Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

quinta-feira, dezembro 07, 2006

“Salários têm de cair 20%”

“SALÁRIOS TÊM DE CAIR 20%”
OLIVIER BLANCHARD CONSIDERA QUE O AUMENTO DO SALÁRIO MÍNIMO VAI ATRASAR A RECUPERAÇÃO PORTUGUESA

Desde há duas semanas que procurava um artigo para o meu trabalho de Economia Portuguesa e apesar deste artigo ter sido um dos primeiros que seleccionei e depois deste ter seleccionado muitos outros, nenhum me surpreendeu tão negativamente quanto este.
Acho surpreendente como é possível que alguém minimamente consciente da situação da economia portuguesa possa proferir publicamente tal opinião.
Olivier Blanchard é um economista francês, foi presidente do departamento de economia do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é actualmente professor no MIT.
Recentemente numa entrevista ao Jornal Expresso declarou que a economia portuguesa necessita de uma redução de 20% nos salários nominais para sair rapidamente da crise e que nesse sentido aumentar o salário mínimo é um erro. Na sua opinião, esta é a medida necessária para se resolver a produtividade e descer a taxa de desemprego. Entre outras coisas refere que “o aumento dos custos de trabalho acumulado nos últimos anos implica uma descida de 20% nos salários nominais – cerca de metade dos salários reais. Parece uma coisa terrível mas, na ausência de um milagre na produtividade, não há outra solução.”
Na minha opinião é uma medida terrível e discordo que seja a única solução.
Por coincidência na semana seguinte à publicação deste artigo vi uma entrevista na SIC ao Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, a referir que Portugal não deve apostar na diminuição dos salários, mas sim na qualidade, na inovação e na investigação, por exemplo. Opinião esta que concordo e que me permite reforçar com mais convicção a opinião que já tinha em relação a este artigo.
Na minha opinião, a nossa produtividade encontra-se em níveis muito baixos principalmente devido ao pessimismo que se instalou no nosso país. O que os portugueses precisam é de um incentivo forte e um sinal por parte do Governo de que os esforços que têm feito nos últimos anos estão a permitir a retoma da nossa economia. Se o Governo adoptasse esta medida, de reduzir 20% os salários nominais, acredito que os portugueses entravam em “depressão” e o nosso país em “recessão”!
É certo que há outros países com mão-de-obra mais barata e talvez mais qualificada, mas não é menos verdade que temos pessoas com espírito empreendedor, com capacidade para inovar e serem competitivos mas precisam de mais apoio, principalmente do Estado. A nossa aposta entre outras coisas deve ser na inovação dos sectores que estão em crise mas que ainda possam ser rentáveis, nos sectores emergentes dando-lhes mais visibilidade e oportunidade no mercado e na qualificação/formação da mão-de-obra. Temos tudo para termos melhores condições, o Governo precisa de ser justo e coerente nas suas decisões, os portugueses têm de mudar a sua mentalidade porque já não há empregos para toda a vida e a forma de se marcar a diferença é apostar na formação pessoal e na produtividade. Mas o mais importante é o aumento da fiscalização porque se todos cumprissem com as suas obrigações seria o suficiente para Portugal sair da crise.
Um outro aspecto a ter em consideração é que Portugal faz parte da União Europeia e tem objectivos a cumprir e uma posição a defender. A cinco de Dezembro de 2006 o Governo chegou a um acordo com os sindicatos e as entidades patronais relativamente ao Salário Mínimo Nacional (SMN) do próximo ano que será de 403€, em 2009 prevê-se atingir os 450€ e em 2011 os 500€. A nossa vizinha Espanha tem actualmente um SMN de 540,80€, a Grécia de 572,50€. Dentro da Europa dos quinze somos o país com o SMN mais baixo e na Europa dos vinte e cinco somos ultrapassados pela Eslovénia e por Malta que têm um SMN superior a 500€. O SMN mais baixo na Europa dos vinte e cinco é na Letónia e não chega aos 130€. Não faz qualquer sentido a sugestão do economista Olivier Blanchard porque num país como o nosso onde em cinco milhões de pessoas, trezentas mil recebem o SMN, a diminuição do salário nominal em 20% ou até mesmo o não aumento do SMN a ter de ser usado só mesmo em último recurso (o ideal seria não ser considerada solução), pois só contribuiria para uma maior perda do poder de compra e acentuaria ainda mais as desigualdades sociais.


Carla Almeida

(doc. da série artigos de análise/opinião)

2 comentários:

Anónimo disse...

Quero mostrar o meu total acordo com o artigo integral da minha colega. Não tinha conhecimento da opinião do economista francês no que concerne à solução para Portugal ser a redução dos salários nominais em 20% mas tal solução não me parece ser a solução; julgo que só traria mais problemas, uma vez que aumentaria o descontentamento dos portugueses e diminuiria o índice de confiança que muito importantes são para a estimulação da economia. Na minha opinião há dois pontos a que deve ser dado especial destaque para recuperar economicamente o nosso pais: o aumento da competitividade e da produtividade. Para tal o nosso pais deve ser capaz de criar produtos inovadores e que respondam mais e melhor às necessidade dos consumidores, neste intuito os estudos de mercado têm um trivial papel. Devemos apostar nos sectores nos quais temos mais potencialidades e inovar, isto é, apostar em áreas que se mostram promissoras. Destaco também que o aumento da produtividade passa também por cada um fazer o seu papel, isto é, fazer a tarefa que lhe cabe da melhor maneira. Neste sentido a inter relação entre a eficiência e a eficácia são pressupostos que não podem ser esquecidos. Deixo aqui a minha palavra de confiança em relação ao futuro, juntos conseguiremos ser um indicador de melhoria da economia portuguesa, com a nossa atitude proactiva, inovadores, criadora e empreendora.

Fátima Couto, nº 40319

Anónimo disse...

A opinião deste economista francês, é no mínimo estranha.
Só uma pessoa que não conheça a realidade da economia portuguesa, poderia achar que a solução económica para o nosso país era a redução do salário nominal em 20%, isto numa altura em que cada vez mais se tem a certeza que o futuro de qualquer economia no mercado europeu e mundial passa pela aposta, na inovação, mão de obra qualificada, produtos inovadores, diferenciação, etc.. e não como se pensava a alguns anos pela baixo preço da mão de obra.
É verdade que muitas empresas multinacionais têm abandonado o nosso país, mudando a sua localização para locais onde as despesas salariais serão mais reduzidas, apesar de no curto prazo isso ser negativo para Portugal, é minha opinião que no longo prazo isso será positivo pois temos de mudar os sectores tradicionais da nossa economia ajustando-os ás novas necessidades mundiais, e esta fuga das empresas será a ajuda que faltava.