Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

domingo, janeiro 09, 2011

O Poder Real em Portugal 2010 e a Crise (1ª parte)

INTRODUÇÃO
Quais as forças económicas, políticas e ideológicas que dominam este País?
Os analistas da Comunicação Social de todos os quadrantes passam horas e horas a fazer ilações sobre a Crise Financeira, sem sequer haver um que se dedique a uma análise mais ou menos rigorosa da História recente deste País. Só uma análise desapaixonada do que se passou no País no pós-25 de Abril pode lançar luz sobre as raízes da presente crise e seus efeitos no futuro. Só através de uma análise desapaixonada do que se passou no País no pós-25 de Abril se pode entender o que se está a passar neste País em todos os domínios, incluindo o económico. E para fazer essa análise basta compilar as principais notícias (factos) que se passaram desde o 25 de Abril.
Também não há falta de informação científica factual publicada: por exemplo, a tese de doutoramento do Professor Varqá Carlos Jalali1, defendida na Universidade de Oxford em 2002, sob o título de “The Evolution of the Portuguese Party System in Comparative European Perspective since 1974”, donde colhemos alguns elementos para a elaboração destas notas, tem cerca de 500 referências...

O 25 de Abril de 1974 foi uma Revolução “rumo ao socialismo” ou uma “Evolução”?
Esta questão foi posta no ar não há muito tempo e os “revolucionários” (PCP, BE e parte esquerda do PS) logo apelidaram, mais uma vez, de “reaccionários” os que do CDS, PSD e parte central do PS falavam de “Evolução”. Ora, neste caso, à luz dos factos, quem tem razão são os “revolucionários”.
Na verdade, houve uma Revolução e uma Revolução “Cultural”, quando ela já estava a terminar na China de Mao-Tzé-Tung.
Lendo os jornais da época os factos saltam à vista:
- O PCP, sob a égide de Cunhal e seus camaradas, tomaram conta dos “Trabalhadores” formando e consolidando a CGTPin [Confederação Geral dos Trabalhadores (Intersindical)], tentando meter na CGTPin TODOS os sectores do País (Administração Pública, Transportes e Comunicações, operários de todas as indústrias, camponeses, etc.) deixando apenas de fora os “Patrões” (empresários, grandes e pequenos; os grandes tiveram de fugir do País). O PS, sob a égide de Mário Soares, deu uma resposta tímida a esta situação formando a UGT (União Geral dos Trabalhadores) e o PSD, nada fez. Tentou apenas “esboçar” um sindicato que realmente, na prática ainda hoje não existe.
- O PCP criou e consolidou o “Sindicato dos Professores”, obrigando, com manifestações de rua, ao “fecho do leque salarial”, entendendo-se que o professor(a) da “Instrução Primária” deveria ganhar tanto como o professor do 12º. ano e este tanto como professor catedrático. Para isso convocou variadas greves e com elas e com variadas pressões conseguiu “promover”, sem quaisquer concursos, praticamente todos os professores do ensino básico e secundário (B+S) ao topo da carreira [o Sindicato dos Professores pouco ou nada se interessou pelos professores do Ensino Universitário (ainda não existiam os Politécnicos) porque, sendo poucos, davam poucos votos ao PCP; além disso, não “colaboraram” nas greves].
- O PCP e as alas anarquistas do que é hoje o BE promoveram e capturaram as associações de estudantes, tanto as do Ensino B+S como as do Ensino Superior. Esses “militantes de choque” “assaltaram” o Ensino Universitário e “sanearam” praticamente todos os professores com decisões nas famosas “RGAs” (Reuniões Gerais de Alunos) e tomaram eles próprios conta das direcções de muitas faculdades. Assim, por exº., o IST foi dirigido vários meses por um estudante e o mesmo aconteceu na Faculdade de Ciências de Coimbra, enquanto a FEUP era dirigida por um assistente dos menos cotados.
[Continua]

JBM

1 Varqá Jalali é Prof. de Sociologia na Universidade de Aveiro e filho da Profª. Minoo. da EEG da UM, e do Prof. Said Prof. de Eng. Civil da UM.
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(Artigo de opinião/testemunho do autor identificado. Devido à extensão total do texto, que se reporta a um período amplo e a dimensões muito variadas da realidade que trata, será divulgado por partes. Sendo matéria sensível aquela que se invoca, é aqui tratada como testemunho de alguém que viveu o período objecto de análise e que dele faz a sua leitura.)

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