Ao conceito de desenvolvimento sustentável estão associadas algumas palavras-chave, tais como: necessidades, bem-estar, qualidade de vida, satisfação e justiça. O turismo pode ser um importante factor de desenvolvimento sustentável. Juntamente com a criatividade, tem ganho espaço nas estratégias de desenvolvimento dos espaços urbanos, constituindo ambos bons instrumentos para alcançar essa meta. Um turismo que se quer criativo tem que proporcionar novas experiências aos visitantes, fazer com que eles possam participar de forma activa em experiências de aprendizagem que são características do destino que seleccionaram.
Vem esta ideia a propósito de uma dissertação de mestrado intitulada “O Turismo Cultural Criativo como motor de desenvolvimento de Ponte de Lima”, defendida com sucesso, recentemente, por uma jovem investigadora (Mécia Mota). Nas linhas que se seguem enunciam-se algumas ilações retiradas das entrevistas semi-estruturadas realizadas a 13 agentes de instituições com intervenção local e regional.
Sem grande surpresa, constatou-se que todos partilharam da opinião de que era elevada a importância do turismo para o município de Ponte de Lima. Adicionalmente, 12 entrevistados consideraram que esta actividade é quase uma alavanca para o desenvolvimento económico, tanto a nível do município como a nível regional. A sua importância resulta do respectivo impacto para as empresas e o emprego, assim como do partido que tira e como pode contribuir para a dinamização da parte cultural, patrimonial e as práticas locais. Adita-se ainda a posição de elevada centralidade do município em termos geográficos e, entre outros aspectos, a circunstância de se tratar de uma vila histórica e a elevada carga simbólica daí resultante, que se exprime em lugares pitorescos e sossegados, em património construído de diversos períodos e em tradições e celebrações com antecedentes remotos. Não obstante, apenas um dos agentes reconheceu a importância das populações locais na actividade turística, ou seja, continua a não se considerar as percepções e as atitudes dos residentes como componente do sucesso das políticas de turismo encetadas, ainda que eles sejam parte da experiência turística.
Confirmou-se que os entrevistados dão elevada importância à promoção turística, mas as opiniões divergiram sobre a eficácia da estratégia de gestão e promoção turística concretizadas na região de turismo Porto e Norte de Portugal. Sobressai a importância do papel agregador da “nova” região de turismo, que consideram abranger um espaço muito vasto, mas que ao mesmo tempo encerra realidades bastante diferentes. A estratégia desta região de turismo é considerada por alguns entrevistados como sendo (demasiado) ambiciosa.
Apesar de reconhecerem a existência de uma evolução em matéria de enquadramento institucional, entendem que o modelo não se tem revelado eficaz, porque o turismo envolve vertentes como o planeamento e a valorização dos recursos e do património, que têm sido menorizadas.
Quando questionados sobre a sua opinião sobre o Plano Estratégico Nacional de Turismo (P.E.N.T.), em vigor até 2015, sete dos entrevistados foram de opinião que este teve um significado positivo na definição de uma estratégia nacional para o turismo. Contudo, dois entrevistados explicitaram algumas dúvidas quanto à eficácia daquele instrumento a nível regional.
Foi ainda pedido aos entrevistados que dessem a sua opinião sobre as potencialidades do turismo cultural na perspectiva da evolução de um turismo cultural mais passivo para um turismo cultural mais criativo. Verificou-se que, com alguma facilidade, se identificaram potencialidades, tais como, os solares, as aldeias, a gastronomia, o património construído, as lagoas e as ecovias, mas poucos deram exemplos práticos de como ligar de forma mais efectiva o património edificado e imaterial e as actividades a desenvolver de forma mais activa e singular pelos visitantes.
Na nossa perspectiva, além da necessidade dos diversos actores com responsabilidades na área do turismo necessitarem de ganhar consciência da importância de actuar em rede e de desenvolverem parcerias activas em prol de um maior desenvolvimento do turismo, devem repensar a estratégia de promoção, que apresenta algumas lacunas, nomeadamente porque continua em grande medida a ser feita de forma individual, gastando-me muito dinheiro em papel e fazendo-se pouco uso das tecnologias de informação e comunicação.
Paula Cristina Remoaldo
[artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, no contexto de colaboração regular]
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