país ou de unidades estatísticas de nível II, espaços genericamente coincidentes com as áreas de intervenção das CCDRs (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional).
2. Leiria integra-se na NUT III denominada Pinhal Litoral e, para minha surpresa, este território era o que, no ano de 2006, apresentava melhor desempenho no índice identificado logo a seguir a Lisboa e à frente do Baixo Vouga (Aveiro). Para o referido ano, reduziam-se a 4 as NUTs III que apresentavam um ISDR superior à média do país. Como se entenderá, esta média é fortemente condicionada pelos resultados de Lisboa. A outra NUT III que integrava este “pelotão da frente” era a Beira Interior Sul, porventura uma situação ainda mais surpreendente se tivermos em conta a sua posição geográfica no interior do país, junto à fronteira. Neste caso, os dados só muito ligeiramente a distinguiam da média nacional. Por contrapartida, na base da escala encontravam-se o Tâmega, em último lugar, logo seguido pelos Açores, pelo Alto Trás-os-Montes e pelo Douro.
3. O ISDR foi construído a partir da consideração de 3 componentes; a saber: a competitividade, aproximada por uma carteira de indicadores que supostamente contribuem para ela ou a retratam; a coesão territorial, construída de idêntico modo; e a qualidade ambiental, que tenta captar a qualidade do crescimento urbano, a produção de resíduos diversos, a qualidade da água disponível para consumo humano, entre outros indicadores ambientais. Destes índices parciais, aquele em que o Pinhal Litoral aparece melhor classificado é o da coesão, onde surge na 3ª posição, e no que regista pior desempenho, talvez esperado, é o da qualidade ambiental, onde não vai além da 21ª posição entre as 30 unidades de análise retidas. Não sendo brilhante, na componente competitividade situa-se numa posição relativa melhor, a 10ª. Esta posição, até por configurar um desempenho abaixo da média nacional, denuncia alguns dos problemas com que se confronta o seu tecido produtivo. Mais uma vez, este dado é em grande medida marcado pelo desempenho de Lisboa, que se distingue de forma bem evidente do restante país. Disso fala o crescimento que a Área Metropolitana de Lisboa beneficiou no período pós-adesão à Comunidade Europeia, que a levou a ter tratamento diferenciado das restantes parcelas do território nacional em matéria de acesso a fundos estruturais já no QCA III.
4. Estes índices são medidas relativas; valem o que valem. A carteira de indicadores usada é uma peça essencial da qualidade do índice. Sendo um dado relativo, permite no entanto que nos situemos por referência aos demais e, a partir dessa comparação, inferir algumas das dimensões do que são os nossos pontes fortes e fracos, e partir daí para a definição de trajectórias de correcção de debilidades.
5. O bom desempenho global apresentado pelo Pinhal de Litoral, e, portanto, de Leiria, definida num sentido alargado, pode fazer-nos pensar que pouco há que corrigir. Não mantenho essa perspectiva, conhecido que é o mau desempenho global do país ao longo da presente década. Sabidos que são os défices existentes de concertação estratégica e de liderança, para os quais tenho chamado a atenção em variadas ocasiões, os dados do ISDR aqui reportados dizem-nos, pelo menos, que a prestação de Leiria e do território envolvente podiam ser significativamente melhores se tais lacunas fossem olhadas de outro maneira. Quero dizer, longe de olharmos com regozijo para os dados que o Pinhal Litoral apresenta neste índice, importaria que tomássemos consciência do potencial de oportunidade que, neste território, tem ficado por aproveitar em razão da incapacidade que tem persistido de pensar colectivamente a respectiva estratégia e de prosseguir caminhos concertados entre os seus principais actores económicos e políticos.
