Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

quinta-feira, setembro 29, 2011

Cartas Portuguesas - de Lisboa (VII)

PARTIDO SOCIALISTA: NOVO CICLO PARA CUMPRIR PORTUGAL? - 11 setembro 2011
[Continua]

Vendo-se, entretanto, à distância, a questão do défice público em Portugal percebe-se que nem o PS, nem as forças mais à esquerda, catalisadas por um Partido Comunista extremamente dogmático e arraigado aos velhos dogmas estatizantes do marxismo, detêm uma clara visão sobre a origem da deterioração das contas públicas. Ponto crucial da crise do país, esta questão deveria ser tratada por documentos convincentes a serem apresentados à sociedade, com clara demonstração da evolução do ciclo completo das contas públicas no país: quanto o Estado arrecada, quem paga esta conta, segundo as classes de renda, regiões e atividades, e onde os impostos são gastos, como tudo isto se desenvolveu nos últimos dez anos.
Simples, direto e fartamente documentado algo me diz que o problema não está nos gastos correntes do governo, com custeio de sua máquina ou dos programas sociais, tal como a Troika alega, reverberando a visão da crise feita pelo setor financeiro, mas no custo da própria dívida. É possível até que alguns intelectuais da esquerda o saibam, mas não traduzem o que sabem em documentos oficiais dos Partidos aos quais pertencem. Toda a discussão da crise e do défice público, aqui, vagueia nas nuvens da ideologia, sem âncora nos dados.
Tampouco se vê, aqui – o que de resto acontece no Brasil – uma articulação maior entre os Partidos e a inteligência do país. Assim sendo, a proposta de fixar um limite para o endividamento do país na Constituição, cai no vazio, sem sentido. Como fixar este limite? Em que número? Nos 6% estabelecidos pela Comissão Europeia? Por quê, se no seu interior há países com níveis de desenvolvimento extremamente desiguais e que são obrigados a se utilizar do recurso do défice público para acelerar sua formação de capital fixo e humano como compensação à inflexibilidade da política monetária num regime de moeda única? E como fixar um limite de endividamento quando inexiste uma Lei Ordinária de Responsabilidade Fiscal extensiva às regiões autônomas como a Madeira e municipalidades?
A histórica virada do Partido Socialista português, portanto, se o requalifica junto ao eleitorado para uma volta breve ao poder, nada acrescenta à compreensão da crise no país, nem aponta para uma verdadeira estratégia de consenso nacional em torno das tarefas que aprofundem a democracia interna e a participação da sociedade na busca de soluções desta crise. Aposta em si mesmo, no velho estilo da política tradicional, apesar da retórica renovadora:
(...) buscamos o envolvimento das pessoas. Queremos fazer política com as pessoas e para as pessoas. A participação e o envolvimento das pessoas determinam o êxito das propostas políticas. Só um projecto mobilizador do melhor que há em cada um de nós pode gerar um horizonte de esperança.(...). Queremos fazer política com as pessoas e para as pessoas. A participação e o envolvimento das pessoas determinam o êxito das propostas políticas. Só um projecto mobilizador do melhor que há em cada um de nós pode gerar um horizonte de esperança.
(PS -
http://www.onovociclo.org/wp-content/uploads/2011/06/MocaoONovoCiclo_AntonioJoseSeguro.pdfnovocicloparacumprir Portugal)
Pior, sem apresentar sequer uma convincente plataforma, nem análise aprofundada da crise em Portugal, nem muito menos das projeções ideológicas de sua sociedade. Só princípios gerais, confirmando a tendência à infantilização dos Partidos contemporâneos por todas as partes:
Assim, a acção política do PS é e será definido por três palavras:
Responsabilidade, contribuindo de forma activa para resolver os problemas que enfrentamos, na formação dos consensos que verdadeiramente defendam o interesse nacional e criem condições sustentáveis de melhoria das condições de vida dos portugueses;
Solidariedade, na partilha de sacrifícios aos portugueses e na defesa, também, da equidade entre gerações, como forma de não pôr em causa a coesão social nem comprometer o futuro;
Modernidade, como forma de reforçar a nossa capacidade competitiva, elevando a produtividade do trabalho e criando condições para o aumento sustentável dos salários e do nível de vida das pessoas. (Idem - PS)
[Continua]

Paulo Timm

quarta-feira, setembro 28, 2011

Cartas Portuguesas - de Lisboa (VI)

PARTIDO SOCIALISTA: NOVO CICLO PARA CUMPRIR PORTUGAL? - 11 setembro 2011

Uma das imagens que retive destes dias fora da Europa foi a de grandes manadas de zebras e gnus a atravessar uma estrada num tropel violento, para, poucos minutos a seguir, fazerem com igual convicção e alarido o trajecto exactamente oposto”. (Elisa Ferreira in Jornal Confidencial – Sol , 05 agosto 2011- Portugal)

