Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

domingo, maio 22, 2011

"Petição sobre a ´ajuda` da troika"

«Caro/a colega,

Envio abaixo uma petição que foi elaborada em conjunto por um conjunto de académicos e estudantes preocupados com a forma como o acordo com a troika está a ser apresentado na comunicação social, incluindo alguns investigadores do CES (José Castro Caldas, João Rodrigues, Nuno Serra e Miguel Cardina). O objectivo desta petição, a ser assinada sobretudo por professores, investigadores e estudantes de economia e outras ciências sociais, é a de apresentar uma reclamação contra a forma parcial como muitas notícias têm sido dadas, focando-se na utilização sistemática da palavra "ajuda" para descrever o empréstimo da troika.
A petição será enviada para os provedores de jornais, televisões e rádios e será divulgada pela Internet.
Caso esteja de acordo com o conteúdo da petição, peço que me envie, até à próxima segunda-feira, o nome e filiação. Durante a próxima semana darei mais notícias.

Grato pela atenção dispensada,
Ricardo Sequeiros Coelho
Bolseiro de Investigação do Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra

Pelo rigor na cobertura mediática do acordo com a "troika": um empréstimo não é uma ajuda

Uma comunicação social livre, exigente, isenta e plural é uma condição fundamental da democracia. À relevância do papel social de produção e difusão de notícias deve corresponder a mesma dose de responsabilidade e exigência no tratamento noticioso da realidade que é, necessariamente, construída pela própria noticia. Especialmente num período em que nos aproximamos de eleições, a responsabilidade sobre os temas tratados não deve existir apenas no plano da justa distribuição de tempo pelas várias ideias e opções politicas que se apresentam perante o sufrágio dos cidadãos: a semântica reveste-se igualmente de uma importância crucial no tratamento noticioso.

Neste sentido, torna-se manifestamente inaceitável que a generalidade dos órgãos de comunicação social continue a reproduzir, displicentemente, a ideia de que o empréstimo da "troika" FMI-BCE-UE constitui uma "ajuda externa", optando assim, implicitamente, pela aceitação acrítica desta noção.

Ora, em primeiro lugar, um empréstimo com uma taxa de juro tão elevada dificilmente pode ser considerado uma ajuda. E, em segundo lugar, este empréstimo, encontra-se associado a um acordo, que obriga o Estado Português a cumprir - a troco do empréstimo - um conjunto de contrapartidas que se materializam em medidas de austeridade fiscais, sociais e económicas. Por último, assumir acriticamente que se trata de uma ajuda significa ignorar a profunda controvérsia, contestação e discussão quanto à pertinência e adequação destas medidas, cujos impactos sociais e económicos nefastos são amplamente reconhecidos.

Ao atribuir-se ao memorando da "troika" o epíteto de "ajuda externa" está-se portanto a construir, ou a veicular com manifesta parcialidade, uma narrativa política que favorece quem se comprometeu com este acordo, em detrimento de outras narrativas, igualmente existentes, nomeadamente da parte de quem o contesta. Quando a ideologia se inflitra desta forma inaceitável, numa sociedade plural, no tratamento noticioso, é não só o jornalismo que sai diminuído, mas também a própria democracia.

Sabemos, pelos programas dos partidos que concorrem a eleições, que existem diferentes abordagens, interpretações e propostas de solução no que concerne ao problema da dívida da República Portuguesa. São estas perspectivas que estarão sob escrutínio dos eleitores no dia 5 de Junho. Ao assumir acriticamente a ideia de "ajuda externa", a comunicação social interfere no processo plural de debate de ideias, contribuindo para que a ideologia se sobreponha à democracia. É por isso inaceitável que o acordo da "troika" receba o rótulo de "ajuda", tornando-se por isso urgente que os diferentes órgãos de comunicação social se lhe refiram em termos mais rigorosos, isentos e correctos de um ponto de vista da linguagem económica, recorrendo por exemplo às expressões de "crédito", "empréstimo" ou "intervenção externa".»

(reprodução integral de mensagem de correio electrónico que me caiu na caixa de correio electrónico na 6ª feira pp., proveniente de: dr.kandimba@gmail.com, em nome de Ricardo Coelho)

Ps: "A petição já se encontra on-line, em http://emprestimonaoeajuda.wordpress.com/"

1 comentário:

Ricardo S. Coelho disse...

A petição já se encontra on-line, em http://emprestimonaoeajuda.wordpress.com/
Obrigado pela divulgação