2. Leiria integra-se na NUT III denominada Pinhal Litoral e, para minha surpresa, este território era o que, no ano de 2006, apresentava melhor desempenho no índice identificado logo a seguir a Lisboa e à frente do Baixo Vouga (Aveiro). Para o referido ano, reduziam-se a 4 as NUTs III que apresentavam um ISDR superior à média do país. Como se entenderá, esta média é fortemente condicionada pelos resultados de Lisboa. A outra NUT III que integrava este “pelotão da frente” era a Beira Interior Sul, porventura uma situação ainda mais surpreendente se tivermos em conta a sua posição geográfica no interior do país, junto à fronteira. Neste caso, os dados só muito ligeiramente a distinguiam da média nacional. Por contrapartida, na base da escala encontravam-se o Tâmega, em último lugar, logo seguido pelos Açores, pelo Alto Trás-os-Montes e pelo Douro.
3. O ISDR foi construído a partir da consideração de 3 componentes; a saber: a competitividade, aproximada por uma carteira de indicadores que supostamente contribuem para ela ou a retratam; a coesão territorial, construída de idêntico modo; e a qualidade ambiental, que tenta captar a qualidade do crescimento urbano, a produção de resíduos diversos, a qualidade da água disponível para consumo humano, entre outros indicadores ambientais. Destes índices parciais, aquele em que o Pinhal Litoral aparece melhor classificado é o da coesão, onde surge na 3ª posição, e no que regista pior desempenho, talvez esperado, é o da qualidade ambiental, onde não vai além da 21ª posição entre as 30 unidades de análise retidas. Não sendo brilhante, na componente competitividade situa-se numa posição relativa melhor, a 10ª. Esta posição, até por configurar um desempenho abaixo da média nacional, denuncia alguns dos problemas com que se confronta o seu tecido produtivo. Mais uma vez, este dado é em grande medida marcado pelo desempenho de Lisboa, que se distingue de forma bem evidente do restante país. Disso fala o crescimento que a Área Metropolitana de Lisboa beneficiou no período pós-adesão à Comunidade Europeia, que a levou a ter tratamento diferenciado das restantes parcelas do território nacional em matéria de acesso a fundos estruturais já no QCA III.
4. Estes índices são medidas relativas; valem o que valem. A carteira de indicadores usada é uma peça essencial da qualidade do índice. Sendo um dado relativo, permite no entanto que nos situemos por referência aos demais e, a partir dessa comparação, inferir algumas das dimensões do que são os nossos pontes fortes e fracos, e partir daí para a definição de trajectórias de correcção de debilidades.
5. O bom desempenho global apresentado pelo Pinhal de Litoral, e, portanto, de Leiria, definida num sentido alargado, pode fazer-nos pensar que pouco há que corrigir. Não mantenho essa perspectiva, conhecido que é o mau desempenho global do país ao longo da presente década. Sabidos que são os défices existentes de concertação estratégica e de liderança, para os quais tenho chamado a atenção em variadas ocasiões, os dados do ISDR aqui reportados dizem-nos, pelo menos, que a prestação de Leiria e do território envolvente podiam ser significativamente melhores se tais lacunas fossem olhadas de outro maneira. Quero dizer, longe de olharmos com regozijo para os dados que o Pinhal Litoral apresenta neste índice, importaria que tomássemos consciência do potencial de oportunidade que, neste território, tem ficado por aproveitar em razão da incapacidade que tem persistido de pensar colectivamente a respectiva estratégia e de prosseguir caminhos concertados entre os seus principais actores económicos e políticos.
J. Cadima Ribeiro
*
(artigo de opinião publicado na edição de 09/07/09 do Jornal de Leiria)
sábado, maio 09, 2009
"Não basta que os territórios disponham de recursos e capacidade empresarial"
Jornal de Leiria: cadernos sobre o distrito de Leiria
(título de mensagem, datada de Sábado, 9 de Maio de 2009, disponívem em Planeamento Territorial)
(título de mensagem, datada de Sábado, 9 de Maio de 2009, disponívem em Planeamento Territorial)
terça-feira, março 24, 2009
Leiria vista à distância
1. Desde há quase três décadas que as notícias de Leiria me chegam, sobretudo, pelos jornais locais cuja assinatura mantenho. Infelizmente, nem sempre posso demorar com a sua leitura o tempo que gostaria. Esse tempo seria, também, um tempo de evasão ao meu quotidiano, que tantas vezes necessito para recobrar forças. Sendo um cidadão do mundo, com partido e tudo lá para os lados do médio oriente, há alguns sítios aonde gosto de retornar periodicamente. Leiria é um desses sítios.
