1. Seguindo o exemplo de outros, porque ainda há exemplos que não nos envergonham, decidi fazer neste meu primeiro texto de 2011 um apanhado de temas por mim versados no ano precedente no contexto da minha colaboração no Suplemento de Economia do Diário do Minho. A abrir o novo ano, parece-me ainda tempo de fazer o balanço do ano findo, para retirar lições do que foi mal e sublinhar o que importa replicar.
2. Dando corpo ao ensejo antes enunciado, cumpre assinalar que o tema tratado no primeiro artigo que produzi em 2010 foi, nada mais, nada menos, que a pobreza e as desigualdades em Portugal. Numa altura em que nos sabemos, genericamente falando, mais pobres que há um ano, não deixa de ser premonitória e irónica a escolha. Assinalava-se aí que, “entre 1997 e 2007, a taxa de pobreza em Portugal se reduziu cerca de quatro pontos percentuais, passando de 22% para 18%”. Desgraçadamente, não é preciso recorrer a grandes estudos para concluir que o período mais recente, com particular realce para o último ano, foi de claro retrocesso. Os dados do desemprego (em termos médios nacionais, em torno dos 11%) são um indicador seguro de desastre social que o país experimenta.
3. Em Fevereiro pp. referi-me à política energética na U.E. e em Portugal. Encontrei aí pretexto para invocar as alterações climáticas e o clima de incerteza que se vive no que ao abastecimento energético se refere, e destacar a enorme vulnerabilidade que o país mantém nesse domínio, sabido que Portugal é um dos estados-membros da União Europeia com uma maior nível de dependência energética. Na vertente oposta, foi também ocasião para dar conta dos passos positivos ultimamente dados em termos de produção de energia a partir de fontes renováveis, que já vem surtindo efeito na redução da factura energética.
4. O artigo publicado no mês seguinte, com o título O Quadrilátero Urbano do Baixo Minho, foi também um texto que trazia sinais de esperança. Neste caso, a esperança da materialização de um projecto de concertação de investimentos e de acções entre vizinhos, em prol da competitividade e do desenvolvimento do território comum. Depois disso pouco mais veio a público sobre como se está a construir essa realidade ambicionável. Do mal, o menos: parece que não se retrocedeu, como se pode inferir da instalação em curso da comunidade intermunicipal para fins específicos criada para dar corpo institucional à parceria de cidades constituída.
5. Voltei à problemática do desenvolvimento regional, em contexto mais genérico, no texto de Setembro. O pretexto foi a publicação de um livro que me chegou do outro lado do Atlântico, da autoria de Valdir Roque Dallabrida. Por via dele, fui reconduzido à memória de um amigo comum (Dinizar Becker), prematuramente falecido, e ao retomar de muitas ideias em que me reconheço expostas na dita obra. Entre elas, encontrei a da inviabilidade de serem prosseguidas aproximações de natureza disciplinar na interpretação das realidades complexas das regiões e na construção de respostas em matéria do seu desenvolvimento.
6. O artigo de Outubro foi de protesto, como já o havia sido o de Março, tendo ambos como pano de fundo os programas de estabilidade e crescimento, o primeiro e o segundo, e quantos mais hão-de vir, que irão ser tantos quantos ditar a incompetência e falta de projecto para o país dos governantes que vamos tendo. Escrevi então (Outubro) e reafirmo agora (atente-se, a propósito, na conversa natalícia, em família, de Sócrates) “que um incompetente nunca admite a sua incompetência”. O que vale para José Sócrates, vale em para Fernando Teixeira dos Santos, que, por enquanto, só não faz conversas em família. Reafirmo também o que disse em Março; concretamente: que os programas de estabilidade e crescimento fazem apenas sentido “quando tenham como objectivo o crescimento económico e o bem-estar das populações”.
