Os desafios para a economia são hoje muito diferentes dos enfrentados há 30 anos, o mesmo acontecendo aos instrumentos de política económica que poderão ser utilizados.
Segundo os últimos dados disponíveis, existem sinais de algumas melhoras na debilitada saúde da economia nacional. Aos poucos e pouco, a economia portuguesa vai ficando menos anémica e menos letárgica, principalmente devido à recuperação da procura externa, que começou a demonstrar algum dinamismo no final de 2005 e cresceu apreciavelmente em 2006.
Em contraste, o investimento permanece decepcionante e tem-se registado um arrefecimento considerável do consumo privado, penalizado pelo elevado endividamento das famílias e pela gradual subida das taxas de juro. As imposições orçamentais do Pacto de Estabilidade também têm retirado margem de manobra ao investimento e consumo públicos.
O início da retomada económica em Portugal marcou o ano de 2006, registando a economia um crescimento maior do que o esperado inicialmente, sobretudo em função da melhoria da actividade com os parceiros comerciais. Ao contrário dos anos anteriores, as exportações têm sido o motor da recuperação. Portugal foi capaz de entrar em novos mercados estrangeiros e de elevado crescimento, como o Brasil, México, Singapura, China e Angola, e alguns analistas dizem que se começam a perceber alguns sinais de redução do peso dos têxteis nas exportações portuguesas, a favor de bens de maior valor agregado (máquinas, químicos e refinação).
Apesar de uma ligeira aceleração da actividade económica, o consumo dos privados permaneceu fraco, com a melhoria do mercado de trabalho ainda praticamente sem reflexo nos gastos das famílias.
O ténue crescimento da economia portuguesa impediu-a de se aproximar da média dos seus parceiros comunitários, com os portugueses ficando relativamente mais pobres do que os outros cidadãos da União Europeia.
Para 2007 e os anos seguintes são esperadas poupanças mais significativas do lado da despesa pública, com os efeitos da reforma da previdência social e das alterações prometidas na administração pública surtindo efeito, permitindo uma melhor consolidação das contas públicas.
Ora, em 2007, a nossa atenção deveria estar concentrada em duas variáveis: as exportações e o investimento. Nas últimas décadas, estas duas variáveis são claramente as mais importantes no que diz respeito à retoma da economia nacional após um período recessivo.
Em relação às exportações, é cada vez mais visível que a fraca procura externa dos últimos anos está relacionada quer com a adaptação da nossa economia ao euro, quer com a reestruturação do sector exportador. Neste campo, existem alguns indícios que parecem sugerir que a estrutura das exportações portuguesas poderá estar a mudar. Crescentemente, as exportações portuguesas incluem menos têxteis e calçado, mas mais mobiliário, máquinas e equipamento, plásticos e das borrachas, bem como produtos petrolíferos. Algumas exportações associadas com as tecnologias de informação também começam a despontar. Se estes sectores continuarem a patentear o dinamismo recente, poderemos certamente augurar um futuro melhor para o sector exportador e para a economia nacional.
Em relação ao investimento, é de assinalar que este tem sido a componente da procura interna com o comportamento mais decepcionante. Mesmo assim, existe alguma razão para estarmos optimistas em relação ao comportamento do investimento em 2007. Por um lado, os índices de confiança dos empresários têm subido consistentemente nos últimos meses, indiciando uma alteração das expectativas e uma possível maior disponibilidade para investir. Por outro lado, se as exportações continuarem o seu movimento ascendente, é muito provável que tenham um efeito arrastador no investimento privado, devido ao efeito positivo a nível das expectativas dos agentes económicos.
Em suma, se a procura externa continuar a expandir-se e se o investimento começar finalmente a recuperar, é provável que 2007 se torne realmente num ano de retoma da economia nacional. Assim, se não acontecer nenhum cataclismo (i.e. ataques terroristas ou uma nova estagnação da economia europeia), poderemos estar confiantes de que 2007 será melhor do que 2006 para a economia portuguesa. Esperemos que sim.