2. Fruto de uma dessas incursões, por atenção da entidade editora, passei a receber regularmente desde há perto de dois anos a revista do NERLEI, Associação Empresarial da Região de Leiria, “Desafios”, de seu nome. O último número chegou-me muito recentemente e gostei de ler lá algumas coisas que me dizem muito, e, desde logo, um apelo da direcção em funções “à participação efectiva dos associados” no acto eleitoral que designará os novos órgãos sociais da estrutura. Esse gesto é tanto mais significativo quanto, por razões estatutárias, o actual presidente da direcção não se pode candidatar. Para sublinhar a importância do acto, lê-se no dito texto (p.6) “que da sua participação [isto é, do associado] depende a legitimidade de todos os que vierem a ser eleitos. Além disso, numa época de crise como a que as empresas atravessam, a união de esforços e a partilha de experiências faz cada vez mais sentido”. Enquanto alguns ficam confortáveis com o baixo nível de mobilização dos eleitores, muitas vezes expressão final da forma que têm de fazer “política”, há quem veja no seu oposto um elemento central de resposta às dificuldades sentidas. Acrescendo o sentido individualista muito arreigado naquele território (e não só), o apelo à partilha de experiências e à comunhão de esforços entendo-o como sinal de lucidez e, quiçá, de vontade de contribuir para um virar de página.
3. As dificuldades a que se alude no referido texto são enunciadas de forma clara por Pedro Faria, no texto de abertura (editorial); nem mais nem menos que as que imaginamos (melhor seria dizer, que vivemos): “a globalização da economia sem regras definidas”, e o “consumo baseado no crédito”, na relação que esses fenómenos têm com “o aumento do desemprego”, “o empobrecimento geral” e o desrespeito por “regras ambientais, higiene e segurança ou condições de trabalho”. Curiosamente, chegou-se aqui em nome de “el dourados” ainda há pouco cantados por muitos, de empresários e políticos a empresários-políticos e a analistas sociais, passando por uma forte corrente de economistas que agora se vêem muito menos nos ecrãs de televisões e nas capas de revistas (cor-de-rosa ou de outras cores). Andam por aí, no entanto, e, passada a tormenta, hão-de voltar a enunciar as suas certezas sobre a boa-sorte que nos espera ao virar da esquina, se seguirmos pelos caminhos que nos indicam (até à próxima crise).
4. A temática da crise e da mudança necessária atravessa as diversas contribuições disponíveis na revista, a maioria delas originárias de empresários e agentes associativos empresariais de diversos sectores de actividade, entre os quais o da cristalaria, que tantas memórias de infância me traz. Diz a propósito Carlos Martins, presidente da Associação dos Industriais de Cristalaria: “O mundo enfrenta uma mudança radical nos fundamentos básicos da economia – passou-se de uma economia centrada nas pessoas, para outra centrada nos resultados (lucros). O motor do crescimento económico (a classe média), tolhida pela deslocalização dos negócios, passou a ser esmagada, e, naturalmente, ´o motor` emperrou”. “Enfrentar a crise é enfrentar este desafio” (p.25). A diferença que tenho em relação ao que escreve Carlos Martins é que entendo que não foi “ontem”, na véspera da crise declarada nos mercados financeiros internacionais, que a economia deixou de ser centrada nas pessoas, mas muito antes. Quando olhamos para a agitação social dos finais dos anos 60 do século passado não era já contra isso que os jovens daquela altura se revelavam, na Europa, nos Estados Unidos da América? O sistema reformou-se, é certo, mas depois disso a ortodoxia neoclássica, liberal apresentou-se mais triunfante que nunca, e nós, empresários, economistas, agentes culturais, deixámos. Vamos deixar agora novamente, aturdidos que estamos pela crise?
