Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Mitos e factos sobre o mercado de trabalho português: a trágica fortuna dos licenciados

O desemprego é um tema muito discutido, uma vez que não é do interesse de nenhuma economia existir elevadas taxas de desemprego já que tal facto significa que a economia esta a laborar abaixo da sua função de possibilidades de produção o que implica que o PIB efectivo é inferior ao PIB potencial.
No entanto este problema é mais delicado quando atinge fracções da população altamente qualificada. Actualmente o desemprego dos diplomados (licenciados mas também mestres e doutorados) afecta 40 470 indivíduos. O desemprego actual esta nos 7,2%.
Apesar desta conjuntura pessimista o investimento em formação escolar superior oferece no mercado de trabalho português uma rentabilidade privada excepcional.
Todos os anos milhares de famílias confrontam-se com a decisão de investimento em capital humano. Acabando o ensino secundário o jovem pondera o custo de obter formação superior com o beneficio dessa formação.
O custo de oportunidade deste investimento corresponde ao montante de rendimentos salariais a que o jovem voluntariamente abdica durante o período de formação bem como as despesas inerentes à formação (livros, material de estudo, deslocação). O ganho esperado corresponde à acumulação dos diferenciais de rendimentos do trabalho ao longo do ciclo de vida profissional proporcionados pela educação superior
Admitindo que os trabalhadores recebem 14 salarios anuais e que q duração da licenciatura é de 4 anos, obtem-se uma estimativa de perdas de salários durante o período de formação de 26625 euros. Por outro lado, o ganho acumulado entre os 24 e os 60 anos dos prémios salariais dos licenciados corresponde a cerca de 330300 euros. No entanto o valor actualizado do benefício líquido requer uma taxa de desconto. Para uma taxa de desconto de 2%, obtém-se um valor actualizado do custo do investimento de 25823 euros a que corresponde um retorno de 201286 euros resultando assim um benefício líquido de 175462 euros. Deste modo, o investimento numa licenciatura garante uma taxa de rentabilidade real de 15%, considerada excepcional.

Além disso, deter uma licenciatura possibilita muitas outras vantagens. Os locais de trabalho dos trabalhadores licenciados oferecem condições de trabalho mais amenas e aprazíveis. Os licenciados são menos sujeitos a cedências de trabalho impostas pelas tecnologias de produção e, além disso tem maior flexibilidade de horário de trabalho.
Os trabalhadores licenciados apresentam uma maior produtividade no que respeita à produção domestica e são tambem favorecidos por uma maior segurança no trabalho.
Vários estudos que estabelecem comparações internacionais dos prémios salariais de licenciatura, concluem que o mercado de trabalho português apresenta prémios invulgaremente elevados. Serão, alias os mais elevados da União Europeia. Esta conclusão é justificada porque existe um grande desfazamento entre a proporção de licenciados em Portugal e nos restantes países da União Europeia. Este hiato de qualificações demorará varias décadas a ser corrigido.
. O investimento em educação superior em Portugal gera externalidades positivas uma vez que uma força de trabalho mais educada desencadeia uma maior produtividade.
No entanto não se pode esquecer das dificuldades que os jovens recém-licenciados defrontam presentemente para assegurar um posto de trabalho desencadeadas pela recessão económica e pelas restrições orçamentais. No entanto esta conjectura não dissipa as vantagens estruturais associadas à detenção dum curso superior.

Lara Pinto

(doc. da série artigos de análise/opinião)

3 comentários:

Anónimo disse...

O desemprego nos licenciados é um tema preocupante.
O nível de qualificação dos portugueses é baixo quando comparado com os restantes países da União Europeia, e mesmo assim a taxa de desemprego de licenciados é maior em Portugal.
O mercado de trabalho no nosso país não está preparado para receber mão-de-obra qualificada, pois não se foi adaptando ás mudanças. Reconhece-se que maiores níveis de qualificações geram maiores níveis de produtividade.
O mercado está vocacionado para actividades que exigem mão-de-obra pouco qualificada, por isso estão a ocorrer deslocalizações de empresas do nosso país para outros onde a mão-de-obra é pouco qualificada mas mais barata. Resultando em mais desemprego, mas desemprego pouco qualificado.
O desemprego nos licenciados é preocupante visto que pouco se tem feito para o mercado os acolher e assim aumentar os níveis de produtividade do país.

Diana Barbosa (nº40298)

J. Cadima Ribeiro disse...

Cara Diana Barbosa,
Sendo indesejável o desemprego dos licenciados, como todo o desemprego, não é, no entanto, verdade que seja maior em Portugal que na maioria dos restantes países da UE. Numa aula, tive oportunidade de apresentar estatísticas do EUROSTAT que provam o contrário.
Esses dados continuam disponíveis pelo que a aconselho a consultá-los.

J. Cadima Ribeiro

Anónimo disse...

A maior parte dos licenciados desempregados são licenciados ao nível das ciências sociais. O mercado para esta área está a esgotar-se.
Quando uma pessoa decide fazer uma licenciatura deverá associar o seu gosto pessoal com as oportunidades existentes no mercado, e escolher a opção que seja mais rentável. Ora, grande parte das pessoas escolhem certos cursos por serem mais fáceis, ou porque gostam mesmo muito, mas esquecem-se que provavelmente estarão a desperdiçar tempo e dinheiro em algo que não trará benefícios futuros.
Deveriam encurtadar as vagas para os cursos cujo mercado está mais lotado e aumentar as vagas para os cursos cujo mercado ainda tem muitas faltas, nomeadamente ao nível da saúde e das engenharias.

Patrícia Alves