A instalação da rede TGV em Portugal, e a construção de um novo Aeroporto na OTA, tem vindo a ser assunto de aceso debate.
Só ganha meia hora em relação a comboios já existentes, mas apesar do custo exorbitante, o TGV Lisboa-Porto avança. Fica a 60 quilómetros da maioria dos seus utilizadores, mas o aeroporto da Ota avança.
É indiscutível que ambas as construções implicam custos elevadíssimos, que provêm do Orçamento Geral do Estado, ou seja, tais obras são financiadas pelos contribuintes portugueses. Parece que se concluiu com um estudo que apenas no que toca ao TGV, a obra iria impor a cada contribuinte um encargo de cerca de € 1.500,00.
Note-se que se trata de um encargo médio, ou seja, haverá contribuintes que vêem este encargo multiplicar-se por dez, cem, mil...
Não se trata de um investimento na produção, inovação ou no combate ao desemprego! Trata-se de dois projectos ligados aos transportes, de milhares de milhões de euros, completamente dispensáveis em qualquer altura.
E é bem sabido como, no fim das obras promovidas pelo Estado, a factura é sempre, sem que se conheça uma única excepção, muitíssimo maior do que inicialmente. Lembremo-nos dos Estádios de Futebol, da EXPO, do Centro Cultural de Belém (…). O orçamento do aeroporto da Ota, como se esperava, já derrapou. Porque a sua entrada em funcionamento foi atrasada de 2012 para 2017 e a previsão de custos passou para mais de 3,1 milhões de euros.
No entanto, houve quem apresentasse vários argumentos a favor, tendo sido um deles:
“- Entre os países da OCDE, Portugal tem o valor mais baixo de "stock" de capital público.”
Mas é preciso ver que a construção do aeroporto na OTA leva à desactivação do aeroporto da Portela. Ou seja, destrói-se "stock" de capital público. Se o objectivo é aumentar o "stock", então que se invista em algo que não envolva destruição do mesmo.
Para além disso, a OTA era uma infra-estrutura importante na medida em que possibilitaria aos empresários portugueses estarem a poucas horas das capitais europeias. No entanto, põe-nos a mais de quatro horas do centro da Europa, o suficiente para inviabilizar as viagens de um dia características do mundo dos negócios actual e para dificultar o turismo de fim-de-semana, segmento muito importante para o futuro do nosso turismo.
Por outro lado, a OTA não vai fazer nada de novo em relação ao aeroporto da Portela,
os custos financeiros do mesmo vão reduzir a competitividade da economia portuguesa porque vão sobrecarregar todos os contribuintes com impostos e, o que faz falta a esses empresários é a capacidade de serem competitivos e não a "falta de mobilidade" que não existe.
Em suma, o investimento em grandes obras públicas irá “favorecer sobretudo as economias de onde importamos os materiais para a construção de tais empreendimentos”, “pouco efeito terá na absorção do desemprego fabril gerado pela perda de competitividade da nossa indústria” e vai “agravar ainda mais o desequilíbrio das contas públicas”.
O investimento público é de facto essencial a qualquer economia, mas não o pode ser a qualquer preço, sendo ponto assente que a economia portuguesa não precisa de mais investimento público... apenas e só de melhor investimento público.
Deste modo, tal como já havia sido dito, parece-me também acertado classificar a OTA e o TGV de obras faraónicas, tendo em conta o seu carácter de grandes monumentos funerários, à semelhança das Pirâmides do antigo Egipto. A diferença é que estas serviam de túmulo aos reis e aquelas só servem para enterrar o País.
Denise Maciel
(doc. da série artigos de análise/opinião)
Só ganha meia hora em relação a comboios já existentes, mas apesar do custo exorbitante, o TGV Lisboa-Porto avança. Fica a 60 quilómetros da maioria dos seus utilizadores, mas o aeroporto da Ota avança.
É indiscutível que ambas as construções implicam custos elevadíssimos, que provêm do Orçamento Geral do Estado, ou seja, tais obras são financiadas pelos contribuintes portugueses. Parece que se concluiu com um estudo que apenas no que toca ao TGV, a obra iria impor a cada contribuinte um encargo de cerca de € 1.500,00.