“Viragem”, aqui em Portugal, é o mesmo que virada, mudança de rumo. Foi isso que aconteceu neste fim de semana na realização do XVIII Congresso do Partido Socialista Portugal, ao qual compareceu o decano Mário Soares, Ex- Presidente da República e figura mais expressiva deste Partido. Comenta-se que há 25 anos não comparecia aos encontros. Por alguma razão apareceu agora. Seria a crise? Ou a crise do próprio PS? Vários outros nomes históricos do PS também estiverem presentes e fizeram contundentes discursos em favor da união do Partido que inicialmente parecia dividir-se entre duas tendências opostas
Portugal atravessa severa crise e o PS, depois de alguns mandatos desde 1976, quando foi aprovada a atual Constituição, acaba de ser apeado do poder por uma coligação conservadora liderada por Pedro Passos Coelho, do PSD. Tratando-se de uma força política poderosa, ideologicamente correspondente, no Brasil, ao PT, embora sem raízes tão fortes no movimento social organizado – sindicatos e outros novos agentes – o PS, num momento de crise no país, procura se revigorar. Para tanto, vira-se à esquerda, substituindo, inclusive, a tradicional mão com a rosa, símbolo da II Internacional, na qual o PDT ocupa honroso lugar, graças ao apoio de Mário Soares a Brizola, pela punho fechado, em sinal de luta. Sem rosas... O tradicional hino do PS também acompanhou a mudança. Tal como Dom Pedro I na Independência do Brasil, o PS apressa-se a ocupar a esquerda antes que “outros o façam”. Mas, mesmo com grandes diferenças internas quanto à forma com que o Partido deve situar-se na conjuntura, permanece na Secretaria-Geral o líder José Seguro. Maria Belém fica na Presidência da agremiação mas, aqui, nos marcos do parlamentarismo, a autoridade efetiva é a do Secretário Geral.
Qual o grande problema do PS português? O Partido esteve seis anos à testa do Governo na pessoa de José Sócrates e só foi derrubado acerca de três meses em virtude do desgaste deste perante a crise. Enfrentou, portanto, os primeiros desafios da crise e chegou, até, a firmar o acordo com a chamada troika européia – COMISSÃO EUROPEIA, FMI e BANCO CENTRAL EUROPEU -, para evitar o desastre em Portugal. A desagregação seria uma consequência da incapacidade do Governo pagar seus títulos em decorrência do défice público, já superior a 100% do PIB, tal como Irlanda e Grécia. O mesmo fantasma que ronda Espanha e Itália. Rigorosamente, a deterioração das contas públicas em Portugal ocorreu justamente no período de governo socialista. Este Partido não teve jamais a coragem de implementar uma ampla Reforma do Estado, capaz de evitar o acumulo dos défices, nem, aliás, detém hoje um plano articulado alternativo ao do Governo. Na oposição, desloca-se para a esquerda como uma típica manobra eleitoral tentando aproximar-se do eleitorado severamente castigado pelo aperto fiscal do Governo. Quem melhor qualifica esta manobra é o Partido Comunista, bastante forte em Portugal. Afirma que a única diferença entre o PS e o PSD é que o primeiro defende o Protocolo de aperto financeiro exigido pela Troika, enquanto o PSD , mais realista do que o rei, o leva um pouco mais adiante. Nada de substancial.
[Continua]

Paulo Timm

Courage

Any intelligent fool can make things bigger and more complex. It takes a touch of genius - and a lot of courage to move in the opposite direction."

Albert Einstein

(citação extraída de SBANC Newsletter, September 27, Issue 688 - 2011, http://www.sbaer.uca.edu)

terça-feira, setembro 27, 2011

"Economia com Futuro": notícia

«Caros participantes na Conferência Economia Portuguesa: uma Economia com Futuro,

Dada a exiguidade de recursos à nossa disposição, a que acrescem considerações ambientais, não haverá distribuição de documentação impressa na Conferência. Os materiais existentes, incluindo o programa está disponível na página www.economiacomfuturo.org, podendo se necessário ser impressos.

Saudações cordiais da Comissão Permanente da Rede Economia com Futuro»

(reprodução integral de mensagem que me caiu entretanto na caixa de correio electrónico, proveniente da entidade identificada)

sábado, setembro 24, 2011

Cartas Portuguesas - de Lisboa (V)

PORTUGAL, UMA POESIA EM AZUL E BRANCO COM TEMPEROS EXÓTICOS - 09 Setembro
[Continuação]

BRASILEIROS! CONHEÇAM , POIS, PORTUGAL!!!
Aos aposentados, não façam como Frances Mayes. Venham para a Terrinha dos ancestrais, nem que seja por alguns meses do ano. Aqui a vida é barata e muito tranqüila, a comida, como vimos, das melhores do mundo, regada aos melhores vinhos. A tradição poética reverbera no fado e desce pelos azulejos em azul e branco das paredes convidando-o a um passeio celestial. A programação cultural de Lisboa e outras cidades, como Guimarães e Coimbra, invejável. De resto, embora portugueses não acreditem nem apostem muito no filho rebelado e permissivo dos trópicos americanos, o Brasil pode ajudar muito na atual crise do país. O problema crucial do endividamento público aqui, ao contrário do Brasil, é também, reflexo de um grave endividamento externo da economia portuguesa, que corresponde a uns 3% do PIB da União Europeia, que é equivalente ao PIB do Brasil. Pretendem eles, com grande esforço, enfrentar este desafio exportando até 50% da sua economia, o que corresponderia a cerca de US$ 100 bilhões, valor para o qual, tanto um volume maior de exportações do Brasil como o envio de mais brasileiros para cá, poderia contribuir sensivelmente. Ou seja, se o Brasil contribuir com 1% de seu vigoroso PIB de US 1 trilhão, ou US$ 10 bi, para a superação da crise portuguesa, através de um Programa de Cooperação e Assistência Técnica a serem elaborados pela Comissão Permanente do Acordo de Amizade e Cooperação entre Brasil e Portugal, firmado no ano 2.000, terá dado um grande passo na reaproximação entre os dois países, resfriada desde os tempos de Salazar, em razão do persistente colonialismo do ditador na África.
Quanto aos jovens, bom que saibam que o ensino de Portugal é de excelente qualidade e que todos os cursos aqui feitos são reconhecidos no Brasil, graças ao Acordo de Amizade e Cooperação firmado no ano 2000. Além disso, muito baratos, principalmente quando se trata de cursos de pós-graduação, verdadeiramente inacessíveis no Brasil a milhões de formandos em busca de aperfeiçoamento. Outro Acordo, de Saúde, pouco conhecido entre os brasileiros, garante reciprocidade no atendimento de saúde e hospitalar entre brasileiros e portugueses, conhecido como PB4. Nunca foi tão fácil...

Enfim, como preconizavam Gilberto Freire e Darcy Ribeiro, além um velho conhecedor das tradições ibéricas na conformação da modernidade ocidental , Richard Morse (www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo), para não falar do historiador Eric Hobsbawn, hoje fascinado com nossa cultura, a América Latina é o estuário do helenismo, pela via da Peninsula Ibérica, e nela o Brasil tem um lugar especial. Nós somos os herdeiros dos gregos, no culto à liberdade como delírio da razão. O paradoxo em movimento... Olhar para Portugal, pois, não é um truísmo, mas importante elemento de redescoberta das nossas potencialidades já reveladas no nível econômico, mas subjacentes no plano da cultura e do humanismo. É, verdadeiramente, a grande redescoberta do Brasil, desta vez, pelos por nós mesmos...