5. Um outro texto disponível (da autoria de João Baptista dos Santos, empresário hoteleiro) versa a temática do turismo (p. 27). A sua leitura oferece-se-me lúcida e o pensamento de estratégia que o informa é também válido para outras parcelas do território nacional, sobretudo para o Minho. Diz o referido autor: “Se Portugal é débil em numerosos campos, outros há em que temos um forte potencial. Refiro-me nomeadamente a sectores onde os valores históricos, naturais e a criatividade são factores diferenciadores […]. Neste contexto, as indústrias do turismo e da cultura no nosso país dispõem de um enorme potencial de crescimento e, por arrastamento, um conjunto de actividades de serviços complementares a estes sectores”. Qual é o problema que subsiste aqui? Pergunto eu. O problema reside na estratégia e respectiva materialização. É que, como diz João Santos, o potencial de oferta turística diversificada territorial e sectorialmente existente nem sempre tem sido “devidamente trabalhado”. Se fosse eu a enunciá-lo diria, antes, que quase nunca tem sido devidamente trabalhado, o que também não é alheio aos protagonistas que temos tido no sector e ao menosprezo que o potencial turístico de alguns territórios tem merecido nos planos de desenvolvimento turístico nacionais.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")
2. Fruto de uma dessas incursões, por atenção da entidade editora, passei a receber regularmente desde há perto de dois anos a revista do NERLEI, Associação Empresarial da Região de Leiria, “Desafios”, de seu nome. O último número chegou-me muito recentemente e gostei de ler lá algumas coisas que me dizem muito, e, desde logo, um apelo da direcção em funções “à participação efectiva dos associados” no acto eleitoral que designará os novos órgãos sociais da estrutura. Esse gesto é tanto mais significativo quanto, por razões estatutárias, o actual presidente da direcção não se pode candidatar. Para sublinhar a importância do acto, lê-se no dito texto (p.6) “que da sua participação [isto é, do associado] depende a legitimidade de todos os que vierem a ser eleitos. Além disso, numa época de crise como a que as empresas atravessam, a união de esforços e a partilha de experiências faz cada vez mais sentido”. Enquanto alguns ficam confortáveis com o baixo nível de mobilização dos eleitores, muitas vezes expressão final da forma que têm de fazer “política”, há quem veja no seu oposto um elemento central de resposta às dificuldades sentidas. Acrescendo o sentido individualista muito arreigado naquele território (e não só), o apelo à partilha de experiências e à comunhão de esforços entendo-o como sinal de lucidez e, quiçá, de vontade de contribuir para um virar de página.
3. As dificuldades a que se alude no referido texto são enunciadas de forma clara por Pedro Faria, no texto de abertura (editorial); nem mais nem menos que as que imaginamos (melhor seria dizer, que vivemos): “a globalização da economia sem regras definidas”, e o “consumo baseado no crédito”, na relação que esses fenómenos têm com “o aumento do desemprego”, “o empobrecimento geral” e o desrespeito por “regras ambientais, higiene e segurança ou condições de trabalho”. Curiosamente, chegou-se aqui em nome de “el dourados” ainda há pouco cantados por muitos, de empresários e políticos a empresários-políticos e a analistas sociais, passando por uma forte corrente de economistas que agora se vêem muito menos nos ecrãs de televisões e nas capas de revistas (cor-de-rosa ou de outras cores). Andam por aí, no entanto, e, passada a tormenta, hão-de voltar a enunciar as suas certezas sobre a boa-sorte que nos espera ao virar da esquina, se seguirmos pelos caminhos que nos indicam (até à próxima crise).
