É sabido que a economia anda de “mãos dadas” com as expectativas e que uma influencia a outra. Se estivermos em expansão as nossas expectativas serão, em princípio, mais elevadas podendo acentuar a própria expansão. Numa situação de recessão elas podem ainda agravar mais uma situação que já não é boa. Por outro lado, as expectativas podem levar a uma recessão económica ou mesmo tirar a economia da crise.
O comportamento de todos os agentes económicos rege-se, fundamentalmente, pelas suas expectativas em relação ao futuro. As famílias consomem se tiverem a certeza (o que nunca é uma certeza mas uma expectativa) de que o dinheiro gasto não lhes vai fazer falta num futuro recente. Já as empresas só vão investir se houver expectativas de que vão vender os seus produtos, e assim realizar lucros, pois o contrário seria impensável. O próprio Estado toma as suas decisões de política e de orçamento segundo expectativas. Somos assim levados a pensar que a economia “funciona” a expectativas, o que tem a sua razão embora não seja totalmente verdade.
Ora se os agentes económicos tomam as suas decisões com base em expectativas, é porque elas desempenham um papel deveras importante. Assim sendo como é que elas se geram? Quem é que influencia as expectativas que vão comandar a economia?
Existem várias entidades com este poder, nomeadamente os meios de comunicação social, os governos e eventualmente a própria oposição ao governo, determinadas individualidades e instituições nacionais e internacionais. Todos eles têm em comum uma característica muito importante: credibilidade. Para que os agentes económicos incorporem as expectativas transmitidas é preciso que eles acreditem em quem as transmite. No entanto, parece haver uma predisposição dos agentes para acreditar mais depressa em algo mais negativo que positivo.
Um mau exemplo de como os governantes podem influenciar as expectativas dos agentes económicos foi o “discurso da tanga” de Durão Barroso. A verdade é que naquela altura estávamos a entrar numa fase de recessão económica, e as declarações do então Primeiro Ministro não só não melhoraram a situação como a agudizaram, gerando uma onda de pessimismo entre os agentes económicos. Se eles pensavam que e situação não era das melhores, depois disto tiveram a “certeza” que era realmente péssima e retraíram os seus consumos e investimentos ainda mais.
Já o actual Ministro da Economia quis fazer precisamente o oposto quando disse que “a crise acabou” e o que importava agora saber era quanto iria crescer a economia, isto na minha opinião foi um pouco radical. Pouco tempo depois o ministro vinha dizer que a sua verdadeira intenção era desdramatizar a situação nacional. Ora, se a primeira declaração não foi das melhores a segunda deveria ter sido pensada com mais cuidado, mesmo havendo de facto grandes expectativas de retoma.
É preciso que as personalidades com capacidade de influenciar os agentes económicos se apercebam do verdadeiro poder que na realidade têm. Devem-se evitar declarações radicais pois podem gerar sentimentos de desconfiança e mesmo pânico. Acho sinceramente que os decisores de política deveriam encarar as suas declarações com prudência, pois as expectativas têm uma grande volatilidade, de modo a poderem usá-las como instrumento de política.
Alina Gonçalves
O comportamento de todos os agentes económicos rege-se, fundamentalmente, pelas suas expectativas em relação ao futuro. As famílias consomem se tiverem a certeza (o que nunca é uma certeza mas uma expectativa) de que o dinheiro gasto não lhes vai fazer falta num futuro recente. Já as empresas só vão investir se houver expectativas de que vão vender os seus produtos, e assim realizar lucros, pois o contrário seria impensável. O próprio Estado toma as suas decisões de política e de orçamento segundo expectativas. Somos assim levados a pensar que a economia “funciona” a expectativas, o que tem a sua razão embora não seja totalmente verdade.
Ora se os agentes económicos tomam as suas decisões com base em expectativas, é porque elas desempenham um papel deveras importante. Assim sendo como é que elas se geram? Quem é que influencia as expectativas que vão comandar a economia?
Existem várias entidades com este poder, nomeadamente os meios de comunicação social, os governos e eventualmente a própria oposição ao governo, determinadas individualidades e instituições nacionais e internacionais. Todos eles têm em comum uma característica muito importante: credibilidade. Para que os agentes económicos incorporem as expectativas transmitidas é preciso que eles acreditem em quem as transmite. No entanto, parece haver uma predisposição dos agentes para acreditar mais depressa em algo mais negativo que positivo.