Paulo Timm

quinta-feira, setembro 22, 2011

Cartas Portuguesas - de Lisboa (IV)

PORTUGAL, UMA POESIA EM AZUL E BRANCO COM TEMPEROS EXÓTICOS - 09 Setembro
[Continuação]

Eis a revelação: Portugal pode não ter tido a sofisticação da corte dos Luises, sob a qual, aliás, um povo faminto morria de fome, indo à Revolução de 1789. Aqui, pode não ter havido baixelas de prata e sofisticados cristais sobre as mesas, mas foi o próprio povo que se sofisticou na arte de comer bem, incorporando na sua cozinha, tal como fez na genética, na arquitetura e na poesia, as sucessivas levas de produtos (azeitona e azeite), temperos ( sopa de coentro com alho picante...?) e pratos (açafrão com figos...?) de suas camadas históricas. Rigorosamente, não há culinária tão variada quanto a portuguesa, resultado tanto das várias contribuições culturais que se juntaram neste pedaço do fim do mundo, como da grande variedade geográfica e climática do antigo e precoce Reino, o primeiro da Europa, fundado em 1139 por D. Afonso, com sede em Guimarães. E onde o mapa não colaborou, a caravela providenciou, trazendo porões carregados de especiarias, de grãos, de açúcar, do mundo inteiro para as cataplanas portuguesas. O que é isto...? Apenas umas grandes frigideiras com tampa, como se fossem ostras a cultivar pérolas preciosas em seu interior... Que outro país faria da mera sopa uma fumegante iguaria? Pois “NÓS TEMOS SOPA”, dizem os portugueses, orgulhosos. Mil e uma receitas das mais estranhas combinações, dentre as quais a mais famosa, a de pão, denominadas açordas e que se tomam de garfo... E há quem diga que no norte fazem uma indescritível sopa de pedra... Não duvido.
Porém, não estará o boa cozinha portuguesa em sofisticados restaurantes. Ela está na mesa dos portugueses de todos os cantos do país e nas tascas rudimentares onde se juntam trabalhadores. E para desvendá-la nos mais mínimos detalhes de sabores e ingredientes, nada melhor do que “A Tradicional Culinária Portuguesa”, de Maria de Lourdes Modesto. Imbatível!

Carlos nos deu o nome de uma tasca. Felizmente, porque sendo tão local talvez jamais nos aventurássemos a entrar só de olhar pelo vão da porta. Com metade do tamanho de uma garagem para um carro apenas... nós nos esprememos em cadeiras numa mesinha minúscula de canto (onde) trazem rapidamente três queijos regionais junto com uma cesta de pães de fazer chorar. Em seguida, nos servem tigelas de sopa de repolho. O português na mesa ao lado nos oferece um pouco do seu javali. Isso nunca me aconteceu em nenhum outro país do mundo. Depois o garçom aparece com uma travessa de estanho com carne de porco grelhada com nacos de alho, coentro e azeite de oliva, acompanhada por um prato de cerâmica com arroz e caldo de feijão. (...) Nós nem sabemos o nome do lugar. É Manuel Zé dos Ossos? O endereço que Carlos nos deu (...) diz Beco do Forno, 12, atrás do Hotel Astoria (Coimbra). Não conseguíamos encontrá-lo e perguntamos a várias pessoas onde ficava a tasca. Todos, inclusive o policial, indicaram o local. Cada mordida é uma satisfação e curtimos a atmosfera de operários e homens de negócios alimentando-se com uma comida robusta.”
(Frances Mayes, in “Um ano de viagens”, da Editora Rocco, 2006, pg. 134)

E se o paladar já era rico em terras lusitanas, o Brasil lhe adoçou o bico, estimulando a invenção de um sem número de guloseimas como os ovos-moles, tortas irresistíveis, misturas paradisíacas de abóbora com amêndoas, o pastel de Belém, o toucinho-do-céu . Ao final, já no século XIX, ofereceu-lhe ainda o café, hoje um dos mais bem servidos e saborosos da Europa, de matar de inveja os franceses.
É José Saramago quem nos guia, hoje, por Portugal (www.citi.pt/cultura/literatura/.../saramago/via_vp1.html), como Eça de Queiros nos guiava no passado entre as “Cidades e as Serras”. Mas temos também, inúmeros guias especializados. Alguns intragáveis. Prefiro, pois, recomendar a leitura de um capítulo sobre Portugal do livro, citado acima, “Um ano de viagens”, de Frances Mayes, Editora Rocco, 2006 , uma americana apaixonada pela Europa, residente na Toscana, autora de outro livro excelente, levado ao cinema: “Sob o céu da Toscana”. Ela se pergunta, aí, sem responder, por que (?) não veio viver em Portugal, tamanho o fascínio que devota à esta terra. Acho que consigo lhe responder. Vejamos:
A Itália tem um imenso encanto próprio, eivado na sua tradição renascentista. Tudo naquele país é belo e magnífico, começando pelas pessoas, seguindo pelos seus vales, até chegar ao mais genital de sua história, no Império Romano. Não por acaso o melhor design do mundo está nos produtos italianos e a capital da moda se mudou de Paris para Milão. Uma colega da Universidade de Brasília , Maria Lucia Maciel, dedicou-se ao assunto e escreveu um memorável livro: O milagre italiano: caos, crise e criatividade (Relume Dumará/Paralelo15,1996). Conclusão: O talento abunda na Itália e se manifesta na sua industria. Foi a Itália, também, a primeira porta de entrada dos americanos na II Guerra Mundial, levando-os ao fascínio com tudo o que viam. Logo após esta Guerra, a Itália viria a vivenciar seu grande milagre econômico, chegando a converter-se numa das grandes economias européias, hoje, com 18% de seu Produto Interno. Juntando-se o espetáculo industrial com a tradição das artes e a beleza dos cenários naturais e criados, como a Toscana, a Itália acabaria seduzindo a América do Norte desertando-a de Paris. Hemingway é um bom exemplo disso, tendo ele próprio escrito “Paris é uma festa”, no início de século XX - e lá se convertido em grande escritor- , volta seus olhos para a Itália onde escreve, depois da II Guerra, outro belo romance, pouco conhecido – “Do outro lado do rio, entre as árvores” , 1950, Ed. Bertrand, Brasil- no qual revela o enlevo de um coronel americano por uma jovem e encantadora princesa italiana. A Pax Americana, em ascensão, dobrava-se à milenar Pax Romana... E lá se foi a nossa grande escritora Frances Mayes dormir seu sono de donzela na Toscana e não no Algarve.
Enquanto isto, Espanha e Portugal, que poderiam ter disputado com a Itália o esplendor do pós-guerra, continuaram mergulhados em ditaduras anacrônicas do pré-Gerra. Quando delas despertaram, na década de 70, foram engolfados pela globalização que, na Europa, atende pelo nome de União Européia, uma difícil iniciativa de nações com culturas e níveis de desenvolvimento completamente diferentes, para se contrapor a outros poderosos blocos do mercado internacional.
Portugal, entretanto, mesmo integrado à modernidade mantém seus traços provincianos de valorização da dignidade humana, presentes na qualidade de vida de seus concidadãos combinado com as aquisições de bem-estar social da Constituição de 02 de Abril de 1976, emanada da Revolução dos Cravos, de 25 de Abril de 1974. Isto lhe garante um honorável posto entre os 20 países com melhor qualidade de vida no mundo.
[Continua]