4. A temática da crise e da mudança necessária atravessa as diversas contribuições disponíveis na revista, a maioria delas originárias de empresários e agentes associativos empresariais de diversos sectores de actividade, entre os quais o da cristalaria, que tantas memórias de infância me traz. Diz a propósito Carlos Martins, presidente da Associação dos Industriais de Cristalaria: “O mundo enfrenta uma mudança radical nos fundamentos básicos da economia – passou-se de uma economia centrada nas pessoas, para outra centrada nos resultados (lucros). O motor do crescimento económico (a classe média), tolhida pela deslocalização dos negócios, passou a ser esmagada, e, naturalmente, ´o motor` emperrou”. “Enfrentar a crise é enfrentar este desafio” (p.25). A diferença que tenho em relação ao que escreve Carlos Martins é que entendo que não foi “ontem”, na véspera da crise declarada nos mercados financeiros internacionais, que a economia deixou de ser centrada nas pessoas, mas muito antes. Quando olhamos para a agitação social dos finais dos anos 60 do século passado não era já contra isso que os jovens daquela altura se revelavam, na Europa, nos Estados Unidos da América? O sistema reformou-se, é certo, mas depois disso a ortodoxia neoclássica, liberal apresentou-se mais triunfante que nunca, e nós, empresários, economistas, agentes culturais, deixámos. Vamos deixar agora novamente, aturdidos que estamos pela crise?
5. Um outro texto disponível (da autoria de João Baptista dos Santos, empresário hoteleiro) versa a temática do turismo (p. 27). A sua leitura oferece-se-me lúcida e o pensamento de estratégia que o informa é também válido para outras parcelas do território nacional, sobretudo para o Minho. Diz o referido autor: “Se Portugal é débil em numerosos campos, outros há em que temos um forte potencial. Refiro-me nomeadamente a sectores onde os valores históricos, naturais e a criatividade são factores diferenciadores […]. Neste contexto, as indústrias do turismo e da cultura no nosso país dispõem de um enorme potencial de crescimento e, por arrastamento, um conjunto de actividades de serviços complementares a estes sectores”. Qual é o problema que subsiste aqui? Pergunto eu. O problema reside na estratégia e respectiva materialização. É que, como diz João Santos, o potencial de oferta turística diversificada territorial e sectorialmente existente nem sempre tem sido “devidamente trabalhado”. Se fosse eu a enunciá-lo diria, antes, que quase nunca tem sido devidamente trabalhado, o que também não é alheio aos protagonistas que temos tido no sector e ao menosprezo que o potencial turístico de alguns territórios tem merecido nos planos de desenvolvimento turístico nacionais.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
O território conta
Leiria: construir um trilho remando contra adversidades diversas
(título de mensagem, datada de Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2009, disponível em Planeamento Territorial)
(título de mensagem, datada de Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2009, disponível em Planeamento Territorial)
sexta-feira, janeiro 02, 2009
O desenvolvimento de Leiria e do país no ano de 2009
Jornal de Leiria
Resposta às questões colocadas pela jornalista Raquel Silva, em 08/12/26
Resposta às questões colocadas pela jornalista Raquel Silva, em 08/12/26
P – Que factos acha que irão marcar o ano de 2009, ao nível do desenvolvimento regional de Leiria, e porquê?
R – O desenvolvimento de Leiria e do país no ano de 2009 será fortemente condicionado pela situação de crise financeira e económica que se vive nesta altura na Europa e no mundo, e que não estará superada num horizonte de curto-prazo. Será igualmente condicionado pela lucidez das políticas públicas que forem prosseguidas, sendo que a indicação que nos vem dos derradeiros anos não permite alimentar grandes expectativas. No essencial, diria, o futuro económico e social de Leiria e do território envolvente resultarão da ousadia e capacidade de iniciativa dos seus agentes, empresas, outros agentes de desenvolvimento e poder político local. A concretização do comboio de alta velocidade é um projecto importante para Leiria, se pensado à luz da criação de um novo sistema, intermodal, de transportes. Entretanto, não deverá haver notícias desse projecto em 2009.