7. O último texto do ano dediquei-o à proposta da transformação da Universidade do Minho numa fundação. Não fui além da produção de algumas considerações preliminares porque o debate sobre a referida problemática está apenas no seu início e, também, em razão da respectiva complexidade, que parece só não ser reconhecida pelo(s) respectivo(s) proponente(s). Preliminar que foi a abordagem, serviu para evidenciar a falta de oportunidade da proposta, o que, em razão do desenho feito neste texto da situação do país e da respectiva (des)governação, não precisa de ser sublinhado. Na altura, não foi deixado explicito que o artigo servia também para rejeitar a ideia que o devir da Instituição se deva construir a partir de supostas visões iluminadas mantidas por certos agentes bem colocados na hierarquia do poder, mas pode sê-lo agora. Em aproximação alternativa, defende-se que uma “academia que aspira e exige a autonomia” é uma academia que é capaz de colectivamente definir um projecto e abraçar o processo da sua concretização, e é uma academia liberta de personagens providenciais. O que se diz a propósito do momento que a Universidade do Minho atravessa é também válido para o país.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de 2011/01/04, do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "A Riqueza das Regiões")
2. Dando corpo ao ensejo antes enunciado, cumpre assinalar que o tema tratado no primeiro artigo que produzi em 2010 foi, nada mais, nada menos, que a pobreza e as desigualdades em Portugal. Numa altura em que nos sabemos, genericamente falando, mais pobres que há um ano, não deixa de ser premonitória e irónica a escolha. Assinalava-se aí que, “entre 1997 e 2007, a taxa de pobreza em Portugal se reduziu cerca de quatro pontos percentuais, passando de 22% para 18%”. Desgraçadamente, não é preciso recorrer a grandes estudos para concluir que o período mais recente, com particular realce para o último ano, foi de claro retrocesso. Os dados do desemprego (em termos médios nacionais, em torno dos 11%) são um indicador seguro de desastre social que o país experimenta.
3. Em Fevereiro pp. referi-me à política energética na U.E. e em Portugal. Encontrei aí pretexto para invocar as alterações climáticas e o clima de incerteza que se vive no que ao abastecimento energético se refere, e destacar a enorme vulnerabilidade que o país mantém nesse domínio, sabido que Portugal é um dos estados-membros da União Europeia com uma maior nível de dependência energética. Na vertente oposta, foi também ocasião para dar conta dos passos positivos ultimamente dados em termos de produção de energia a partir de fontes renováveis, que já vem surtindo efeito na redução da factura energética.
4. O artigo publicado no mês seguinte, com o título O Quadrilátero Urbano do Baixo Minho, foi também um texto que trazia sinais de esperança. Neste caso, a esperança da materialização de um projecto de concertação de investimentos e de acções entre vizinhos, em prol da competitividade e do desenvolvimento do território comum. Depois disso pouco mais veio a público sobre como se está a construir essa realidade ambicionável. Do mal, o menos: parece que não se retrocedeu, como se pode inferir da instalação em curso da comunidade intermunicipal para fins específicos criada para dar corpo institucional à parceria de cidades constituída.
5. Voltei à problemática do desenvolvimento regional, em contexto mais genérico, no texto de Setembro. O pretexto foi a publicação de um livro que me chegou do outro lado do Atlântico, da autoria de Valdir Roque Dallabrida. Por via dele, fui reconduzido à memória de um amigo comum (Dinizar Becker), prematuramente falecido, e ao retomar de muitas ideias em que me reconheço expostas na dita obra. Entre elas, encontrei a da inviabilidade de serem prosseguidas aproximações de natureza disciplinar na interpretação das realidades complexas das regiões e na construção de respostas em matéria do seu desenvolvimento.
6. O artigo de Outubro foi de protesto, como já o havia sido o de Março, tendo ambos como pano de fundo os programas de estabilidade e crescimento, o primeiro e o segundo, e quantos mais hão-de vir, que irão ser tantos quantos ditar a incompetência e falta de projecto para o país dos governantes que vamos tendo. Escrevi então (Outubro) e reafirmo agora (atente-se, a propósito, na conversa natalícia, em família, de Sócrates) “que um incompetente nunca admite a sua incompetência”. O que vale para José Sócrates, vale em para Fernando Teixeira dos Santos, que, por enquanto, só não faz conversas em família. Reafirmo também o que disse em Março; concretamente: que os programas de estabilidade e crescimento fazem apenas sentido “quando tenham como objectivo o crescimento económico e o bem-estar das populações”.
7. O último texto do ano dediquei-o à proposta da transformação da Universidade do Minho numa fundação. Não fui além da produção de algumas considerações preliminares porque o debate sobre a referida problemática está apenas no seu início e, também, em razão da respectiva complexidade, que parece só não ser reconhecida pelo(s) respectivo(s) proponente(s). Preliminar que foi a abordagem, serviu para evidenciar a falta de oportunidade da proposta, o que, em razão do desenho feito neste texto da situação do país e da respectiva (des)governação, não precisa de ser sublinhado. Na altura, não foi deixado explicito que o artigo servia também para rejeitar a ideia que o devir da Instituição se deva construir a partir de supostas visões iluminadas mantidas por certos agentes bem colocados na hierarquia do poder, mas pode sê-lo agora. Em aproximação alternativa, defende-se que uma “academia que aspira e exige a autonomia” é uma academia que é capaz de colectivamente definir um projecto e abraçar o processo da sua concretização, e é uma academia liberta de personagens providenciais. O que se diz a propósito do momento que a Universidade do Minho atravessa é também válido para o país.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de 2011/01/04, do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "A Riqueza das Regiões")
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