Paulo Timm

quarta-feira, setembro 21, 2011

A leader and a follower

"Innovation distinguishes between a leader and a follower."

Steve Jobs

(citação extraída de SBANC Newsletter, September 20, Issue 687 - 2011, http://www.sbaer.uca.edu)

terça-feira, setembro 20, 2011

Conferência “Economia Portuguesa: uma Economia com Futuro”

«Caros colegas,
Está tudo a postos para a Conferência “Economia Portuguesa: uma Economia com Futuro” (30 de Setembro, 9.00 horas, Auditório 2, Fundação Gulbenkian). A julgar pelas inscrições até agora registadas (mais de duzentas e cinquenta), a conferência está a suscitar grande interesse público. Temos de assegurar que os trabalhos irão confirmar esta expectativa positiva.
Até à conferência podemos ainda reforçar a divulgação. Na página www.economiacomfuturo.org, logo à entrada, encontram-se ficheiros com materiais de divulgação (Cartaz e Programas em dois formatos). Os ficheiros podem ser descarregados (demora algum tempo) e usados para imprimir a cores numa boa fotocopiadora. É hábito colarmos cartazes na porta dos nossos gabinetes, poderíamos fazer o mesmo agora. Além disso segue em anexo um e-convite que pode ser utilizado em e-mails a enviar pelas redes que frequentamos.
Na conferência estão previstas intervenções dos membros de cada painel de 15-20 minutos. Isso deixa 30 minutos para discussão em cada painel. Não é muito. O tempo tem de ser bem aproveitado. Por isso mesmo sugeríamos que preparassem intervenções que terão de ser curtas (3 minutos) e portanto substanciais.
A expectativa é grande. A responsabilidade também. Aproveitemos bem este dia. Encontros como este não acontecem todos os dias, embora possam vir a tornar-se regulares no Futuro da Rede Economia com Futuro se assim o quisermos.
Saudações ‘futuristas’ da Comissão Permanente da Rede Economia com Futuro
Américo Mendes, Ana Costa, João Ferrão, João Guerreiro, José Castro
Caldas, Manuel Brandão Alves, Manuela Silva»

(reprodução do corpo principal de mensagem que me caiu entretanto na caixa de correio electrónico, proveniente da entidade identificada)

segunda-feira, setembro 19, 2011

Cartas Portuguesas - de Lisboa (III)

PORTUGAL, UMA POESIA EM AZUL E BRANCO COM TEMPEROS EXÓTICOS - 09 Setembro
[Continuação]

Portugal é um país pequeno na extremidade ibérica, povoado, sucessivamente, por inúmeros povos em suas andanças à procura do Fim do Mundo, desde tempos imemoriais. Estou falando de neandertais e cromagnons que deitaram aqui seus vestígios por toda parte – guardados com carinho no Museu Arqueológico Martins Sarmento, em Guimarães, berço da Pátria portuguesa. Outro sítio, celta – Citânia de Briteiros- também está nesta cidade. A eles se sucederam, no curso de séculos vários outros povos, dando a esta parte da Europa um caráter de esquina do mundo, sobre a qual se debruçaram, como numa sacada, ansiando pelo mar oceano. Finisterra, para o homem – primitivo, clássico, medieval - inquieto em seu andar, sempre à cata de novas paragens. Começo da geografia continental para os modernos que atravessam o Atlântico, nos dias de hoje. Borda da história, como um acontecimento...Fato e fado, este não por acaso o evocativo musical do país, intercalando-se a cada passo.
Com efeito, aqui, mais do que em qualquer outro lugar, o tempo é a medida da eternidade sem compasso; o homem esta eternidade em seus passos. Portugal guarda consigo esse mistério como uma esfinge metafórica postada no umbral do infinito a clamar: Decifra-me! Seu canto dilacera os corações pasmando até mesmo ouvintes que nada entendem da letra. A só música basta e corta. A palavra saudade brota lapidada pela exclusividade do sofrimento português, como nenhuma outra, em qualquer idioma:

Oh águas do mar salgadas,
De onde lhes vem tanto sal.
Vem das lágrimas choradas
Nas praias de Portugal
(António Oliveira Ferreira, poeta português)

Um tão grande sofrimento teria que se refrescar em alegorias. Aqui elas estão por muitas partes, mas se sintetizam no azul e branco dos azulejos que percorrem ruas inteiras de várias cidades, pátios mediterrâneos e fachadas de muitos casarões ao largo do país e os interiores das “casinhas”. Como gostam dos diminutivos! E como eles se casam alegremente com os azulejos! Meu pequeno apartamento, em Covilhã, aqui é uma “casinha” e se alia à tradição. Abre-se diretamente no que poderia ser um mero corredor que distribui para os quartos, a cozinha, a sala e o banheiro, mas, lusitano, alarga-se como uma ante-sala mais ampla só para estampar seus azulejos. Olho embevecido - que maravilha! O azul e o branco como que nos trazem um pouco do céu ao alcance das mãos. Têm o mesmo efeito simbólico que as curvas de Oscar Niemeyer que viriam a sepultar as pesadas colunas enlaçando num mesmo gesto edificante os ares e o solo da modernidade. Os azulejos, enfim, estão para Portugal, como os tapetes para o Irão e como os frescos para o Renascimento e as curvas para Niemeyer.
E há a poesia, que, aliás, dá-se, aqui, como o próprio tempo. Ela está na confirmação da língua portuguesa, com Camões, secundando Homero na épica lusitana. Darcy Ribeiro retirou daí a convicção de que somos os herdeiros mais legítimos do helenismo: mistura de gentes, paixões dionisíacas à solta, o mar como fronteira e cinzel da razão, a criação poética como fundamento da filosofia. O caleidoscópio civilizatório. Noel Rosa que o diga ao assinalar a poesia como parte do cotidiano do morro brasileiro:

Fazer poema lá na Vila é um brinquedo
Ao som do samba dança até o arvoredo

A poesia atravessa toda a história de Portugal, vincando a prosa de Fernando Pessoa como se fossem versos:

Que há (de alguém) confessar que valha ou que sirva?
O que nos sucedeu, ou sucedeu a toda a gente ou só a nós;
num caso não é novidade, e no outro não é de compreender.
Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de
sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem
importância. Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das
sensações. Compreendo bem as bordadoras por mágoa e as
que fazem meia porque há vida. Minha tia velha fazia paciências
durante o infinito do serão. Estas confissões de sentir
são paciências minhas. Não as interpreto, como quem
usasse cartas para saber o destino. Não as ausculto, porque
nas paciências as cartas não têm propriamente valia. Desenrolo-
me como uma meada multicolor, ou faço comigo figuras
de cordel, como as que se tecem nas mãos espetadas e se
passam de umas crianças para as outras. Cuido só de que o
polegar não falhe o laço que lhe compete. Depois viro a mão
e a imagem fica diferente. E recomeço.
( F.Pessoa – Livro do Desassossego , pg. 45)

Assim, entre azulejos e versos, que inspiram a alma, chega-se à cozinha. Haverá algo mais sublime na civilização do que este corte entre o cru e o cozido? Estudos recentes, intuídos por Levy Strauss, um dos pais da Antropologia Moderna, demonstram que neste entre-acto, assim mesmo, cerimoniosamente, esteve o elo perdido entre o humano e seu ancestral. O levar o alimento ao fogo teve o mesmo sentido do pintar-se o corpo na busca de uma identidade. Uma diferenciação. Já não mais a coleta ou o devoramento instintivo das caças. Mas a mediação: o intervalo da consciência entre o apetite voraz e o desejo. Depois veio a mesa, como uma das mais decisivas instituições do Império Romano. “Ainda ensinaremos estes bárbaros a se banharem e a sentarem-se à mesa”, proclamavam os generais romanos em suas refregas pela conquista do mundo então conhecido... Séculos depois, restou aos europeus, aprendida a lição da mesa, sofisticar os pratos e inventar os talheres, tais como hoje os usamos. Tudo para que os americanos acabassem eclipsando estes saltos civilizatórios com a invenção dos fast-food... Mas quanta saudade da “Festa de Babete”...
[Continua]

Paulo Timm

CFP Conference "Gender issues: Implications for leisure and tourism"

Call for papers
International conference
Gender issues: Implications for leisure and tourism
March 1st-3rd, 2012
University of Aveiro, Portugal

[...]
Submissions
Contributions must be sent by December 15th, 2011 to degei-gentour@ua.pt and must include:
» name(s), institutional affiliation(s) and email address(es) of author(s);
» title of the contribution;
» thematic area(s) addressed;
» keywords (up to five);
» abstract containing a summary of the research aims, approach, method and key arguments/findings.
Style for the abstract: English; maximum 1,000 words (inclusive of references); times new roman; font 12; 1.5 line spacing; and references in APA style.All submissions will be subject to a double-blind peer review process.

Key dates
Abstract submission: December 15th, 2011
Acceptance notification: January 20th, 2012
Full paper: May 25th, 2012

[...]

Contacts
Conference GenTour
Departament of Economics, Management and Industrial Engineering
University of Aveiro
Campus Universitário de Santiago
3810-193 Aveiro
Portugal
Phone: +351 234 370 361
Fax: +351 234 370 215

(reprodução parcial de mensagem que me caiu entretanto na caixa de correio electrónico, reenviada por Paula Cristina Remoaldo)

domingo, setembro 18, 2011

Cartas Portuguesas - de Lisboa (II)

PORTUGAL, UMA POESIA EM AZUL E BRANCO COM TEMPEROS EXÓTICOS - 09 Setembro

Com o perdão de meus afilhados de casamento J.C. e M., que passaram, recentemente, sua lua de mel em algum recanto paradisíaco do Caribe, não consigo entender o quê brasileiros vão fazer naquela parte do mundo quando têm, a seus pés, a mansidão de infindáveis praias do Nordeste, verdadeiras maravilhas no cerrado, particularmente em Bonito –MT , a pujança dos hotéis no meio da Amazônia e uma nação inteira para visitar no extremo sul, com sua variedade geográfica, étnica e cultural. Para não falar em Portugal... Aliás, a propósito, vou falar sim!
Já havia estado em Portugal por duas vezes.
A primeira, ao encontro de Leonel Brizola, em 1979, atendendo sua convocação para a reorganização do trabalhismo no Brasil que resultou na assinatura da histórica Carta de Lisboa, ao cabo de vários dias de reuniões na Sede do Partido Socialista, no Largo do Rato, graças ao apoio de Mario Soares. Na época varei Lisboa de ponta a ponta e, graças à generosidade de um velho político brasileiro, Hugo Borghi, lá presente, senhor de muitos prósperos negócios, que se fez meu amigo, conheci o que de melhor há na suculenta cozinha portuguesa.
Depois, no ano 2000, aqui estive a passeio, novamente e, no itinerário até Fátima, deliciei-me com a bela paisagem ao longo da estrada.
Agora venho com mais calma, para uma estada de dois anos. Cheguei à Lisboa na manhã do dia 30 de Agosto de forma a poder desfrutar, ainda, o último mês do verão europeu. Depois, sei que vou sofrer/ não sei a hora...Sou friorento. Saio rápido do Aeroporto, carregado de malas e procuro a Rota A-23. Meu destino é Covilhã, ao nordeste do país, fronteira com Espanha, a 220 km de Lisboa, onde chego um pouco cansado, perto do meio dia e me ponho a saborear o famoso queijo de ovelhas (aqui dizem ubelhas) da Serra da Estrela, com um bom vinho, ambos recomendados pelo meu amigo Paulo Roberto Pegas, de Torres, no Rio Grande do Sul. Aleluia!
Não me deterei, hoje, sobre a bela Covilhã serrana. Haverá tempo. E até quero conhecê-la mais para poder dizer-lhe melhor sobre encantos e propriedades. Registro, ainda, que não resisti à tentação (lembro-me sempre da máxima de Oscar Wilde: Só os fracos resistem à tentação) de conhecer logo Salamanca – velho sonho -, a 180 km de onde estou. Sobre este portentoso monumento da Idade Média também reservarei outro dia. Hoje é Portugal. Impressões, leituras, informações. E o apelo aos concidadãos brasileiros: Visitem a Mãe-Pátria! Aqui não encontrarão nenhuma resposta, que, de resto, soem ser vãs ilusões, mas ampliarão horizontes que lhes permitirão entender as origens culturais – Minha pátria é minha língua, como dizia o grande poeta Fernando Pessoa - , conhecer o passado comum mergulhado na romanização da Europa e no medievalismo da cristiana idade, e ainda saborear as delícias de uma das melhores cozinhas do mundo.
(Continua)

