Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

terça-feira, janeiro 25, 2011

O Poder Real em Portugal 2010 e a Crise (8ª parte)

[Continuação]
A falta de decisões para resolver a Crise Estrutural da Economia resulta do Impasse no Poder Real em Portugal.
Pelo que acima se descreve, vê-se bem que a Sociedade Portuguesa continua fracturada e que, em termos eleitorais, são duas metades praticamente iguais. Este impasse, que vem praticamente desde o 25 de Abril, leva a uma bem compreensível situação de imobilismo na Economia, muito agravado pela anarquia que continua a reinar no Ensino B+S. E, para resolver o impasse, não aproveitam as variadas “manobras” do actual governo criando programas como o das “Novas Oportunidades”, que não vão o fundo da questão: Um Ensino B+S bem constituído e exigente, onde o trabalho e o mérito sejam recompensados, complementado por Ensino Técnico Industrial e Comercial de igual exigência e qualidade indo ao encontro das necessidades reais das empresas, ambos dando acesso ao Ensino Superior em pé de igualdade, complementados ainda por Escolas de Artes e Ofícios (Topógrafo, Desenhador, Carpinteiro, Serralheiro Civil, Motorista, Torneiro, Frezador, Picheleiro, Electricista, Trolha, Pintor, Mecânico de Automóveis, Relojoeiro, Sapateiro, Jardineiro, Costureira, Alfaiate, Modista, Costureiro, Cozinheiro(a), Barbeiro, Cabeleireiro, Sondador, Empregado(a) Doméstico(a), Paquete, etc., etc.), destinados às pessoas que, não tendo um nível de inteligência para grande abstracções necessárias para a frequência com sucesso de um Curso Superior, têm, todavia, qualidades manuais que podem ser aproveitadas para uma profissão de “artífice”. Note-se que, sem cair na pretensa igualdade social de professor e aluno que os “bolcheviques portugueses” continuam a querer impor à viva força em todo o Ensino, haverá que cultivar o respeito mútuo por todos os profissionais, do varredor ao professor catedrático, mas “chacun à sa place” e com uma hierarquia bem definida em cada “unidade produtiva” (empresa de qualquer tipo, ou escola de qualquer nível, etc.).
Só com uma sã formação, seja a que nível for, se consegue ter profissionais úteis à Sociedade em Portugal ou em qualquer parte do Mundo, e o Bem “Material” mais rico que um País pode ter é o nível cultural, a competência e o nível educacional de cada um dos seus cidadãos.
Voltemos a lembrar que grande parte do Poder Real em Portugal não está nos ministros das diferentes pastas, nomeadamente nas da Educação, da Economia , das Finanças, do Trabalho e do Interior. Continua na mão dos sindicatos, que são “correias de transmissão” do PCP e BE (FENPROF, Sindicato dos Professores, CGTPin, Sindicato da Administração Pública, Sindicato dos Magistrados, etc.), e também está, desde o 25 de Abril, nos funcionários de carreira “inamovíveis” que povoam vários ministérios, nomeadamente o Ministério da Educação. Para provar esta afirmação bastará notar que desde o 25 de Abril houve 18 (dezoito) governos constitucionais e 6 governos provisórios, mas os “leaders” dos sindicatos acima referidos são praticamente os mesmos, com algumas pequenas “rotações”. Naturalmente que a principal razão desta situação (que perdurará até quando?) está em que o Partido Comunista Português, ao contrário do que aconteceu em todos os partidos comunistas mundiais à excepção do da Coreia do Norte, continua praticamente como estava no 25 de Abril de 1974: “monolítico” e “militarizado” - embora este último aspecto não seja divulgado nem se lhe preste a devida atenção. Para provar o que acima se diz, bastará perguntar porque é que os “dissidentes” do PCP estão (foram) todos silenciados (Zita Seabra, Carlos Brito, Carlos Luís Figueira , Silva Graça, Veiga de Oliveira, Sousa Marques, Vítor Louro, Dulce Martins, etc.)
(A este respeito vale a pena referir um facto ocorrido em Janeiro de 1975 num almoço familiar: Um dos convivas era operário dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, onde o PCP domina o operariado. Logo no início da nacionalização, esse operário foi “convidado” a inscrever-se no PCP, o que fez a conselho de muitos outros colegas. Ora, disse, era (é ?) regra imposta pelo Comité Central que todos os militantes deviam ter uma função- por isso se dizem “funcionários do PCP-. A ele foi-lhe atribuída a função de “operacional” no “aparelho de segurança”. Timidamente, pediu que lhe dessem outra função, visto que era casado e tinha filhos, entendendo ele que tais funções deveriam ser atribuídas a jovens solteiros. Atenderam ao caso colocando-o como espia no Bar dos Estaleiros...).
[Continua]

JBM

(Artigo de opinião/testemunho do autor identificado. Devido à extensão total do texto, que se reporta a um período amplo e a dimensões muito variadas da realidade que trata, será divulgado por partes. Sendo matéria sensível aquela que se invoca, é aqui tratada como testemunho de alguém que viveu o período objecto de análise e que dele faz a sua leitura.)

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