Sandra Vilas Boas
(doc. da série artigos de análise/opinião)
Segundo os últimos dados disponíveis, existem sinais de algumas melhoras na debilitada saúde da economia nacional. Aos poucos e pouco, a economia portuguesa vai ficando menos anémica e menos letárgica, principalmente devido à recuperação da procura externa, que começou a demonstrar algum dinamismo no final de 2005 e cresceu apreciavelmente em 2006.
Em contraste, o investimento permanece decepcionante e tem-se registado um arrefecimento considerável do consumo privado, penalizado pelo elevado endividamento das famílias e pela gradual subida das taxas de juro. As imposições orçamentais do Pacto de Estabilidade também têm retirado margem de manobra ao investimento e consumo públicos.
O início da retomada económica em Portugal marcou o ano de 2006, registando a economia um crescimento maior do que o esperado inicialmente, sobretudo em função da melhoria da actividade com os parceiros comerciais. Ao contrário dos anos anteriores, as exportações têm sido o motor da recuperação. Portugal foi capaz de entrar em novos mercados estrangeiros e de elevado crescimento, como o Brasil, México, Singapura, China e Angola, e alguns analistas dizem que se começam a perceber alguns sinais de redução do peso dos têxteis nas exportações portuguesas, a favor de bens de maior valor agregado (máquinas, químicos e refinação).
Apesar de uma ligeira aceleração da actividade económica, o consumo dos privados permaneceu fraco, com a melhoria do mercado de trabalho ainda praticamente sem reflexo nos gastos das famílias.
O ténue crescimento da economia portuguesa impediu-a de se aproximar da média dos seus parceiros comunitários, com os portugueses ficando relativamente mais pobres do que os outros cidadãos da União Europeia.
Para 2007 e os anos seguintes são esperadas poupanças mais significativas do lado da despesa pública, com os efeitos da reforma da previdência social e das alterações prometidas na administração pública surtindo efeito, permitindo uma melhor consolidação das contas públicas.
Ora, em 2007, a nossa atenção deveria estar concentrada em duas variáveis: as exportações e o investimento. Nas últimas décadas, estas duas variáveis são claramente as mais importantes no que diz respeito à retoma da economia nacional após um período recessivo.
Em relação às exportações, é cada vez mais visível que a fraca procura externa dos últimos anos está relacionada quer com a adaptação da nossa economia ao euro, quer com a reestruturação do sector exportador. Neste campo, existem alguns indícios que parecem sugerir que a estrutura das exportações portuguesas poderá estar a mudar. Crescentemente, as exportações portuguesas incluem menos têxteis e calçado, mas mais mobiliário, máquinas e equipamento, plásticos e das borrachas, bem como produtos petrolíferos. Algumas exportações associadas com as tecnologias de informação também começam a despontar. Se estes sectores continuarem a patentear o dinamismo recente, poderemos certamente augurar um futuro melhor para o sector exportador e para a economia nacional.
Em relação ao investimento, é de assinalar que este tem sido a componente da procura interna com o comportamento mais decepcionante. Mesmo assim, existe alguma razão para estarmos optimistas em relação ao comportamento do investimento em 2007. Por um lado, os índices de confiança dos empresários têm subido consistentemente nos últimos meses, indiciando uma alteração das expectativas e uma possível maior disponibilidade para investir. Por outro lado, se as exportações continuarem o seu movimento ascendente, é muito provável que tenham um efeito arrastador no investimento privado, devido ao efeito positivo a nível das expectativas dos agentes económicos.
Em suma, se a procura externa continuar a expandir-se e se o investimento começar finalmente a recuperar, é provável que 2007 se torne realmente num ano de retoma da economia nacional. Assim, se não acontecer nenhum cataclismo (i.e. ataques terroristas ou uma nova estagnação da economia europeia), poderemos estar confiantes de que 2007 será melhor do que 2006 para a economia portuguesa. Esperemos que sim.
Sandra Vilas Boas
(doc. da série artigos de análise/opinião)
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