Paulo Timm

sexta-feira, setembro 16, 2011

Cartas portuguesas - de Lisboa

A Crise portuguesa - 02 setembro 2011

A crise mostra suas garras e colhe os portugueses de surpresa nas armadilhas da globalização financeira. Quanto ao Brasil, nossa relação distante limita-se à presença de alguns artistas e novelas da Globo.

Voltar às origens, esta é a sensação de estar em Portugal, para onde retorno depois de dez anos, desta vez para uma longa estada de estudos. Quero ver a crise europeia de perto... Por todos os lados, um pouco de nós mesmos: no falar, na arquitetura, nos monumentos que enaltecem o périplo marítimo que marcou o segundo milênio da nossa Era Cristã fundindo nossas histórias por três séculos. A cada café parece-me encontrar em alguém o rosto meu velho avô Affonso Pereira, neto de portugueses, morto nos idos de 50, quando eu era ainda criança, mas com a suficiente lembrança de seus hábitos morigerados, rosto fino e alongado sobre o qual se lhe via um topete branco, sempre impecavelmente vestido.

Aliás, não há um tipo físico típico de português, embora o associemos ao estilo ‘galego”, baixo, atarracado, mais próprio dos trasmontanos do norte do país, a região mais pobre de Portugal, de onde saíram os milhares de patrícios que foram para o Brasil no século passado. Nas ruas veem-se loiros, morenos, baixos atarracados, longilíneos, homens e mulheres de tipo mignon, alguns poucos negros e mulatos, gente de todo tipo, porque, já na época do descobrimento, a precoce nação, nascida em 1385, já era extremamente miscigenada.

Mas Portugal é também muito diferente do Brasil. Gostaríamos, aliás, que fosse mais ligado ao Brasil. Sua incorporação à União Europeia, entretanto, sepultou esse sonho. Hoje, a Finisterra dos tempos clássicos, para onde refluíram e se instalaram fenícios, gregos, cartagineses e, finalmente, os romanos, senhores dos mares da antiguidade, na sua ânsia de conhecer e dominar o mundo, além dos árabes, na Idade Média, é apenas um pequeno elo de uma globalização intercalada pela formação de blocos.

Centro colonial de um vasto império que, depois das Grandes Navegações, no século XVI, ia da América à Ásia, passando pela África, Portugal selou seu destino no início do Século XVIII ao ter que se subordinar ao poder militar da Inglaterra, que acabará salvando sua família real um século depois, ao retirá-la para o Brasil, a salvo da invasão napoleônica. Sem uma “invencível armada” restou-lhe contemplar passivamente a Pax Inglesa que vigorou até o final da I Grande Guerra, mergulhando aí num obscurantismo colonial à outrance, na África, mantido a ferro e fogo internamente por um regime retrógrado que subsistiu até a Revolução dos Cravos, em 1979.

Ao abrir-se, então, para a democracia, o histórico país confrontou-se com uma nova realidade mundial marcada, na Europa, pela criação da União Europeia, onde iria ocupar um papel marginal em virtude da pequena envergadura de seu mercado e baixa produtividade de sua indústria. Vastas áreas do país foram transformadas em reflorestamentos enquanto as cidades reduzem-se a um papel secundário como prestadoras de serviços, hoje responsáveis por 67,8% do PIB.

Não obstante, tanto a tradicional agricultura, produtora de grãos e frutas modernizou-se, ocupando embora 12% da população ativa, como a indústria mais pesada também avançou no país, vindo a alcançar perto de 30% do valor agregado da economia, graças a grandes plantas automobilísticas e petroquímicas aqui sediadas nos últimos lustros. Em vista disso, europeizando-se e se desenvolvendo, mesmo como apêndice econômico da UE, Portugal foi se distanciando cada vez mais de seu filho promissor, o Brasil.

Décadas de congelamento das relações diplomática entre os dois países, à raiz da insistência do colonialismo português na África, anteciparam o atual isolamento, hoje reduzido à Comunidade Lusofônica, algumas novelas da Globo e uma que outra presença de cantores famosos. Lembre-se que foi o Brasil, mesmo sob regime militar, mas graças à antevisão do chanceler Azeredo da Silveira, o primeiro país a reconhecer tanto Angola como Moçambique, logo da proclamação da Independência desses países.

“Com o fim da escravidão, Brasil e Angola viveram um período de afastamento que só foi alterado com o início dos movimentos de independência angolanos. Durante esse período, grandes nomes da Diplomacia brasileira, tais como Gibson Barboza e Azeredo da Silveira, se mostraram preponderantes na defesa da importância do restabelecimento de relações mais próximas com o continente africano, e com Angola em especial, e trabalharam no sentido de romper com o tradicional alinhamento a Portugal no caso das colônias africanas. Essa mudança de posição levou o Brasil a ser o primeiro país a reconhecer aindependência de Angola, o que foi um fator determinante para as relações exteriores brasileiras. A decisão brasileira não só aproximou enormemente os dois países como modificou e fortaleceu aimagem do Brasil no exterior, principalmente entre os países ditos periféricos” Suhayla Mohamed Khalil Viana in A posição brasileira diante da independência angolana: antecedentes e desdobramentos).