Note-se que se trata de um encargo médio, ou seja, haverá contribuintes que vêem este encargo multiplicar-se por dez, cem, mil...
Não se trata de um investimento na produção, inovação ou no combate ao desemprego! Trata-se de dois projectos ligados aos transportes, de milhares de milhões de euros, completamente dispensáveis em qualquer altura.
E é bem sabido como, no fim das obras promovidas pelo Estado, a factura é sempre, sem que se conheça uma única excepção, muitíssimo maior do que inicialmente. Lembremo-nos dos Estádios de Futebol, da EXPO, do Centro Cultural de Belém (…). O orçamento do aeroporto da Ota, como se esperava, já derrapou. Porque a sua entrada em funcionamento foi atrasada de 2012 para 2017 e a previsão de custos passou para mais de 3,1 milhões de euros.
No entanto, houve quem apresentasse vários argumentos a favor, tendo sido um deles:
“- Entre os países da OCDE, Portugal tem o valor mais baixo de "stock" de capital público.”
Mas é preciso ver que a construção do aeroporto na OTA leva à desactivação do aeroporto da Portela. Ou seja, destrói-se "stock" de capital público. Se o objectivo é aumentar o "stock", então que se invista em algo que não envolva destruição do mesmo.
Para além disso, a OTA era uma infra-estrutura importante na medida em que possibilitaria aos empresários portugueses estarem a poucas horas das capitais europeias. No entanto, põe-nos a mais de quatro horas do centro da Europa, o suficiente para inviabilizar as viagens de um dia características do mundo dos negócios actual e para dificultar o turismo de fim-de-semana, segmento muito importante para o futuro do nosso turismo.
Por outro lado, a OTA não vai fazer nada de novo em relação ao aeroporto da Portela,
os custos financeiros do mesmo vão reduzir a competitividade da economia portuguesa porque vão sobrecarregar todos os contribuintes com impostos e, o que faz falta a esses empresários é a capacidade de serem competitivos e não a "falta de mobilidade" que não existe.
Em suma, o investimento em grandes obras públicas irá “favorecer sobretudo as economias de onde importamos os materiais para a construção de tais empreendimentos”, “pouco efeito terá na absorção do desemprego fabril gerado pela perda de competitividade da nossa indústria” e vai “agravar ainda mais o desequilíbrio das contas públicas”.
O investimento público é de facto essencial a qualquer economia, mas não o pode ser a qualquer preço, sendo ponto assente que a economia portuguesa não precisa de mais investimento público... apenas e só de melhor investimento público.
Deste modo, tal como já havia sido dito, parece-me também acertado classificar a OTA e o TGV de obras faraónicas, tendo em conta o seu carácter de grandes monumentos funerários, à semelhança das Pirâmides do antigo Egipto. A diferença é que estas serviam de túmulo aos reis e aquelas só servem para enterrar o País.
Denise Maciel
(doc. da série artigos de análise/opinião)
2 comentários:
A minha opinião está de acordo com o artigo em geral, apesar de achar que o investimento em um novo aeroporto não seria assim tão descabido, se a sua localização fosse outra...a localização de estas novas infra-estruturas servem só para acentuar as disparidades regionais, concentrando a linhas principais de comunicação no litoral.
Relativamente ao TGV acho ridículo que um investimento desta envergadura se traduza em ganhos de tempo de ligação(Porto - Lisboa) mínimo em relação ao tempo actual...Não esquecer que a construção de uma nova linha tem custos afundados enormes.
Manuel Vilas
Parece que vivemos no paraíso das luxúrias! Por um lado fecham-se escolas e maternidades e por outro constroem-se super-aeroportos e comboios de alta velocidade! Estes investimentos poderiam ocorrer quando uma economia estivesse sã e não quando nos defrontamos com a situação de tentar recuperar uma economia que apresentou profundos desequilíbrios durante tanto tempo e só agora parece estar no caminha da (possível) recuperação! Afinal, e como se tem visto com o adiamento de uma decisão final, o aeroporto da Portela ainda tem condições de suportar as exigências do tráfego aeronáutico por mais algum tempo, portanto não seria ilógico pensar na sua construção após a anunciada recuperação económica!
Alberto Dantas (nº40322)
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