Um mau exemplo de como os governantes podem influenciar as expectativas dos agentes económicos foi o “discurso da tanga” de Durão Barroso. A verdade é que naquela altura estávamos a entrar numa fase de recessão económica, e as declarações do então Primeiro Ministro não só não melhoraram a situação como a agudizaram, gerando uma onda de pessimismo entre os agentes económicos. Se eles pensavam que e situação não era das melhores, depois disto tiveram a “certeza” que era realmente péssima e retraíram os seus consumos e investimentos ainda mais.
Já o actual Ministro da Economia quis fazer precisamente o oposto quando disse que “a crise acabou” e o que importava agora saber era quanto iria crescer a economia, isto na minha opinião foi um pouco radical. Pouco tempo depois o ministro vinha dizer que a sua verdadeira intenção era desdramatizar a situação nacional. Ora, se a primeira declaração não foi das melhores a segunda deveria ter sido pensada com mais cuidado, mesmo havendo de facto grandes expectativas de retoma.
É preciso que as personalidades com capacidade de influenciar os agentes económicos se apercebam do verdadeiro poder que na realidade têm. Devem-se evitar declarações radicais pois podem gerar sentimentos de desconfiança e mesmo pânico. Acho sinceramente que os decisores de política deveriam encarar as suas declarações com prudência, pois as expectativas têm uma grande volatilidade, de modo a poderem usá-las como instrumento de política.
Alina Gonçalves
(doc. da série artigos de análise/opinião)
4 comentários:
A forma como o governo comunica com os agentes económicos tem um papel fundamental na avaliação que estes fazem da evolução económica.
Isso não significa que se deva enganar o público. Pelo contrário. Uma boa gestão de expectativas tem de ser apoiada em políticas adequadas, que validem as conjecturas do público a longo prazo.
Se a comunicação for boa e os agentes económicos entenderem os objectivos da política, tenderão a aceitar melhor as reformas menos populares.
O marketing político não deve servir apenas para ganhar eleições. Deve procurar formular uma estratégia consistente com uma governação transparente.
Concordo com a tua opinião da grande influência das expectativas sobre a conjuntura económica nas acções dos agentes. De facto, as palavras de um governante devem ser tidas e interpretadas, «a priori», como únicas, válidas e honestas, pois são eles que trabalham no sentido de dar aos portugueses uma qualidade de vida cada vez melhor e os elucidar sobre o que está a acontecer.
Numa altura em que ninguém parece perceber muito bem o que se passa na nossa economia, o ministro da economia, Manuel Pinho, tem sublinhado uma posição de força. No entanto, sensato é aquele que pesa tranquilamente os prós e contras antes de uma divulgação de opinião de extrema responsabilidade como esta sobre a evolução da nossa economia.
O tema proposto pela colega é de grande actualidade e pertinência. De facto, as expectativas face ao futuro estão presentes em todas as decisões económicas tomadas pelos agentes, afectando assim o desempenho da economia. Os “media” são uma via por excelência de propagação de informação e, como tal, funcionam como uma forma de incutir determinadas expectativas aos agentes. No entanto, os resultados dessa difusão de informação não são sempre positivos. Por um lado, a informação aqui vinculada nem sempre pode ser entendida com o grau de rigor que deveria ter. Por outro, não parece haver até mesmo por parte de personalidades como Durão Barroso (no caso referido pela colega) a noção da importância das suas palavras enquanto meio de difusão de determinadas expectativas. Impera, assim, a necessidade de uma maior consciencialização para o “papel” que os governantes (e também os "media") deveriam desempenhar no âmbito da influência das expectativas dos agentes.
As personalidades credíveis do país poderiam utilizar essa sua capacidade para tentarem diminuir o tempo das recessões económicas e acelerar as retomas. O povo português é péssimista por excelência, por isso uma palavra credível de esperança e incentivo podem fazer toda a diferença para o crescimento do seu optimismo.
Accredito que a crise pela qual temos passado nos últimos anos poderia ter sido menos dura e mais rápida se não tivesse sido tão dramatizada por todos os agentes económicos influentes.
O governo deveria apostar na criação de expectativas positivas, por forma a que o país mais rapidamente atingisse a retoma e mais rapidamente alcançasse o nível de crescimento médio da zona euro.
Patrícia Alves
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