Hoje, enfim, mudaram os tempos, mas nos fizemos, para os portugueses, apenas uma longínqua referência lusofônica. Agora, porém, a crise mostra suas garras e colhe os portugueses de surpresa nas armadilhas da globalização financeira. O país é, do ponto de vista geral, muito parecido com o Rio Grande do Sul, com uma grande diversidade geográfica assinalada por Eça de Queiroz em A Cidade e as Serras, um vasto e prazeroso litoral que deliciava as cortes europeias nos invernos dos séculos XVIII e XIX, uma população aferida no Censo de 2011 de 10. 555. 583[4] habitantes, com uma renda per capita de US$ 22026USD[6] , perfazendo um PIB, em 2009, na ordem de US$ 233,4 bilhões*[5] (34.º), relativamente pequeno, mas suficiente para tornar a qualidade de vida em Portugal uma das 20 melhores do mundo:

Indicadores sociais :
- Gini (2009) 33.7[7] – médio
- IDH (2010) 0,795[8] (40.º) – muito elevado
- Esper. de vida 78,1 anos (39.º)
- Mort. infantil 3,3/mil nasc. (26.º)
- Alfabetização 94,9% (68.º)

Sobre esse pano de fundo é que se abate a atual crise em Portugal, exigindo do governo conservador medidas de saneamento verdadeiramente assustadoras. O desemprego é superior 12%, o endividamento público, superior a 100% do PIB com uma variação na taxa de juros média nos últimos três meses de 16,6% - uma das mais altas do mundo - e o risco (CDS) também elevado, de 640 pontos base, quando Espanha está com 240 pontos, Itália com 146 e Alemanha, o gigante europeu, com 37 pontos.
Todos, aqui, com exceção dos detentores de grandes patrimônios estão, como dizem, “a pagar a conta” da crise. Na quarta-feira passada o governo anunciou a sobrecarga de um adicional do imposto de renda, por dois anos, sobre as empresas com lucro superior a 1,5 bilhão de euros, bem como sobre as pessoas com rendimento superior a 3,4 euros mensais, algo próximo a oito mil reais, agravando a situação da classe média. O próprio governo reitera, entretanto, que tais medidas não pretendem taxar o capital nem inibir eventuais investidores, debitando-se mais ao esforço de socializar os custos sociais da superação da crise do que a qualquer argumento ideológico.

O grande problema da crise, porém, não se resume a países isolados. Todos os especialistas são unânimes em reconhecer que os recursos estritamente europeus para enfrentar a crise de endividamento público que ameaça a estabilidade dos mercados em toda a zona do Euro são insuficientes. Na primeira semana de setembro, José Manuel Durão Barroso, o chairman da União Europeia enviou uma carta a todos os líderes do bloco na qual apela para uma “reavalição urgente... (dos fundos) para aguentar os riscos do contágio da dívida.” Mas Angela Merkel, da Alemanha, ainda se esforça para segurar a escalada dos juros e da crise na Espanha e Itália, acreditando poder, com isto evitar o efeito dominó sobre todo o continente.

A urgência solicitada por Durão Barroso, porém, faz sentido. A União Europeia dispõe, hoje de 500 bilhões de euros para as emergências, sendo 440 bilhões do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e 60 bilhões do Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira. Deste montante, 170 bilhões já foram alocados em ajudas à Grécia, Irlanda e, agora, Portugal. Sobram apenas 320 bilhões até 2013, quando o Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira passará a ter um acréscimo orçamentário para 750 bilhões de euros.

Mas, segundo estimativas do Deutsch Bank, um socorro eventual à Espanha custaria 300 bilhões e outro, à Itália, não ficaria por menos de 490 bilhões.

Estes dois pesos pesados da economia europeia representam, respectivamente, 12% e 18% do PIB da zona do euro, quando os atendidos até agora , Grécia + Irlanda + Portugal, não passam, juntos, de 6% desse total. A crise do euro, portanto, ainda está muito longe de ser devidamente avaliada e muito mais longe ainda de ser superada.

Paulo Timm

quinta-feira, setembro 15, 2011

Advice

"Advice is what we ask for when we already know the answer but wish we didn't."

Erica Jong
(How to Save Your Own Life, 1977)

(citação extraída de SBANC Newsletter, September 13, Issue 686 - 2011, http://www.sbaer.uca.edu)

domingo, setembro 11, 2011

A procura de um rumo para a Economia Portuguesa: o turismo terá (que ter) um lugar de destaque

Na dimensão serviços, o turismo terá sempre um lugar de destaque, devendo rapidamente configurar contributos para o PIB e para o emprego na ordem daqueles que já tem hoje em dia em países como a Espanha e a Itália. Importa que se perceba entretanto que os serviços e equipamento que viabilizam o turismo devem ter valia ampla, para turistas e residentes, e que a qualidade do serviço e, logo, a qualificação dos seus agentes, devem atender a ambos os segmentos de consumidores.

J. Cadima Ribeiro

sexta-feira, setembro 09, 2011

CALL FOR PAPERS FOR THE EBES 2012 CONFERENCE - ANTALYA

«Dear Colleague,
We would like to invite you to participate in the Eurasia Business and Economic Society (EBES) 2012 Conference - Antalya, which will bring together many distinguished researchers from all over the world. Participants will find a good opportunity for presenting new research, exchanging information and discussing current issues. Although we focus on Europe and Asia, all papers from major business, finance, and economics fields - theoretical or empirical - are highly encouraged.
The conference will be held on January 13 and 14, 2012 at Lyra Resort Hotel in Manavgat, Antalya, Turkey. Abstract submission for the EBES 2012 Conference - Antalya is now open. We would like to remind you that the deadline for abstract submission is October 31, 2011.

PUBLICATION OPPORTUNITIES
We would also like to announce publication opportunities for qualified papers presented at the EBES 2012 Conference - Antalya. Qualified papers will be published in the EBES journals (Eurasian Business Review and Eurasian Economic Review). EBES journals are indexed in the Cabell's Directory, Ulrich's Periodicals Directory, RePEc, EBSCO Business Source Complete, ProQuest ABI/Inform, and EconLit (EER). Interested EBES 2012 Conferences participants can also resubmit their full papers for the EBES 2012 Anthology (has an ISBN number) which is published annually and includes papers presented in the EBES 2012 Conferences.