P – Personalidades que acha que irão destacar-se e porquê?
R – O que tem marcado o território “centrado” em Leiria nas décadas mais recentes e a respectiva dinâmica de desenvolvimento têm sido a ausência de liderança e de estratégia, isto é, de uma estratégia para este território claramente enunciada e de alguém que a protagonize dentro e fora da “região”, entidade colectiva ou personalidade. Isto não é contraditório com a exigência de lideranças estritamente locais, que até podem jogar (jogaram, de facto) em sentido contraditório com a situação enunciada.
Não é óbvio que esta realidade se altere substantivamente no decurso de 2009, embora haja esboço de uma tomada de consciência desse problema e estejam a ser dados passos tímidos na direcção certa. Uma reunião ocorrida há dias na sede da ADLEI dá-me indicações nesse sentido.
P – O que seria desejável que acontecesse/o que deveria ser feito para que as coisas melhorassem?
R – Como deixei dito, a resposta parece estar a ser esboçada no seio do “fórum” que é a ADLEI. Não sei é se a Direcção da ADLEI será capaz e quererá tomar o papel difícil que na reunião que invoco lhe foi sugerido que tomasse. Esse papel é o de constituir-se em agitador de uma consciência colectiva do território em que pretende actuar e um animador da comunicação entre os seus principais agentes (agentes culturais, estruturas empresariais, actores políticos, personalidades de diversos quadrantes de intervenção social). É o ponto de partida possível para a criação de uma liderança para este território e de parcerias para o seu desenvolvimento, por contraponto de projectos isolados, porventura bem intencionados, mas que, enquanto tal, serão incapazes de constituir resposta para a afirmação económica, social e política do território em referência. Aliás, é bom que se tenha presente que, no quadro de concorrência entre territórios e respectivas “elites”, o vazio deixado por uns é rapidamente preenchido por outros.
Braga, 28 de Dezembro de 2008
J. Cadima Ribeiro
(entrevista divulgada na edição de hoje do Jornal de Leiria)
quarta-feira, agosto 27, 2008
Produção e exportação de embalagens em vidro
"Em Portugal, e com a produção assente nos mercados externos, o sector é controlado por cinco empresas - Barbosa & Almeida, Sotranco, Saint-Gobain Mondego, Santos Barosa e Vidrala. Como salienta Isabel Valente, secretária-geral da Associação dos Industriais de Vidro de Embalagem, a indústria portuguesa está totalmente direccionada para os mercados externos, seja por vendas directas (mais de 50% do que produz) seja indirectamente (entre 20% a 25%).
Diariamente saem 12 milhões de embalagens dos 16 fornos que o sector tem a operar no país, sendo que o principal mercado é o espanhol que vale 68% das exportações portuguesas de vidro de embalagem. França tem ainda alguma expressão nas exportações (16%) e embora as empresas coloquem os seus produtos noutros mercados como o Reino Unido, Itália ou mesmo Estados Unidos, estes respondem por valores residuais, num universo de 551 mil toneladas de vidro exportadas."
(excerto de artigo do Diário Económico , datado de 27-08-2008 e intitulado "Europa dominada por três grupos")
Diariamente saem 12 milhões de embalagens dos 16 fornos que o sector tem a operar no país, sendo que o principal mercado é o espanhol que vale 68% das exportações portuguesas de vidro de embalagem. França tem ainda alguma expressão nas exportações (16%) e embora as empresas coloquem os seus produtos noutros mercados como o Reino Unido, Itália ou mesmo Estados Unidos, estes respondem por valores residuais, num universo de 551 mil toneladas de vidro exportadas."
(excerto de artigo do Diário Económico , datado de 27-08-2008 e intitulado "Europa dominada por três grupos")
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Comércio Externo,
Leiria - Política Industrial
quinta-feira, abril 19, 2007
Está por ensaiar no nosso país a constituição de plataformas de inovação
"Perguntas dos outros
P: (Henrique Neto, empresário, Marinha Grande)
Qual a importância da existência de clusters no desenvolvimento de uma região e o que se pode fazer pelo seu reforço?