INVITED SPEAKERS
We are pleased to announce that distinguished researcher, Abdullah Yavas will join the conference as keynote speaker. Professor Yavas is Founding President of the Antalya International University and serves as a member of the Monetary Policy Committee of the Central Bank of the Republic of Turkey. He is also a well-known academician who has published articles in many of the leading economics and finance journals.

For further details please visit our website www.ebesweb.org
Best regards,

Ender Demir
Conference Coordinator

(reprodução de mensagem que me caiu entretanto na caixa de correio electrónico, com a proveniência identificada)

quinta-feira, setembro 08, 2011

"Passos vai acabar com fundações"

«São mais de 800 as fundações públicas que vão ser alvo de processos de extinção e fusão.
Mas as fundações privadas com isenções e outros privilégios fiscais, como é o caso da Fundação Joe Berardo, também irão sofrer os cortes do Governo.
O CM sabe que o assunto foi tratado na reunião de secretários de Estado desta segunda--feira e que alguns dos seus resultados devem ser anunciados já no Conselho de Ministros de amanhã. O processo vai ser iniciado com o envio de um questionário às fundações públicas e privadas, que será alargado depois a associações e institutos que beneficiem de dinheiros do Estado.
Em causa estão também as mais de 370 fundações privadas registadas em condições de legalidade. Ninguém sabe porém quantas fundações estão a funcionar em Portugal. A última auditoria do Tribunal de Contas, datada de Março deste ano, não conseguiu apurar o seu número total, apenas existindo estimativas aproximadas.
O Documento de Estratégia Orçamental, apresentado na semana passada pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar, definia o prazo de 90 dias, a contar da tomada de posse do Governo, para se estabelecer as "opções de extinção, de reorganização, de privatização ou de reintegração na Administração [Pública]", das fundações e outros institutos. É isso mesmo que o Governo vai anunciar agora.

TC FALA EM SITUAÇÃO CONFUSA
A última auditoria do Tribunal de Contas (TC), apresentada no mês de Março, afirmava que só a Direcção-Geral das Contribuições e Impostos continha mais de 40 mil registos de fundações e associações.
Para além disso, "a base de dados do Instituto dos Registos e Notariado/Registo Nacional de Pessoas Colectivas, que, nos termos legais, deveria ser universal, não é, uma vez, que pelo menos, não inclui a totalidade das fundações registadas na Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, na Direcção-Geral da Segurança Social, no Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento e no Ministério da Ciência e do Ensino Superior". Uma situação que foi considerada "confusa" pelo Tribunal de Contas.»

(reprodução de notícia Correio da Manhã, de 2011-09-07)
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[cortesia de Nuno Soares da Silva]

terça-feira, setembro 06, 2011

"The Impact of Economics Blogs"

«There is a proliferation of economics blogs, with increasing numbers of economists attracting large numbers of readers, yet little is known about the impact of this new medium. Using a variety of experimental and non-experimental techniques, we try to quantify some of their effects. First, links from blogs cause a striking increase in the number of abstract views and downloads of economics papers. Second, blogging raises the profile of the blogger (and his institution) and boosts their reputation above economists with similar publication records. Finally, we find that a blog can transform attitudes about some of the topics it covers.»

David J. McKenzie, Development Research Division, World Bank
Berk Özler, Development Research Division, World Bank

(reprodução de Resumo de CEPR Discussion Paper No. 8558, September 2011 - www.cepr.org/DP8558)

segunda-feira, setembro 05, 2011

Há espaço no país para mais do que produzir de forma sub-contratada bens de tecnologia básica

Alguns elementos das políticas agro-florestal e de cidades pressupostos numa estratégia de desenvolvimento do país têm implícitas dimensões de política industrial e de orientação a concretizar no que se refere a serviços a prestar às pessoas e às empresas. Funcionamento em rede, reunião de massas críticas, qualidade do serviço, apelo às referências locais e estímulo à criatividade são tudo instrumentos do processo de configuração de um tecido industrial mais coerente e mais competitivo.
Sabemos que, quando as condições de competência e de enquadramento financeiro e institucional estão reunidas, a iniciativa e a ousadia aparecem. Olhe-se para o desenvolvimento da indústria dos moldes, olhe-se para a progressão das indústrias das tecnologias de informação e comunicação em Portugal, considere-se a evolução que se vem registando em direcção a novos produtos nos têxteis e confecções (têxteis técnicos, têxteis funcionais) e perceber-se-á que há espaço no país para mais do que produzir de forma sub-contratada bens de tecnologia básica, visando mercados pouco exigentes.

J. Cadima Ribeiro

sábado, setembro 03, 2011

O olhar da população vimaranense através da imprensa local da Capital Europeia da Cultura 2012

A nomeação de Guimarães como Capital Europeia da Cultura (CEC) em 2012, para além de suscitar o natural orgulho e reforçar a auto-estima dos residentes, veio colocar na ordem do dia a necessidade de medir os efeitos que a concretização deste mega- evento pode provocar na cidade e no resto do município.
A discussão dos benefícios e dos custos e um alargado envolvimento da comunidade tende a permitir encontrar formas de reduzir os impactos negativos e aumentar os impactos positivos. Para isto, importa realizar debates e promover a participação e envolvimento da comunidade.
Esta comunicação analisa o envolvimento da população e das associações locais na Capital Europeia da Cultura 2012 através da cobertura feita pela imprensa local à preparação do evento. A análise de conteúdo às notícias publicadas abrangeu o período que medeia entre Janeiro e Agosto de 2011 e respeitou a dois semanários locais.
Com base na análise efectuada, pode concluir-se que tem existido uma forte reacção negativa por parte da população e das associações locais à entidade organizadora da CEC 2012, que colocam em questão o envolvimento e participação prevista dos vimaranenses no evento. Resta saber se a nova gestão, nomeada em Agosto de 2011, será capaz de recuperar o entusiasmo e apoio da população vimaranense ao projecto a tempo de se constituir como um factor de sucesso deste mega-evento.

Laurentina Vareiro
Paula Remoaldo
J. Freitas Santos
J. Cadima Ribeiro

(Resumo de comunicação a apresentar no II Congresso Internacional de Turismo da ESG/IPCA, que terá por tema geral "Turismo: Diversificação, Diferenciação e Desafios" e decorrerá na referida instituição, em Barcelos, a 7 e 8 de Outubro de 2011)