R: Fico sensibilizado pela cortesia das questões que me são endereçadas por tão distintas personalidades, a começar pelo Sr. Henrique Neto, que não tenho o prazer de conhecer pessoalmente.
Sublinhei já que as respostas em termos de desenvolvimento a ser dadas para um território específico têm que partir da mobilização dos seus recursos e competências, sem com isso querer dizer que não possam ser mobilizados capitais e saberes externos à região. Acrescento que o futuro se constrói, comummente, por evolução dos trilhos percorridos no passado. Note-se, por exemplo, que o surgimento da indústria dos moldes na Marinha Grande só pode percebida se tivermos presente a tradição vidreira e o recurso por parte desta indústria, a partir de certa altura, a essa solução de produção, obviamente em termos bem diferentes dos actuais. A relação entre o desenvolvimento da indústria dos moldes e a dos plásticos (polímeros), por sua vez, não é difícil de entender.
Quero com isto dizer que a aquisição de vantagens comparativas por parte de um território decorre muito da capacidade que as suas indústrias (e empresas) tiverem de construir uma malha densa de complementaridades ao nível de certas funções e/ou produtos, num quadro que será, forçosamente, de uma certa especialização produtiva. Note-se que, deste ponto de vista, as complementaridades podem ser compatíveis com um certo nível de concorrência interna, que espicaça a procura de novas soluções e mercados.
Sublinhei já que as respostas em termos de desenvolvimento a ser dadas para um território específico têm que partir da mobilização dos seus recursos e competências, sem com isso querer dizer que não possam ser mobilizados capitais e saberes externos à região. Acrescento que o futuro se constrói, comummente, por evolução dos trilhos percorridos no passado. Note-se, por exemplo, que o surgimento da indústria dos moldes na Marinha Grande só pode percebida se tivermos presente a tradição vidreira e o recurso por parte desta indústria, a partir de certa altura, a essa solução de produção, obviamente em termos bem diferentes dos actuais. A relação entre o desenvolvimento da indústria dos moldes e a dos plásticos (polímeros), por sua vez, não é difícil de entender.
Quero com isto dizer que a aquisição de vantagens comparativas por parte de um território decorre muito da capacidade que as suas indústrias (e empresas) tiverem de construir uma malha densa de complementaridades ao nível de certas funções e/ou produtos, num quadro que será, forçosamente, de uma certa especialização produtiva. Note-se que, deste ponto de vista, as complementaridades podem ser compatíveis com um certo nível de concorrência interna, que espicaça a procura de novas soluções e mercados.
Em matéria de políticas orientadas para o reforço dos “clusters” existentes, o Sr. Henrique Neto, com a sua experiência empresarial de muitos anos e a vivência social deste território concreto, estará muito melhor posicionado que eu para sugeri-las. Diria, a propósito, que as soluções usualmente mais portadoras são aquelas que são abraçadas pelos actores no terreno, eventualmente apoiados em parcerias com agentes externos ligados à produção e transferência de conhecimento tecnológico e organizacional. A esse nível, alguma replicação da experiência do sector dos moldes poderia valer a pena. Acrescento, apenas, que está por ensaiar no nosso país a constituição de plataformas (ou clubes) de inovação, reunindo sob uma agenda previamente acordada organizações empresariais e alguns empresários mais ousados, centros de investigação e de transferência de tecnologia, e entidades públicas sectoriais e regionais. Este tipo de organizações poderia ter um papel basilar na procura de respostas em matéria de funções e soluções (produtos e serviços) que permitissem a certos tecidos produtivos regionais consolidarem-se e renovarem-se."
J. Cadima Ribeiro
(extracto de entrevista concedida ao Jornal de Leiria, de 07/04/19; entrevista conduzida pela jornalista Raquel Silva)
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Leiria - Política Industrial
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